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aurelius

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“Por que está ela inutilizando a terra?”

aureliano, 27.02.16

3º Domingo da Quaresma [28 de fevereiro de 2016]

[Lc 13,1-9]

Nossa preparação para Páscoa continua. É um caminho de conversão. No batismo fomos purificados do mal, iluminados por Cristo, ressuscitados para uma vida nova. A caminhada neste mundo nos coloca em situação de risco permanente. As tentações nos convidam ao mal, ao egoísmo, ao rompimento da aliança com Deus. Daí a necessidade de um caminho cotidiano de conversão.

O evangelho deste domingo traz dois relatos distintos: a crueldade de Pilatos assassinando galileus que, provavelmente, se opuseram à invasão e assalto do cofre do Templo por parte do Governador e a catástrofe da torre de Siloé que, ao cair, mata 18 pessoas; o outro relato é a parábola da figueira estéril. No primeiro caso temos uma situação que mexe bastante com o imaginário popular: atribuir catástrofes e acidentes a castigo divino. Está em jogo a teologia da retribuição ou prosperidade, condenada por Jesus. Sua resposta é enfática: “Pensais que eram mais pecadores do que todos os outros?” Podemos dizer que as catástrofes são um recado de Deus para nós. Quando a gente menos espera nossa vida pode estar terminando. É preciso, pois, vigiar. Por isso a palavra de Jesus: “Se não vos converterdes ireis morrer todos do mesmo modo”. Jesus aproveita-se desses acontecimentos para dar um ensinamento sobre o juízo de Deus e a necessidade de permanente conversão.

Conversão: eis o conceito que a liturgia de hoje quer destacar. Todos os acontecimentos devem ser lidos à luz de Deus como um sinal indicador de um caminho sempre novo que precisamos assumir. Um retornar e renovar constantemente a aliança e consagração batismal.

A sociedade propõe vida fácil, consumismo, preocupação com o bem-estar pessoal acima do interesse coletivo, corrupção descarada, delação premiada, favorecimento do banditismo, sucesso financeiro, fama etc. E as atitudes verdadeiramente cristãs vão se perdendo pela vida afora. Se o cristão quiser se firmar no caminho da salvação precisa voltar seu olhar para Jesus Cristo. Seu parâmetro de ação deve ser sempre o Evangelho.

A parábola da figueira estéril provoca alguns questionamentos em nós: Para que serve uma religião sem conversão? Um culto sem mudança de atitudes? Um aparato religioso sem transformação social? Para que serve uma comunidade que vive de aparência? Para que um templo muito bonito e enfeitado, se a Igreja viva está abandonada, às traças?

Vale a pena cultivar a figueira. Ter um pouco de paciência. Mas se não se cavar e colocar adubo, ficará do mesmo jeito! Ou seja, é preciso instaurar um processo de transformação no terreno, ao redor do pé da figueira para que ela produza. É o processo que nos faz sair de nós mesmos. Quando gastamos a vida cuidando de uma pessoa pobre, ajudando a levar adiante um projeto social, visitando e cuidando de um doente, assumindo a responsabilidade familiar, vivendo e trabalhando de modo coerente, honesto e justo: esse empenho é que faz a diferença. São os frutos que o Agricultor quer encontrar. Do contrário, para que ficar ocupando a terra em vão? Que sentido tem ocupar um lugar na Criação se nossa vida não contribui para a construção de um mundo melhor? Que sentido faz ocupar um cargo de influência se o faço em benefício próprio? Para que assumir ministérios na comunidade se os assumo como cargos e funções que me dão reconhecimento social e não como serviço humilde aos irmãos?

É claro que a parábola nos convida à paciência! É preciso saber esperar. O tempo é de Deus. Mas não se pode deixar tudo para o final. E se não der mais tempo? O tempo de Deus é hoje. Não se pode contar com o amanhã. Não dizemos que o dia de amanhã pertence a Deus? Então! Não basta comer da “comida espiritual” nem beber da “bebida espiritual” (cf. 1Cor 10,2-3). Paulo emenda: “No entanto, a maioria deles não agradou a Deus” (1Cor 10,5). Por isso “Quem julga estar de pé tome cuidado para não cair” (1Cor 10,12).

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

 

“Escutai o que ele diz”

aureliano, 18.02.16

2º Domingo da Quaresma [21 de fevereiro de 2016]

[Lc 9,28b-36]

 

O segundo domingo da quaresma apresenta-nos o relato da Transfiguração do Senhor. Antes de tudo é preciso notar que Jesus “subiu a montanha para rezar”. Lucas é o evangelista que mostra a particularidade da oração na vida de Jesus. E não vai rezar sozinho desta vez. Leva consigo alguns dos discípulos. Na oração, seu rosto se transfigura e sua roupa torna-se brilhante. Parece que este relato quer-nos dizer que nossa oração precisa nos transfigurar, nos encher de luz. Fomos iluminados no batismo. Essa luz precisa ganhar cada vez mais força. É a luz de Deus. O pecado quer sempre obscurecê-la. Por isso a necessidade da luta permanente contra o pecado, pois obscurece a mente e o coração.

A sonolência de Pedro e demais companheiros simbolizam nossa indolência diante da graça e da vida em Deus. Paulo, que compreendeu bem a oposição entre pecado e graça, trevas e luz, exorta: “Eis a hora de sairdes  do vosso sono; hoje, com efeito, a salvação está mais próxima de nós do que no momento em que abraçamos a fé. A noite vai adiantada, o dia está bem próximo. Rejeitemos as obras das trevas e revistamos as armas da luz. Comportemo-nos, honestamente, como em pleno dia, sem comezainas nem bebedeiras, sem licenciosidades nem devassidões, sem brigas nem invejas. Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo” (Rm 13,11-13).

Diante da beleza contemplada, Pedro manifesta o desejo de ficar por ali: “Mestre, é bom estarmos aqui”. Mas ele “não sabia o que estava dizendo”. Pensava que era suficiente estar na montanha em oração. Não queria “descer para Nazaré”. As “Nazarés” da vida são o lugar de confronto com aquilo que rezamos no “monte”. Uma oração que não se encarna na realidade, no cotidiano da vida, não faz sentido. É oca, vazia, alienante como os ídolos que são um “nada” (1Cor 8,4; Sl 96,5). Buscamos a Deus para enfrentar os embates da vida e estes nos fazem buscar a Deus.

O rosto transfigurado de Jesus nos leva a pensar nos rostos desfigurados de tantos sofredores, oprimidos, esquecidos, “invisíveis”, marginalizados. Sobretudo de rostos de jovens violentados, assassinados, desencaminhados, desesperançados, usados, desiludidos. Os rostos dos idosos abandonados, maltratados, incompreendidos. O rosto da Mãe Terra, envenenada, maltratada, sucateada. Tanto a Casa Comum como as pessoas esperam por uma reconfiguração à imagem de Jesus. Essa missão é nossa. Como dar uma figura renovada a esses rostos? O que estamos fazendo?

A voz que brota da nuvem confirma Aquele que foi transfigurado: “Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutai o que ele diz”. Jesus, transfigurado na montanha, mostrou aos discípulos a beleza de sua interioridade. Habitado pelo Pai e pelo Espírito Santo. Portanto, eles podiam ouvi-lo e segui-lo sem medo, pois é o Filho querido do Pai. Não vão se decepcionar nem se frustrar. É habitado pela divindade e quer transmiti-la àqueles que nele acreditam e o seguem. Quem se compromete com Jesus é tomado por essa Luz e será também transfigurado na ressurreição dos justos.

Ali estavam Moisés e Elias, figuras representativas da Antiga Aliança: a Lei e o Profetismo. A voz do Pai, porém, não pede para ouvi-los, e sim, o Filho. Escutar o que Jesus diz é o que dá identidade à fé cristã. Não basta olhar para Jesus. Não basta admirar-se da vida que ele levou nem do que ele fez. É preciso se comprometer com ele, ouvindo e colocando em prática seus ensinamentos. Assumindo em nossa vida a forma de vida de Jesus (cf. Fl 2,5)

A escuta deve ser a primeira atitude do discípulo. Ouvir é interiorizar, colocar dentro do coração aquela realidade que cremos, em que esperamos. No meio da nuvem os discípulos ficaram com medo. E escutaram a “voz” que lhes trouxe conforto e esperança. Assim também ocorre conosco: em tempos nebulosos, e acometidos pelo medo, o Senhor sempre suscitará uma “voz” e pronunciará uma palavra que desperta a esperança e afugenta o medo. Em tempos de proclamação de muitas vozes, há que se retirar ao “monte” para ouvir e discernir a voz do Pai.  Jesus é a voz, a palavra do Pai. Escutemo-lo. Confiemos nele. Ele não nos decepciona!

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

As tentações do caminho

aureliano, 12.02.16

1º Domingo da Quaresma [14 de fevereiro de 2016]

 

A tentação para desviar-se do Caminho

[Lc 4,1-13]

Estamos vivendo esse tempo rico de bênçãos e graças na Igreja. Tempo de revisão de vida, de exame de consciência, de retomada dos compromissos batismais. Quaresma lembra os quarenta anos de caminhada do Povo de Deus no deserto rumo à Terra Prometida. Lembra também os quarenta dias de jejum e oração vividos por Jesus no deserto.

O evangelho de hoje nos remete à situação de tentação vivida por Jesus. No final de um tempo profundamente marcado por Deus ele é tentado pelo diabo. No início parece até contraditório. Como é que a tentação pode ocorrer logo após um tempo forte de oração e jejum? O diabo não deveria estar bem longe? Pois é! A vida de Jesus vem nos mostrar que nunca estamos livres das tentações do maligno. Quanto mais próximos de Deus, mais tentados pelo diabo. A vida de oração não nos garante a isenção de tentações. Garante, sim, a força de Deus para enfrentarmos e vencermos o mal, como aconteceu com Jesus.

O relato das tentações de Jesus não é um relato jornalístico, como se alguém estivesse filmando ou descrevendo tudo o que estava acontecendo a Jesus. Não. É relato de um episódio que visa à catequese da comunidade. A experiência de Jesus é a experiência do discípulo que se compromete a seguir a Jesus, mas enfrenta muitas tentações. Partindo deste princípio, podemos afirmar que, na verdade, Jesus não foi tentado somente em um dado momento, mas durante toda a sua vida o diabo buscou desviá-lo do querer do Pai. O que importa é que ele sempre foi vencedor: nunca se deixou levar pelo diabo.

Primeira tentação: Quando Jesus sente fome o diabo se apresenta para que Jesus “mude a pedra em pão”. O diabo nos quer pegar em nosso ponto fraco. Jesus recorre sempre à Palavra de Deus. Esta é o remédio eficaz contra as tentações. O pão é a necessidade primeira, básica. Mas comida não preenche o mais profundo do ser humano. A vida em Deus é alimento imprescindível. Ademais, Jesus não veio para atender a ordens do diabo nem a interesses próprios, mas para fazer a vontade do Pai. Mais tarde multiplicará os pães para saciar a fome de uma multidão. - Como temos alimentado nosso espírito? Que temos lido? A que programas de televisão assistimos? Que sites acessamos? Como anda a ganância dentro de nós? Que ambientes temos frequentado em nosso lazer?

A segunda tentação é a do “poder e glória”. Essa tentação é terrível. Há muita gente ‘ajoelhada’ diante do diabo para conseguir “poder e glória”. Tem gente que ‘vende a alma para o diabo’ para conseguir sucesso, poder e dinheiro. É uma das grandes tentações de nossos tempos. É a manipulação da religião para dominar, para enriquecer-se, para se ter sucesso. É servir-se da religião para conquistar bem-estar, prestígio, fama. Nestes tempos em que a Igreja tem perdido prestígio e influência social, sofre fortemente a tentação de se aproximar do poder podre e corrupto dos grandes deste mundo. Jesus responde que somente a Deus devemos servir e adorar.

Essa tentação se vence com a busca de um olhar compassivo e misericordioso sobre os irmãos mais necessitados. O serviço a Deus se dá nos ‘pequeninos’ do Reino. Todo cuidado é pouco, pois o diabo se veste de ‘deus’ para enganar os dominados pela cobiça. Ou melhor, os cobiçosos colocam no diabo uma capa ‘divina’ para ‘subirem na vida’.

A terceira tentação se dá no pináculo do templo de Jerusalém. É a tentação da vanglória, da ostentação, do desejo de aparecer, de jogar nossas responsabilidades nas mãos de Deus, do uso da religião para manipular as pessoas. Nessa tentação, a última cartada, o diabo busca desviar Jesus de sua missão com uma capa de cumprimento das Escrituras. Deus o ampararia e todo mundo iria acreditar nele. Jesus, porém, não se deixa levar por essa proposta. Mostra que a Deus não se deve tentar. Ou seja, não se pode jogar para Deus aquilo que é responsabilidade do ser humano. Essa tentação mostra explicitamente o uso da religião para busca de sucesso. Quanta gente anda atrás de promessa, de milagres, de adivinhações etc. Na verdade, cada um deveria assumir seu papel na sociedade. Nesta tentação Jesus mostra que nunca colocará o Pai a serviço de si, mas se colocará sempre a serviço dos pequenos, lavando-lhes os pés, como realização do desejo do Pai.

 Como cristãos o Senhor nos chama a lançar sobre o mundo um olhar de misericórdia. Ele nos convida a deixarmos de buscar a nós mesmos, nosso bem-estar, nossos desejos realizados, nosso sucesso e voltarmos nosso olhar para fora, para o outro. O rosto do outro precisa me interpelar, me incomodar e me desacomodar. Essa foi a atitude que Jesus assumiu diante do Pai. É diabólico organizar uma religião como um sistema de crenças e práticas para se conseguir segurança. Não se constrói um mundo mais humano refugiando-se cada um em sua religião. É preciso arriscar-se confiando em Deus, como Jesus.

As tentações pelas quais passou Jesus são também nossas. É a tessitura do dia-a-dia da vida cristã. O empenho pelo bem tem como desafio a luta contra o mal. É a tentativa do diabo em arrancar de nós a Palavra. Quando não consegue esmorecer a pessoa, tenta sufocar a Palavra em seu coração, alimentando preocupações com prazeres e riquezas (cf. Lc 8,4-15). Quer nos desviar do Caminho.

Alimentemos em nós o espírito que animava Jesus. Ele teve a coragem de “perder” a sua vida por causa de nós. “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará” (Lc 9,23-24). A Palavra de Deus guardada no coração e colocada em prática é a grande arma que o Pai nos deu para não nos deixarmos vencer pelas tentações do inimigo.

Você consegue identificar quais são as tentações que, na sua vida, buscam desviá-lo do cumprimento da vontade do Pai?

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

Gestos concretos na Quaresma

aureliano, 12.02.16

15 simples atos de caridade como manifestações concretas de amor:

 

  1. Sorrir, um cristão é sempre alegre!
  2. Agradecer (embora não “precise” fazê-lo).
  3. Lembrar ao outro o quanto você o ama.
  4. Cumprimentar com alegria as pessoas que você vê todos os dias.
  5. Ouvir a história do outro, sem julgamento, com amor.
  6. Parar para ajudar. Estar atento a quem precisa de você.
  7. Animar a alguém.
  8. Reconhecer os sucessos e qualidades do outro.
  9. Separar o que você não usa e dar a quem precisa.
  10. Ajudar a alguém para que ele possa descansar.
  11. Corrigir com amor; não calar por medo.
  12. Ter delicadezas com os que estão perto de você.
  13. Limpar o que sujou, em casa.
  14. Ajudar os outros a superar os obstáculos.
  15. Telefonar para seus pais.

O melhor jejum é:

  • Jejum de palavras negativas e dizer palavras bondosas.
  • Jejum de descontentamento e encher-se de gratidão.
  • Jejum de raiva e encher-se com mansidão e paciência.
  • Jejum de pessimismo e encher-se de esperança e otimismo.
  • Jejum de preocupações e encher-se de confiança em Deus.
  • Jejum de queixas e encher-se com as coisas simples da vida.
  • Jejum de tensões e encher-se com orações.
  • Jejum de amargura e tristeza e encher o coração de alegria.
  • Jejum de egoísmo e encher-se com compaixão pelos outros.
  • Jejum de falta de perdão e encher-se de reconciliação.
  • Jejum de palavras e encher-se de silêncio para ouvir os outros.

(Papa Francisco)

Sentido da Quaresma

aureliano, 09.02.16

Quarta-feira de Cinzas [10 de fevereiro de 2016]

Quaresma: eis o tempo de conversão

[Mt 6,1-6.16-18]

Não nos é dado saber com certeza onde nem como surgiu a Quaresma na vida litúrgica da Igreja. O que sabemos é que ela foi se formando progressivamente. Estava entranhada na consciência dos cristãos a necessidade de dedicar um tempo em preparação à celebração da Páscoa do Senhor. As primeiras alusões a um período pré-pascal estão registradas lá pelo século IV. Consta também que, na Quinta-Feira Santa, acontecia a reconciliação dos pecadores; e que na Vigília Pascal se realizavam os batizados dos catecúmenos. Esses dois costumes, vividos desde a antiguidade da fé cristã, vem mostrar que esse tempo nos remete à lembrança ou preparação para o batismo e a práticas penitenciais que nos levem a uma conversão profunda do coração.

A propósito desse elemento da história, o Concílio Vaticano II recomenda: “Tanto na liturgia quanto na catequese litúrgica, esclareça-se melhor a dupla índole quaresmal, que, principalmente pela lembrança ou preparação do batismo e pela penitência, fazendo os fiéis ouvirem com mais freqüência a palavra de Deus e entregarem-se à oração, os dispõe à celebração do Mistério Pascal. Por isso, utilizem-se com mais abundância os elementos batismais próprios da liturgia quaresmal; segundo as circunstâncias, restaurem-se certos elementos da tradição anterior. Diga-se o mesmo dos elementos penitenciais” (SC 109).

É bom entender que a Quaresma não é um tempo de práticas penitenciais ultrapassadas, mas é um tempo de experiência de um Deus que está vivo no nosso meio e quer que todos vivam: “Eu vim para que todos tenham vida” (Jo 10,10). Um tempo em que somos chamados a participar dos sofrimentos de Cristo para participarmos também de sua glória (cf. Rm 8,17). O acento não está, portanto, nas práticas de penitência, mas na graça santificadora do Senhor que nos convida todos os dias à conversão.

Por possuir um caráter fundamentalmente batismal, a Quaresma nos convida a entrar numa dinâmica de permanente conversão para nos mantermos no caminho encetado pelo batismo. Mortos com Cristo, ressuscitamos com ele para uma vida nova. Quem ressuscitou com Cristo busca as “coisas do alto”. Compromete-se com a vida de todas as pessoas, particularmente com aqueles que não contam, que não são visíveis aos olhos da sociedade, os “sobrantes”.

As três práticas propostas pela Igreja, com raiz na tradição judaica são a oração, o jejum e a esmola. Elas nos ajudam à conversão.

O JEJUM quer nos ajudar a deixar de lado o consumismo proposto por uma sociedade governada por ricos e poderosos que querem ganhar sempre mais à custa dos pobres. Querem arrancar o pouco que o pobre tem. Neste tempo é bom a gente aprender a viver com pouco, a reaproveitar as coisas, a levar uma vida mais simples, mais sóbria. Não se trata de passar necessidade ou fome, pois não é isso que Deus quer. Mas a gente pode viver de modo mais simples sem entrar no modismo da sociedade consumista que mata e exclui. Mais do que jejuar, talvez fosse muito proveitoso evitar o desperdício, cuidar melhor de jogar o lixo na lixeira, manter limpo os espaços públicos; cuidar das fontes e rios; usar a água tratada com mais consciência, como dom do Pai; reutilizar lixo e água; preocupar-se e solidarizar-se com quem passa necessidade... Trata-se de um ‘esvaziar-se’ para encher-se dos sentimentos de Jesus; encher-se da bondade de Deus.

A ESMOLA quer despertar-nos para a solidariedade com os mais pobres. Uma conversão que nos torne capazes de partilhar com os outros os bens e os dons que temos. Que nos mobilize pelas causas justas, em favor dos menores, sem voz nem vez. É a luta contra a ganância que faz tantas vítimas em nosso meio. A esmola nos tira de nós mesmos e nos remete em direção dos irmãos pelo gesto da partilha solidária. Não é darmos algo de nós, mas darmo-nos a nós mesmos. A visita a um doente, idoso, pobre é um bom gesto que ajuda no processo de conversão. É a oferta do tempo que temos para nós e que doamos a alguém.

A ORAÇÃO nos coloca numa profunda comunhão com o Pai. Sem uma vida orientada pela oração não podemos construir um mundo de acordo com o sonho de Deus. E a oração verdadeira é aquela que nos coloca em sintonia com o querer de Deus, que nos move em direção aos pobres e sofredores. Ele veio “para que todos tenham vida”. Aproveitar esse tempo para reforçar a leitura orante da bíblia. Rezar todos os dias algum texto bíblico! Oramos não porque Deus desconhece nossas necessidades, mas porque queremos nos entregar a Ele e descobrir a melhor forma de servi-lo nos irmãos. A Leitura Orante ilumina nosso caminho, nossa vida.

Casa Comum, nossa responsabilidade: O objetivo maior da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2016 é “assegurar o direito ao saneamento básico para todas as pessoas e empenharmo-nos, à luz da fé, por políticas públicas e atitudes responsáveis que garantam a integridade e o futuro de nossa Casa Comum”.

A Igreja, comunidade de fé, é ativa na sociedade. Pelo diálogo e pela caridade, ela procura cuidar das pessoas excluídas da sociedade. Também participa das discussões e projetos que visam ao bem de todos. Quando age assim ela realiza o desejo de Jesus expresso nas palavras do Papa Francisco: “Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e comodidade de se agarrar às próprias seguranças”.

Sabemos que todas as pessoas que formam a sociedade são filhos e filhas de Deus. Por isso, “o abastecimento de água potável, o esgoto sanitário, a limpeza urbana, o manejo de resíduos sólidos, o controle de meios transmissores de doenças e a drenagem de águas pluviais são medidas necessárias para que todas as pessoas possam ter saúde e vida digna”.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN