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aurelius

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Ultimidade e gratuidade do discípulo de Jesus

aureliano, 26.08.16

22º Domingo do Tempo Comum [28 de agosto de 2016]

[Lc 14,1.7-14]

O evangelho deste domingo nos mostra duas atitudes reveladores do interior do discípulo do Reino: escolha dos lugares e escolha dos convidados.

O contexto do evangelho é o da continuidade da caminhada de Jesus para Jerusalém. No caminho o Mestre visita as casas de algumas pessoas. Hoje ele vai à casa de um fariseu a convite deste para uma refeição. E era observado. Mas ele também observava!

Os relatos do evangelho que tratam das refeições de que Jesus participava são interpretadas pelos exegetas como referentes ao Banquete Eucarístico. O texto quer, pois, iluminar as assembleias eucarísticas da comunidade cristã. Certamente havia jogos de interesses, troca de favores escusos e discriminações nas comunidades. Jesus oferece orientações seguras ao discípulo do Reino: é preciso viver na humildade, no serviço generoso e no cuidado para com os pequeninos.

A escolha dos lugares: Aqui Jesus pede aos discípulos que deixem de lado a arrogância, a busca do poder, a competição, o jogo de interesse. É preciso buscar o último lugar. Ou seja: cada qual deve procurar servir onde está. Não se pode viver à cata de primeiros lugares, disputando, competindo, derrubando os outros em busca de sucesso, de poder e de destaque social. O discípulo de Jesus deve aprender dele a “descer”, a colocar-se no último lugar (cf. Fl 2,5-11). O lugar de Jesus é o último. E nós queremos estar lá onde ele está. Ademais, não é o lugar que torna a pessoa importante, mas é a pessoa que torna o lugar importante. É a pessoa que faz o lugar!  E, onde a pessoa estiver, deve lançar pontes para construir fraternidade, diálogo, paz, buscando sempre o bem de todos, particularmente para os pequeninos do Reino de Deus.

A escolha dos convidados: Unido ao jogo de interesse e competição pelos primeiros lugares, está esse outro ensinamento de Jesus: é preciso ajudar a quem precisa sem esperar retorno, reconhecimento, troca. Jesus não está condenando as relações familiares e amistosas. O que ele condena é a atitude de priorizar essas relações em detrimento dos pobres. Estes devem ocupar prioridade em nossas ações.

Nunca podemos nos esquecer de que nossa missão neste mundo é introduzir no meio em que vivemos o modo de pensar e de viver de Jesus de Nazaré. Isto se dá na medida em que nosso modo de viver e de pensar se sustenta numa “vida escondida com Cristo em Deus” (Cl 3,3).

O Papa Francisco, na pequena ilha de Lampedusa, exortava: “A cultura do bem-estar nos faz insensíveis aos gritos dos demais”. “Caímos na globalização da indiferença”. “Perdemos o sentido da responsabilidade”. Estamos vivendo uma cultura da indiferença. Ou seja, há uma cultura antievangélica que insiste na necessidade da competição, reforçando o individualismo, a busca frenética do estar bem contraposto ao fazer o bem. O que conta na vida é o interesse pessoal. O outro me interessa enquanto me dá lucro, possibilidade, vantagem.

Guardemos esta palavra de Jesus: “Quando deres uma festa, chama pobres, estropiados, coxos, cegos; feliz serás, então, porque eles não tem com que te retribuir. Serás, porém, recompensado na ressurreição do justos” (Lc 14,13-14).

A mensagem do evangelho de hoje: saber receber de graça (humildade); dar de graça (gratuidade). Nada de prepotência nem de autossuficiência.

Para refletir: com que interesse me aproximo dos outros? Procuro dar ou receber? Estou interessado pelo bem da pessoa ou pelas suas coisas?

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

O Pai glorifica todo aquele que vive a fé

aureliano, 18.08.16

Solenidade da Assunção de Nossa Senhora [21 de agosto de 2016]

[Lc 1,39-56]

A solenidade da Assunção de Maria foi celebrada pela Igreja desde eras antigas. O nome da festa era Dormição de Maria. Isto é, Maria, depois de sua peregrinação neste mundo, ‘repousou no Senhor’. A celebração deste acontecimento está intimamente associada à ressurreição de Jesus. A Páscoa da Virgem traz no centro, não a Mãe, mas o Filho, para quem o olhar do fiel se deve voltar. Aquela que colaborou para a Encarnação do Filho de Deus deve participar da sua Ressurreição. Na festa da Assunção de Maria se revela aquilo que todo homem e mulher anseiam: ser acolhidos inteiramente no céu.

O dogma da Assunção de Maria, festejado a 15 de agosto, tem nomes diferentes, como Nossa Senhora da Boa Viagem, Nossa Senhora da Glória, Nossa Senhora dos Prazeres etc. Foi proclamado por Pio XII, em 1950, com a Bula ‘Munificentissimus Deus’, com o seguinte texto: Definimos ser dogma divinamente revelado: que a imaculada mãe de Deus, sempre virgem Maria, cumprindo o curso de sua vida terrena, foi assunta em corpo e alma à glória eterna”.

A bíblia não fala nada a respeito do final da vida de Maria. São João mostra que ela, aos pés da cruz, foi adotada pela comunidade como mãe (Jo 19, 27). Lucas nos diz que ela estava junto ao grupo que se preparava para a vinda do Espírito Santo, em Pentecostes (At 1,13s e 2,1). Então a bíblia não conta detalhes sobre o final da vida de Maria.

Nos primeiros séculos, os cristãos tinham o costume de guardar os restos mortais dos santos, especialmente dos apóstolos e mártires. Não há, porém, nenhuma notícia sobre o corpo de Maria. Os evangelhos chamados apócrifos, isto é, aqueles relatos sobre a vida de Jesus e dos atos apostólicos que não entraram na ‘lista’ dos livros que a Igreja considerou inspirados por Deus, contam histórias da chamada Dormição de Maria. E assim, no século VIII, a devoção popular criou uma história para contar como se deu a morte e a ressurreição de Maria.

O dogma da Assunção só pode ser compreendido em relação à Ressurreição de Jesus. Maria, diferente de nós, não precisou esperar o fim dos tempos para receber um corpo glorificado. Depois de sua vida terrena ela já está junto de Deus com o corpo transformado, cheio de graça e luz.

Ainda mais. Não podemos entender a Assunção como se Maria subisse ao céu com o corpo que ela possuía aqui na terra, com ossos, pele, carne, sangue. Hoje há outras maneiras de se compreender a ressurreição dos mortos. O corpo de Jesus ressuscitado e o de Maria assunta foram transformados e assumidos por Deus. O importante é a gente crer que Maria já está glorificada junto de Deus, toda inteira. Ela antecipa o que está prometido para cada um de nós: participar do banquete da Vida que o Senhor preparou para “aqueles que o amam”.

O cântico de Maria no evangelho de hoje diz que o Senhor “olhou para a humildade de sua serva. Doravante todas as gerações me chamarão de bem-aventurada, pois o Todo-Poderoso fez grandes coisas em meu favor... Agiu com a força de seu braço, dispersou os homens de coração orgulhoso. Depôs os poderosos de seus tronos, e a humildes exaltou”. Está aí a ação de Deus na vida de Maria, a humilde serva do Senhor, que decidiu acolher o convite de Deus para participar na obra da salvação da humanidade. Sua humildade e fidelidade ao projeto do Reino lhe valeram a participação na glória de Deus, ao lado de seu Filho. Maria é aqui figura da Igreja, que deve levar adiante, não obstante as perseguições e sua pequenez, a missão de Jesus.

O evangelho da liturgia de hoje traz dois relatos: a Visita de Maria a Isabel e o chamado ‘Cântico de Maria’. O primeiro mostra Maria como aquela que assumiu inteiramente o projeto do Pai na sua vida, não mede esforços para prestar um serviço à sua parenta em necessidade. E no seu encontro com Isabel manifesta-se a sua fé profunda: “Feliz aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido”. Todo aquele que deposita sua confiança em Deus, colaborando na realização do sonho de Deus para a humanidade, é feliz. O relato manifesta também o reconhecimento por parte de Isabel de que aquele que Maria trazia no seio é o Senhor: “Donde me vem que a mãe do meu Senhor me visite?”. Maria é Mãe de Deus e bem-aventurada: “Bendita és tu entre as mulheres”.

O segundo relato é um hino inspirado no cântico de Ana (1Sm 2, 1-10) que canta a ação de Deus em favor da humanidade. É um hino jubiloso que proclama a derrubada dos poderosos e a elevação dos humildes pela ação Deus em Jesus. É a oração dos pobres que confiam em Deus e no seu poder sobre o mal. Um hino que empenha o fiel nessa luta como Maria.

Quando olhamos o evangelho e vemos Maria assumindo como primeira atitude, depois de ter acolhido em seu seio o Filho de Deus, a de levar seus préstimos para a prima Isabel, somos levados a pensar em nossas atitudes. Nossa sociedade se deixa levar cada vez mais por uma atitude egoísta que leva a terceirizar a caridade e os cuidados para com aqueles que, por vezes, de dentro da nossa casa, são considerados peso e empecilho para passeios, curtição, jogos, prazeres.

Mas é preciso ressaltar, porém, que ainda nos deparamos com famílias que cuidam dos seus com afeto, carinho, respeito. Pessoas com necessidades especiais cuidadas com um zelo divinal, marial. Uma presença muito parecida com a de Maria: escuta do ancião que quer contar um caso, visita a um casal em dificuldade de relacionamento, presença nos abrigos, asilos e hospitais onde se encontram pessoas passando por sofrimento e dificuldades.

Para além dos gestos personalizados, faz-se necessário empenho na luta por políticas públicas que atendam às necessidades dos menos favorecidos. São gestos simples que nos colocam em sintonia com o ensinamento de Jesus e com as atitudes de fidelidade de Maria, sua Mãe. A recomendação permanente do Papa Francisco é que a Igreja se coloque “em saída”, como “hospital de campanha” que não pergunta pelo que provocou as feridas, mas que se preocupa em cuidar, aliviar o sofrimento.

A assunção de Maria foi o resultado do seu peregrinar à luz de Deus nesse mundo. Cada vez que ela dava novos passos para seguir a Jesus, para buscar a vontade de Deus, o Senhor assumia e transformava sua pessoa. Até que chegou o momento final. É o que está reservado para nós! Na vida de fé, cada passo novo que damos corresponde, da parte de Deus, a nos acolher, tomar pela mão, assumir e transformar. A nós resta-nos deixar que Deus nos tome pela mão e nos faça discípulos fiéis, dedicados, humildes e perseverantes como Maria, enquanto aguardamos a bendita esperança da ressurreição.

*Encerramos, hoje, a Semana Nacional da Família. Seria bom agradecermos a Deus pela família que temos e pedir a Ele a graça de nos solidarizarmos e trabalharmos pelas famílias em dificuldade. Uma família animada pela espiritualidade cristã traz vida e esperança para o mundo.

**Nosso abraço carinhoso às pessoas consagradas nesse seu dia: deixaram tudo para viver mais radicalmente o evangelho, numa vida semelhante à do Filho de Deus: pobre, casto e obediente. Um serviço generoso ao Reino “para que todos tenham vida”. Uma vida pobre na solidariedade com os empobrecidos e ‘sobrantes’; uma vida obediente na solidariedade com os que não são ouvidos nem levados em conta; uma vida casta em solidariedade com aqueles que não fazem a experiência do amor: abandonados, abusados, explorados afetiva e sexualmente. Que Maria, nossa boa Mãe, nos ajude a viver com alegria nossa consagração para seja um “sacrifício de louvor”.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

 

 

 

Acender nossa luz na Cruz de Jesus

aureliano, 12.08.16

20º Domingo do Tempo Comum [14 de agosto de 2016]

[Lc 12,49-53]

No evangelho do domingo passado acompanhamos Jesus que nos falava da importância de cultivar e guardar o tesouro mais precioso que é a relação de intimidade com o Senhor: “Onde está o teu tesouro, aí estará o teu coração”. Para isto é preciso “manter a lâmpada acesa e os rins cingidos”: estar desperto. E o destino dos bens deve ser sempre a partilha generosa. Jesus insiste que o discípulo deve viver desapegado dos bens e das pessoas, possuindo como único tesouro o próprio Jesus, Princípio e Fim de sua vida.

No evangelho da liturgia deste domingo notamos que Jesus continua insistindo na opção decisiva e comprometida por ele. Quero, brevemente, tentar ajudar a compreender algumas palavras de Jesus neste evangelho. “Vim trazer fogo...”. “Não vim trazer a paz, mas a divisão...”. Como entender este fogo que Jesus veio trazer? E esta divisão/espada de que fala Jesus?

Fogo: um dos quatro elementos clássicos da natureza. Mas Jesus não se refere, naturalmente, ao fogo material. Aqui é uma expressão significativa: uma imagem usada por Jesus para falar do amor.

Muito embora a palavra amor esteja passando por uma banalização muito grande, contudo, é preciso ajudar a voltar ao que ela realmente significa.

As Escrituras dizem que Deus é Amor (1Jo 4,8). O Espírito Santo é o amor do Pai e do Filho. Ainda mais: “Deus amou tanto o mundo que entregou seu Filho único...” (Jo 3,16).

Além de amor, o fogo lembra também a Luz. Deus é luz e nele não há sombra alguma (cf. 1Jo 1,5). “Eu sou a luz do mundo” (Jo 8,12; 12,46) proclamou Jesus. Também fogo lembra purificação, destruição, transformação etc.

Depois destes breves fundamentos podemos entender de que fogo trata Jesus. Parece que ele deseja ardentemente que sejamos um reflexo de sua luz, de seu amor. Mas, curioso e desconcertante: nossa luzinha é acesa na sua Cruz! Isto por vezes apavora e faz tremer. Faz também fugir, reinterpretar, desconversar. Mas o contexto deste relato do evangelho nos remete, inconteste, a essa interpretação. “Devo receber um batismo, e como me angustio até que esteja consumado!” (cf. Mc 10,38). E quando Jesus fala da divisão familiar que veio trazer, mostra claramente que a opção decisiva por ele, tem consequências de cruz.

Paz, na Sagrada Escritura, é Shalom, ou seja, um modo de vida em abundância para todos. Não significa aquele sentimento desligado da vida e das pessoas, ausência de briga ou de guerra. É um modo de ser que nos leva à abertura a Deus e aos irmãos. É a vivência da justiça do Reino, pois não há paz sem justiça. E por vezes é necessário ir à “guerra”, ou seja, lutar para que as pessoas não vivam uma paz encoberta pela maldade e repressão de poderosos.

Deste modo podemos concluir que o discípulo de Jesus deve viver de tal maneira que sua vida espalhe aquele fogo que arde no Coração de Jesus: o amor. Deve passar pelo batismo pelo qual o Mestre passou: a cruz, a incompreensão, o rejeição. E ainda precisa ter a coragem de romper com relações familiares que o impedem de levar adiante uma vida coerente com o ser cristão.

O que vale em tudo isto é a busca de uma vida coerente com a fé professada. Todo cristão que opta pela verdade, pela justiça, pela fidelidade, pela paz, passará pelo “batismo” pelo qual Jesus passou.

*Neste domingo em que comemoramos o Dia dos Pais, queremos lembrar essa figura representativa do Pai do céu. Oxalá os pais assumissem, de verdade, sua missão para além da manutenção de casa e comida. Pai é aquele que educa, que forma, que se faz presente, que ampara, que dá carinho, que oferece segurança, que aponta e ajuda a trilhar caminhos de vida. Penso que nem todo homem, embora casado, tenha vocação para ser pai. Não adianta ter filhos, mas não ser referência de vida, de honestidade, de cuidado, de paternidade responsável. Parabéns papais! Dêem uma olhadinha na paternidade assumida por São José.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

 

 

Onde está o teu tesouro?

aureliano, 05.08.16

19º Domingo do Tempo Comum [07 de agosto de 2016]

[Lc 12,32-48]

No evangelho do domingo passado acompanhamos Jesus orientando seus discípulos a não depositarem sua confiança nos bens terrenos: “Tomai cuidado com todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens” (Lc 12,15). Essa admoestação de Jesus pode ter provocado nos discípulos alguma defecção, desistência, medo de assumir o projeto que o Mestre apresenta. Daí a palavra do evangelho de hoje: “Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do Pai dar a vós o Reino”. Parece que Jesus não contava com grande multidão de discípulos. Ele conta com poucos, porém destemidos, generosos, capazes de se desprenderem dos bens e posses e lutarem por um mundo mais fraterno e igualitário. Pequeno grupo que tenha como único tesouro o Reino. Um pequeno rebanho, porém que se constitui em grande sinal do Reino.

  1. “Onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração”. O desprendimento dos bens em favor dos pobres traz ao discípulo a verdadeira liberdade. Note-se que não se trata pura e simplesmente de desprezo das coisas materiais. Isso seria uma maneira doentia, desumana de se relacionar com os bens da Criação, dons de Deus. Mas Jesus propõe um jeito novo: vender e dar em esmola. É a partilha evangélica. É o não-acúmulo, o sair de si em favor dos necessitados. Essa é a perspectiva cristã. Se nosso tesouro é o Reino de Deus, então nosso coração estará em paz, livre, empenhado naquelas realidades que não passam. O cuidado com as pessoas terá prioridade sobre o cuidado com as coisas.
  2. “Que vossos rins estejam cingidos e vossas lâmpadas acesas”. Jesus alerta para a necessidade de se estar atento, pronto. Rins cingidos significa estar preparado para agir. Aliás, o Papa Francisco lembra que a Igreja precisa sair, ir para as ruas, encontrar-se com os pobres, com os necessitados, com os sofredores: "Eu quero agito nas dioceses, que vocês saiam às ruas. Eu quero que a Igreja vá para as ruas, eu quero que nós nos defendamos de toda acomodação, imobilidade, clericalismo. Se a Igreja não sai às ruas, se converte em uma ONG. A igreja não pode ser uma ONG" (JMJ do Brasil, 2013). Na JMJ da Polônia (2016) o Papa insiste na necessidade de sair: “Queridos jovens, não viemos ao mundo para ‘vegetar’, para transcorrer comodamente os dias, para fazer da vida um sofá que nos adormeça; pelo contrário, viemos com outra finalidade, para deixar uma marca. É muito triste passar pela vida sem deixar uma marca. Mas, quando escolhemos a comodidade, confundindo felicidade com consumo, então o preço que pagamos é muito, mas muito caro: perdemos a liberdade”. E acrescentou: “O tempo que hoje estamos a viver não precisa de jovens-sofá, mas de jovens com os sapatos, ainda melhor, calçados com as botas”. - Lâmpadas acesas significa cuidar da fé. Esta é a luz que ilumina o caminho. Se nos descuidamos do óleo da caridade, das boas obras, da oração fervorosa, do cultivo de uma mística profunda, do cuidado com os pobres e sofredores nossa fé pode esmorecer e nossa lâmpada se apagar. Então nosso caminho ficará em trevas e também aqueles que precisam de nossa luz.
  3. “Felizes os empregados que o senhor encontrar acordados quando chegar”. É preciso estar despertos. É muito fácil viver dormindo. É só fazer o que todo mundo faz. É deixar a vida correr ao sabor do vento: pra onde ventar a gente vai. É viver insensível ao sofrimento alheio. Quando se vive só para trabalhar, ganhar dinheiro, cumprir algumas normas, comer, dormir, se divertir. Isso é viver dormindo. As coisas mais importantes, fundamentais da vida passam longe. Teologicamente, “dormir” significa viver uma religião de tradição. É não querer perceber o agir de Deus na história, nas pessoas. É ser indiferente, despreocupado com o que realmente conta. Talvez se possam fazer muitas coisas, mas se permanece na superficialidade dessas coisas. Isso é viver dormindo. E Jesus admoesta que é preciso viver acordado.
  4. “A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido”. São palavras que precisam nos acompanhar a vida toda. Quanto mais recebemos de Deus, maior nossa responsabilidade de repartir. Se Deus me deu muito, devo também dar muito. O Pai do céu não é injusto com ninguém: aqueles que receberam mais, precisam criar consciência de que devem distribuir com quem não tem. A Eucaristia nos ensina que a verdadeira riqueza é a aquela que se divide com os outros.

*Lembramos hoje a vocação ao ministério ordenado: diácono, padre e bispo. Seria bom fazermos, hoje, uma prece pelo nosso pároco, pelos padres que conhecemos, por aqueles que nos marcaram na fé, por aqueles padres que passam por dificuldades, tribulações e enfermidades, por aqueles que vivem em situação de risco, de violência, de miséria. E vamos pedir ao Pai que envie padres profetas e santos para sua Igreja.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN