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aurelius

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Um encontro que transforma

aureliano, 28.10.16

31º Domingo do Tempo Comum [30 de outubro de 2016]

[Lc 19,1-10]

No evangelho do domingo passado ouvimos o relato do publicano fazendo oração no Tempo. Hoje temos outro publicano. Aqui, porém vemo-lo encontrando-se com Jesus, o Templo vivo do Pai.

“Deus não quer a morte do pecador, mas que ele se converta e viva” (Ez 18,23). É por isso que vemos Jesus, caminhando para Jerusalém, realizando encontro com os pecadores, levando-os à conversão.

É muito interessante o relato de Lucas sobre o encontro de Jesus com Zaqueu. Este quer ver Jesus, mas esbarra em duas dificuldades: é baixinho e é publicano (chefe!): os vizinhos o detestavam. Por isso ele sobe numa árvore. Porém é um homem que busca: “procurava ver quem era Jesus”.

Jesus se vale desta busca de Zaqueu e estabelece com ele um encontro. Não em cima da árvore, mas no “chão”. É preciso “descer”. Jesus não se relaciona conosco em situações distantes, nas nuvens, cheios de orgulho, arrogância e autossuficiência. Ele quer que desçamos para o chão de nossa história, de nosso cotidiano. É em nossa “casa” que ele quer entrar para nos transformar.

Jesus vai à casa de Zaqueu, homem rico, não para usufruir das benesses de sua riqueza, não para se aproveitar da oportunidade e ganhar alguma coisa. Não! Jesus não negocia sua hombridade. Ele vai à casa de Zaqueu para movê-lo à conversão. O convívio com os ricos pode nos levar a trair o evangelho de Jesus! O ambiente social marcado pelo luxo e pelo consumismo enfraquece da Palavra de Jesus: “Ai de vós, os ricos!” Podemos desvirtuá-la, justificando nossas posturas incoerentes. Jesus veio para todos. Para os pobres, a fim de serem amparados; para os ricos a fim de que olhem para os pobres e repartam com eles os seus bens.

A verdadeira conversão, tanto do pobre como do rico, mexe com as estruturas do mal e torna o Reino mais próximo. A conversão da pessoa abala a estrutura da iniqüidade. O episódio de Zaqueu, chefe dos publicanos, traz à baila a questão do poder: de modo geral, quando se chega ao poder, começa-se a se beneficiar dele, defraudando os outros. Por isso a necessidade da conversão verdadeira para se mudarem as estruturas de morte na sociedade a partir do encontro pessoal com Jesus de Nazaré. Ele é o modelo de homem acabado. Se nossos políticos entendessem isto,e fizessem mais encontros com Jesus de Nazaré, nosso mundo seria muito melhor.

A propósito dessa interpretação, lembro-me de uma música por aí que fala de Zaqueu, que aliás fez muito sucesso. Mas esta música é uma mutilação do relato sobre Zaqueu. Deturpa totalmente o que o texto quer revelar a propósito da conversão. Ela é do jeitinho que os ricos gostam. Faz chorar de emoção os pobres e justifica a ganância dos ricos, pois não menciona o gesto concreto da conversão de Zaqueu: devolver o que roubou e partilhar com os pobres o que tem.

Sem um encontro verdadeiro com Jesus, num olhar que transforma por dentro, a salvação não entra na nossa casa. A iniciativa é de Deus, mas precisamos “buscar”. Oxalá pudéssemos dizer, depois da celebração eucarística, voltando para nossas casas: “Hoje a salvação entrou nesta casa!”

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

 

O que vi em Angola

aureliano, 23.10.16

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Vi Padres e Irmãs abnegados e oferentes numa missão árdua, mas geradora de alegria e de esperança.

Vi alegria vibrante em cada comunidade, em cada celebração, nos olhares e nos lábios, no canto e na dança, na reza e ao redor do fogo, na veste e no tambor.

Vi milhares de crianças cujos olhares clamam oportunidades e possibilidades. Necessidade de educação e ensino.

Vi mulheres trabalhadoras e dedicadas ao cuidado dos filhos, ao mesmo tempo que sofridas por uma dor calada.

Vi necessidade de presença missionária que acolhe, que acalenta, que consola, que firma valores e princípios cristãos.

Vi horizontes que precisam ser abertos a pais de família que não sabem como abrir trilhas em mata perigosa.

Vi doenças que precisam ser debeladas.

Vi anseios de alfabetização, de aprendizado, de conhecimento.

Vi longos caminhos percorridos. Vi estradas difíceis de ser trilhadas.

Vi sinais claros de Deus a nos convidar para nos desinstalarmos de nosso comodismo, de nosso egoísmo, de nossas murmurações sem fim. "Jesus convida, conta contigo, mas é preciso ter coragem de morrer".

Vi forte convite a dar-nos as mãos, a dobrar os joelhos no chão, a abrir o coração, a fortalecer a missão.

A participação na missão se dá de três formas: com os pés que avançam; com os joelhos que se dobram; com as mãos que partilham para manutenção da missão. Portanto, ninguém pode dizer que não tem condições de ser missionário, de participar da missão. E uma Igreja que não é missionária não é católica. Pois a razão de ser da Igreja é a missão evangelizadora. 

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

PERANTE DEUS

aureliano, 21.10.16

30º Domingo do Tempo Comum [23 de outubro de 2016]

Qual é a postura acertada diante de Deus?

[Lc 18,9-14]

 

Essa é uma pergunta de fundo da parábola de hoje: que postura de vida agrada a Deus? O fariseu era um religioso fiel, dedicado, comprometido com o que determinava a Lei. Era, de alguma forma, ‘impecável’. Já o publicano não era exemplo de vida. Um cobrador de impostos malvisto pelos correligionários, tirava proveito de uma situação política para arranjar recursos ou para enriquecer-se ou para sobreviver às penúrias da dominação romana. Mas este volta para casa justificado.

Os dois vão ao mesmo templo, com o ‘mesmo objetivo’ e começam sua oração com a mesma invocação “ó Deus”. O conteúdo da oração deles é que determina a intencionalidade, a postura de fé. O primeiro eleva uma oração belíssima, de louvor e de ação de graças, completa do ponto de vista da estrutura literário-litúrgica, mas totalmente autossuficiente, orgulhosa, reveladora de uma prática religiosa que não leva em conta nem a Deus nem o próximo. Coloca-se no centro, dirige-se a si mesmo. O segundo, porém, coloca-se em atitude de dependência e necessidade da misericórdia de Deus. Mostra-se verdadeiramente um homem de fé porque deposita toda sua confiança em Deus. Não atribui nada a si mesmo. Reconhece-se pecador e quer retomar o caminho da vida e da salvação. E sabe que isso não depende somente dele, mas, sobretudo do Pai compassivo.

A oração do fariseu não leva em conta ninguém mais, a não ser a si mesmo. Não pensa nos pobres, nos pequenos, nos excluídos. Julga que observando as práticas externas da Lei, já está agradando o Criador. No entanto, Jesus ensina que não basta uma prática externa da Lei. É preciso uma vida que acompanhe a oração. Ou melhor, é preciso de uma oração que informe a vida para lhe dar sentido. Oração que chega ao coração do Pai é aquela que brota de uma alma humilde, pequena, simples, confiante, misericordiosa, preocupada com as necessidades dos irmãos.

 

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É DEUS QUEM NOS FAZ JUSTOS

Estamos caminhando para o final do mês missionário. Às vezes se tem uma visão deturpada de missão. Isso pode dever-se ao fato de nos ter sido imposta pelos colonizadores europeus uma cultura que, em nome da fé, sacrificou muitas vidas. Ficamos então pensando que fazer missão é pregar para os outros, impondo nossa maneira de pensar e de viver. Hoje entendemos que as “sementes do Verbo”, isto é, o próprio Deus, já está presente nas pessoas e nas comunidades. Resta-nos ajudar a descobrir, pela força da Palavra, Sua presença nessas realidades e não deixar que o pecado, fruto do egoísmo humano, mate ou devaste a beleza do Criador em cada ser humano.

Nossa ação missionária se dá de diversas formas: pela oração, pela visita, pela acolhida, pelo trabalho na comunidade, pelo perdão, pelo jeito de trabalhar e de realizar o cotidiano, marcados pelos “sentimentos que havia em Jesus Cristo”.

Quando Jesus, no evangelho deste domingo, fala a respeito de duas posturas (fariseu e publicano) distintas na oração, quer nos mostrar que não basta praticar uma religião de modo formal apenas, mas é preciso reconhecer nossa realidade diante de Deus. Ninguém pode salvar-se sozinho, ou seja, entrar na amizade de Deus por conta própria. A primeira atitude deve ser de reconhecer nossa impotência diante de Deus e abrir-nos ao seu amor.

Os fariseus, termo que significa ‘separados’, constituíam um grupo que buscava observar fielmente a Torah (o Ensinamento de Deus). Eram pessoas bem-intencionadas e até estimadas pelo povo com quem trabalhavam. O problema é que eles se tornaram muito rigorosos com aqueles que, por motivo de pressão dos dominadores romanos, não observavam a Lei com todo o rigor. Estabelecia-se entre eles e os publicanos uma distância, até mesmo uma inimizade.

Jesus quer mostrar que não basta cumprir a Lei pela Lei, mas é preciso colocar-se numa relação amorosa. O que conta mesmo é o amor.

A conclusão da parábola nos leva a compreender por que o publicano voltou justificado para casa: ele se reconheceu pecador, necessitado da misericórdia de Deus na qual acreditava. Reconhecer-se pecador e clamar por misericórdia é demonstrar a necessidade de ser ajudado, amparado por Deus. E Deus se dá a conhecer no perdão, na vida nova que ele concede a quem a busca nele, com humildade. O que nos justifica diante de Deus não são nossos méritos, mas a bondade de Deus que nos fortalece para a prática da justiça: a caridade.

Ser missionário não é uma questão de opção, mas é intrínseca à fé cristã. É resultado de um amor que transborda de dentro de nós e nos faz inquietos. O que é bom para mim faz sentido para mim, me enche de alegria interior; quero-o também para os outros. ”Dai de graça o que de graça recebestes”. Isto é missão.

 

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

 

 

 

A verdadeira oração...

aureliano, 14.10.16

29º Domingo do Tempo Comum [16 de outubro de 2016]

 

A verdadeira oração deve ser “inútil”

[Lc 18,1-8]

 

 

A parábola do evangelho deste domingo não revela complicação e apresenta duas figuras ocupando o centro – um juiz que tem as duas atitudes básicas da iniquidade: “não temia a Deus” e “não tinha consideração para com as pessoas”, e uma viúva injustiçada, sem nenhum apoio social, abandonada à própria sorte.

 

Então, já podemos notar que a oração não pode ser desligada da vida, da realidade de sofrimento e de opressão dos pobres. Nossa oração ao Pai precisa levar em consideração o povo sofrido em consequência das injustiças e maldades dos poderosos. Uma oração privada, que leva em conta apenas “minhas” necessidades, contradiz claramente o ensinamento de Jesus sobre a oração cristã.

 

 

Nossa oração deve ser de confiança, de esperança, persistente, “sem nunca desistir”. Deve se inspirar no jeito e na oração de Jesus.

 

Alguns se questionam: “Pra que rezar? Deus não atende a minha prece! Rezando ou não rezando, a vida continua da mesma forma. Rezar é inútil!” – É verdade: a oração é, de alguma forma, “inútil”. Ou seja, ela não tem a finalidade de resolver nossos problemas, de alcançarmos isso ou aquilo, de realizar nossos projetos pessoais. Nesse sentido a oração é “inútil”. Ela não visa a produzir coisas. A oração serve para nos ajudar a viver, a encontrar o sentido para nossa vida, a preencher o vazio existente dentro de nós, a nos tornar mais humanos, mais “conformados” a Jesus de Nazaré.

 

A oração confiante, gratuita, desapegada, “inútil”, nos coloca em sintonia com Jesus na cruz: ele experimentou o abandono do Pai – “Meu Deus, por que me abandonaste?” –, mas não perdeu a confiança: “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito”. Nesta oração de Jesus está contida a angústia de quem experimenta grande sofrimento, ao mesmo tempo em que se coloca confiante nas mãos do Pai, refúgio último e seguro na vida e na morte.

 

A pergunta de Jesus - “Quando o Filho do homem vier, será que ainda vai encontrar fé sobre a terra?”-  deve continuar ressoando dentro de nós. No contexto da parábola parece querer-nos dizer que precisamos continuar gritando com a oração, com a palavra e com as atitudes; que se faça justiça ao pobre. O abandono dos pobres, a recusa da luta pela justiça na terra, são sinais inequívocos da perda da fé, do afastamento da vida cristã.

 

                Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

 

A FESTA DA PADROEIRA

aureliano, 10.10.16

Nossa Senhora Aparecida - 12 de outubro

 

Jesus: vinho novo vindo de Maria

[Jo 2,1-11]

 

 

Ó mãe da nossa pátria,

Escuta a nossa voz:

Teus olhos compassivos

Se voltam para nós.

 

Tu és nosso socorro

Em nossas aflições;

Guarda junto do teu

Os nossos corações.

 

Louvor e honra ao Filho

Que pela Virgem vem;

No Espírito és o brilho

Do Pai eterno. Amém.

 

 

Diferentemente dos outros evangelistas, João não apresenta Jesus chamando publicamente as pessoas para a conversão ao Reino de Deus (Mt 4,17; Mc 1,15). João apresenta Jesus iniciando sua vida pública numa festa de casamento. Em Israel, o casamento é imagem da aliança de Deus com seu povo (cf. Os 2,19-22).

 

Neste mesmo capítulo notaremos a discussão a respeito do templo, quando Jesus se apresenta como o Templo de Deus, substituindo o templo de Jerusalém que se tornara objeto de exploração dos pobres (cf. Jo 2,13-22). Então o relato de hoje quer mostrar que Deus Pai fez uma nova aliança com a humanidade na pessoa de Jesus de Nazaré. Um novo casamento. Por isso, no evangelho de João, temos a narrativa do primeiro sinal de Jesus numa festa de casamento.

               

Aqueles aparatos da festa são metáforas da religião antiga, que deveria ser renovada pela presença salvadora de Jesus. As talhas, a água, o encarregado são símbolos de uma realidade que precisava ser renovada pelo amor incondicional que Jesus trouxe e revelou, representada no vinho. O vinho novo é o amor de Jesus manifestado “até o fim” (Jo 13,1).

 

“A mãe de Jesus estava lá”. É muito interessante interpretar essa expressão do evangelho. Primeiro, não tem nome. É mais do que a mãe de Jesus. Ela representa a comunidade cristã. Depois, é a noiva do casamento que está à procura do noivo. O casamento, a aliança, se dará na Cruz (a ‘Hora’ de Jesus), que naquela festa de casamento ainda não havia chegado. Na cruz ele dirá: “Mulher, eis aí teu filho”.

 

Relacionada a Maria, mãe de Jesus, está aquela bela palavra que atravessou séculos, como uma ordem da Mãe de Deus: “Fazei tudo o que ele vos disser”. Esta palavra deve continuar ecoando em nossos ouvidos e coração. Pois fazer o que Jesus mandou significa acreditar na palavra dele e colocá-la em prática. Acreditar na palavra de Jesus é abrir-se ao seu amor e deixar-se transformar como aquela água que se transformou em vinho e alegrou o coração de todos os convivas. É a vida nova, um jeito novo de ser, um caminho renovado pela graça de Deus haurida nos sacramentos, na oração, no encontro com ele.

 

Portanto, Maria, a Mãe de Jesus, é ícone da Igreja. Neste evangelho ela representa a comunidade de Israel que anseia pela vinda do Messias e, por outro lado, a comunidade cristã que acolhe e se deixa renovar pelo vinho novo, que ultrapassa as estruturas caducas de uma lei que escraviza as pessoas. Só o amor, representado pelo vinho no relato de hoje, poderá transformar os caminhos da humanidade.

 

Celebrando hoje nossa Padroeira, queremos elevar nossa prece confiante ao Pai, para que nós brasileiros sejamos fiéis à nossa vocação, nos empenhemos na construção da paz e da justiça, no serviço generoso aos irmãos e no cuidado para com a Mãe Natureza, tão maltratada pela ganância, pela busca frenética do lucro a qualquer preço.

 

Que neste dia também dedicado às crianças, nosso coração se abra ao cuidado e carinho para com esses pequeninos tão amados por Nosso Senhor, muitas vezes vitimados por abusos e maus tratos de adultos irresponsáveis e maldosos. Peçamos a Maria, a Virgem humilde e simples de Nazaré, que nos dê aquela simplicidade e candura que caracterizam o coração da criança.

 

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

Tudo é Graça!

aureliano, 07.10.16

28º Domingo do Tempo Comum [09 de outubro de 2016]

[Lc 17,11-19]

Um dia desses, almoçando na casa de uma família, a netinha, enquanto guardava o prato, disse à sua vó e madrinha: “Deus te pague, Dindinha”. Achei aquele gesto lindo! A criança aprendeu que se deve ter um coração agradecido.

As atitudes se formam pelos gestos cotidianos. Em outras palavras: a atitude de gratidão se constrói a partir de pequenos gestos aprendidos desde criança, em casa, quando a mamãe ensina a criança a agradecer o alimento, a roupa lavada, o presentinho etc. Se não aprendemos a agradecer nunca seremos gratos e gratuitos. Aliás, a palavrinha muito obrigado anda sumida do vocabulário familiar! E isso é desastroso, pois leva a uma compreensão de que somos donos de tudo e que todos devem estar a nosso serviço.

Até aqui estamos falando das nossas relações humanas, de gestos de cortesia, de boa educação. Elas manifestam, porém, nosso ser mais profundo. Ou seja, como nos relacionamos com Deus. O Evangelho de hoje nos remete a essa relação. Foram dez os curados, mas somente um voltou para agradecer.

Quando pediram a cura a Jesus, este lhes pediu uma única coisa: “Vão mostrar-se ao sacerdote”, ou seja, cumpram o que está na Lei para voltarem ao convívio social (uma vez que os leprosos não podiam permanecer no convívio familiar e social por causa da doença contagiosa). Nove deles julgaram que bastava cumprir a Lei. Não perceberam que precisavam ir além, que tudo o que receberam foi graça. Pensavam ser ‘direito’ seu. Um apenas reconhece que sua cura é dom de Deus. Por isso, volta para agradecer. E este era um samaritano, isto é, considerado inimigo pelos judeus

Dizem que os piores cristãos são os que moram perto da igreja: apropriam-se da religião e esquecem que tudo é dom de Deus. Pensam que tudo o que recebem é ‘por direito’, e que não precisam agradecer.

Outro elemento, que também precisa ser considerado a partir do episódio do Evangelho de hoje, é o conteúdo das nossas orações: temos dificuldade de fazer oração de agradecimento. Nossas preces quase sempre são de pedido. Estabelecemos uma relação comercial com Deus: “vou te dar isso para que me dês aquilo”. Como se Deus fosse nosso escravo e tudo o que pedimos devesse ser concedido porque “merecemos”! Porém, o relato do leproso agradecido quer nos remeter a uma experiência de fé mais profunda e gratuita. A Eucaristia que celebramos, como o próprio nome está a indicar (Ação de graças), deve ser nossa prece maior de gratidão ao Pai por tudo. Pois tudo é graça.

A experiência de Deus nos ajuda a reconhecer que tudo é d’Ele: a família, os irmãos, a mãe natureza, os bens, os dons, nossas capacidades. Mas só faz a experiência de gratidão quem se reconhece pequeno.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN