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aurelius

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A missão de Jesus é nossa missão

aureliano, 26.05.17

ascensão do senhor.jpg

Ascensão do Senhor [28 de maio de 2017]

[Mt 28,16-20]

Este relato do evangelho de Mateus aparece após a cena do túmulo vazio, as aparições às mulheres e a corrupção dos soldados que vigiavam o sepulcro de Jesus. A cena se situa na Galiléia dos gentios, fato de per si suficiente para apontar o caráter do mandato missionário de Jesus com dimensões universais.

Quarenta dias depois da Páscoa a Igreja celebra a Ascensão do Senhor. O relato de Mateus e o relato de Lucas (At 1, 1-11), referindo o mesmo acontecimento em locais diferentes – Galiléia dos gentios e Jerusalém – querem mostrar uma realidade que está muito além de uma aparição de Jesus e sua subida aos céus à vista dos discípulos. O sentido mesmo destes textos é expressar o que proclamamos ao longo dos séculos em nossa fé: “Está sentado à direita do Pai”. Em outras palavras, Jesus ressuscitado não veio retomar as suas atividades de antes, nem para implantar um reino político como alguns discípulos esperavam. Ele assume a vida na glória e entrega a missão aos seus discípulos, a nós: “Sede minhas testemunhas... até aos confins da terra” (At 1,8). Portanto, não se trata de uma despedida, mas de um novo modo de presença. Ele continua sendo o Emanuel, o Deus conosco, de modo novo.

Retorno à Galileia. Lugar onde Jesus iniciou seu ministério (Mt 4, 17). Regressar aí é retomar o começo para uma nova caminhada vocacional e missionária. Os discípulos missionários entenderam que o Ressuscitado é o mesmo que os chamou na beira do mar da Galiléia.

A montanha. Lugar de encontro com Deus. Crescer e aprofundar com Deus e em Deus a missão confiada por Jesus que o discípulo agora deve assumir. A partir do encontro com Deus o discípulo missionário se restabelece e continua animado pela força do alto: o Espírito Santo.

A primeira tarefa não é fazer alguma coisa, mas encontrar-se com o Ressuscitado. Missão não é convocação para realizar determinadas atividades, mas é, acima de tudo, fruto de uma experiência com o Ressuscitado. O conteúdo da missão brota da experiência com Ele. Daí a importância de não nos preocuparmos tanto com o resultado, com o “fazer” coisas, mas de nos deixarmos encharcar por Deus neste encontro com Jesus, para que outros experimentem essa ação divina em nós.

Ao prostrarem-se diante de Jesus os discípulos expressaram com esse gesto sua fé na pessoa de Jesus ressuscitado. Pois foram acometidos pela dúvida que revela a fraqueza deles diante das dificuldades da missão na comunidade. Sabemos, porém, que eles não se deixaram abater pela dúvida, isto é, pelas dificuldades, pois a história os mostra como verdadeiras testemunhas do Ressuscitado.

A autoridade conferida por Jesus aos discípulos é de serviço ao Reino e nunca em beneficio próprio. São servidores do Reino e participantes da mesma missão de Jesus.

A missão de Jesus não conhece fronteiras. É serviço a todas as nações. E o principal objetivo da missão é promover a adesão à pessoa de Jesus. Não se trata de marketing da fé. É ser testemunha do Ressuscitado. Nem se trata tampouco de uma adesão etérea, desencarnada, mas de comprometimento com a causa de Jesus: “para que todos tenham vida plenamente”.

Jesus está com os discípulos. É Deus morando no meio de nós. Jesus ressuscitado é uma presença viva e não mero personagem do passado.

Batizar é “mergulhar” a pessoa na dinâmica do evangelho e introduzi-la na comunidade dos seguidores de Jesus, a Igreja. Ao enviar seus discípulos para “fazer discípulos” mediante o batismo, Jesus manifesta seu desejo de ampliar a comunidade daqueles que acolhem sua mensagem e assumem o projeto do Reino.

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SURSUM CORDA! (CORAÇÕES AO ALTO)

As leituras da Festa de hoje convidam a deixarmos de olhar para cima. Ou seja, não ficarmos desligados da realidade. O olhar deve se voltar para a realidade na qual pisamos e o coração deve estar “no alto”, em Deus. Um ‘espiritualismo mundano’ de que fala o Papa Francisco pode nos alienar, bem como um olhar materialista e consumista para a vida nos afasta dos caminhos de Deus. O Senhor, na celebração de hoje, nos convida a ter o coração no alto e os pés no chão.

O que estamos assistindo em nosso País é um verdadeiro terror contra os mais pobres, uma afronta aos doentes pobres que precisam do SUS, uma bofetada no rosto dos aposentados que ganham um salário mínimo, um profundo desrespeito aos desempregados. Basta recordar a chacina de trabalhadores rurais no sul do Pará ocorrida último dia 24, sem mencionar outros massacres em conflito agrário ocorridos este ano! O dinheiro roubado, as fraudes ao INSS, as licitações fraudulentas, as propinas e os salários exorbitantes dos privilegiados, os recursos públicos comprometidos em negociatas noturnas e às escondidas, seriam mais do que suficientes para sanar a miséria em que o Brasil está afundado. Nossos governantes e a maioria dos parlamentares visam somente ao próprio bolso. Seu coração está no dinheiro e não “no alto”.

Talvez valesse a pena, também, ver aquele gesto bonito de Adélia Prado, poetisa, filósofa e mística, convidando a plateia a rezar a oração do Pai nosso pelo Brasil (youtube). Esse pessoal que governa o País está tão agarrado ao poder que pensa ser deus; se esquece de se voltar um pouquinho para o Pai. Razão pela qual estamos nessa lama da corrupção e do desrespeito. Deus nos livre de gente que não tem temor de Deus no coração!

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Celebramos, neste domingo, o Dia Mundial das Comunicações Sociais. É oportuno refletir sobre o uso que fazemos desses meios para evangelizar e para nos formarmos e nos informarmos também. Como os utilizamos? Que canais buscamos? A que assistimos? Que sites acessamos? Como formamos nossos filhos para o uso da TV e da internet? As mídias estão aí! É preciso valorizá-las nos aspectos que ajudam, e ter discernimento no uso para não prejudicar os valores evangélicos já tão escassos em nosso meio.

“A esperança fundada na boa notícia que é Jesus faz-nos erguer os olhos e impele-nos a contemplá-Lo no quadro litúrgico da Festa da Ascensão. Aparentemente o Senhor afasta-Se de nós, quando na realidade são os horizontes da esperança que se alargam. Pois em Cristo, que eleva a nossa humanidade até ao Céu, cada homem e cada mulher consegue ter «plena liberdade para a entrada no santuário por meio do sangue de Jesus. Ele abriu para nós um caminho novo e vivo através do véu, isto é, da sua humanidade» (Hb 10, 19-20). Através «da força do Espírito Santo», podemos ser «testemunhas» e comunicadores duma humanidade nova, redimida, «até aos confins da terra»(cf. At 1, 7-8)”. (Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Comunicações Sociais).

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

O Espírito Santo age em nós

aureliano, 19.05.17

6º Domingo da Páscoa [21 de maio de 2017]

[Jo 14,15-21]

Mandamentos de Jesus.jpg

Estamos no chamado ‘discurso de despedida’ de Jesus segundo o quarto Evangelho: capítulos 13 a 17.  Aí estão os relatos da “Hora” de Jesus: “Sabendo Jesus que a sua hora tinha chegado, a hora de passar deste mundo para o Pai, ele que amara os seus que estavam no mundo, amou-os até o extremo ” (Jo 13,1). Jesus então dá o seu testamento, aquilo que não poderão esquecer jamais, seu último desejo. E garante que não os abandonará. No evangelho deste domingo a Igreja nos apresenta o tema dos mandamentos de Jesus e o dom do Espírito.

Mandamentos de Jesus

Nós ouvimos sempre falar sobre os “Mandamentos da Lei de Deus” (cf. Ex 20, 1-17). Mas hoje estamos tratando sobre os mandamentos de Jesus que são: crer no Pai, crer em Jesus, guardar a sua palavra, permanecer nele, amar uns aos outros como ele amou, realizar as obras dele, praticar a verdade, trabalhar pelo alimento que permanece para a vida eterna. Esses mandamentos, no entanto, se resumem naquelas palavras que dirige aos seus, antes da paixão: “Como eu vos amei, assim também deveis amar-vos uns aos outros” (Jo 15, 35). A prova de que amamos a Jesus é vivência de seus mandamentos: “Se me amais, observeis meus mandamentos” (Jo 14,14).

Esse amor a Jesus não se dá de modo sensível. Ele não está mais no meio de nós como viveu em Nazaré. Ele continua conosco, mas ressuscitado. Esse amor se manifesta quando ‘guardamos sua palavra’. Ou seja, quando o vemos e o servimos na pessoa dos mais pobres e abandonados: “Tudo o que fizerdes a um desses mais pequeninos foi a mim que o fizestes” (Mt 25, 40).

O dom do Espírito Santo

A ausência física de Jesus é substituída pelo Espírito Santo, o Paráclito. É pela força deste Consolador, Advogado (advoga nossa causa contra o mundo) que nós continuamos a missão de Jesus. Essa força nós a recebemos no Batismo e se completa, se ‘confirma’ na Crisma, com o dom do Espírito Santo que nos amadurece e encoraja para a missão (cf. At 8, 5-8.15-17, primeira leitura de hoje).

Para muitos a passagem de Jesus pela história não fez diferença. A vida de Jesus não deixou nenhum rastro em sua vida. Não “viram” nem “conheceram” a Jesus (cf. Jo 14,17). Nossa missão é mostrar, com nossa vida, que a vida em Deus como Jesus a viveu faz a diferença no mundo. Mas somos incapazes de realizar essa missão por nós mesmos. É a força do Espírito Santo, consolador, advogado, defensor que nos sustentará na defesa da verdade manifestada, não em doutrinas, mas na vida e atuação de Jesus de Nazaré.

Dessa forma nossa vida, pela ação do Espírito, será um contínuo louvor a Deus, conforme ensinava  Santo Agostinho: “Na verdade, louvamos a Deus agora que nos encontramos reunidos na igreja. Mas logo ao voltarmos para casa, parece que deixamos de louvar a Deus. Não dixes de viver santamente e louvarás sempre a Deus. Deixas de louvá-lo quando te afastas da justiça e do que lhe agrada. Mas, se nunca te desviares do bom caminho, ainda que tua língua se cale, tua vida clamará; e o ouvido de Deus estará perto do teu coração. Porque assim como nossos ouvidos escutam nossas palavras, assim os ouvidos de Deus escutam nossos pensamentos” (Ofício das Leituras, sábado da 5ª semana da páscoa).

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O ESPÍRITO DA VERDADE NÃO NOS DEIXARÁ ÓRFÃOS

Elemento fundante de nossa fé cristã é a consciência de não sermos abandonados por Deus, jamais: “Ele (o Pai) vos dará outro Defensor que ficará para sempre convosco” (Jo 14,16). É importante notar que essa verdade tem consequências para nossa vida cotidiana: essa presença de Jesus em nós e em nosso meio precisa ser percebida, captada, vista por aqueles que nos rodeiam: “Vós sois uma carta de Cristo confiada a nosso ministério, escrita não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo; não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, nos vossos corações” (2Cor 3,3). Em outras palavras, nossa vida deve manifestar nossa fé e a presença de Jesus pelo seu Espírito em nós.

Este Espírito que nos é dado é cognominado “Espírito da verdade”. Essa verdade de que fala Jesus não é uma verdade filosófica, científica, racional, mas teológica. Uma verdade que pode ser traduzida por ‘fidelidade’. Na relação com Deus, podemos afirmar que uma pessoa verdadeira é uma pessoa fiel. E essa fidelidade não tem consistência apenas na opção de vida ética da pessoa, mas no Dom do Pai. É o “Espírito da Verdade que o mundo não pode acolher” que garante a fidelidade do discípulo de Jesus.

A gente tem medo da verdade. Dizer a verdade, ouvir a verdade não é tarefa fácil. Por vezes preferimos levar uma vida falsa, de aparência, enganando-nos a nós mesmos a vida inteira por medo de enfrentar a realidade da verdade. A verdade tira a capa, desmascara. Dizer a verdade não é desrespeitar, ofender, gritar com os outros, machucar. Dizer e viver a verdade é sair do casulo, é buscar uma vida coerente, é reconhecer a própria pequenez, é dizer e expressar com sinceridade o que se sente e o que se pensa na busca de comunhão, de paz, de harmonia verdadeira. “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8,32).

Viver no ‘Espírito da Verdade’ não é tornar-se dono da verdade nem atacar e derrubar adversários, mas viver como testemunha de Jesus. É manifestar o amor a Jesus ‘observando’ seus mandamentos.

O ‘Espírito da Verdade’ nos convida a viver a verdade no meio de uma sociedade mentirosa, enganadora, marcada por uma vida de aparência. Não nos deixemos levar pela mediocridade, pelo ‘todo mundo faz’, pela preguiça e comodismo que não nos deixam trabalhar nem ajudar a ninguém; por uma gatunagem descarada que leva alguns a valerem-se até mesmo da boa fé dos ‘pequenos’ para sugar-lhes as forças e o pouco que têm para sobreviver.

Abramos nosso coração ao Defensor, Auxiliador enviado pelo Pai por meio de seu Filho, para que nele possamos nos fortalecer sempre mais contra as forças da mentira, da desilusão,da ganância, do mal.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

Jesus: caminho e revelação do Pai

aureliano, 11.05.17

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5º Domingo da Páscoa [14 de maio de 2017]

[Jo 14,1-12]

O relato de hoje está no contexto da narrativa do ‘lava-pés’, traição de Judas e a negação de Pedro. Após narrar esses últimos fatos (traição e negação), João mostra Jesus consolando seus discípulos e despertando-lhes a confiança para que não desanimassem nas adversidades e decepções da missão.

Preferi trabalhar o relato de hoje a partir de tópicos. Espero que possa ajudar na oração e reflexão.

  1. “Não se perturbe o vosso coração! ... pois vou preparar-vos um lugar”. Os discípulos não precisavam ficar preocupados com o que iria acontecer. Jesus estava com eles. Podiam confiar nele: “Eu vos levarei comigo ... para que onde eu estiver estejais também vós”. Essa é a grande promessa aos discípulos: Jesus não os abandona. Preocupa-se com eles. Está com eles. – Nos momentos difíceis da vida, nas desilusões e desencantos, sobretudo quando lutamos por um bem que parece não se concretizar, lembremo-nos destas consoladoras palavras de Jesus. Não desistamos jamais de continuar no caminho do bem, mesmo que as forças do mal pareçam prevalecer.
  2. “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. No evangelho do domingo passado (Jo 10) ouvimos Jesus dizer: “Eu sou a porta”. Hoje ele diz: “Eu sou o caminho”. Foi uma resposta à pergunta de Tomé que manifestava seu desconhecimento do caminho para o Pai. Não existe outro caminho para o Pai a não ser Jesus. A vida de Jesus nos mostra por onde devemos trilhar para chegarmos ao Reino do Pai. Mesmo que não se professe explicitamente a fé cristã, mas implicitamente se deve viver a partir dos valores evangélicos. – Jesus é o Caminho que conduz ao Pai. Aquele que vive como Jesus ensinou está no caminho que conduz à vida. Para o ser humano há somente dois caminhos: um que conduz à morte e outro que conduz à vida (cf. Dt 30,15-20). A escolha é de cada um. O caminho que conduz à vida é estreito. E são poucos os que entram por ele (cf. Mt 7,14). Peçamos ao Pai a coragem suficiente para entrarmos por ele. – Jesus é a Verdade. Em meio tantas teorias que se pretendem verdades absolutas, presentes nas propostas do capitalismo, do materialismo, do lucro a qualquer preço, do prazer absoluto, Jesus Cristo resplandece como a única verdade que ilumina o ser humano. – Jesus é a Vida. O sistema político, econômico, eleitoral, judiciário de nosso País, a sede de poder e de ter a qualquer preço, tiram muitas vidas e assassinam muitos sonhos e esperanças. Jesus é vida que nos salva e nos enche de alegria.
  3. “Quem me vê, vê o Pai”. Respondendo a uma pergunta de Felipe, Jesus faz uma revelação fantástica de si: ele é o rosto do Pai. Em Jesus nós contemplamos Deus. Ele é a resposta às nossas perguntas; é a luz da verdade para nosso espírito ameaçado pela mentira e falsidade que campeiam por toda parte; é fonte de vida para nossas angústias. As palavras “quem me vê, vê o Pai”, pronunciadas na véspera da cruz, nos lembram que, encarar os rostos dos pobres e reconhecer neles o rosto desfigurado de Cristo, nos torna capazes de ver a glória do Pai no rosto coroado de espinhos daquele homem de Nazaré.
  4. “Quem crê em mim fará as obras que faço, e fará até maiores do que elas”. O discípulo de Jesus, confirmado pelo Espírito Consolador, que depositou sua confiança em Jesus e vê o mundo com o olhar de Jesus realiza obras ainda maiores do que as que Jesus realizou. Jesus era único, num território delimitado, numa época determinada, estava com possibilidades reduzidas. Já seus discípulos, aqueles que crêem nele e o seguem, estão com maiores possibilidades; é um grupo maior; se estendem a outros territórios, se renovam no decurso da história, atingem maior número de pessoas. Por isso têm possibilidade de realizar obras ainda maiores.

A confiança em Jesus, Caminho único que leva ao Pai, Rosto revelador do Pai amoroso e expresso nos rostos sofridos, deve nos renovar para que nossas obras revelem o rosto do Pai que quer a vida para todos, e reproduzam as mesmas atitudes de Jesus que acolhia, amparava, perdoava, curava, dava vida nova, novo vigor àqueles que dele se aproximavam. Para isso renovemos nossa confiança em Jesus que continua conosco, que age em nós e através de nós e que nos garante levar para junto dele na glória do Pai.

*Um abraço todo especial a todas as mães neste dia: mães doentes, mães sofridas, mães desoladas, mães abandonadas, mães presidiárias, mães desempregadas, mães comprometidas, mães doadas, mães amadas, mães desveladas. Nossa Senhora, nossa Boa Mãe, nos abençoe a todos e nos ajude a alimentar no coração aquela ternura materna que brota das entranhas do Pai que nos criou por amor.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

Meio século de vida: graças a Deus!

aureliano, 08.05.17

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“Ninguém dentre nós vive para si mesmo nem morre para si mesmo. Pois se estamos vivos é para o Senhor que vivemos; se morremos é para o Senhor que morremos. Portanto, vivos ou mortos, pertencemos ao Senhor” (Rm 14,7-8).

Hoje só me resta agradecer ao Pai por ter-me concedido viver meio século. Uma história de vida que não foi construída sozinho. Houve colaboração de muitas mãos. No ventre materno, mamãe me acolheu e cuidou de mim. Papai foi sempre prestimoso, oferecendo todos os cuidados para minha formação humana e cristã. Meus pais me ensinaram a amar a Igreja, a amar Nossa Senhora, a viver os princípios éticos e cristãos. Suas palavras encontravam eco em suas vidas. O modo de vida deles fala até hoje para nós.

Meus dez (doze) irmãos me são muito queridos. Participaram e participam efetivamente de minha vida: Luzia (no abraço definitivo do Pai desde os três anos de idade), José de Anchieta (o padre) sucedeu à Luzia na primogenitura, Maria Marta, Felipe, João Vianei, Genádio (na Casa do Pai desde o primeiro aninho de vida), eu, o aniversariante do dia, Eduardo, Jorge Ely, Gabriel (o frei), Maria Izabel, Maria Coraciana, Samuel (o caçula). Minhas cunhadas e meus cunhados muito queridos, meus sobrinhos e sobrinhas maravilhosos, todos, cada um a seu modo, fazem parte efetivamente de minha história de vida. Guardo a todos no meu coração. E sou-lhes imensamente gratos.

Ainda faço memória de inúmeros amigos e amigas, colaboradores que me incentivaram com a palavra e com o testemunho. Quantas pessoas me ajudaram a ser mais humano, mais humilde, mais solidário, mais servidor!

Não posso me esquecer da Família dos Missionários Sacramentinos que acolheu, me proporcionou estudo, formação, condições de prosseguir meu ideal de serviço ao Reino de Deus.

Isso para reafirmar que minha vida é construída com a colaboração e participação de muitas pessoas, em várias circunstâncias, com muitas histórias entrelaçadas à minha. Então minha vida não é minha: é de muita gente.

Não há explicação por que estou trilhando este caminho de consagração. A vocação não tem explicação. É um mistério ao qual se busca responder sem compreender. Responde-se, na fé, para compreender (Santo Agostinho).

O que sei dizer é que hoje estou aqui relendo minha história, revendo decisões e atitudes, agradecendo pelas “maravilhas que o Senhor realizou em mim” (cf. Lc 1,49), sem mérito algum de minha parte, e pedindo a misericórdia do Pai pelos meus descaminhos. Quero buscar acertar sempre o caminho pelo qual o Senhor quer que eu passe.

Em minha vida tudo contribuiu para o bem (Rm 8,28). E quero continuar nesta direção. Se recebi muito do Senhor, devo ser pródigo em retribuir e distribuir.

As marcas da idade já começaram a aparecer. Mas não me abatem. Continuo convencido de que minhas melhores forças devem ser empregadas para o Reino de Deus. Assim espero, para isso me empenho, confiante na Graça Salvadora de Deus que sempre acompanha e não falha àqueles que depositam sua confiança no Senhor: “Sei em quem depositei minha fé” (2Tm 2,12).

Maria, nossa Boa Mãe, interceda por nós para que sejamos capazes de corresponder sem reservas ao que o Senhor pede e espera de nós.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

Jesus é a Porta da salvação

aureliano, 05.05.17

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4º Domingo da Páscoa [07 de maio de 2017]

[Jo 10,1-10]

Estamos no capítulo 10º do Evangelho de João. É interessante notar que o capítulo 9º trouxe o relato da cura do cego de nascença com toda aquela realidade de discussão e expulsão daquele homem da sinagoga. No final, porém, Jesus o acolhe junto a si. Vale a pena retomar aquele diálogo: “Jesus ouviu dizer que o haviam expulsado. Encontrando-o, disse-lhe: ‘Crês no Filho do Homem?’ Respondeu ele: ‘Quem é, Senhor, para que eu nele creia?’ Jesus lhe disse: ‘Tu o estás vendo, é quem fala contigo’. Exclamou ele: ‘Creio, Senhor!’ E prostrou-se diante dele” (Jo 9,35-38).

No relato do evangelho de hoje Jesus se apresenta como o bom Pastor, como a Porta do redil. O redil representa, nesse contexto, o povo oprimido que Jesus veio libertar. Ele é a porta. Quem passar por ele tem a vida. Porque ele veio “para que todos tenham vida”. Os que vieram antes dele se portaram como ladrões e assaltantes, não lhes interessando o bem das ovelhas. Ele veio, porém, para garantir-lhes o bem, a salvação.

Outro aspecto que vale ressaltar provém das seguintes palavras de Jesus: “Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim será salvo”. Isso significa que todos, pastores e ovelhas, a partir de Jesus devem entrar por Ele. Devem passar por essa “porta”. E quem não passa pela “porta” é ladrão e assaltante. Esse ensinamento de Jesus ajuda a dar critérios de avaliação daqueles que se dizem ou foram feitos pastores. Se o que fazem não demonstra que eles passaram pela “porta”, ou seja, se sua prática de vida não confere com o modo de vida de Jesus, então, cuidado! São assaltantes, ladrões, que buscam o próprio interesse, e não o das ovelhas. São falsos pastores, falsos mestres.

Outro elemento: a porta não é um indivíduo, mas a comunidade em torno de Jesus. Jesus e sua comunidade são a porta que dá acesso ao Pai. A comunidade cristã deve se constituir como “porta” que permite aos fiéis ter acesso ao Pai. Isso nos leva a concluir que, quando a comunidade não permite e nem ajuda o fiel cristão a aproximar-se do Pai, fazer a experiência do Deus da vida, ela está naquela situação de assaltante, de falso pastor ou pastora.

Cabe aqui também uma palavra para todos que ocupam cargos ou ministério de liderança na comunidade e na sociedade. Padres, Irmãs, pastores, pais e mães, coordenadores, catequistas, administradores, secretários de pastas públicas, prefeitos, vereadores, deputados e senadores, chefes executivos, juízes e advogados, enfim, todos que têm função de gestão e administração, que têm pessoas sob seus cuidados, deveriam lançar um olhar para as atitudes de Jesus e conferir seu modo de gerir bens e pessoas.

Ainda mais: é preciso superar a imagem da parábola. “Ovelha”, “rebanho”, metáforas do texto, não significa submissão subserviente como se o pastor mandasse porque só ele sabe onde está a melhor pastagem. Como se as ovelhas fossem meros fantoches, sem vontade própria, sem liberdade, sem interação. Os limites da linguagem da parábola precisam ser transpostos para que haja interlocutores de nosso ministério, mais do que destinatários. Ou seja, é preciso desenvolver e qualificar nas pessoas sua capacidade de pensar por si, de agir por si; que tenham opinião própria para que participem efetivamente do processo de transformação da sociedade, da comunidade. Que possam interagir, somar, sugerir etc. Todos precisam “passar pela porta”!

Hoje é Dia Mundial de Oração pelas Vocações. Isso é motivo de preocupação sua? Você pede ao Senhor da messe que envie operários para a vinha? Como você vê e vive a realidade da messe? Como você vê e o que você faz para que se multiplique e aumente o número de servidores e trabalhadores na messe do Senhor? O que você está fazendo pelas vocações? Que lugar você ocupa na história da salvação?

Por fim, sugiro a leitura das palavras do Papa Francisco para o 54º Dia Mundial de Oração pelas Vocações:

“É importante aprender do Evangelho o estilo de anúncio. Na verdade, acontece não raro, mesmo com a melhor das intenções, deixar-se levar por um certo frenesi de poder, pelo proselitismo ou o fanatismo intolerante. O Evangelho, pelo contrário, convida-nos a rejeitar a idolatria do sucesso e do poder, a preocupação excessiva pelas estruturas e uma certa ânsia que obedece mais a um espírito de conquista que de serviço. A semente do Reino, embora pequena, invisível e às vezes insignificante, cresce silenciosamente graças à ação incessante de Deus: «O Reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra. Quer esteja a dormir, quer se levante, de noite e de dia, a semente germina e cresce, sem ele saber como» (Mc 4,26-27). A nossa confiança primeira está aqui: Deus supera as nossas expectativas e surpreende-nos com a sua generosidade, fazendo germinar os frutos do nosso trabalho para além dos cálculos da eficiência humana”.

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O BRASIL NAS MÃOS DE LADRÕES E PERVERSOS

“Jesus tornou a dizer-lhes: ‘Em verdade, em verdade vos digo: eu sou a porta das ovelhas. Todos quantos vieram antes de mim foram ladrões e salteadores, mas as ovelhas não os ouviram. Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim será salvo; tanto entrará como sairá e encontrará pastagem. O ladrão não vem senão para furtar, matar e destruir. Eu vim para que as ovelhas tenham vida e para que a tenham em abundância’” (Jo 10,7-10).

Parece que Jesus está falando para o Brasil nestes tempos de corrupção; de delação premiada; de sonegação de impostos e entrega dos bens aos donos mercado financeiro; de reforma trabalhista e previdenciária com vistas à destruição e morte das ovelhas, feridas, adoecidas e fragilizadas. As negociatas noturnas, os acordos espúrios, os jogos de poder e de dominação... Quem é mesmo que está interessado na vida das ovelhas sofridas, maltratadas, doentes, desgarradas? Parece que engordam ainda mais as ovelhas “gordas” às custas do sufocamento das magras e doentes!

Na primeira leitura de hoje Pedro faz uma advertência excepcional: "Salvai-vos do meio dessa geração perversa!" (At 2,40). As palavras de Jesus e as palavras de Pedro são uma chave de leitura para interpretação do momento político e econômico que estamos vivendo. Há pouca gente levando em consideração aquela palavra que resume a vida de Jesus: “Eu vim para que todos tenham vida em abundância”. A perversidade transvestida de bondade ainda encontra arrazoados entre muitos que se dizem cristãos e católicos. Uma lástima!

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN