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Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe

aureliano, 30.12.18

Santa Maria.jpg

Santa Maria, Mãe de Deus [1º de janeiro de 2019]

[Lc 2,16-21]

“Quanto a Maria, guardava todos esses fatos e meditava sobre eles em seu coração” (Lc 2,19). Esse relato já bastaria para mostrar como Maria, mãe de Jesus, foi uma mulher profundamente de Deus. Essa frase bastaria para buscarmos em Maria um exemplo de verdadeira discípula, mãe, mulher, íntima do Pai.

Mulher contemplativa, via, ouvia e se admirava dos acontecimentos. Sabia que tudo provinha do Pai. Meditava tudo em seu coração. Os acontecimentos em torno do Menino não eram motivo de orgulho, de vaidade, de vanglória. Eram motivo para colocar-se ainda mais no coração do Pai. Sem compreender o que estava acontecendo, lança-se confiante e silente no Mistério de Deus.

Ao celebrarmos, hoje, Maria Mãe de Deus, valem aqui algumas considerações a respeito desse dogma da Igreja.

Dogmas são como que placas a indicar o caminho da nossa fé. Metaforicamente funcionam como balizas, olhos-de-gato, arrimos e proteção. Os meio-fios de uma via são balizas que não fecham o caminho, mas indicam por onde se deve caminhar. No passado havia um exagero em relação aos dogmas, criando-se uma espécie de dogmatismo: muitas placas e pouco caminho. Hoje, após o Vaticano II, a Igreja fez uma purificação da estrada, tirando muita coisa que atrapalha, valorizando mais a Palavra de Deus e a experiência de vida de cada um, dialogando de maneira mais aberta. Deste modo ela não abre mão das verdades que acredita, distinguindo o núcleo entre aquilo de que não pode abrir mão e aqueles elementos que evoluem com o tempo. Abre-se a possibilidade do diálogo que, ao contrário de negar os fundamentos da fé, favorece maior crescimento e amadurecimento da vida cristã e eclesial.

O dogma da Maternidade Divina de Maria foi definido pelo Concílio de Éfeso, no ano 431. A discussão era cristológica, isto é, girava em torno da divindade e humanidade de Jesus. Afirmando que Jesus é Deus e homem, concluiu o Concílio que Maria é Theotokos, ou seja, Genitora (Mãe) de Deus, porque é mãe de Jesus que é Deus.

Maria é mãe porque gerou e educou Jesus, o Filho de Deus. Em poucas cenas e palavras, mas profundamente significativas, os Evangelhos retratam Maria sempre atenta, fiel, humilde, generosa, acolhedora, solícita, aberta à vontade do Pai.

Ao proclamar Maria Mãe de Deus, não estamos fazendo de Maria uma deusa, nem colocando-a como quarta Pessoa da Santíssima Trindade. Porém como Deus é comunidade de pessoas (Pai, Filho e Espírito Santo), Maria, mãe do Filho de Deus, toca cada pessoa da Trindade. É filha predileta e escolhida do Pai.  Como mãe, é figura do amor criador de Deus Pai. Em relação ao Filho, Maria é mãe, educadora, discípula e companheira. É também uma mulher cheia do Espírito do Senhor. Templo vivo de Deus. Sua docilidade ao Espírito Santo explica sua maternidade biológica e seu coração aberto a Deus.

A comunidade-Igreja participa da maternidade de Maria. Ela gera novos filhos pela fé, pelo batismo, pelo testemunho do bem. A comunidade é chamada a dar o aconchego de mãe àquele que sofre, que precisa de carinho, de educação, de cuidados, de pão. A ‘opção preferencial pelos pobres’ é uma das formas mais claras de a Igreja mostrar seu rosto materno: preocupando-se com aqueles que não têm moradia, que estão desempregados, que não têm pão, que estão doentes e sem cuidado, sem reconhecimento, cujos direitos essenciais lhes são negados, aqueles que estão na invisibilidade social e econômica. Coração de mãe não aguenta ver os filhos em condições desumanas.

Santo Ambrósio, no século IV, dizia que cada cristão é mãe como Maria, pois gera Cristo na sua alma, no seu coração. Quando cultivamos a ternura, a intuição, o cuidado, a acolhida, a capacidade de zelar pela vida ameaçada, estamos desenvolvendo nossa dimensão cristã de mãe. Uma espécie de maternagem.

Nesse dia mundial de oração pela paz, queremos que nossas palavras encontrem ressonância em nossos gestos e atitudes. Sendo contra a violência, mais ternos, evitando palavras que machucam e entristecem, a partir de nossos lares e ambiente que frequentamos e em que trabalhamos. Reafirmando nosso NÃO incondicional ao desarmamento, à fabricação e comercialização de armas, à guerras e guerrilhas que tão mal fazem à humanidade. Lembrando-nos de que a paz é fruto da justiça (cf. Is 32,17), enquanto nossas relações forem injustas, desrespeitosas, torna-se em vão falar de paz. Esta não se constrói com palavras, mas com atitudes.

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MARIA, MÃE DAQUELE QUE VEIO TRAZER A PAZ

Estamos começando o ano. “Feliz Ano Novo!” dizem todos. O que será mesmo um Ano Feliz? Meu pai tem sugerido desejar: “Abençoado Ano Novo”. Seria importante refletirmos um pouco sobre o que queremos neste ano de 2019. Que propósitos de vida estou assumindo? De quem vou me aproximar neste ano? Com quem vou trabalhar? Como quero que seja minha relação com eles/elas? Com que lentes vou olhar as pessoas, a história, as lágrimas, a violência, o poder político e econômico? Que colaboração pretendo dar para que o mundo possa ser melhor? Como será minha oração durante esse ano? Com que espírito participarei da comunidade? Mais do que pedir um ano melhor ou excelente, peçamos ao Pai que nos ajude a ser melhores, mais humanos em 2019.

Neste dia em que celebramos o dia da Confraternização Universal ou Dia Internacional da Paz, é tempo também de pensar na paz. Que paz queremos? Uma paz psicológica que visa ao bem-estar pessoal? Uma paz que nos faz fugir dos conflitos e angústias sociais e humanas para um “oásis” distante dos problemas humanos? Essa não é a paz que Jesus trouxe e anunciou. O Shalom judaico é indicativo de um estado de ânimo, de bem-estar pessoal e comunitário. É saúde e qualidade de vida envolvendo a comunidade. Não há paz para o judeu piedoso enquanto seus irmãos estiverem sofrendo, vítimas da maldade humana. Então devemos nos perguntar: “Que paz estamos desejando e construindo?”. Pois a paz/shalon é dom de Deus, mas também constructo humano. A paz é fruto da justiça (cf. Is 9,1-6; 32,17).

Celebramos neste dia, com a Igreja, a Maternidade Divina de Maria. Esse dogma foi definido em 431, no Concílio de Éfeso. A discussão girava em torno da humanidade e divindade de Jesus. Dessa discussão concluíram essa realidade de Maria: ela não é mãe somente da humanidade de Jesus, mas de toda a sua pessoa de Filho de Deus Encarnado. Se Jesus é Deus, então Maria é Theotokos - Mãe de Deus.

O evangelho de hoje nos relata que “Maria guardava todos esses fatos e meditava sobre eles em seu coração”. Vê-se, por esse e outros textos, que Maria não ocupa o centro do evangelho. Tudo o que acontece nela é referido ao Pai, no Filho, pelo Espírito Santo. Ela foi uma mulher preparada por Deus para ser Sua Mãe. E correspondeu com uma vida de humildade, de serviço, de cuidado, de presença atenta, de fidelidade. É Mãe de Deus e nossa Mãe. A meditação sobre aqueles acontecimentos iam-lhe modelando a alma para que fosse sempre mais de Deus e da comunidade.

Obrigado, Maria, mãe de Jesus. Nós te agradecemos por teres ensinado Jesus a andar, a falar, a caminhar e a amar. O teu olhar amoroso de mãe, o teu sorriso, o teu colo e a tua presença de qualidade marcaram a personalidade e a missão de Jesus. Obrigado porque também aprendeste a ser mãe, amando sem reter o teu Filho. Ensina-nos a viver os traços da maternidade: o afeto, a ternura, o cuidado e a intuição. Amem

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

Na escola da Família de Nazaré

aureliano, 27.12.18

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Sagrada Família de Nazaré [30 de dezembro de 2018]

[Lc 2,40-52]

É muito comum ainda, ouvirmos nos rotineiros cumprimentos, essa pergunta: “E a família, vai bem?” A resposta normalmente é positiva: “Sim. Está tudo bem, com saúde, graças a Deus”. Mesmo que a situação não esteja lá essas coisas, não faz parte do protocolo contar os problemas e dificuldades que ocorrem entre “quatro paredes” para todo aquele que pergunta. Até porque essa pergunta já supõe uma resposta afirmativa. Ou mesmo, alguns fazem essa pergunta para “puxar” assunto.

Mas todos sabemos da profundidade e mesmo da complexidade que envolve falar sobre família. Hoje sabe-se que família não se resume àquela constituição familiar de 40 ou 50 anos atrás: papai, mamãe, filhinhos. Todos ali, bonitinhos, arranjadinhos, obedientes... Uma estrutura patriarcal em que o macho determinava, por vezes só com o olhar, o que ele queria ou o que deveria ser feito. E mesmo que a família não tivesse esse tipo de comportamento em seu interior, havia uma harmonia interna que não era ameaçada nem influenciada por fatores externos. Havia mesmo uma prevalência “religiosa” sobre os comportamentos de pais e filhos.

Hoje o mundo mudou muito. A sociedade dita as normas econômicas, sociais, relacionais, educacionais, religiosas. Há uma espécie de ditadura de interesses econômicos que impõem aos grupos e pessoas o que eles devem fazer, o que comprar, o que usar, o que comer, como conviver, até mesmo que religião seguir ou como orar etc. E se a gente ousa entrar nos comportamentos afetivo-sexuais vigentes então, a discussão não tem fim.  Isso incide diretamente nas famílias, núcleo constituinte da sociedade, essa mesma que impõe seus ‘valores’. Isso tudo sem falar nas constituições e organizações familiares que andam em torno de pelo menos nove modalidades, segundo alguns entendidos desse assunto. Há autores que já falam de doze!

Então, o que fazer? É preciso voltar à família de Nazaré. Na perspectiva cristã parece não haver outro caminho. Lucas, nesse belíssimo relato de hoje, desvela uma faceta da família de Nazaré que precisa ser contemplada por todos nós. Um episódio que mostra a centralidade do Pai celeste na vida da família de Nazaré. A religião vivida, praticada por José, Maria e Jesus, ajuda a compreender e a aprofundar o projeto salvífico do Pai.

Uma família que observava ‘religiosamente’ a Lei do Senhor: “Iam todos os anos a Jerusalém, para a festa da Páscoa” (Lc 2, 41). Não é a observância religiosa por si mesma que salva. Jesus condenou inúmeras vezes uma prática religiosa desligada da vida. Mas, quando a religião é séria, ética, próxima da Verdade, do Bem e do Belo, ajuda a pessoa a realizar um encontro transformador e realizador com o Criador e Pai. Os pais de Jesus procuravam fazer o que ordenava a Lei. Aliás, Mateus diz que José “era um homem justo” (Mt 1,19). Isto significa que era fiel cumpridor dos Ensinamentos de Deus. Maria, a “cheia de graça”, a “serva do Senhor”, a “bendita entre as mulheres”, ouvinte atenta da Palavra. Essas indicações dos evangelhos nos revelam o caminho que esses pais percorriam para deixar sua marca no coração do filho Jesus. Por isso ele os segue: tendo completado doze anos, idade adulta para a cultura judaica, também ele sobe ao Templo.

Na viagem de volta notam algo estranho: cadê o Menino? Ficara em Jerusalém. É interessante notar o cuidado prestimoso dos pais para com o Menino. Aquele cuidado humano. Aquela responsabilidade paterno-maternal em não desamparar o filho, não perdê-lo de vista. E a lição veio: “Não sabeis que devo estar na casa de meu Pai” (Lc 2,49). Jesus quis lhes mostrar que o seu “Pai” é do céu. Seu pai terreno, jurídico não podia determinar sua vida. Ele veio para fazer a vontade do Pai do céu. Aqui aparece claramente que a missão dos pais é a de ser expressão do Pai celeste na vida dos filhos. Os pais não são donos dos filhos. Nem podem gerar filhos a seu bel-prazer. Filho é dom de Deus. Não pode ser fruto do querer egoísta dos pais. Não estou dizendo que se deva ter filho ‘a torto e a direito’. É preciso planejar a família. Mas o filho deve ser sempre acolhido como dom. Como tal, não pode brotar de mero bel-prazer dos pais. Por isso deve-se acolher o filho que não foi planejado, o filho que nasce doentinho ou com alguma deficiência. É sempre um dom do Pai. Nós somos todos do Pai!

Nem tudo na vida é compreendido perfeitamente por nós. A fé nos coloca dentro do Mistério de Deus. Muitos acontecimentos da vida não têm explicação. Têm significado, ou seja, Deus pode nos revelar algo a partir daqueles acontecimentos. Para isso precisamos acolhê-los no coração: “Eles não compreenderam as palavras que lhes dissera... Sua mãe, porém, conservava no coração todas estas coisas” (Lc 2,50-51). A meditação e contemplação do Mistério de Deus revelado em Jesus, Palavra do Pai, é que nos possibilita compreender o que o Pai quer de nós.

Escrevendo sobre os relatos da Infância de Jesus, exatamente no episódio do evangelho de hoje, o Papa Bento XVI faz um comentário interessante sobre a importância da vida de fé: “As palavras de Jesus não cessam jamais de serem maiores que a nossa razão; superam, sempre de novo, a nossa inteligência. A tentação de reduzir e manipular as palavras de Jesus, para fazê-las entrar na nossa medida, é compreensível; faz parte de uma reta exegese precisamente a humildade de respeitar essa grandeza, que muitas vezes nos supera com as suas exigências, e não reduzir as palavras de Jesus com a pergunta sobre aquilo de que podemos ‘crê-Lo capaz’. Ele considera-nos capazes de grandes coisas. Crer significa submeter-se a essa grandeza e pouco a pouco crescer rumo a ela. Nisso, Maria é apresentada por Lucas deliberadamente como aquela que crê de modo exemplar: “Feliz aquela que acreditou” (Lc 1,45) [A Infância de Jesus, Planeta, p. 105].

Podemos concluir que, para a família caminhar bem, (note que caminhar aqui remete às idas e vindas da Sagrada Família nas estradas da Judéia e da Galiléia) precisa alimentar-se de uma profunda experiência de Deus, de intimidade com o Pai, de busca da Sua vontade. Então poder-se-á tratar de qualquer modelo de organização familiar. O que importa, acima de tudo, é se essa família está buscando fazer a vontade do Pai; se está colocando em sua vida o Pai e seu projeto de vida como prioridade, como absoluto. Então muita coisa na sociedade também poderá melhorar. É um processo lento, de conversão cotidiana, de esperar contra toda esperança. É uma questão de fé.

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"A família é a primeira escola dos valores humanos, na qual se aprende o bom uso da liberdade. Há inclinações maturadas na infância, que impregnam o íntimo de uma pessoa e permanecem toda a vida como uma inclinação favorável a um valor ou como uma rejeição espontânea de certos comportamentos. Muitas pessoas atuam a vida inteira de uma determinada forma, porque consideram válida tal forma de agir, que assimilaram desde a infância, como que por osmose: "Fui ensinado assim"; "isto é o que me inculcaram". No âmbito familiar, pode-se aprender também a discernir, criticamente, as mensagens dos vários meios de comunicação. Muitas vezes, infelizmente, alguns programas televisivos ou algumas formas de publicidade incidem negativamente e enfraquecem valores recebidos na vida familiar" (Amoris Laetitia, 274).

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

Uma luz brilhou nas trevas

aureliano, 24.12.18

Natal 2018, ano C.jpg

Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo [25 de dezembro de 2018]

[Lc 2,1-14]

Durante quatro semanas viemos nos preparando para a celebração do Natal. A cada domingo uma vela era acesa na Coroa do Advento. O acender progressivo das velas – uma por semana – quis significar a Luz que brilhou progressivamente nas trevas. A expectativa dessa Luz vem de longa data. No século VIII a. C., o Primeiro Isaías já a anunciava: “O povo que andava na escuridão viu uma grande luz; para os que habitavam as sombras da morte uma luz resplandeceu” (Is 9,10).

As trevas são o egoísmo que insiste em impedir a entrada da Luz de Deus na história, no coração humano. A força da luz, porém, é maior do que as trevas do pecado. Embora este insista em prevalecer através da ganância, do consumismo, da competição desleal, da exploração, do desrespeito, da corrupção, do preconceito, da indiferença. Porém, “A graça de Deus se manifestou trazendo salvação para todos os homens” (Tt 2,11). Para que a luz vença as trevas é preciso, porém, que o ser humano abandone a “impiedade e as paixões mundanas” vivendo “neste mundo com equilíbrio, justiça e piedade” (Tt 2,12).

A sociedade pós-moderna e neoliberal sufoca o sentido do Natal. E os cristãos vão perdendo de vista seu sentido verdadeiro. As compras de presentes e mais presentes, despesas inúteis, gastos e festas com verniz de generosidade, bondade e emoção. Ações de momento que não trazem a libertação verdadeira do ser humano. Pelo contrário, costuma aprisioná-lo ainda mais nas malhas de uma ideologia assistencialista, por vezes marcada por um espiritualismo alienante ou uma fé emocionalista que proclama: “Deus mandou isso para você!”. “Tenha fé que você vai conseguir!”. “Levante as mãos quem aceita a salvação”. “Tive uma revelação: você está sendo curado nesse momento”. Fica parecendo que as dificuldades da vida se resolvem como num passe de mágica! Espere aí, gente! Vamos sair dessa fé infantil e artificial e viver uma fé mais madura, mais consistente! Chega de enganar as pessoas ou de iludir-se a si mesmo! Há programas religiosos de rádio e televisão que se dizem cristãos, mas que não têm nada a ver com o Evangelho, com Jesus de Nazaré!

O Jesus que celebramos neste Natal é gente de verdade. Um menino pobre, filho de um casal de trabalhadores anônimos da Galiléia. Experimenta a condição dos excluídos: nasce entre os pastores – pois não havia lugar na hospedaria da cidade – excluídos e odiados pelos citadinos porque o rebanho era ameaça às lavouras dos proprietários de terra residentes na cidade. Não veio justificar a exclusão e a miséria que atingia (e atinge ainda hoje) a maior parte da humanidade. Pelo contrário, veio para anunciar que o Reino de Deus é partilha, é vida em abundância para todos. E que todos nós que nos dizemos cristãos, só o seremos de fato quando nos comprometermos com Evangelho que ele veio anunciar.

O “Filho de Davi” nasce entre os pastores na cidade de Belém, a cidade de Davi. Este rei, quando menino, era pastor. Foi consagrado para ser o pastor de Israel. Porém, assediado pelo poder, assumiu uma postura de rei poderoso. E perpetrou muitos atos de maldade e de infidelidade, muito embora tenha pedido perdão. Porém, aquele que devia ser a salvação de Israel descenderia de Davi. Ao nascer, o faz em meio aos pastores para lembrar que veio para ser pastor do rebanho, e não para se servir das ovelhas (cf. Ez 34). – Quando olhamos para os dirigentes e legisladores de nosso País (e quase todos se dizem cristãos!), que metem a mão no dinheiro público para fazerem lobby (influência) junto ao grande capital e aos eleitores, somos acometidos por uma grande decepção e indignação: as ovelhas estão sendo devoradas e/ou abandonadas pelos lobos travestidos de pastores!

O sinal para identificar o menino é também interessante: “Um recém-nascido envolto em faixas e deitado numa manjedoura”. É o sinal da mudança de valores: aqueles que esperavam um Messias poderoso não poderão encontrá-lo. A salvação brota do meio dos marginalizados, dos simples, dos pequeninos. Os sinais para encontrá-lo não são luzes brilhantes, nem milagres estupendos, nem roupas de grife. Mas “um recém-nascido envolto em faixas”. Ademais os primeiros a visitá-lo não são os dignitários da cidade, mas os simples pastores. Sua presença como primeiras testemunhas do nascimento do Salvador evidencia a gratuidade e simplicidade de Deus, que dispensa aparatos oficiais.

Eis, pois, a grande Luz que nos enche de alegria. Experimentar e contemplar a salvação de Deus, em Jesus, deve ser motivo de profunda alegria para todos nós: “Eis que eu vos anuncio uma grande alegria”. Renunciando às trevas do egoísmo, colocamo-nos na grande Luz de Deus. Nesse encontro amoroso e gratuito com o Senhor, somos fortalecidos para continuar trabalhando em favor dos excluídos, dissipando as trevas com a luz que recebemos de Deus na participação da vida divina que nos mereceu Jesus pela sua morte e ressurreição. Então não precisamos temer as trevas, pois em Jesus recebemos “graça sobre graça” (Jo 1,16).

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POR QUE 25 DE DEZEMBRO?

Muita gente pensa que o dia 25 de dezembro é a data do aniversário de Jesus. Porém é preciso esclarecer que não se tem nenhum registro do dia nem do mês em que Jesus nasceu. O que se sabe com bastante certeza é que terá nascido entre os anos 04 e 06 antes da Era Cristã.

E como se estabeleceu o dia 25 de dezembro para celebrar o Natal do Senhor? É que em Roma, nesta data, se celebrava o “Nascimento do Sol invicto”. Ou seja, na noite mais longa e no dia mais curto, devido à distância entre o sol e a linha do equador, acreditava-se que o sol “renascia”. Era o solstício do inverno, ou seja, a volta do sol que marcava o fim do inverno e início do verão. Como o sol representava uma divindade pagã, 25 de dezembro era dia de festa religiosa. Ora, a Igreja, com a sabedoria que lhe é própria, valeu-se deste fato para introduzir os cristãos na celebração daquele que é o Sol que não tem ocaso, a Luz definitiva da vida do fiel, o “Sol Invicto”. Assim, os pagãos que se convertiam à fé eram introduzidos na celebração de Jesus Cristo, a “Sol nascente que brilha nas trevas” (cf. Lc 1, 78-79). A festa pagã foi cristianizada.

Se na Igreja Romana se celebra o Natal no dia 25 de dezembro pelas razões aludidas, a Igreja Oriental celebra esta mesma solenidade no dia 06 de janeiro, denominando-a Epifania, Manifestação do Senhor. Neste dia os cristãos de rito ortodoxo celebram numa mesma liturgia o nascimento do Salvador e a visita dos Reis Magos (Dia de Reis).

O que tudo isso importa para nós? Que a liturgia da Igreja é sempre uma busca de inculturar a fé na realidade que vivemos. Símbolos e celebrações pagãs foram cristianizados e introduzidos na liturgia cristã para que o ensinamento e a vida de Jesus encontrem ressonância dentro de nós e nos ajudem a transparecer na vida cotidiana as realidades que celebramos na liturgia.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

A alegria que brota de uma fé operante

aureliano, 21.12.18

4º Domingo do advento - C.jpg

4º Domingo do Advento [23 de dezembro de 2018]

[Lc 1,39-45]

Depois de celebrarmos o Domingo da Alegria, a proximidade da celebração do grande Dom de Deus para humanidade, a Igreja nos chama a dar mais uma olhadinha para dentro de nós. Se no domingo passado (Lc 3,10-18), João Batista nos chamava a uma mudança de atitude diante da vida, uma postura ética responsável: “que devemos fazer?”, hoje se nos é apresentada a figura de Maria, Mãe de Jesus, como modelo de mulher de fé consequente.

O evangelho relata o episódio do encontro de duas mulheres: Maria e Isabel. Os varões não aparecem - nem José! Duas mulheres de fé profunda, convicta. Uma, a Mãe do Senhor; outra, a mãe do Precursor. Em inteira disponibilidade nas mãos do Pai. Disseram com o Filho: “Eu vim, ó Deus, para fazer vossa vontade” (Hb 10,9). Não buscam a si mesmas. Colocam toda sua vida, na juventude ou na senectude, a serviço do Senhor. – Felizes dos filhos cujas mães são cheias de fé, plenas de Deus, cheias de alegria, tomadas pelo espírito de serviço!

O relato evangélico nos faz notar que a fé acolhida e vivida traz profunda alegria. Maria, ao aproximar-se e saudar Isabel grávida, faz a criança saltar de alegria no ventre da mãe. Não o faz pela própria força, mas pela ação do Redentor que ora traz em seu seio. Aquela Força do Alto trazida por Maria em seu ventre, provoca a alegria em João e enche Isabel do Espírito Santo. Então, quando Maria diz sim ao Pai e assume participar do projeto de salvação da humanidade, leva a alegria ao coração das pessoas, pois ela mesma já recebera a Alegria de Deus: “Alegra-te, cheia de graça”.

E Isabel exclama: “Feliz és tu que creste”. É o reconhecimento de que Maria era uma mulher plena da felicidade que brota de uma fé acolhida e vivida com intensidade. E vê em Maria aquela escolhida para trazer a Bênção de que a humanidade precisava para ser feliz: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre”.

Ouçamos ainda o que diz Santo Ambrósio:

Repara como cada palavra está escolhida com perfeita precisão e propriedade: Isabel foi a primeira a escutar a voz, mas João foi o primeiro a pressentir a graça. Aquela escutou segundo a ordem da natureza; este exultou em virtude do mistério. Ela apreendeu a chegada de Maria; este, a do Senhor. A mulher ouviu a voz da mulher; o menino sentiu a presença do Filho. Aquelas proclamam a graça de Deus, estes realizam-na interiormente, iniciando no seio de suas mães o mistério de piedade. E por um duplo milagre, as mães profetizam sob a inspiração de seus filhos.

   O filho exultou de alegria; a mãe ficou cheia do Espírito Santo. A mãe não se antecipou ao filho; foi este que, uma vez cheio do Espírito Santo, o comunicou a sua mãe. João exultou; igualmente exultou o espírito de Maria. A alegria de João comunica-se a Isabel; de Maria, porém, não se nos diz que recebesse então o Espírito, mas que o seu espírito exultou de alegria. – Aquele que é incompreensível atuava já em sua Mãe de maneira incompreensível –. Enfim, Isabel recebe o Espírito Santo depois de conceber, Maria recebera o Espírito Santo antes de conceber. Por isso, Isabel diz a Maria: “Feliz de ti, que acreditaste” (Ofício das Leituras do dia 21 de dezembro).

Outro elemento que brota de uma fé amadurecida é a capacidade de aproximação. Vejamos: logo que recebera o anúncio do anjo, “Maria partiu para a região montanhosa, dirigindo-se, apressadamente, a uma cidade da Judéia”. O encontro com o Senhor, a acolhida generosa da missão que lhe fora confiada, a notícia de que sua parenta estava grávida em idade avançada despertaram na Jovem de Nazaré o sentimento de solidariedade, de presença, de aproximação.

Ao “por-se a caminho”, Maria nos ensina a necessidade da saída. Uma fé que não nos coloca a caminho, que não provoca em nós movimento de proximidade dos mais necessitados, é uma fé morta, no dizer da Carta de Tiago (Tg 2,14). Nossa sociedade está a caminho daquilo que Jürgen Moltmann chamava de “segregarismo social”. Ou seja, tendemos a criar espaços de ajuntamento das pessoas de acordo com sua classe e necessidades: ajuntar as crianças em situação de risco ou em outras necessidades, na creche; amontoar os idosos nos asilos; confinar os delinquentes na prisão; colocar dependentes de drogas em Casas de Recuperação. 

É claro que, em certa medida, estes espaços são necessários e extremamente úteis. Percorrendo a biografia dos Santos, sobretudo dos fundadores de ordens e congregações religiosas, vemo-los preocupados com essa situação e buscando meios de reunir essas categorias de pessoas em espaços apropriados para que tivessem qualidade de vida. O problema que coloco é a terceirização dos cuidados para se “livrar”’ da pessoa. Por exemplo: ao colocar no asilo o idoso da minha casa, me livro de um “peso” que me impedia de “gozar a vida”. Segrega enquanto se constitui em busca de acercar-se de pessoas saudáveis, sem problemas. É uma forma de eugenismo, de purificação social: é preciso “limpar” a área! Realidade triste! O mesmo se pode dizer em relação aos migrantes. Negar-lhes acolhida, deixá-los morrer à míngua ou submetê-los a trabalho escravo porque eles “incham” nosso País. Não nos esqueçamos de que somos todos caminheiros, peregrinos. Peregrinamos para o fim da vida e para o “outro lado” da História.

Bem. Se se compreende a vida a partir do imediatismo, do presentismo, do gozo em detrimento dos pobres, o batismo, que nos comunica a fé, ficará desprovido de sentido. Os gestos de Jesus e de Maria, indicativos de uma fé autêntica, não encontrarão eco em nossa vida. Por conseguinte, experimentaremos, ao invés da alegria, um vazio infernal.

E não há necessidade de se fazerem coisas extraordinárias. Basta aproximar-se do vizinho entristecido; visitar e ouvir um velhinho marcado pela solidão; dar uma palavra de conforto à mãe cujo filho está na prisão; alegrar o rosto de uma criança entristecida pela separação dos pais; fazer uma visitinha a alguém que perdeu um ente querido. Emprestar o ouvido a pessoas que não têm com quem falar de suas dores e angústias. Juntar-se às pessoas que pensam e planejam organizar a rua, o bairro, o córrego em prol das políticas públicas para toda a comunidade. Enfim, são pequenos gestos, mas que dão sentido à nossa vida porque nos colocam em sintonia com o evangelho. São expressões de fé autêntica, coerente. Foi isto que Maria fez. Por isto mereceu as palavras: “És feliz porque creste”.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

“Que devemos fazer?”

aureliano, 14.12.18

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3º Domingo do Advento [16 de dezembro de 2018]

[Lc 3,10-18]

Este 3º Domingo do Advento é considerado pela tradição litúrgica da Igreja, como Domingo Laetare, pela alegria que resplandece nos corações e nas mentes dos fiéis que aguardam para muito breve a celebração do Natal do Senhor: “Canta de alegria, cidade de Sião..., pois o Senhor está no meio de ti” (Sf 3,14-15). “Alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito, alegrai-vos... O Senhor está próximo” (Fl 4,4-5). É a proclamação das leituras da Liturgia da Palavra.

Essa alegria que inunda o coração do fiel só é possível pelo perdão de Deus que é dado a quem faz um caminho de conversão. Pois o pecado é a grande fonte de tristeza e de dor para a humanidade. As alegrias da salvação que queremos alcançar, conforme a oração da missa deste domingo, estão profundamente vinculadas ao caminho que fazemos. Aqui podemos nos remeter ao início do capítulo 3º de Lucas (2º domingo do advento): João pregava um batismo de conversão para o perdão dos pecados (cf Lc 3,3). O perdão de Deus é gratuito. Mas Ele não tem como perdoar alguém que não quer se arrepender, não quer mudar de vida, não quer se converter. A conversão é a acolhida do perdão do Pai que, por sua vez, enche o coração de alegria divina.

O relato do evangelho deste domingo mostra os efeitos da pregação de João. Tocadas pelo testemunho e pelas palavras do profeta e asceta João, as pessoas começaram a perguntar: “Que devemos fazer?” Essa pergunta é reveladora do grande mistério que é o ser humano: “O ser humano supera o ser humano”, dizia Paschal. Ou seja, há uma fagulha divina dentro do ser humano que o deixa inquieto, incomodado diante da vida e da história. Ele pode fazer de conta que não existe nada, mas lá no núcleo mais secreto de sua consciência sente um apelo para algo maior do que ele mesmo e os bens que possui. É o sopro de vida insuflado pelo Criador em suas narinas, na criação (cf. Gn 2,7).

Aparecem no texto três categorias de pessoas fazendo a mesma pergunta. E o Batista lhes indica o caminho de acordo com a categoria a que pertencem. Não lhes recomenda jejum, oração, deserto ou outro ato ‘religioso’. Mas vai direto à recomendação de um agir moral, ético para resolver o problema da fome (repartir com os mais pobres), da nudez (vestir os nus: dar dignidade) e da corrupção (não aceitar propina nem sonegar ou desviar impostos) que acarretam dor e sofrimento.

Às multidões João recomenda: “Quem tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo”. Ou seja, a humanidade precisa preocupar-se, em primeiro lugar, para que ninguém passe fome nem fique ‘nu’. Que todos possam viver com dignidade através da partilha equitativa dos bens. Quantos freezers e guarda-roupas abarrotados, a ponto de não caber mais! Quantas contas bancárias gordas e quanto dinheiro em paraísos fiscais ou em bolsas de valores! Quanto dinheiro público desperdiçado, roubado, desviado! Quanta comida jogada fora, desperdiçada! Enquanto um terço da humanidade passa necessidade e fome! “Que devemos fazer?”

Aos cobradores de impostos, odiados pelos judeus, pois se enriqueciam às custas de seus correligionários, recomenda: “Não cobreis mais do que foi estabelecido”. João não lhes diz que precisam deixar o emprego. Mas que sejam honestos. Essa passagem nos faz lembrar a corrupção presente em nosso meio. É terrível conviver com gente desonesta, sacana, injusta, gananciosa. Desde o pobretão até o ricaço, há uma onda de desonestidade e de roubalheira escandalosa em nossa sociedade! De modo geral, se o sujeito tem oportunidade, rouba, engana, tira proveito, pede ou oferece ‘gorjeta’ para dar um “jeitinho”. Faz-se passar por bom, mas é um malvado, ganancioso que faz de tudo para enriquecer-se às custas de outros. Quem paga a conta são os pobres!

A terceira categoria que acorre a João na busca de um caminho de conversão são os soldados. João é enfático: “Não tomeis à força dinheiro de ninguém, nem façais falsas acusações; ficai satisfeitos com vosso salário”. É uma condenação à violência, à dominação, ao uso da força injusta e prevalecida para tirar da pessoa o que ela tem. Uma sociedade que se diz cristã e que emprega suas maiores forças econômicas na fabricação de armas é a maior prova da distância que ainda existe entre o dizer-se cristão e o ser cristão. Temos assistido às tragédias provocadas pela posse e porte de armas. A saúde e a educação ficam com as migalhas. Sem falar dos espertalhões que se valem dos cargos, do conhecimento das leis, dos espaços de poder, do ‘jeitinho brasileiro’, para engordarem suas contas ou escamotearem suas dívidas e compromissos seja com o Estado seja com os cidadãos que trilham o caminho da paz e do bem. O que está acontecendo com a humanidade é uma barbaridade!

Esse relato do evangelho nos remete a Lc 19,1-10 que trata do encontro de Jesus com Zaqueu. Aquele homem queria se encontrar com o Senhor. Mas, inicialmente, não estava disposto a mudar de vida. Quando vê Jesus entrando em sua casa, refaz seu projeto de vida! Promete fazer um caminho de conversão: “Eu reparto aos pobres a metade dos meus bens e, se prejudiquei alguém, restituo-lhe o quádruplo”. Diante deste propósito do “fazer” de Zaqueu que lhe transforma o “ser”, Jesus lhe diz: “Hoje veio a salvação a esta casa”. A salvação está, de alguma forma, condicionada á conversão. O agir ético, a caridade fraterna, a partilha dos bens, a luta pela justiça, pela igualdade de direitos e pela paz, a luta do cristão por políticas públicas, por melhoria para a população mais pobre. Em uma palavra: a saída de si, como João Batista, o “ex-cêntrico”, isto é, aquele que colocou o Senhor como centro de sua vida, é um caminho de salvação no sentido de ser uma resposta ao amor de Deus que nos salvou em Jesus Cristo.

“Que devemos fazer?” Ele está com a pá na mão. O Trigo recolherá no celeiro, mas a palha será lançada no fogo inextinguível. Sou trigo ou palha? Qual o meu conteúdo? O que estou fazendo de minha vida?

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

 

Tornar retos os caminhos tortuosos

aureliano, 07.12.18

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2º Domingo do Advento [09 de dezembro de 2018]

[Lc 3,1-6]

Este 2º domingo do Advento nos convida a entrar na dinâmica da conversão. João Batista, figura profética que sintetiza o Primeiro Testamento e introduz o Segundo como a “voz que clama no deserto: preparai os caminhos do Senhor”, citando o profeta Isaías. Esse caminho de conversão para o perdão deve ser trilhado por todos. Por isso Lucas situa João Batista na história política da Palestina de então. Ao mencionar os mandatários da época, quer lembrá-los que a salvação veio também para eles. Para serem salvos precisam “tornar retos os caminhos tortuosos”. A pregação de João atinge a todos, tanto aqueles que ocupam cargos políticos como religiosos.

A Palavra de Deus não foi dirigida nem às autoridades do palácio romano nem tampouco aos sacerdotes e mestres do Templo de Jerusalém. Mas a um homem que habita no deserto. Lugar teológico na Sagrada Escritura para indicar o “espaço” de encontro com Deus. A aridez do deserto ajuda o homem/mulher de Deus a sair de si mesmo, do próprio comodismo, das próprias seguranças, para colocar sua vida totalmente nas mãos do Pai. A caminhada do povo de Israel pelo deserto rumo à Terra Prometida (cf. Êx 14ss.) revela bem o significado do deserto na vida daquele que caminha com Deus. Aí não é possível acumular bens. Nem cultivar um jardim para tempos ociosos, nem cuidar de um bichinho de estimação, nem guardar muita provisão para o ano, nem fazer muita previsão de futuro brilhante, de sucesso, de poder político e econômico. Uma vida vivida na Providência. Uma vida despojada, entregue, à mercê dos riscos, dos desafios, das tentações, da ação divina. Lugar da manifestação da Palavra.

A busca frenética pelo bem-estar social e econômico, o fechamento às necessidades do próximo, o frenesi de tirar vantagem de tudo e de todos são indicadores de uma sociedade que caminha para a autodestruição, para a morte. A experiência do Deserto ajuda a pessoa a procurar o “único necessário” que Jesus recomendava à Marta (cf. Lc 10,38-42) e que dá o verdadeiro sentido à vida. Uma vida “em deserto” ajuda a encontrar o sentido profundo da existência humana.

João, o homem do Deserto, pregava “um batismo de conversão para o perdão dos pecados”. João é um “ex-cêntrico”, ou seja, seu centro está fora. Não se coloca no centro das atenções. Não chama a atenção sobre si mesmo. Não se anuncia a si mesmo. Seu “coração está em Deus”, como aclamamos no invitatório do prefácio da Oração Eucarística. O encontro com o Senhor no deserto faz do Batista um homem que coloca a promessa de Deus no centro da vida e da história: “E todas as pessoas verão a salvação de Deus”. Para tanto é preciso de conversão.

A salvação de Deus é dom e tarefa. É chamado e resposta. É proposta e acolhida. Deus não salva ninguém à força. “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo” (Ap 3,20). Por isso o texto diz que João anunciava “um batismo de conversão para o perdão dos pecados”. O perdão é dom de Deus. Mas precisa ser buscado, acolhido. O sinal de que queremos o perdão de Deus se traduz nas atitudes cotidianas de conversão.

Nesse tempo do Advento a Igreja nos convida a lançar um olhar lá no mais profundo de nosso ser. O que precisa ser mudado aí? Aquele ressentimento contra alguém; aquele desejo de possuir e/ou de tomar o que é do outro; aquela mentira ou calúnia ou fofoca que prejudica alguém; aquela palavra que ofende e faz derramar lágrimas; aquela preguiça ou comodismo em participar da vida da comunidade; aquela negligência em visitar ou cuidar de alguém que está doente; aquele espírito de ganância que leva à desonestidade no trabalho, que faz ganhar um dinheiro injustamente: chegar atrasado ao trabalho, “morcegar”, enrolar no serviço, “arranjar” atestados, falsificar documento, fraudar a empresa, fraudar a previdência social e prejudicar o funcionário não pagando um justo salário, ou não assinando sua carteira, ou então forçando-o a trabalhar doente e/ou para além do tempo de dever; submeter o meio ambiente e a natureza a agrotóxicos e maus tratos escorropichando-lhes as forças (Teresa Cristina, ministra da Agricultura do próximo governo, é cognominada musa do veneno por ter empenhado suas forças na aprovação do Projeto de Lei que flexibilizou a lei do agrotóxico no Brasil!); entrar em jogatina e/ou bebedeira;  trair a mulher, o marido, os filhos, os pais... Enfim, são muitos caminhos tortuosos que precisam ser “endireitados”. Somente assim todas as pessoas “verão” a salvação de Deus. Do contrário a salvação de Deus continuará “velada”, coberta pelo véu do nosso pecado e da nossa injustiça: “Com efeito, a cólera de Deus se revela do alto do céu contra toda impiedade e toda injustiça dos homens que mantêm a verdade cativa da injustiça” (Rm 1,18).

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

Imaculada: preservada em vista de Cristo

aureliano, 05.12.18

Imacuada Conceição 2018.jpg

Imaculada Conceição de Nossa Senhora [08 de dezembro de 2018]

[Lc 1,26-38]

O dogma da Imaculada Conceição de Nossa Senhora foi proclamado por Pio IX, em 1854. Porém, bem antes de ser proclamada Imaculada pela Igreja, Maria, Mãe de Jesus, já era cultuada como aquela na qual jamais morou o pecado, o egoísmo, o fechamento em si mesma. A comunidade cristã sempre acreditou que Maria é toda santa, toda de Deus.

Há alguns mal-entendidos acerca de Maria. Tem gente que pensa que Maria era tão santa que não tinha dúvidas, crises, dificuldades. Como se para ela tudo fosse fácil. Como se vivesse uma vida mágica, cercada de anjos que não deixavam acontecer-lhe nada de humano. Quando queria alguma coisa era só ‘estalar o dedo’, fazer ‘abracadabra’. E daí as perguntas: Se Maria era toda santa, sem pecado, sua vida teve algum mérito? Foi mais fácil para ela servir a Deus do que para nós, pobres pecadores? Maria sentia essas forças negativas, desejos perversos que nos assaltam?

Bem. É preciso entender o que significa para a Igreja reconhecer Maria como Imaculada. Precisamos ter em conta de que nós, cristãos, fomos marcados pela Graça salvadora de Cristo. A segunda leitura da liturgia de hoje diz: “Antes da criação do mundo, Deus nos escolheu em Cristo, para sermos, diante dele, santos e imaculados” (Ef 1,4). Toda pessoa já nasce com essa “benção” de Deus. Significa que o Pai nos criou em Cristo para a felicidade.

Porém, ninguém nasce pronto. A gente sabe que toda pessoa experimenta, em maior ou menor grau, situações de desencontro desde o seio materno: amor e desamor, acolhida e rejeição, afeto e violência. Mas a fé nos diz que somos fruto do amor generoso do Pai e entramos num projeto de vida e de alegria, de bondade, de acolhida. Experimentamos, contudo, que há algo errado na história que não nos permite realizar plenamente esse projeto do Pai. É o “Mistério do Mal”, (Mysterium iniquitatis – 2Ts 2,7). Está espalhado no mundo e dentro de toda pessoa. A Tradição deu-lhe o nome de “Pecado Original”.

Porém, o Filho de Deus veio trazer para a humanidade a “Graça Original” (cf. Rm 3,24). Ela nos recria e salva, pois é mais forte do que o pecado original. E a fé da Igreja nos diz que Maria, foi preservada desse “Pecado Original”. Ou seja, o Pai, em atenção aos méritos da salvação trazida por Cristo, preservou sua Mãe deste Mal. Ele quis preparar para si um seio, uma vida que não fosse contaminada pelo mal, pelo pecado. Assim ela nasceu mais integrada do que nós, com mais capacidade de ser livre e de acolher a proposta do Pai. Esse fato, porém, não lhe tira o esforço de ter que peregrinar na fé, de passar por dificuldades e crises, como todo ser humano. Mas, diferentemente de nós, Maria trilha um caminho sempre positivo, sem se desviar do caminho de Deus. Esse ‘privilégio’ não faz de Maria uma pessoa orgulhosa, vaidosa, arrogante. De jeito nenhum. Pelo contrário: livre interiormente, ela tem mais condições de desenvolver as qualidades humanas recebidas de Deus. Coloca-se mais aberta, mais inteira ao que o Senhor quer dela. Coloca-se como serva: “Eis aqui a serva do Senhor”. E reconhece que tudo que acontece em sua vida é dom do Pai: “O Senhor fez em mim maravilhas” (Lc 1,49).

A solenidade de hoje nos diz que Maria foi preservada da culpa original em vista dos méritos do Filho de Deus que ela iria trazer em seu seio. Foi fiel ao projeto do Pai. Correspondeu generosamente ao dom recebido do Pai. Também nós, pecadores, marcados pelo egoísmo e desejo de poder, queremos corresponder ao dom da Graça batismal que arrancou de nós as raízes do mal, mas não tirou de nós a tendência para o pecado: concupiscência. Se mesmo Maria teve de se esforçar para ser fiel ao projeto amoroso do Pai, muito mais nós devemos nos esforçar todos os dias para fazermos um caminho de fidelidade ao Pai e ao evangelho que seu Filho nos deixou.

“Obrigado, Senhor, por nos teres dado Maria Imaculada. Olhando para ela, sentimos a alegria de ver uma da nossa raça, humana e limitada como nós, mas transbordante de Graça. Olha, Senhor, pela humanidade manchada pela violência, pelo consumismo, pela pobreza, pela falta de sentido para viver. Dá-nos a graça de integrar os nossos desejos, pulsões, tendências e afetos. Liberta nossa liberdade. Acolhe a cada um de nós, santos e pecadores, e faze-nos humildes servidores da Boa Nova, como Maria. Amém.” (Afonso Murad, em Com Maria, rumo ao Novo Milênio).

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

O culto mariano na Igreja

aureliano, 05.12.18

O culto mariano[1]

Introdução

No decorrer da história cristã, o culto mariano sofreu muitas interpretações. Desde os Evangelhos Apócrifos, que narram fatos mirabolantes a respeito da Virgem Maria, até os nossos dias com os numerosos santuários e igrejas a ela dedicados, nota-se a constante presença da piedade mariana na vida do povo. Diga-se de passagem, também, as centenas de controversas aparições da Virgem em diversas regiões do mundo.

Não obstante a pequena referência a Maria na Escritura, ao longo da história cristã Maria esteve muito presente na vida da Igreja, sendo objeto de discussão por alguns Concílios - mesmo que secundariamente, pois a questão primordial era cristológica: a humanidade de Cristo com implicações soteriológicas.

Na Reforma Protestante volta a discussão da devoção mariana, devido, sobretudo, ao maximalismo católico em relação à Virgem Maria.

Os dogmas da Imaculada Conceição e da Assunção reforçaram a piedade mariana. É bom verificar com mais cuidado os termos de sua definição e o contexto em que se deram para não se emitirem sobre eles juízos infundados.

Somente a partir do Vaticano II o culto mariano é revisto de maneiras a evitar maximalismos ou minimalismos.

Em meio a tão complexa realidade, como prestar um culto verdadeiro a Maria?

Maria na Bíblia

As referências bíblicas a Maria são bastante escassas. Gn 3,15: vitória sobre a serpente; Is 7,14: a virgem conceberá e dará à luz um filho cujo nome será Emanuel (cf. Mq 5,2-3 e Mt 1,22-23): são textos entendidos à luz da revelação posterior (NT) como referidos à Mãe do Redentor.

Mesmo durante a vida de Jesus e os primeiros 30 anos mais ou menos que lhe sucederam não se estava interessado em saber quem fora a Mãe de Jesus. O interesse pela Virgem Maria surgiu com a primeira heresia, o docetismo: negação da realidade humana de Jesus. Percebeu-se a necessidade de uma leitura “retropopulsora” para afirmar a realidade humana de Jesus: seu nascimento de uma mulher. Então surgem os Relatos da Infância de Jesus, portanto, referências à Virgem Maria. É final do século I. Lucas tem a intenção de afirmar que Jesus é o Filho de Deus desde o início de sua existência. E ressalta a figura de Maria. Mateus ressalta a legitimidade do nascimento de Jesus: origem davídica. Ambos evangelistas tem como pano de fundo o Antigo Testamento.

Assim interpretado o nascimento de Jesus e a atuação de Maria no Mistério da Encarnação, a Igreja  caminhou sem problemas até o surgimento de outra heresia: o arianismo. Jesus era chamado de Senhor, Kyrios. Então surge a questão cristológica: Como compreender Jesus humano e divino ao mesmo tempo? Nicéia proclama contra Ario, que Jesus é “consubstancial” ao Pai.

O Patriarca de Constantinopla, Nestório, começou a pregar que Maria era mãe do homem Jesus, filho por graça, e não mãe de Deus. A discussão aqui não é mariológica diretamente, mas cristológica: como se deu a união do humano e do divino em Jesus? O Concílio de Éfeso (431) resolve o impasse proclamando dogmaticamente Maria “Mãe de Deus” – Theotokos. Maria é mãe de Jesus enquanto Deus e enquanto homem. A união do Verbo com a humanidade se dá pela união hipostática (pessoal) no seio de Maria.  Este mistério manifesta um mistério humano-divino: a Encarnação de Deus. A verdade da maternidade divina sublinha que Cristo é Filho de Deus e ao mesmo tempo verdadeiro homem.

Essas controvérsias cristológicas com implicações mariológicas atestam a importância da Virgem Maria na piedade cristã desde os primeiros séculos. As comunidades cristãs reconheciam que o que aconteceu na Virgem Maria faz parte do projeto de Deus.

As definições da Imaculada Conceição e da Assunção se fundamentam no testemunho da fé eclesial ao longo da Tradição. Portanto, algo já fazendo parte da fé da Igreja desde os primeiros séculos do cristianismo.

O decurso da história traz consigo suas variantes produzidas pela diversidade cultural e avanços científicos. Não é diferente no âmbito da fé, e no nosso caso, em relação ao culto mariano. É o que veremos a seguir.

Maximalismo e Minimalismo

O culto à Virgem Maria só tem sentido em referência a Cristo, ou melhor, à Trindade. Um culto mariano que não leve a Cristo pode tornar-se Mariolatria: atribuir a Maria o culto devido a Cristo. Isso seria depreciar a verdadeira glória de Maria.

Lutero levantou-se contra exageros e tendências malsãs no culto mariano. Seus três princípios: sola Gratia, sola Fides, sola Scriptura, tiraram qualquer cooperação do homem no processo da salvação, levando a colocar em questão algumas afirmações que se faziam na Igreja Católica a respeito de Maria. No entanto Lutero dava grande importância a Maria; seus escritos provam  sua fé na maternidade divina, na virgindade perpétua e na ausência de pecado em Maria.

A partir de Lutero, num nível popular, e não tanto no campo da reflexão teológica, desenvolveu-se um minimalismo mariano. Por um lado entre os protestantes: Maria, mãe de Jesus, é uma mulher como qualquer outra, sem nenhuma importância na obra da Redenção. Isso provocado pela sola Scriptura que rejeitava todo elemento da Tradição oral (interpretativa). E no meio católico prosperou uma piedade mariana que não levava muito em conta a Escritura, mas que parecia se basear nos Evangelhos Apócrifos e também como rejeição à doutrina protestante, rejeição esta alimentada pela apologética do pós-Trento. Essa situação levou a práticas de devoção mariana que não condiziam com a Tradição cristã e mariana. À primeira vista parecia que Maria ocupara o lugar de Cristo. Tal situação foi revista no Vaticano II, embora ainda persistam alguns resquícios de tais práticas.

Restaurando o culto mariano: Vaticano II

Lumen Gentium 54 diz que Maria “ocupa o lugar mais alto depois de Cristo e o mais perto de nós”. É uma proposição que deve ser bem entendida. Se no maximalismo da piedade mariana se exaltava a Virgem Maria de modo excessivo e no minimalismo se colocava a Virgem Maria num lugar impróprio à sua condição de Mãe de Deus, o Vaticano II quer colocar a Virgem no seu devido lugar na piedade mariana: perto de Cristo como lugar de primazia: Mãe de Deus; e perto de nós como participante que foi de nossa vida, como primeira discípula, nossa Mãe (LG 62).

É sintomático o fato de se dividirem as opiniões na Igreja a respeito da piedade mariana popular. Se por um lado alguns líderes de comunidade desmerecem toda atitude de devoção a Maria, por outro, há os que exageram nas manifestações de piedade. Pode-se dizer que o maximalismo e minimalismo continuam, porém ambos dentro da própria Igreja Católica.

Parece-me que tais atitudes procedem de uma ignorância acerca do ensinamento e prática da Igreja a respeito do culto à Virgem Maria. Lumen Gentium VIII, Marialis Cultus, Redemptoris Mater são documentos que mostram o posicionamento atual e ortodoxo da Igreja em relação à Virgem Maria e ajudam a clarear o culto que se lhe deve prestar.

Conclusão

O eixo da devoção mariana deve se constituir em saber se essa devoção fecha a pessoa sobre si mesma, ou a abre para o projeto de Deus. Se a faz regredir para uma relação infantil com uma mãe imaginária, ou a lança a serviço de Cristo entre os homens. É o que o Magistério da Igreja propõe.

Para ilustrar o que foi dito, colocamos a seguir, alguns excertos dos documentos da Igreja supracitados no que se refere à importância do culto à Virgem Maria:

Lumen Gentium:

“Saibam os fiéis que a verdadeira devoção (a Maria) não consiste num estéril e transitório afeto, nem numa certa vã credulidade, mas procede da fé verdadeira pela qual somos levados a reconhecer a excelência da Mãe de Deus, excitados a um amor filial para com nossa Mãe e à imitação de suas virtudes” (LG 67).

Marialis Cultus:

"A Igreja Católica, apoiada numa experiência de séculos, reconhece na devoção à Virgem Santíssima um auxilio poderoso para o homem em marcha para a conquista de sua própria plenitude. Maria, a Mulher nova, está ao lado de Cristo, o Homem novo, em cujo mistério, somente, encontra verdadeira luz o mistério do homem; e está aí, qual penhor e garantia de que numa simples criatura – n’Ela – se tornou já realidade o plano de Deus em Cristo, para a salvação de todo homem” (MC 57, §7).

Redemptoris Mater:

"Os cristãos, levantando os olhos com fé para Maria, ao longo de sua peregrinação na terra ‘continuam ainda a esforçar-se por crescer na santidade’. Maria, a excelsa filha de Sião, ajuda a todos os seus filhos – onde quer que vivam e como quer que vivam – a encontrar em Cristo o caminho para a casa do Pai. (...) (A Igreja) venera-a como Mãe espiritual da humanidade e Advogada na ordem da graça” (RM 47, §§3 e 4).

Bibliografia

  • PAULO VI, O Culto da Virgem Maria (apresentação didática), São Paulo, Loyola, s/d.
  • SCHILLEBEECKX, E., Maria, Mãe da Redenção, Petrópolis, Vozes (1966).
  • BEINERT, WOLFANG (Org.), O Culto a Maria hoje, São Paulo, Paulinas (1980).
  • ROUET, A., Maria e a vida cristã, São Paulo, Paulinas (1980), pp. 97-135.
  • Lumen Gentium VIII – Compêndio do Vaticano II, Petrópolis, Vozes (1967).
  • GEBARA, I. – BINGEMER, M. C., Maria, Mãe de Deus e Mãe dos Pobres: um ensaio a partir da mulher e da América Latina. Col. Teologia e Libertação, Petrópolis, Vozes (1987).

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

[1] Este foi um trabalho de conclusão da cadeira de Mariologia, a partir das aulas do Prof. Pe. Cleto Caliman, em 2001.