Personagens e gestos iluminadores
Apresentação do Senhor [02 de fevereiro de 2020]
[Lc 2,22-40]
A festa da Apresentação do Senhor remonta ao século V. Tem origem nos relatos do próprio evangelho de hoje. Quarenta dias depois de nascido o primogênito masculino, o judeu piedoso ia ao Templo apresentá-lo como sinal de gratidão, de consagração e também para oferecer o sacrifício prescrito para a purificação da mãe e do filho (cf. Êx 13,11-16).
Uma tradição que remonta às Igrejas Orientais assinalava a celebração de hoje por uma procissão com velas acesas. Trazia o nome de Nossa Senhora das Candeias. Por quê? Exatamente por causa daquele Menino trazido nos braços de Maria e aclamado por Simeão: “Luz para iluminar as nações”. Por isso o grande destaque da celebração de hoje é a Luz.
Jesus é a grande luz que veio iluminar a humanidade. “Sobre nós fará brilhar o Sol nascente para iluminar os que estão nas trevas, e nas sombras da morte estão sentados” (Lc 1,78-79). E a Igreja é a refletora dessa luz. O Concílio Vaticano II conclama a Igreja a refletir o clarão que ela recebe de Cristo, Luz das Nações. “Sendo Cristo a Luz dos Povos, este Sacrossanto Sínodo, congregado no Espírito Santo, deseja ardentemente anunciar o Evangelho a toda criatura (cf. Mc 16,15) e iluminar todos os homens com a claridade de Cristo que resplandece na face da Igreja” (LG, 01).
A missão da Igreja é ser luz. É fazer que a luz do evangelho perpasse os meandros mais tenebrosos da política, da economia, do mercado, da educação, das relações familiares e comunitárias. Nesse tempo confuso que vivemos é urgente tomarmos postura, nos posicionarmos como cristãos e católicos. Os falsos profetas estão a anunciar um evangelho que não é Boa Nova. Quando nos distanciamos dos pequenos, dos empobrecidos, dos que não contam, dos que são invisíveis na sociedade é sinal de que nos distanciamos de Cristo e de seu Evangelho. Pois ele “anunciou a boa nova aos pobres” (Lc 4,18) e “derrubou dos tronos os poderosos e elevou os humildes” (Lc 1,52). Uma grande luz que se projeta sobre nossa vida, e que nos visitará no julgamento final é o cuidado com os pequenos e indefesos: “Tudo o que fizestes a um desses meus irmãos mais pequeninos foi a mim que o fizestes” (Mt 25,40). Eis a missão da Igreja!
Maria e José vão ao Templo apresentar o filho ao Senhor. Esse gesto é muito significativo, sobretudo, para nossos tempos em que predominam as preocupações mundanas em relação aos filhos. Qual a primeira preocupação dos pais em relação aos seus filhos? Não parece ser a de dar uma boa condição de vida? Isso tem sua importância. Mas será que deve ocupar o primeiro lugar? E os valores do evangelho? E a relação com Deus? E a experiência de trabalho? E a participação na vida da comunidade: uma boa catequese, o senso da partilha, do respeito ao meio ambiente, a honestidade, a justiça, a verdade, a promoção da paz? As crianças aprendem mais vendo do que ouvindo. As atitudes e gestos de respeito, de generosidade, de perdão, de honestidade dos pais marcam profundamente o coração dos filhos. Não adianta mandar fazer: é preciso fazer primeiro. Não adianta comprar o amor dos filhos. É preciso amá-los gratuitamente, ensinando-lhes o caminho da vida com firmeza e ternura.
Oferecer uma boa escola, boa faculdade, plano de saúde, academia, roupa de marca, celular top, carro etc parece ocupar o centro de preocupação dos pais. Mas o evangelho de hoje diz outra coisa. Os pais de Jesus tiveram como preocupação primeira a consagração do filho ao Senhor. As coisas de Deus ocupam o primeiro lugar na formação do Menino de Nazaré. Precisamos pensar nisso.
Figura interessante é a do velho Simeão. Homem “justo e piedoso”. Por ter levado uma vida segundo o ‘Ensinamento do Senhor’, estava aberto ao Espírito Santo por quem se deixava mover. Foi consolado por ver a libertação de Israel. E bendiz a Deus com confiança: “Agora podes deixar teu servo partir em paz”. Nossos idosos podem fazer essa oração? Vivem de tal modo que sentem o conforto do Pai? É de suma importância que a gente viva de tal forma que, no final da vida se possa colocar-se com confiança e alegria nas mãos do Pai. É triste ver idosos desgostosos da vida, ranzinzas, insatisfeitos, azedos. Terrivelmente triste também é ver idosos abandonados e/ou explorados! Há alguma coisa aí que precisa ser revista e melhorada!
Simeão era um homem simples. Não era do grupo dos sumos sacerdotes do Templo. Não tinha nada, a não ser uma fé confiante em Deus. Esperava... É um homem que se sente feliz. E num gesto maternal toma o menino nos braços e bendiz a Deus. Que liberdade e serenidade nesse homem de Deus! Lucas quer nos mostrar que devemos acolher Jesus como Simeão: com carinho, confiança, alegria e fé. Abraçá-lo, isto é, assumir em nossa vida seus ensinamentos.
Ana, viúva de idade avançada, passou sua viuvez no serviço do Senhor. Não ficou ociosa, de casa em casa, nem de ‘caso em caso’. Mulher resolvida na vida, tinha consciência do modo como deveria viver. A idade não era impedimento para o exercício da missão: “Falava do menino a todos os que esperavam a libertação de Israel”.
Nesse dia dedicado à Vida Consagrada, renovemos nossa consagração. O Pai nos consagrou no batismo para a missão. Então olhemos para José, Maria, Simeão, Ana, Pe. Júlio Maria, e caminhemos com confiança à luz do Senhor.
Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN