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aurelius

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Jesus é ressurreição e vida

aureliano, 27.03.20

5º Domingo da Quaresma - A - 29 de março.jpg

5º Domingo da Quaresma [29 de março de 2020]

[Jo 11,1-45]

Ao escrever o evangelho, João descreve Jesus realizando “sinais”; não fala de “milagres”. Este é o sétimo sinal realizado por Jesus, segundo João. Diante da morte do amigo Lázaro e diante da própria morte que se aproxima, Jesus diz: “Eu sou a ressurreição e a vida”. É a grande revelação de Jesus. A ressurreição em Cristo depende da fé em Jesus. Aderir a Jesus, à semelhança do amigo Lázaro, é aderir à Vida em pessoa: “Nele estava a vida” (Jo 1,4). Lázaro é sinal de uma vida que não morre: “Quem crê em mim, ainda que morra, viverá” (Jo 11,25).

Como temos lembrado, para os primeiros cristãos a quaresma era o tempo de se prepararem aqueles que seriam batizados na Vigília Pascal. E os textos nos querem ajudar a mergulhar no sentido do batismo para o cristão.  À medida que compreendermos bem o batismo e suas consequências para a vida cristã, teremos menos “problemas” na pastoral do batismo e, consequentemente, construiremos uma Igreja que seja mais significativa e mais incisiva na história, como é o propósito do sacramento do batismo.

O relato da revivificação de Lázaro é uma imagem do batismo cristão. Batismo é a vida nova assumida e vivida em Cristo: “Se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos habita em vós, aquele que ressuscitou Cristo Jesus dentre os mortos dará vida também a vossos corpos mortais mediante o seu Espírito que habita em vós” (Rm 8,11). A vida eterna não é algo que está ainda para acontecer plenamente depois desta vida terrestre, mas já é realidade para aquele que crê em Jesus Cristo. É o “já e ainda não” de quem segue a Jesus. O Espírito faz viver nossos corpos mortais apesar da morte; faz-nos viver a vida de Deus no meio da morte. Embora no meio da morte, estamos vivos: “Se, porém, Cristo está em vós, o corpo está morto, pelo pecado, mas o Espírito é vida, pela justiça” (Rm 8,10). Na perspectiva cristã a história não caminha para o caos, a confusão, a desordem, para um nada, mas para a ressurreição final.

“Quem não tem o Espírito de Cristo não pertence a Cristo” (Rm 8,9). Se o batismo nos dá o Espírito que animou o Cristo, não podemos agir por outro espírito, com o “espírito de porco”, por exemplo. Ou seja, o cristão deve traduzir em obras a fé que proclama no Cristo. Isso significa transformar a sociedade de morte em uma sociedade de vida, onde reine a justiça, a bondade e a comunhão. É renunciar a uma vida “segundo a carne”, isto é, movidos pelos desejos egoístas, e buscarmos viver “segundo o espírito”, isto é, numa abertura cada vez maior àqueles que precisam de nós. Numa verdadeira eucaristia: vida doada, entregue pela salvação e libertação de todos.

Ó Deus de bondade, dai-nos por vossa graça caminhar com alegria na mesma caridade que levou o vosso Filho a entregar-se à morte no seu amor pelo mundo. Amém.

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DIANTE DA MORTE: CHORAR, MAS TAMBÉM CONFIAR

O relato de hoje traz um fato muito interessante de Jesus: ele chorou diante da morte do amigo Lázaro. Esse fato vem mostrar o sentimento de humanidade de Jesus. Ele não chorou simplesmente pela morte do amigo, mas sentiu na alma a dor da impotência humana diante da morte. Duas atitudes tomadas por Jesus diante da morte: chorar e confiar em Deus.

A morte é sempre uma realidade de dor e de sofrimento. Há dentro de todos nós um desejo insaciável de viver. Por que a vida não se prolonga mais? Por que não se tem mais saúde para uma vida mais ditosa? Que é feito da “pílula da imortalidade” que os cientistas insistem em descobrir?

O ser humano de hoje carrega cravadas em seu coração as perguntas mais inquietantes e mais difíceis de se responderem: ‘Que será de cada um de nós? Que podemos fazer? Rebelar-nos? Deprimir-nos?’ – Sabemos que vamos morrer. Mas quando, onde, se sozinhos ou assistidos... não sabemos. Mas seria muito bom termos ao nosso lado, naquele momento derradeiro, alguém que nos ajudasse a “entregar o espírito”! Mesmo assim, porém, ninguém se livra da solidão da morte! Naquele momento, ainda que esteja uma multidão ao nosso lado, morremos sozinhos!

Diante do mistério último de nosso destino não é possível apelar a dogmas científicos nem a explicações espiritualistas e extraordinárias. A razão não dá conta de nos explicar este mistério. Nós cristãos devemos nos colocar com humildade diante do fato obscuro da morte. E fazermos isso com humildade, numa radical confiança no mistério da bondade do Pai manifestada em Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que tenha morrido, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá jamais. Crês nisto?”. A resposta confiante de Marta quer mostrar o caminho que o discípulo de Jesus deve percorrer no confronto com a situação da morte: “Sim, Senhor, eu creio firmemente que tu és o Cristo, o Filho de Deus, aquele que deve vir ao mundo”.

O relato do evangelho deste domingo quer mostrar-nos que a presença do Senhor faz brotar a esperança. Marta, que crê na ressurreição de Cristo, na vida que ele veio trazer, torna-se para sua irmã, Maria, mensageira do chamado do Senhor que a faz sair do mundo da morte em que estava mergulhada, para estar diante do Senhor da vida.

Dizem que Hans Küng afirmava a respeito da morte: “Morrer é descansar no mistério da misericórdia de Deus”.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

Um SIM que muda a história

aureliano, 24.03.20

Anunciação do Senhor - 25 de março.jpg

Anunciação do Senhor [25 de março de 2020]

[Lc 1,26-38]

  1. “Alegra-te”: o dom pascal da alegria. Alegria da vida em Cristo, alegria da consagração religiosa  Alegria de ser cristão, católico. Alegria da missão. Nossa alegria de cristãos e consagrados é perceptível? O que dizem de nossas atitudes?
  2. “O Senhor é contigo”: a certeza de que o Senhor está conosco, não nos abandona. Ainda que entre água no barco, Ele continua ali. Sentir a presença do Senhor nos momentos difíceis.
  3. “Não temas, Maria”: o medo nos paralisa. O medo gera discórdia e divisão. O medo faz fechar a porta, não deixa o outro entrar na minha vida. É preciso baixar a guarda. Ter capacidade de ouvir. O diferente nos amedronta, gera preconceito. Somos diferentes. Saber acolher a diferença, pois ela nos enriquece.
  4. “O Espírito Santo virá sobre ti...”: podemos ficar tranquilos porque é Deus que transforma, que fecunda, que faz crescer e dar frutos. Uma entrega mais confiante nas mãos de Deus. Deixar o Espírito Santo agir, fecundar. Não atrapalhar a ação divina em nós e nos outros. Nós não mudamos o mundo. Mas podemos fazer a diferença.
  5. “Eu sou a serva do Senhor”: descer, lavar os pés. Tirar o manto do poder e colocar o avental do serviço. Tirar as armaduras, as barreiras que nos impedem de servir melhor.
  6. “Não quiseste sacrifício e ofertas... Eis-me aqui... Eu vim ó Deus para fazer a tua vontade”: acolher a ação de Deus em nós. Deixar que a vontade dele se realize em nossas ações cotidianas. Não atrapalhar a ação de Deus. Buscar todos os dias a vontade dele. Fazer meu querer coincidir com o Querer dele. Minhas ações não salvam o mundo, mas minha vontade entregue, consagrada à vontade do Pai colabora na construção de um mundo mais próximo do sonho de Deus.
  7. Júlio Maria consagrou sua vida à vontade do Pai. Buscou transformar seu querer no querer de Deus. “Eu quero ser santo”. “Eu quero a Amazônia”. “Não a minha vontade, Senhor, mas a tua”. Uma oferta, um sair de si permanentemente. Um olhar para frente. Maria, a Boa Mãe, sempre a inspirar sua vida. – E nós? Como está nossa entrega, nossa vida? Como lidamos com nossos desejos desordenados de poder, de ter, de prazer? Como anda nossa disponibilidade para o serviço, para colaborar? Onde está nosso manto de poder? O que fazemos dele? E o avental? Ficou onde? – Como anda nossa vida eucarística? Quais são os frutos de nossa participação nas celebrações e orações? As pessoas os percebem, colhem, se servem deles?

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3º Artigo do Credo Apostólico: “Jesus Cristo foi concebido pelo poder do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria” (Uma síntese do Catecismo da Igreja Católica).

Retomando a expressão de S. João (“O Verbo se fez carne” -- Jo 1, 14.), a Igreja denomina “Encarnação” o fato de o Filho de Deus ter assumido uma natureza humana para realizar nela a salvação (cf. Fl 2, 5-8.) (461).

Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, na unidade de sua Pessoa Divina; por isso Ele é o único mediador entre Deus e os homens (cf. 1Tm 2, 5.) (480).

A Anunciação a Maria inaugura a “plenitude dos tempos” (Gl 4, 4.), isto é, o cumprimento das promessas e das preparações (484).

Ao anúncio de que, sem conhecer homem algum, ela conceberia o Filho do Altíssimo pela virtude do Espírito Santo, Maria respondeu com a “obediência da fé”, certa de que “nada é impossível a Deus”: “Eu sou a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1, 37-38.) Assim, dando à Palavra de Deus o seu consentimento, Maria se tornou Mãe de Jesus e, abraçando de todo o coração, sem que nenhum pecado a retivesse, a vontade divina de salvação, entregou-se ela mesma totalmente à pessoa e à obra de seu Filho, para servir, na dependência dele e com Ele, pela graça de Deus, ao Mistério da Redenção (494).

Jesus é o Filho Único de Maria. Mas a maternidade espiritual de Maria estende-se a todos os homens que Ele veio salvar: “Ela gerou seu Filho, do qual Deus fez ‘o primogênito entre uma multidão de irmãos’ (Rm 8, 29.), isto é, entre os fiéis, em cujo nascimento e educação Ela coopera com amor fraterno” (cf. Jo 19, 26-27; Ap 12, 17.) (501).

Em toda a sua vida, Jesus mostra-se como nosso modelo. Ele é o “homem perfeito” que nos convida a tornar-nos seus discípulos e a segui-lo: por seu rebaixamento, deu-nos um exemplo a imitar; por sua oração, atrai à oração; por sua pobreza chama a aceitar livremente o despojamento e as perseguições (cf. Rm 15, 5; Fl 2, 5; Jo 13 15; Lc 11, 1; Mt 5, 11-12.). Tudo o que Cristo viveu foi para que pudéssemos vivê-lo nele e para que Ele o vivesse em nós. “Por sua Encarnação, o Filho de Deus, de certo modo, se uniu a todo homem. Nós somos chamados a ser uma só coisa com Ele; Ele nos faz partilhar (comungar), como membros de seu corpo, de tudo o que (Ele) por nós e como nosso modelo, viveu em sua carne (520-521). 

*Hoje nossa Congregação, Missionários Sacramentinos de Nossa Senhora, celebra 91 anos de fundação. Reze uma Ave-Maria por nós, pela nossa missão, para que nos seja concedida "uma porção do espírito" que animou o Servo de Deus, Pe. Júlio Maria, nosso Fundador.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN.

Senhor, abri nossos olhos, curai nossa cegueira!

aureliano, 20.03.20

4º Domingo da Quaresma - A - 22 de março.jpg

4º Domingo da Quaresma [22 de março de 2020]

[Jo 9,1-41]

João escreve com uma linguagem própria, em relação aos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas): longos diálogos cujas cenas são carregadas de simbolismo, provocando realismo e suspense no leitor. A principal mensagem do relato de hoje é a acolhida da revelação de Jesus enfatizada no contraste entre o “ver” e o “cego”. No texto encontramos 14 vezes a palavra “cego” e 18 referências ao “ver”. Os fariseus julgam ver tudo a partir da Lei e expulsam da sinagoga aquele que passou a ver depois do encontro transformador com Jesus.

Não podemos perder de vista que, desde os inícios do cristianismo, a quaresma é o tempo de preparação para o batismo dos catecúmenos (aqueles que se preparam para o batismo). Por isso os textos bíblicos e litúrgicos são escolhidos de forma a levar aquele que será batizado a entender e a assumir a fé que irá professar e a mergulhar cada vez mais no mistério do Cristo, luz do mundo. Nas Igrejas Orientais o batismo é chamado de “iluminação”.

A liturgia continua convocando o batizado à conversão do coração. É preciso afastar a ideia de que somente se deve preparar e pensar no batismo quem ainda não foi batizado. A realidade batismal deve acompanhar toda a vida do cristão. É uma vida nova. É um jeito novo de viver: “Outrora éreis trevas, mas agora sois luz o Senhor: andai como filhos da luz, pois o fruto da luz consiste em toda bondade, justiça e verdade” (Ef 5, 8-9).

Aquele cego de nascença representa cada pessoa chamada a fazer caminho de seguimento de Jesus. Nascer cego lembra a realidade de pecado (original) em que toda pessoa nasce. É preciso ser “ungido” no encontro com Jesus e “lavar-se” nas fontes batismais para enxergar o mundo com o olhar de Jesus. “O pior cego é aquele que não quer ver”, proclama o ditado popular. Cegos eram os fariseus e mestres da lei que não queriam enxergar a grande novidade enviada por Deus ao mundo na pessoa de Jesus. Continuavam cegos, embora acreditassem enxergar.

O encontro com Jesus nos abre os olhos e o coração e passamos a enxergar o mundo de modo novo, sem aquela cobiça que faz tanto mal, sem inveja e ciúme. Sem a sede do poder e do dinheiro que provoca tantas desavenças. Passamos a ver o outro não mais como ameaça ao nosso bem-estar ou como objeto de exploração e lucro, mas como irmão que precisa de nós, que pode somar conosco na construção de um mundo melhor.

Enquanto nosso olhar para o mundo for a partir de nossos interesses egoístas, seremos cegos conduzindo cegos. Se, porém, adotarmos a ótica de Jesus, que nos foi dada no batismo, seremos uma possibilidade para construir família, comunidade, sociedade, relações mais humanizadas. Despertaremos nos outros sua capacidade de enxergar melhor. Seremos reflexos da luz de Jesus: “Vós sois a luz do mundo. Brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vendo as vossas boas obras, eles glorifiquem vosso Pai que está nos céus (Mt 5,14.1).

Outro elemento importante do evangelho de hoje é não atribuir o sofrimento humano a uma punição de Deus pelo próprio pecado ou de antepassados. É uma compreensão por demais mesquinha e medíocre sobre Deus. Essa idéia está muito disseminada em nosso meio. Precisa ser erradicada, pois faz muito mal às pessoas e emperra a transformação da história. É uma idéia que nega a liberdade da pessoa, o mistério de Deus e do sofrimento humano. Jesus corta esse mal pela raiz: “Nem ele nem seus pais pecaram, mas é para que nele sejam manifestadas as obras de Deus” (Jo 9, 3).

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UM OLHAR PARA A REALIDADE A PARTIR DE JESUS

A Campanha da Fraternidade 2020 propõe um olhar solidário para os sofredores: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,34-35). Esse “ver” sugere um olhar diferenciado. Diante da realidade que enfrentamos, percebemos várias formas de se olhar. Costuma prevalecer um olhar que abandona a vida. “A desigualdade é um triste distintivo da sociedade brasileira. Em 2017, o Brasil era o 9º país mais desigual do planeta em distribuição de renda” (Texto-Base, 31). O aborto, o feminicídio, a automutilação, a violência contra os povos indígenas e quilombolas, os conflitos no campo e na cidade, o desaparecimento de pessoas e venda de órgãos, a violência e acidentes no trânsito etc. “A incapacidade do Estado de frear a violência contribui para a banalização do mal, na medida em que grupos de extermínio determinam os que devem viver e os que devem morre. Os poderes paralelos são fortalecidos por um Estado distante e acuado. Com isso eles impõem a violência e a morte. Como se este fato já não fosse grave em si, ainda mais grave é a concepção daqueles que nutrem uma visão na qual o extermínio do outro soa como alívio” (Texto-Base, 57).

Some-se a isso um olhar que destrói a natureza. “O domínio da economia, que retira o olhar para a pessoa do centro, orientando-se por outros interesses, é o motor da desigualdade social que agride a vida, não só do ser humano, mas de todo o planeta, modificando nossa Casa Comum” (Texto-Base, 61). “O olhar que destrói a natureza nasce da incapacidade de percebê-la em sua singularidade. A natureza requer paciência para oferecer a nós o melhor ar para respirarmos; a melhor água para nos saciar; o melhor frescor da brisa suave em tempos cálidos;  a chuva mansa que traz vida à terra” (Texto-Base, 66).

Cresce em nosso meio o olhar de ódio e de indiferença. Não há futuro para a humanidade se seu combustível for o ódio e a indiferença. “Para superar o vírus da indiferença, é urgente educar as jovens gerações para que participem ativamente na luta contra os ódios e as discriminações, e também na superação das oposições do passado, e para que nunca se cansem de ir ao encontro do outro. Com efeito, para preparar um futuro verdadeiramente humano, não é suficiente rejeitar o mal, mas é preciso construir juntos o bem (Texto-Base, 71).

Como está sendo nosso olhar? Um olhar de fé, com a lente de Jesus, pode perceber luzes e beleza na vida de muitas pessoas e comunidades que realizam o bem e defendem a vida. Leigos, consagrados e consagradas que empenham sua vida em ambientes e situações de risco, de dor, de violência, de morte, devolvendo ao coração das pessoas a alegria de viver, a esperança benfazeja, a coragem de continuar a lutar pela coletividade. “O cuidado reinstaura o espaço da graça e da leveza diante do mundo e de todas as formas de vida, gerando um novo laço de amor entre nós. Essa imagem nos remete ao belo poema ‘Não sei’ de Cora Carolina:

Não sei se a vida é curta

ou longa demais para nós,

mas, sei que nada

do que vivemos tem sentido,

se não tocamos o coração das pessoas” (Texto-Base, 81).

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

São José, homem justo

aureliano, 19.03.20

São José 2020.jpg

São José, Esposo de Nossa Senhora [19 de março de 2020]

[Mt 1,16-25]

Celebre a José a corte celeste,

Prossiga o louvor o povo cristão:

Só ele merece à Virgem se unir

Em casta união.

Ao ver sua Esposa em Mãe transformar-se,

José quer deixar Maria em segredo.

Um anjo aparece: “É obra de Deus!”

Afasta-lhe o medo. (Oficio de Vésperas).

 

A Igreja celebra São José em dois dias no ano: 19 de março e 1º de maio. No dia 19 de março, São José é celebrado como patrono da Igreja Universal; já no dia 1º de maio, dia do Trabalho, São José é honrado como Operário, o carpinteiro de Nazaré.

Em 1870 São José foi declarado o patrono da Igreja católica. E em 1955 o Papa Pio XII honrou o Dia do Trabalho (1º de maio) com a invocação: São José, operário. A devoção a São José sempre existiu. Já o culto litúrgico veio mais tarde lá no fim do século XV. É um dos santos mais populares. Ainda hoje o nome José é dado com muita frequência pelos pais aos seus filhos. Também há milhares de comunidades, igrejas, praças e cidades em homenagem a São José.

Há alguns traços marcantes na vida de São José que o Evangelho registrou e que vale a pena destacar. Podem nos ajudar em nossa vida cotidiana.

O Justo: “José, seu marido, era justo e, não querendo denunciá-la, resolveu abandonar Maria, em segredo” (Mt 1,19). A alcunha de ‘justo’ na cultura judaica quer significar fiel observante do Ensinamento de Deus; pessoa cheia de Deus e que busca fazer-lhe sempre a vontade. Aquele que foge do pecado e busca fazer sempre o bem. Aquele que dá a cada um o que lhe pertence, sobretudo “a Deus o que é de Deus”. José é justo, não pelo fato de buscar separar-se de Maria, mas porque procura e reconhece em todas as coisas a vontade de Deus.  Abriu mão de seus projetos pessoais para abraçar a missão que o Pai lhe pedira.

Pai adotivo: Este título é um dos mais significativos. José não foi o pai carnal de Jesus. “A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José, e, antes de viverem juntos, ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo” (Mt 1,18). A presença de José na genealogia do rei Davi garante a Jesus a linhagem real segundo o relato de Mateus: “Jacó foi pai de José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado Cristo” (Mt.1,16). Este ministério dá a José o lugar de Deus Pai. Leonardo Boff diz que José é a “personificação de Deus Pai”. Exatamente por ter assumido a missão de cuidador, de zelador, de nutrício do Filho de Deus. José assume um filho que não é seu. Ele abraça a missão com todas as consequências. Interessante notar que, em nossa vida, surgem situações que nos colocam desafios semelhantes. De repente precisamos enfrentar ou assumir u’a missão que nunca imaginávamos. Mas se abraçamos como dom e missão vindos do Pai, será fonte de graça para toda a comunidade.

Carpinteiro: “Não é ele o filho do carpinteiro?” (Mt 13,55). Numa situação de incompreensão por parte de seus conterrâneos e correligionários – “De onde lhe vem essa sabedoria e esses milagres?” (Mt 13,54) –, Jesus é chamado, em tom de desprezo, filho do carpinteiro. Neste relato José aparece como um trabalhador. Empenhava-se em trabalho duro para sustentar a família. Não vivia como sanguessuga, nem como agiota ou como quotista em empresas e bolsas de valores, nem como explorador do trabalho e suor alheios. Seu pão era conquista de esforço cotidiano. Patrono, por isso, dos trabalhadores e trabalhadoras que lutam bravamente para ganhar “o pão com suor do rosto” (Gn 3,19).

Homem do silêncio fecundo: “Enquanto José pensava nisso, eis que um anjo do Senhor apareceu-lhe, em sonho...” (Mt 1,20). Este relato mostra José como um homem orante e contemplativo. Não se precipita. Procura entender o que Deus quer. Os evangelhos não registraram nenhuma palavra de José. Isso mostra que ele era um homem discreto, silente, contemplativo. A profundidade de uma pessoa, muitas vezes, se mede pela sua capacidade de ouvir, de silenciar-se, contemplativamente.

Esposo e Pai: Os evangelhos narram a solicitude de José para com sua família. Diante da ameaça do famigerado Herodes, instruído pelo Senhor, foge para o Egito: “Ele se levantou, tomou o menino e sua mãe, durante a noite, e partiu para o Egito” (Mt 2,14). Não descuidava dos compromissos religiosos: “Seus pais iam todos os anos a Jerusalém para a festa da Páscoa” (Lc 2,41). E não perdia de vista o filho que lhe foi confiado: “Ele ficou em Jerusalém sem que seus pais o notassem. Pensando que estivesse na caravana, andaram o caminho de um dia, e puseram-se a procurá-lo entre parentes e conhecidos. E não o encontrando, voltaram a Jerusalém à sua procura” (Lc 2,43-45). Lucas resume numa frase a vida da Sagrada Família em Nazaré: Jesus lhes era submisso e ia crescendo em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e dos homens. (Lc. 2,51-52).

O relato do evangelho de hoje sugere que Deus faz coisas novas. Onde sua iniciativa é acolhida com a boa vontade das pessoas justas, caso de Maria e José, a Graça atua de modo exuberante.

Maria, virgem que se torna mãe sem o ato sexual, representa em sua virgindade toda a humanidade disposta a receber a maravilhosa intervenção divina dando-nos uma nova vida. Graças à cooperação de Maria, a realidade de Deus desceu até nós em Jesus. A liturgia católica celebra hoje em tom solene a lembrança, o exemplo de vida, a intercessão daquele que está na passagem do Antigo para o Novo Testamento: José, o justo.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

Um encontro ao redor do poço

aureliano, 12.03.20

3º Domingo da Quaresma - A - 15 de março.jpg

3º Domingo da Quaresma [15 de março de 2020]

[Jo 4,5-42]

A água é elemento indispensável à vida. Ela é tão importante que em breve pode se tornar o elemento mais precioso e caro do planeta. É o bem mais essencial para a vida humana. Infelizmente ainda não se tomou consciência suficiente no uso desse elemento. Em vez de varrer com a vassoura muita gente varre calçadas e ruas com água limpinha, tratada; desperdiça de várias outras maneiras. Quando me deparo com alguém (conhecido!) desperdiçando água, ou misturando lixo reciclável com lixo molhado ou orgânico, ou queimando capim ou folhas secas etc., costumo exclamar: “Olhe a Campanha da Fraternidade!”

A liturgia da Palavra deste domingo nos coloca diante da sede de um povo no deserto (Ex 19,3-7) e da sede da mulher à beira do poço. O que é a sede? Você já experimentou sede? Esse desejo e necessidade não sendo saciados com certa imediatez levam a desfalecimento. A gente pode passar dias sem alimento sólido, mas sem água, não. A sede (de água) é símbolo de uma sede maior, mais profunda. A experiência de habitar em terra estrangeira, longe do Templo, numa vida escravizada leva o israelita a dizer a Deus: “Ó Deus, tu és o meu Deus, eu te procuro. Minha alma tem sede de ti, minha carne te deseja com ardor, como terra seca, esgotada, sem água” (Sl 63,2). Muitas vezes a experiência de dor e sofrimento nos faz voltar para Deus como “terra seca e sedenta”.

Veja o que aconteceu com a mulher samaritana neste belíssimo relato de João que mostra Jesus como do Dom do Pai, a Água Viva que preenche o coração humano, representado nas buscas até então insatisfeitas da mulher samaritana: “Vai chamar teu marido”...  “Eu não tenho marido”... “Tiveste cinco maridos, e que tens agora não é teu marido” (Jo 4,16-18). Jesus é aquele que preenche o coração daquela mulher. Não tem preconceito, não julga, não condena. Apenas acolhe e mostra-lhe o dom da água viva que brota para a vida eterna. Jesus não lhe apresenta a doutrina e a censura, mas o Dom. E ela acolhe, reconhece, rende-se diante de uma realidade que responde às suas buscas mais profundas.

No caminho da Judéia para a Galiléia era preciso passar pela Samaria. Um território constituído por um povo que tinha alguns costumes diferentes e divergentes dos costumes dos judeus. Havia entre eles uma inimizade histórica e cultural mortal. Jesus estabelece uma nova relação com esse povo. A mulher samaritana aqui significa também a própria Samaria. Jesus veio também para eles. Não somente para os judeus.

Aqui temos o fruto de um encontro verdadeiro, honesto, na busca da verdade do ser humano. Encontro que desperta um desejo para além daqueles que se deram ao longo da história em redor do poço: Isaac e Rebeca; Jacó e Raquel; Moisés e Séfora. Não se dá ali uma “paquera” para casamento, mas um encontro que transforma a partir de dentro e envolve toda uma cidade: “Muitos samaritanos daquela cidade creram nele, por causa da palavra da mulher”.

O Desejo de Jesus se encontrou com o desejo da mulher, que a princípio estava marcada pelo sentimento de ódio, de decepção, de desencanto. O Desejo puro de Jesus contagia aquela mulher, purifica seu desejo e lhe dá uma nova perspectiva de vida. Aquele Desejo oculto de felicidade, ínsito por Deus em seu coração na criação, foi despertado.

Jesus é o dom do Pai, a água viva capaz de saciar o desejo humano que não se sacia com coisas e pessoas: “Já tiveste cinco maridos e o que agora tens não é teu marido”. Ele sacia de vez a sede profunda daqueles que o buscam: “Dá-me dessa água, para que eu não tenha mais sede”.

Nossos jovens, nossas famílias, nossas crianças estão buscando saciar a sede servir a Deus “em espírito e verdade”. Mas o que lhes é oferecido pela televisão, pela internet, até mesmo em alguns cultos ditos cristãos é veneno. Algo parecido com água, mas que leva à morte, à secura, a uma busca frenética de bens de consumo, de festas desmedidas, de bebidas e drogas, de sítios e quintais, de gozo e de vazio. O resultado nós o temos visto: assassinatos, vinganças e mortes; cadeias e bandidagem; corrupção política e roubos de todo jeito; desesperança e “fossa”, preconceito e desejo de morte. Onde está o remédio? No encontro transformador com Jesus Cristo, a Água Viva que nos dá vida nova, que abre nossos horizontes, que dá sentido à vida, que nos faz discípulos missionários, como aconteceu com a samaritana. Bento XVI dizia que o “ser cristão não é fruto de uma decisão ética ou de uma grande ideia, mas de um encontro com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, um rumo decisivo”.

Esse relato do encontro de Jesus com a Samaritana nos questiona também em relação à falta de espaço de acolhida em nossas comunidades. Jesus sentou-se, esperou, acolheu, ouviu, foi rejeitado inicialmente. E ele se manteve ali, resiliente, esperançoso, confiante. Não se pode apresentar em primeiro lugar a lei, a doutrina, o “carão” à pessoa que procura a comunidade: “Você está no pecado!” “Você precisa mudar de vida!” “Você sumiu da igreja!” “Você não pode comungar!” “Você não pode receber os sacramentos!”. - A pessoa precisa de espaço de diálogo, de partilha, de alguém que a ouça sem julgamento, que a compreenda, que lhe apresente um Deus que ama incondicionalmente toda pessoa. Santo Agostinho dizia: “Se queres conhecer uma pessoa, não pergunte o que ela pensa, mas o que ela ama”. Se você quer conhecer a sua comunidade, as pessoas da comunidade, observe não o que elas dizem ou pensam, mas o que ela amam.

Teremos um mundo novo na medida em que cada cristão, assumindo seu batismo, fonte de vida nova em Deus, continuar fazendo seu encontro com Jesus Cristo na sua comunidade, na Palavra de Deus, na celebração, junto àqueles que sofrem. De uma mentalidade consumista e capitalista, egoísta e gananciosa, fratricida, feminicida, preconceituosa e maledicente, transformar-se em discípulo de Jesus como a samaritana do evangelho. Não basta pensar como Jesus pensou. O fundamental é amar como Jesus amou.

O encontro com Jesus “ao redor do poço” deve levar à missão. A participação na celebração deve levar o cristão a partilhar com os outros a experiência feita no encontro vivificador com Jesus Cristo. Há muita gente esperando um pouquinho de nossa “água” haurida nas fontes do Salvador.

Concluindo também com Santo Agostinho: “Ama e faze o que quiseres. Se calares, calarás com amor; se gritares, gritarás com amor; se corrigires, corrigirás com amor; se perdoares, perdoarás com amor. Se tiveres o amor enraizado em ti, nenhuma coisa senão o amor serão os teus frutos”.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

“Escutai o que Ele diz”

aureliano, 06.03.20

2º Domingo do Quaresma - A - 08 de março.jpg

2º Domingo da Quaresma [08 de março de 2020]

[Mt 17,1-9]

O relato da transfiguração é apresentado logo após o anúncio da paixão, seguido da repreensão de Pedro que esperava um messias poderoso para libertá-los das mãos dos romanos. Por isso dizemos que nesse relato estão entrelaçados dois aspectos paradoxais: sofrimento e glória. Lucas o confirma ao relatar que a conversa entre Moisés, Elias e Jesus versava sobre “sua partida que iria se consumar em Jerusalém” (Lc 9, 31).

O que esse relato nos quer transmitir? É um apelo aos discípulos a reconhecerem a verdadeira identidade de Jesus, o Filho amado do Pai, ao mesmo tempo que evidencia o crime hediondo daqueles que tramam sua morte.

Moisés e Elias: este ultimo, representante dos profetas e aquele, da Lei. Ambos encontraram-se com Deus na montanha. Aqui, porém, eles nem têm o rosto transfigurado nem ensinam os discípulos, mas conversam com Jesus.  O episódio da transfiguração mostra Jesus, o Filho amado do Pai, que realiza e sintetiza em sua própria vida a Lei e os Profetas. Agora é Ele que deve ser ouvido.

Quando vemos, nesse relato, sofrimento e glória articulados, não devemos interpretar que o sofrimento é o preço da glória; como se Deus barganhasse conosco. Não. A cruz ou sofrimento é consequência da fidelidade ao projeto do Pai. Faz parte da vida do discípulo de Jesus que busca viver um estilo de vida que se opõe à proposta mundana de morte. “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e me siga” (Mt 16, 24). Como o Pai glorificou e confirmou seu Filho, ele fará o mesmo com aqueles que buscarem conformar sua vida com a vida de Jesus. No ser humano de Jesus toda a humanidade foi glorificada.

A voz do Pai deve continuar ressoando em nossa vida: “Este é o meu Filho amado em quem me comprazo, ouvi-o”. Essas palavras nos remetem ao relato do batismo de Jesus: “Este é meu Filho amado em quem me comprazo” (Mt 3, 17). Consequentemente nos levam ao nosso batismo, realidade que nos incorpora a Cristo, nos dá vida nova, novo nascimento. E a quaresma sempre foi, na Igreja, desde os primórdios, tempo de preparação para o batismo (para os catecúmenos), e de retomada dos compromissos batismais para fiéis cristãos.

Escutar a voz do Filho, revelador do amor do Pai, deve ser a meta de todo cristão. Abraão ouviu, acreditou e “partiu” (cf. Gn 12, 1-4). Por isso se tornou a grande bênção para a sua posteridade. O cristão batizado, ouvindo a voz do Filho, confirmado pelo pedido de sua mãe: “Fazei tudo o que ele vos disser” (Jo 2, 5), será sempre uma bênção para sua família e comunidade. Não se esqueça, porém, que é uma realidade que demanda a cruz. O que conforta é a perspectiva da ressurreição, da vida nova, da serenidade, da alegria verdadeira que “ninguém poderá tirar” (Jo 16,22).

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O MEDO DE ESCUTAR JESUS

“Ao ouvirem isso, os discípulos caíram de rosto em terra tomados de grande medo” (Mt 17,6). Os discípulos não suportaram ouvir aquela voz que confirmava a vida de Jesus. E não suportaram também a ordem: “Escutai o que ele diz”. Parece que os discípulos ainda não queriam ouvir a Jesus. Preferiam continuar ouvindo outras vozes.

Quão frequente é a tentação da recusa de ouvir a voz do Senhor tanto em nós e em nossas comunidades! Por isso a Igreja reza com o salmista: “Hoje, não fecheis o vosso coração, mas ouvi a voz do Senhor” (Sl 95). Preferimos, muitas vezes, permanecer na ignorância, na mesmice. Preferimos, muitas vezes, a recusa em ouvir os clamores dos pobres, uma opinião de quem pensa diferente, o chamado à conversão.

Então é preciso deixar-se tocar pelo Senhor: “Jesus aproximou-se, tocou neles e disse: ‘Levantai-vos! Não tenhais medo’” (Mt 17,7). É o toque do Senhor que nos acorda, que nos faz perceber e ver a história com outros olhos. Deixar-se tocar pelo Senhor é desenvolver a capacidade de ouvir as pessoas, de olhar o mundo com um olhar de Deus; de debruçar-se todos os dias sobre a Palavra de Deus e orientar a própria vida por ela. É deixar que o projeto do Pai ilumine os próprios projetos. É lançar-se com mais confiança nas mãos do Pai, sabendo que Ele cuida de todos nós.

O Servo de Deus, Pe. Júlio Maria De Lombaerde, comentando este evangelho, falava da importância de se retirar para ouvir o Senhor. Jesus – observava ele – conduziu os discípulos à parte sobre uma alta montanha. Significa que é preciso deixar de lado as distrações e preocupações mundanas para estar com o Senhor e ouvi-lo. “Enquanto uma alma está entregue às preocupações das noticias, aos devaneios, ao tumulto dos vãos pensamentos, fica escravizada pela imaginação e pelas distrações, e Deus não é para ela senão o Deus desconhecido de Atenas (At 17,23)”. E continua: “O homem distraído não se conhece a si mesmo, não vê o que deve reformar em si, não descobre razões de melhorar, de praticar a virtude. Toda a sua vida decorre no esquecimento de Deus e na ignorância dos próprios defeitos. (...) O homem espiritual, porém quer elevar-se da terra, aproximar-se de Jesus transfigurado, transfigurar-se com Ele pela prática da virtude” (Comentário Litúrgico, p. 164-165).

Sobe, pois, a montanha! Escuta o Mestre! Deixa-te tocar por ele! Põe-te de pé e segue a Jesus! Não tenhas medo de ouvi-lo e de segui-lo! O movimento é sempre este: subida e descida: subir a Montanha para estar com ele. Descer a Montanha para estar com os outros de modo novo, iluminado, transfigurado, encantado, fortalecido.

*Campanha da Fraternidade 2020: Um dos granes desafios para o nosso tempo é definir o que se entende por justiça. Trata-se, sem dúvida, de uma palavra muito usada, porém, com muitas compreensões diferentes. O ponto em comum reside no fato de que se deva dar a alguém aquilo que ele merece. Diferem, entretanto, as compreensões ao especificar o que é merecido. Na maioria das vezes, trata-se daquilo que pode ser retribuído, com o dinheiro, com o trabalho, com o bom comportamento, atendendo às expectativas do grupo ou da sociedade em que se está inserido. Esse não é um conceito errado de justiça, mas ele é incompleto, porque deixa de fora os seres humanos que, de algum modo, não podem retribuir: os pobres, os pecadores e os inimigos (Texto-base, 103).

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN