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O Reino de Deus é um tesouro

aureliano, 24.07.20

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17º Domingo do Tempo Comum [26 de julho de 2020]

[Mt 13,44-52]

Com este domingo a Igreja conclui o capítulo 13 de Mateus conhecido como o Sermão das Parábolas. Hoje temos as parábolas do tesouro e da pérola que convidam a investir no Reino de Deus. A parábola da rede mostra a situação da Igreja: mistura de fiéis convictos e mornos. Esta última parábola se assemelha muito à do joio. Na verdade, quem realiza a colheita é o Pai. Ele sabe quem deve entrar para a vida definitiva. A nós compete tentar melhorar a situação do Reino: mais paciência, mais tolerância, mais empenho em transformar as realidades de maldade em bondade. O resto é com Ele!

Essas parábolas sugerem duas atitudes fundamentais na vida humana: desprendimento e investimento. Desprender-se do supérfluo, daquelas coisas que não nos dão a verdadeira garantia. E investir naquilo que nos garante contra a ‘traça’ e a ‘ferrugem’. Porém é preciso considerar que, para se desprender de algo para investir em outra coisa é preciso conhecimento daquilo em que estamos investindo. Assim, ninguém vai investir na bondade, na justiça e na verdade se desconhece o fundamento dessa realidade que é o próprio Deus.

A descoberta do Reino de Deus revelado por Jesus gera tal alegria que a pessoa abre mão de tudo para aderir e participar desse Reino. O ensinamento de Jesus provoca encantamento no povo e o desejo de deixar tudo para servir ao Reino de Deus. Esse modo de realizar o trabalho deve ser aprendido pelas comunidades: encantar, entusiasmar.

No atual contexto social e religioso encontramos gente pregando e prometendo realidades que não têm nada a ver com o Reino anunciado por Jesus. Uma relação comercial com Deus como se as coisas que ele nos dá tivessem preço e se prestassem a troca, permuta. Como se ele exigisse de nós o dízimo, a oferta, a penitência, o jejum para nos abençoar e caminhar conosco. O evangelho não fala disso. Fala que, na medida em que a pessoa encontrou o tesouro, sente-se movida a sair e a buscar uma vida diferente, nova, desinstalada. O “tesouro” é aquela realidade que dá sentido à nossa vida, que responde às nossas buscas mais profundas, que preenche o vazio deixado dentro de nós pelos bens e prazeres mundanos.

Peçamos a Deus que nos ajude a ter coragem suficiente para nos desprendermos daquelas coisas que nos impedem de viver o ensinamento de Jesus, de anunciar sem medo o Reino, e de denunciarmos os projetos de anti-reino em nosso meio. Sobretudo nestes tempos de crise econômica, política e institucional, quando os rumos do País se encontram nas mãos dos donos do dinheiro e do mercado, provocando um número cada vez maior de sobrantes e deserdados dos bens da criação. Que tenhamos a coragem de nos colocar contra as reformas que prejudicam os mais pobres; contra os negociadores do mandato que receberam nas urnas; contra os propineiros que se vendem para garantir seu posto político em detrimento dos pobres e desempregados.

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A EXPERIÊNCIA DO ENCONTRO

A experiência de Deus é algo muito pessoal. Aliás, não fazemos experiência de Deus. Ele é quem faz experiência de nós. A iniciativa é sempre dele. Ele é quem nos possibilita alguma coisa.

A reflexão sobre o Reino de Deus nos ajuda a cair na conta se estamos ajudando as pessoas a se deixar experimentar por Deus. Se nossas celebrações, nossas atitudes cotidianas estão sendo meios que ajudam a “encontrar o tesouro”, a entrar em comunhão com Deus.

É muito difícil, quase impossível, introduzir alguém na experiência de Deus a partir de fora: ensinar teorias, discutir ideias sobre Deus e seu Reino. Diante de alguém que deseja conhecer a Deus, fazer experiência de fé, importa ajudá-la a rezar. Pedir a ela que reze, que busque encontrar-se com o Criador do seu jeito, como ela souber. E a gente pode ir dando umas dicas. Mas é a própria pessoa que deve buscar, encontrar o “tesouro”, apostar todas as forças nesse “tesouro” que ela encontrou.

Somos tentados a julgar e condenar a pessoa que abandona a participação nas celebrações e na vida da comunidade. Mas pode ser que ela não estivesse sendo ajudada a fazer a experiência de Deus naquela condição. Há situações na comunidade que precisam ser trabalhadas a fim de não atrapalhar os caminhos de fé dos participantes. Rezar, estar presente, atuar na comunidade nem sempre significa caminhos de fé, de experiência de Deus. É preciso fazer um caminho de busca e de encontro do “tesouro”. Uma vez que se coloca nesse processo, a fé vai se consolidando. O Reino de Deus começa a ser sentido de vida para aquele que nele entra. E ao experimentar a alegria desse encontro, não abandona mais, por maiores que sejam as provações e perseguições.

Vale a pena recordar o ensinamento de Bento XVI: "Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo" (Deus caritas est, 01).

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“Nas duas parábolas a estrutura é a mesma. No primeiro relato, um lavrador ‘encontra um tesouro escondido no campo. Cheio de alegria, ‘vende tudo o que tem’ e compra o campo. No segundo relato, um comerciante de pérolas preciosas ‘encontra’ uma pérola de grande valor. Sem duvidar, ‘vende tudo o que tem’ e compra aquela pérola.

Assim acontece com o ‘reino de Deus’ escondido em Jesus, sua mensagem e sua atuação. Esse Deus se torna atrativo inesperado e surpreendente que quem o encontra, se sente tocado no mais fundo de seu ser. Então nada pode ser como antes.

Pela primeira vez começamos a sentir que Deus nos atrai de verdade. Não pode haver nada maior para alentar e orientar nossa existência. O ‘reino de Deus’ muda nossa forma de ver as coisas. Começamos a crer em Deus de maneira diferente. Agora sabemos por que viver e para que viver.

Falta à nossa religião o “atrativo de Deus”. Muitos cristãos se relacionam com Ele por obrigação, por medo, por costume, por dever. Porém, não por se sentirem atraídos por Ele. Mais cedo ou mais tarde poderão terminar por abandonar essa religião.

A muitos cristãos se lhes é apresentada uma imagem tão deformada de Deus e da relação que podemos viver com Ele que a experiência religiosa lhes parece inaceitável e, mesmo, insuportável. Não poucas pessoas estão abandonando a Deus porque não podem viver por mais tempo em um clima religioso insano, impregnado de culpas, ameaças, proibições ou castigos.

A cada domingo, milhares de presbíteros e bispos pregamos o Evangelho, comentando as parábolas de Jesus e seus gestos de bondade a milhões de crentes. Que experiência de Deus comunicamos? Que imagem transmitimos do Pai e de seu reino? Atraímos os corações para o Deus revelado em Jesus? Ou os afastamos de seu mistério de bondade?” (Pe. José Antônio Pagola, www.musicaliturgica.com).

“Quantas pessoas, quantos santos e santas, lendo o Evangelho com o coração aberto, foram literalmente conquistados por Jesus, e converteram-se a Ele. Pensemos em são Francisco de Assis: ele já era cristão, mas um cristão «ao sabor da corrente». Quando leu o Evangelho, num momento decisivo da sua juventude, encontrou Jesus e descobriu o Reino de Deus, e então todos os seus sonhos de glória terrena esvaeceram. O Evangelho leva-nos a conhecer o Jesus verdadeiro, faz-nos conhecer o Jesus vivo; fala-nos ao coração e muda a nossa vida. E então, sim, deixamos tudo. Podemos mudar de vida concretamente, ou então continuar a fazer aquilo que fazíamos antes, mas nós somos outra pessoa, renascemos: encontramos aquilo que dá sentido, sabor e luz a tudo, inclusive às dificuldades, aos sofrimentos e até à morte” (Papa Francisco, 2014).

Quais são minhas principais buscas? O que me move mais profundamente: o emprego, o salário, o lazer, o status, o sucesso? Qual é mesmo meu tesouro: aquela realidade da qual não abro mão de jeito nenhum? Ela confere com o ensinamento e a vida de Jesus? “Onde estiver o teu tesouro, aí estará o teu coração” (Mt 6,21).

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

A paciência de Deus

aureliano, 17.07.20

16º domingo do TC - A - 19 de julho.jpg

16º Domingo do Tempo Comum [19 de julho de 2020]

[Mt 13,24-43]

Continuamos no capítulo 13 de Mateus no qual Jesus conta uma série de parábolas do Reino. No domingo passado pudemos rezar a parábola do semeador na qual Jesus mostra a variedade de terreno e a força da semente que é a Palavra de Deus. A grande tentação é negar-se a prestar ouvido ao que Deus pede de nós: “quem tiver ouvidos, ouça” (Mt 13,9); é negar-se a olhar para Jesus (cf. Hb 12,2) e manter os olhos fixos em si mesmo, alimentando um narcisismo perverso.

Hoje a liturgia traz a narrativa de várias parábolas: do joio e do trigo > deixar crescer juntos entregando a responsabilidade da seleção para Deus; da semente de mostarda > um Reino revestido de humildade, sem grandeza, mas que revela sua força por isso mesmo; do fermento > a força de Deus escondida, porém transformadora.

A parábola do joio e do trigo adverte nossa falta de paciência, de longanimidade (grandeza de alma) diante das fraquezas e pecados alheios. Buscamos resultados imediatos, números, mudança segundo nossos critérios, muitas vezes legalistas e exigentes demais. Ainda mais: quantas vezes nos arvoramos em juízes implacáveis das pessoas! Jesus quer que demos sempre uma nova oportunidade ao ser humano que erra.

As atitudes devem ser avaliadas e julgadas, mas a pessoa deve ser sempre respeitada. Ninguém conhece perfeitamente os recônditos do coração humano. Isso é prerrogativa divina. Por isso, somente a Deus compete o juízo definitivo.

Quando Mateus escreve este texto quer, provavelmente, mostrar uma realidade da comunidade que aguardava a vinda de Jesus (Parousia) para muito em breve. Por isso exorta à paciência. Hoje o que impacienta pode ser o ativismo, o imediatismo e mesmo o radicalismo de pessoas até muito engajadas na comunidade, mas que sufocam e matam a semente do amor no coração dos outros.

Penso que a grande lição do evangelho de hoje para nós e nossas comunidades é a de termos mais paciência com as dificuldades e limitações dos irmãos, respeitando seus passos, acolhendo suas diferenças. Muitas vezes alguém que poderia crescer muito na comunidade, acaba por minguar-se por falta de incentivo, de apoio, de perdão, de respeito, de tempo, de oportunidade. É preciso dar força ao trigo para que não seja sufocado pelo joio.

Importa, mais do que nunca, acolher a grandeza de Deus que está muito além de nossos pobres e mesquinhos juízos sobre a salvação dada por Deus a todas as pessoas. A nós compete colaborar com o Pai na obra da salvação. Julgar, selecionar, recompensar, punir etc é atributo de Deus. Quando nos deixamos conduzir pelo Espírito de Deus, assumindo o jeito de viver de Jesus, seu projeto vai se realizando no mundo.

Devemos nos colocar sempre como colaboradores de Deus espalhando a semente do bem no mundo e tendo uma atitude que sempre incomode o reino de morte.

 

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O REINO DE DEUS É FEITO DE MISERICÓRDIA, DE SIMPLICIDADE E DE FORÇA INTERIOR

A primeira parábola quer nos ajudar a entender a misericórdia de Deus. A pessoa sempre merece ter mais uma chance, uma oportunidade. O Pai dá sempre tempo para a conversão (cf. Lc 15: parábolas da misericórdia). Isso significa também que não nos podemos escandalizar diante de uma Igreja medíocre, pecadora, longe do ideal evangélico. Feita de santos e pecadores e mergulhada no mundo, ela corre sempre o risco de se contaminar pela maldade. Por isso precisamos mudar nossa ideia de Deus: de um deus violento, intolerante, ciumento, mesquinho, avarento a um Deus misericordioso, compassivo, paciente e justo. É o Deus revelado por Jesus. Guardemos isso: A ideia que temos de Deus determina nossas atitudes, posturas, relações com o próprio Deus, com nós mesmos, com o mundo e com os irmãos.

A segunda parábola lembra-nos a dimensão da simplicidade do Reino de Deus. Dá uma ideia de amplidão, de crescimento, de espaço a partir da pequenez evangélica. A pequenez da semente vem mostrar que a força do Reino não está na aparência, na exterioridade (encher praças, ruas e templos), mas no conteúdo. O Reino de Deus anunciado por Jesus cresce e se expande pela força que vem do Alto.

A terceira parábola nos remete à força interior do Reino de Deus. O fermento age sem ser visto. A gente não vê o fermento no bolo ou no pão. Sabemos que está ali e agiu pelo gosto gostoso. O verdadeiro sabor da vida cristã não vem de fora: de ritos, de shows, de ativismo etc. A força que transforma o ser humano, o mundo, a história vem de Deus. Uma vida alimentada pela mística, pela espiritualidade, pela oração é que vai produzir frutos que transformam o mundo.

Essas parábolas não nos deixam esquecer que o Reino é de Deus. Não somos nós os protagonistas da transformação da história. É Deus que age e transforma as pessoas. Nós somos instrumentos, muitas vezes, desajeitados em suas mãos. Às vezes fazemos bem, às vezes fazemos mal; às vezes ajudamos, às vezes atrapalhamos. O importante é colocar-se sempre aberto e disponível para colaborar na obra da salvação da humanidade. O resto é por conta do Pai. Porque o Reino é dele: “Porque tudo é dele, por ele e para ele. A ele a glória pelos séculos. Amém” (Rm 11,36).

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

A grande tentação: rejeitar a Palavra de Deus

aureliano, 10.07.20

15º Domingo do TC - A - 12 de julho.jpg

15º Domingo do Tempo Comum [12 de julho de 2020]

[Mt 13,1-23]

Na segunda parte da oração do Pai-nosso fazemos a seguinte petição: “E não nos deixes cair em tentação”. Guardemos esse pedido que Jesus nos ensinou a fazer ao Pai.

Estamos no capítulo 13 de Mateus, quando Jesus narra as Parábolas do Reino. Parábolas são um recurso literário para ajudar a compreender os ensinamentos de Jesus. São metáforas tiradas da vida cotidiana ou da natureza. Sua significação e simplicidade ajudam o ouvinte a entender o Reino que Jesus veio anunciar. Como as parábolas são uma tentativa de esclarecer os mistérios do Reino dos Céus, só as compreende quem se abre à novidade salvífica trazida por Jesus. é preciso assumir uma atitude de fé, de entrega total confiante.

Na parábola de hoje temos três elementos relacionados: a semente, o semeador e os vários tipos de terreno. A qualidade da semente é inquestionável: a Palavra de Deus. O semeador (Jesus e seus enviados) é o meio pelo qual essa Palavra chega aos ouvintes. Já o terreno é variado. Se na parábola o destaque recai na semente, na explicação da parábola feita por Jesus, o acento recai sobre os tipos de terreno. As disposições de cada um em receber a Palavra é que vão determinar os frutos ou a ausência deles.

Importa considerar aqui que ocorre, com frequência, de se receber a Palavra e depois abandoná-la na primeira dificuldade ou diante da primeira tentação. As artimanhas do inimigo para nos fazer desistir da Palavra ou desanimar do caminho são muitas e extremamente sedutoras. Assim, podem ser os bens e prazeres desmedidos que a sociedade de consumo oferece. Podem ser as festanças, noitadas e baladas que fazem deixar de lado os compromissos comunitários e mesmo familiares. Podem ser a preguiça e o comodismo que levam a ficar na “vidinha” privada deixando de lado o doente, o pobre, o sofredor que precisa de nossas mãos e de nosso coração. A ganância, que faz tanto mal, pode nos impelir a tirar vantagem de tudo, sem abrir mão de nada, ou mesmo, nos levando a ganhar dinheiro fácil em cima do suor dos pobres e/ou dos cofres públicos. Também o fato de que “todo mundo faz”, nos seduz pelas facilidades e influências de uma sociedade sem Deus, sem valores, sem princípios.

Poderíamos citar ainda muitas outras tentações. Importa ao discípulo de Jesus ter a Palavra de Deus constantemente diante de seus olhos. Palavra escrita e Palavra vivida por tantos testemunhos bonitos de pessoas que se doam aos mais sofredores, tornando-se “cartas vivas”, no dizer de Paulo: “sois uma carta de Cristo” (Cf. 2Cor 3,2-3), para nossa leitura e instrução.

Os acontecimentos da história são também meios pelos quais Deus se comunica conosco. As pessoas que gritam por socorro, o pobre que clama por justiça, a natureza que “geme dores de parto” vítima das queimadas, extração mineral insustentável e agrotóxicos, a postura perversa de magistrados e parlamentares gananciosos e mentirosos que não pensam nos pobres, mas somente no próprio bolso. É só olhar o mundo com um olhar de Deus que perceberemos sua Palavra que nos conclama a atitudes novas. Guardemos isso: Deus nos fala pelos acontecimentos da história. É preciso prestar ouvido. Ouvir com o coração.

A grande tentação é recusar-se a escutar e perceber Deus nos falando, primeiro no seu Filho Jesus, depois na Palavra revelada e escrita e nos acontecimentos. Tendemos a viver acomodados, em busca de nossos interesses egoístas, justificando mesmo pela religião nossos autocentramentos. Mas a Palavra ouvida, lida, entendida na vida e nos acontecimentos da história será nosso Juiz naquele Dia.

Será que a tentação do desânimo, da preguiça, do comodismo, da ganância e ambição não anda rondando meu coração? Por onde estou caminhando? Quais são as pedras no terreno do meu coração que matam a Palavra que quer crescer e produzir frutos dentro de mim? Quais são os espinhos que cultivo e que sufocam a Palavra de Deus em minha vida? Como anda minha relação com os bens, com o dinheiro, com o trabalho, com a família? O que tenho feito para que minhas atitudes e palavras sejam mais mansas, mais coerentes, mais parecidas com as de Jesus? A Palavra quer encontrar ressonância dentro de nós para produzir frutos de esperança e de salvação para todos.

Pai, não me deixes cair na tentação de rejeitar, de recusar tua Palavra. Ajuda-me a vivê-la com coragem. Não me deixes cair na tentação do desânimo, de anemia espiritual que me impede de viver com vigor e coragem minha fé. Pai, não me deixes cair na tentação, mas fortalece minha vontade para que eu assuma na minha vida a vida do teu Filho Jesus. Amém.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

O cristão deve ser simples e comprometido

aureliano, 03.07.20

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14º Domingo do Tempo Comum [05 de julho de 2020]

[Mt 11,25-30]

O contexto do relato do evangelho deste domingo (capítulos 11 e 12) é o lamento de Jesus contra as cidades de Corozain, Betsaida e Cafarnaum, vizinhas ao mar da Galileia, onde realizou muitos sinais, mas não se abriram à conversão. Opuseram-se ao Reino de Deus. Também os fariseus aparecem aí em clara oposição a Jesus como expressão do Pai. Então Jesus dirige um hino de louvor ao Pai mostrando a ação de Deus no coração dos que se colocam como pequenos e abertos à sua revelação.

Alguns destaques do relato de hoje, reveladores do caminho que o discípulo de Jesus deve percorrer:

  1. “Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos”. Essas palavras de Jesus nos confortam por demais. O Reino que ele anuncia só pode ser compreendido e acolhido por quem se coloca diante de Deus com humildade, reconhecendo sua pequenez. Quantas vezes somos surpreendidos por pessoas que, às vezes, não tiveram oportunidade de serem alfabetizadas, mas que possuem uma sabedoria imensa diante dos acontecimentos da vida. Sabem viver e servir aos mais necessitados com simplicidade, gratuidade e ternura que só podem proceder de Deus. Ninguém suporta conviver com gente orgulhosa, arrogante, pedante, petulante, “entendida”. E como é bom estar ao lado de pessoas humildes, simples, diplomadas ou não, e que não se prevalecem de seus conhecimentos ou postos de autoridade que ocupam para humilhar, diminuir, dominar, mas para acolher, ajudar, cuidar, favorecer a fraternidade.
  2. “Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados. Eu vos darei descanso”. É uma palavra de Jesus para todos aqueles que vivem a fé cristã como carga pesada. Em vez de trazer alegria, conforto, a religião lhes traz peso, desconforto, tristeza, medo. Isso pode provir de levarem, por vezes, uma vida centrada mais no pecado do que na graça. Realizam a prática religiosa mais por medo do inferno do que como resposta ao amor de Deus. O encontro com Jesus leva a experimentar a verdadeira alegria, como lembra o Papa Francisco: “A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quando se deixam salvar por Ele e são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento” (EG, 01). Seguem a Jesus não por obrigação, mas por atração e adesão madura, livre e responsável.
  3. “Tomai sobre vós o meu jugo porque é suave e meu fardo é leve”. Jesus não sobrecarrega ninguém. Além do mais, ele caminha conosco. Não nos deixa sozinhos. Jugo é algo parecido com canga (peça de madeira) para junta de bois. Então Jesus fica do lado para ajudar a carregar e enfrentar as dificuldades de cada dia. Ele não faz como os fariseus e escribas que punham pesados fardos sobre os ombros dos fiéis, mas eles mesmos não tocavam sequer com o dedo (cf. Mt 23,4). Jesus não vem trazer medo e prisão; pelo contrário, vem nos libertar deles. Vem despertar a confiança, a simplicidade, a humildade. Convida-nos a fazer o bem. O jugo dos “sábios e entendidos”, dos poderosos é muito pesado, pois humilham, exploram, dominam. Jesus também tem um jugo, porém seu jugo é leve porque liberta, ilumina a mente, aquece o coração, abre os olhos (cf. Lc 24, 13-35). As exigências de Jesus pedem uma resposta amorosa, gratuita, generosa.
  4. “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração e achareis descanso”. É o convite a aprendermos de Jesus. Ele é nosso Mestre. Ele não vem complicar nossa vida, impor normas e leis pesadas, difíceis, esquisitas. Ele deu o exemplo e não exige nada mais do que seguir o caminho que ele seguiu, viver a vida que ele viveu. Ele oferece descanso. Quantas vezes buscamos férias, descanso, lazer, praias, churrascos, noitadas, bebidas, drogas, shows e voltamos ainda mais cansados. Por outro lado, a alegria do convívio fraterno, a festa em família, o silêncio de um bosque, um tempo passado em oração, a visita a um doente ou idoso pode nos trazer um descanso verdadeiro. A gente volta refeito, abastecido, confortado pela graça de Deus experimentada naquele encontro. Quando a atitude é vivificada pela Graça de Cristo ela ganha um novo sentido, abre novo horizonte, traz repouso para a alma.

É triste ver não poucas pessoas vivendo experiências de tristeza, de estresse, de cansaço, de estado psíquico alterado, de amargura como resultado de um modo equivocado de entender e de viver a fé cristã. Há falsos doutores por aí que exploram pessoas doentes, quando não as fazem adoecer para manipulá-las e explorá-las em nome da religião. Isso é um pecado gravíssimo! Jesus não veio adoecer ninguém nem muito menos explorar as pessoas em seus momentos de dor. Ele veio curar, libertar, recuperar a dignidade, tornar a pessoa autônoma, viva, livre, independente.

É urgente recuperar a confiança em Jesus de Nazaré, pois é ele que nos liberta, conforta e descansa. O salmista já cantava: “Só em Deus a minha alma tem descanso. É dele que me vem a segurança”. Então não há outra realidade que produza o verdadeiro descanso ao coração humano senão o Deus revelado em Jesus.

Um cristão que vive a experiência de fé que produz descanso, não estressa os outros, não provoca confusão, não ofende, não explora, não mente, não domina, não mata, não rouba, não destrói o meio ambiente. Sabe tolerar, compreender, perdoar, acolher, cuidar, preservar. Parece que o caminho passa por aí.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN