Seguimento a Jesus
13º Domingo do Tempo Comum [26 de junho de 2022]
[Lc 9,51-62]
O evangelho de Lucas descreve Jesus numa longa caminhada para Jerusalém. Ali ele vai entregar sua vida. Ressuscitado, enviará seus discípulos para a missão até os confins da terra. Sua missão terrestre termina em Jerusalém. E a missão da Igreja (recebida de Jesus) também começa aí.
No relato do evangelho do domingo passado (Lc 9, 18-24) vimos o diálogo sobre a identidade de Jesus, a predição de sua paixão e o convite ao discipulado com a cruz. Continuando o relato, notamos que Jesus, a partir de então, não será mais apresentado como “profeta”, pois agora sabem que ele é o “Cristo de Deus”. A partir de agora surgirão as resistências e rejeições às suas ações e palavras.
Dizer que Jesus tomou a “firme decisão” (“endureceu a face”, numa tradução literal) de subir a Jerusalém, indica que ele previa que, para ser fiel ao Pai, precisava decidir por Ele, estar disposto a enfrentar a perseguição, a cruz, a morte. O prenúncio da resistência já se manifesta na rejeição que os samaritanos fazem aos seus enviados.
Se no Primeiro Testamento aparece a figura de um Deus que castiga seus opositores, aqui é clara a nova compreensão que Jesus deseja incutir em seus discípulos. Eles querem empregar a Lei do Talião: “Senhor queres que mandemos descer fogo do céu para destruí-los?”. Agora, em Jesus, é preciso “oferecer a outra face”. Não se pode pedir a destruição dos opositores num uso e abuso de poder. Na dinâmica de Jesus o poder está sempre a serviço da paz e da fraternidade.
Nestes primeiros versículos Jesus nos ensina que o cumprimento da vontade do Pai implica firmeza na decisão. As correntes contrárias são muito mais fortes do que nós. Se não firmarmos o rosto na direção de Deus, dispostos a “bofetões e cusparadas” (cf. Is 50,6), certamente vamos desanimar, ou entrar nas ondas do mal. Jesus não está interessado em mais seguidores, mas seguidores comprometidos, capazes de renunciar às falsas seguranças do dinheiro e do poder e se entregarem ao serviço do Reino de Deus.
No caminho para Jerusalém aparecem três situações que merecem ser contempladas:
- Alguém quer seguir a Jesus. Sua resposta é radical: “O Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça”. Jesus não oferece bem-estar a seus seguidores. Quem estiver em busca de segurança, de dinheiro, de reconhecimento, de fama, de sucesso não serve para segui-lo. A religião trazida por Jesus não é lugar de refúgio contra os males do mundo, mas um espaço de encontro e de intimidade com o Senhor que nos toma pela mão e nos coloca em vulnerabilidade para que “todos tenham vida” (Jo 10,10). É na fraqueza que a força se manifesta (cf. 2Cor 12,9). Todos sabemos aonde levam os apegos excessivos aos bens e às pessoas: desencontro, rixa, assassinato, guerra, ódio, divisão, pranto e lágrima.
- Nesta outra cena Jesus é quem chama: “Segue-me”. Mas o moço queria primeiro enterrar o pai. A resposta de Jesus é desconcertante: “Deixe que os mortos enterrem seus mortos; mas tu vai anunciar o Reino de Deus”. Jesus alerta para aquelas situações de apego à família quando esta é empecilho para o serviço ao Reino de Deus. Ninguém deve retardar ou frear o serviço de Deus. Os “mortos”, aqueles que vivem em função de si mesmos, não podem impedir o serviço à vida. Aqui há um aceno à primeira leitura: Eliseu pediu para “beijar o pai e a mãe” e depois seguir a Elias (cf. 1Rs 19,20). Jesus radicaliza: o Reino de Deus não admite adiamento, procrastinação.
- Nesta terceira cena, outro se oferece para segui-lo, mas com a condição de, primeiro, despedir-se dos seus familiares. A resposta de Jesus mostra que, para segui-lo, é preciso olhar para frente: “Quem põe a mão no arado e olha para trás, não está apto para o Reino de Deus”. Por vezes é preciso contrariar os próprios familiares para nos mantermos fiéis ao Evangelho. Este deve ser a regra máxima de nossa vida: nos negócios, na relação com o dinheiro, na construção da família, nas relações de trabalho, nas relações de amizade, nas opções políticas. Este relato remete-nos também à primeira leitura de hoje, pois faz referência à lavra de terra com junta de bois (1Rs 19,19). Jesus vai além: não usa da violência de Eliseu que sacrificou os bois e nem permite que primeiro se despeça dos familiares. Ou seja, é preciso olhar para frente, ter audácia para seguir os passos de Jesus. É a necessidade de superação de uma religião estática, presa ao passado. Um olhar para frente, com criatividade, com esperança.
O relato do evangelho deste domingo nos faz notar que Jesus desejou constituir um grupo de discípulos. Não se preocupa em ensinar-lhes doutrina, mas torná-los seus seguidores. A profissão deles de agora em diante é a de serem anunciadores de um novo modo de vida. Por isso devem abandonar o modo de vida anterior. Ao sentir-se chamado, cada um deve tomar uma decisão firme. A primeira atitude é a profissão de fé, o reconhecimento de que Jesus é o “Cristo de Deus”. Uma vez que Jesus é reconhecido como Aquele em quem depositamos nossa fé (cf. 2Tm 1,12), o discípulo deve se desprender dos bens materiais, do prazer mundano, do poder pelo poder, do apego ao dinheiro, da busca de si mesmo para viver a liberdade dos filhos de Deus: “É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1.13).
Somente pela ruptura com as forças do mal: a mentira, o ódio, o preconceito, o mundanismo perverso, a sede do poder, a mentira se é capaz de gerar um seguimento comprometido, uma liberdade verdadeira, um discipulado autêntico, uma fé cristã genuína, uma Igreja fiel a Jesus.
Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN