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aurelius

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Um encontro que transforma

aureliano, 29.10.22

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31º Domingo do Tempo Comum [30 de outubro de 2022]

[Lc 19,1-10]

No evangelho do domingo passado ouvimos o relato do publicano fazendo oração no Tempo. Hoje temos outro publicano. Aqui, porém vemo-lo encontrando-se com Jesus, o Templo vivo do Pai.

“Deus não quer a morte do pecador, mas que ele se converta e viva” (Ez 18,23). É por isso que vemos Jesus, caminhando para Jerusalém, realizando encontro com os pecadores, levando-os à conversão.

Note-se que esse relato de Lucas vem imediatamente depois da cura do cego na mesma cidade de Jericó que Jesus atravessa. O desejo do cego era poder ver, recuperar a vista (cf. Lc 18,41). E ao recuperá-la, “foi seguindo Jesus, dando glória a Deus” (Lc 18,43). O cego de Jericó quer ver. Zaqueu também “procurava ver quem era Jesus” (Lc 19,3). Portanto, o cego curado torna-se discípulo de Jesus. Zaqueu, convertido, também assume uma vida nova: “Pois bem, Senhor, eu reparto aos pobres a metade dos meus bens e, se prejudiquei alguém, restituo-lhe o quádruplo” (Lc 19,8).

Jesus caminha para Jerusalém, cidade que o rejeitará, o condenará, o matará. Jericó, ao contrário torna-se a cidade que o acolhe e lhe dá novos seguidores. Encontros transformadores de vida.

É muito interessante o relato de Lucas sobre o encontro de Jesus com Zaqueu. Este quer ver Jesus, mas esbarra em duas dificuldades: é baixinho e é publicano (chefe!): os vizinhos o detestavam. Por isso ele sobe numa árvore. Porém é um homem que busca: “procurava ver quem era Jesus”.

Jesus vale-se desta busca de Zaqueu e estabelece com ele um encontro. Não em cima da árvore, mas no “chão”. É preciso “descer”. Jesus não se relaciona conosco em situações distantes, nas nuvens, cheios de orgulho, arrogância e autossuficiência. Ele quer que desçamos para o chão de nossa história, de nosso cotidiano. É em nossa “casa” que ele quer entrar para nos transformar.

Jesus vai à casa de Zaqueu, homem rico, não para usufruir das benesses de sua riqueza, não para se aproveitar da oportunidade e ganhar alguma coisa. Não! Jesus não negocia sua hombridade. Ele vai à casa de Zaqueu para movê-lo à conversão. O convívio com os ricos pode nos levar a trair o evangelho de Jesus! O ambiente social marcado pelo luxo e pelo consumismo enfraquece da Palavra de Jesus: “Ai de vós, os ricos!” (Lc 6,24). Podemos desvirtuá-la, justificando nossas posturas incoerentes. Jesus veio para todos. Para os pobres, a fim de serem amparados; para os ricos a fim de que olhem para os pobres e repartam com eles os seus bens.

A verdadeira conversão, tanto do pobre como do rico, mexe com as estruturas do mal e torna o Reino mais próximo. A conversão da pessoa abala a estrutura da iniquidade. O episódio de Zaqueu, chefe dos publicanos, traz à baila a questão do poder: de modo geral, quando se chega ao poder, começa-se a se beneficiar dele, defraudando os outros. Por isso a necessidade da conversão verdadeira para se mudarem as estruturas de morte na sociedade a partir do encontro pessoal com Jesus de Nazaré. Ele é o modelo de homem acabado. Se nossos políticos entendessem isto, e fizessem mais encontros com Jesus de Nazaré, nosso mundo seria muito melhor. Vale o mesmo para as lideranças religiosas de nossas comunidades: a experiência do encontro verdadeiro e profundo com Jesus transforma nossa vida, nossas famílias e nossas comunidades. A isso se dá o nome de conversão.

A propósito, vem-me à memória um hino bastante cantado em alguns encontros por aí que pretende interpretar esse relato de Zaqueu. Mas esta música mutila e deturpa o evangelho que quer ressaltar o caminho da conversão. Ela é do jeitinho que os ricos gostam. Faz chorar de emoção os pobres e justifica a ganância dos ricos, pois não menciona o gesto concreto da conversão de Zaqueu: devolver o que roubou e partilhar com os pobres o que tem.

Sem um encontro verdadeiro com Jesus, num olhar que transforma por dentro, a salvação não entra na nossa casa. A iniciativa é de Deus, mas precisamos “procurar ver o Senhor”, como fizera Zaqueu. Oxalá pudéssemos dizer, depois da celebração eucarística, voltando para nossas casas: “Hoje a salvação entrou nesta casa!”. Deve ser uma experiência que nos encha de alegria: “Zaqueu desceu depressa e o acolheu com toda alegria” (Lc19,6).

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

A oração que vem de dentro

aureliano, 21.10.22

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30º Domingo do Tempo Comum [23 de outubro de 2022]

[Lc 18,9-14]

Esta é uma pergunta de fundo da parábola de hoje: que postura de vida agrada a Deus? O fariseu era um religioso fiel, dedicado, comprometido com o que determinava a Lei. Era, de alguma forma, ‘impecável’. Já o publicano não era exemplo de vida. Um cobrador de impostos malvisto pelos correligionários, tirava proveito de uma situação política para arranjar recursos ou para enriquecer-se ou para sobreviver às penúrias da dominação romana. Mas este volta para casa justificado.

Os dois vão ao mesmo templo, com o ‘mesmo objetivo’ e começam sua oração com a mesma invocação “ó Deus”. O conteúdo da oração deles é que determina a intencionalidade, a postura de fé. O primeiro eleva uma oração belíssima, de louvor e de ação de graças, completa do ponto de vista da estrutura literário-litúrgica, mas totalmente autossuficiente, orgulhosa, reveladora de uma prática religiosa que não leva em conta nem a Deus nem o próximo. Coloca-se no centro, dirige-se a si mesmo. O segundo, porém, coloca-se em atitude de dependência e necessidade da misericórdia de Deus. Mostra-se verdadeiramente um homem de fé porque deposita toda sua confiança em Deus. Não atribui nada a si mesmo. Reconhece-se pecador e quer retomar o caminho da vida e da salvação. E sabe que isso não depende somente dele, mas, sobretudo do Pai compassivo.

A oração do fariseu não leva em conta ninguém mais a não ser a si mesmo. Não pensa nos pobres, nos pequenos, nos excluídos. Julga que, observando as práticas externas da Lei, já está agradando o Criador. No entanto, Jesus ensina que não basta uma prática externa da Lei. É preciso de uma vida que acompanhe a oração. Ou melhor, é preciso de uma oração que informe a vida para lhe dar sentido. Oração que chega ao coração do Pai é aquela que brota de uma alma humilde, pequena, simples, confiante, misericordiosa, preocupada com as necessidades dos irmãos.

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É DEUS QUEM NOS FAZ JUSTOS

Quando Jesus, no evangelho deste domingo, fala a respeito de duas posturas (fariseu e publicano) distintas na oração, quer nos mostrar que não basta praticar uma religião de modo formal apenas, mas é preciso reconhecer nossa realidade diante de Deus. Ninguém pode salvar-se sozinho, ou seja, entrar na amizade de Deus por conta própria. A primeira atitude deve ser de reconhecer nossa impotência diante de Deus e abrir-nos ao seu amor.

Os fariseus, termo que significa separado, constituíam um grupo que buscava observar fielmente a Torah (o Ensinamento de Deus). Eram pessoas bem intencionadas e até estimadas pelo povo com quem trabalhavam. O problema é que eles se tornaram muito rigorosos com aqueles que, por motivo de pressão dos dominadores romanos, não observavam a Lei com todo o rigor. Estabelecia-se entre eles e os publicanos uma distância, até mesmo uma inimizade.

Jesus quer mostrar que não basta cumprir a Lei pela Lei, mas é preciso colocar-se numa relação amorosa. O que conta mesmo é o amor.

A conclusão da parábola nos leva a compreender por que o publicano voltou justificado para casa: ele se reconheceu pecador, necessitado da misericórdia de Deus na qual acreditava. Reconhecer-se pecador e clamar por misericórdia é demonstrar a necessidade de ser ajudado, amparado por Deus. E Deus se dá a conhecer no perdão, na vida nova que ele concede a quem a busca nele, com humildade. O que nos justifica diante de Deus não são nossos méritos, mas a bondade de Deus que nos fortalece para a prática da justiça: a caridade.

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MISSÃO: FAZER ECOAR O AMOR DE DEUS

Nesse final de semana a Igreja realiza a Campanha Missionária. Uma oportunidade de participarmos financeiramente das ações missionárias no Brasil e no mundo. Às vezes se tem uma visão deturpada de missão. Isto parece dever-se ao fato de ter-nos sido imposta pelos colonizadores europeus uma cultura que, em nome da fé, sacrificou muitas vidas. Ficamos então pensando que fazer missão é pregar para os outros, impondo nossa maneira de pensar e de viver. Fazer todo mundo ir para a igreja, ser católico etc. Hoje entendemos que as “sementes do Verbo”, isto é, o próprio Deus já está presente nas pessoas e nas comunidades. Resta-nos ajudar a descobrir, pela força da Palavra, Sua presença nessas realidades e não deixar que o pecado, fruto do egoísmo humano, mate ou devaste a beleza do Criador em cada ser humano.

Nossa ação missionária se dá de diversas formas: pela oração, pela visita, pela acolhida, pelo trabalho na comunidade, pelo perdão, pelo jeito de trabalhar e de realizar o cotidiano, pela honestidade no trabalho e nos negócios, por uma vida digna e honrada aos olhos de Deus, marcados pelos “sentimentos que havia em Jesus Cristo” (Fl 2,5).

Ser missionário não é uma questão de opção, mas é intrínseca à fé cristã. O cristão não pode dizer que não quer ser missionário. Ser cristão implica necessariamente a missão. É resultado de um amor que transborda de dentro de nós e nos faz inquietos. O que é bom para mim, faz sentido para mim, me enche de alegria interior quero-o também para os outros. ”Dai de graça o que de graça recebestes”. Isto é missão.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

A “inutilidade” da oração cristã

aureliano, 15.10.22

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29º Domingo do Tempo Comum [16 de outubro de 2022]

[Lc 18,1-8]

A parábola do evangelho deste domingo não revela complicação: duas figuras ocupam o centro: um juiz que tem as duas atitudes básicas da iniquidade: “não temia a Deus”; “não tinha consideração para com as pessoas”; uma viúva injustiçada, sem nenhum apoio social, abandonada à própria sorte.

Então já podemos notar que a oração não pode ser desligada da vida, da realidade de sofrimento e de opressão dos pobres. Nossa oração ao Pai precisa levar em consideração o povo sofrido em consequência das injustiças e maldades dos poderosos. Uma oração privada, que leva em conta apenas “minhas” necessidades, contradiz claramente o ensinamento de Jesus sobre a oração cristã.

Nossa oração deve ser de confiança, de esperança, persistente, “sem nunca desistir”. Deve se inspirar no jeito e na oração de Jesus.

Alguns se questionam: “Pra que rezar? Deus não atende a minha prece! Rezando ou não rezando, a vida continua da mesma forma. Rezar é inútil!” – É verdade: a oração é, de alguma forma, “inútil”. Ou seja, ela não tem a finalidade de resolver nossos problemas, de nos alcançar isso ou aquilo, de realizar nossos projetos pessoais. Nesse sentido a oração é “inútil”. Ela não visa a produzir coisas. A oração serve para nos ajudar a viver, a encontrar o sentido para nossa vida, a preencher o vazio existente dentro de nós, a nos tornar mais humanos, mais “configurados” a Jesus de Nazaré.

A oração de petição tem o condão de nos ajudar a entender que precisamos de Deus. Que não conseguimos resolver as coisas por nós mesmos. É somente com a força de Deus que damos conta de viver honestamente, de ter sensibilidade diante da dor e do sofrimento de alguém, de ter um coração bondoso que seja capaz de amar e perdoar. Coloca-nos em permanente comunhão com o Pai.

A oração confiante, gratuita, desapegada, “inútil”, nos coloca em sintonia com Jesus na cruz: ele experimentou o abandono do Pai – “Meu Deus, por que me abandonaste?” –, mas não perdeu a confiança: “Pai, em tuas mãos entrego meu espírito”. Nesta oração de Jesus está contida a angústia de quem experimenta grande sofrimento, ao mesmo tempo em que se coloca confiante nas mãos do Pai, refúgio último e seguro na vida e na morte.

A pergunta de Jesus - “Quando o Filho do homem vier, será que ainda, vai encontrar fé sobre a terra?”-  deve continuar ressoando dentro de nós. No contexto da parábola parece querer-nos dizer que precisamos continuar gritando com a oração, com a palavra e com as atitudes que se faça justiça ao pobre. O abandono dos pobres, a recusa da luta pela justiça na terra, são sinais inequívocos da perda da fé, do afastamento da vida cristã.

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Em tempos de um poder judiciário parcial e influenciado pelo dinheiro e poder, é bastante oportuno, a partir da parábola de hoje, recordar aquelas palavras do Papa Francisco a respeito da atuação do juiz: “os juízes devem ser isentos de favoritismos e de pressões que possam contaminar as decisões que devem tomar”. De acordo com o papa, os magistrados “devem seguir o exemplo de Jesus, que nunca negocia a verdade”. O que se disse sobre os juízes vale também para os legislativo e o executivo de nosso País: não se negocia a verdade por dinheiro e favoritismo.

Infelizmente os pobres são as grandes vítimas da injustiça no mundo. A começar do poder judiciário. Aquela imagem greco-romana que retrata a justiça como uma mulher com os olhos vendados, querendo mostrar a imparcialidade do juiz, não corresponde ao Evangelho: Jesus revela um Deus “parcial”, que vê o sofrimento do povo, que ouve seu clamor e que desce para libertá-lo (cf. Êx 3,7-10). Jesus quis colocar-se ao lado dos oprimidos e marginalizados. Quem não opta pelos pobres, pela defesa dos injustiçados e oprimidos, não pratica a justiça do Reino de Deus.

Nossa oração deve nos ajudar em nossa conversão cotidiana para termos um coração mais humano, mais justo, mais verdadeiro, mas leal, mais comprometido como o Coração de Jesus.

                Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

 

Mãe Aparecida, transforma-nos em vinho bom!

aureliano, 12.10.22

Nossa Senhora Aparecida 2019.jpg

Nossa Senhora Aparecida - 12 de outubro

[Jo 2,1-11]

Diferentemente dos outros evangelistas, João não apresenta Jesus chamando publicamente as pessoas para a conversão ao Reino de Deus (Mt 4,17; Mc 1,15). João apresenta Jesus iniciando sua vida pública numa festa de casamento. Em Israel o casamento é imagem da aliança de Deus com seu povo (cf. Os 2,19-22).

Neste mesmo capítulo notaremos a discussão a respeito do templo quando Jesus se apresenta como o Templo de Deus, substituindo o templo de Jerusalém que se tornara objeto de exploração dos pobres (cf. Jo 2,13-22). Então o relato de hoje quer mostrar que Deus Pai fez uma nova aliança com a humanidade na pessoa de Jesus de Nazaré. Um novo casamento. Por isso, no evangelho de João, temos a narrativa do primeiro sinal de Jesus numa festa de casamento.          

Aqueles aparatos da festa são metáforas da religião antiga que deveria ser renovada pela presença salvadora de Jesus. As talhas, a água, o encarregado são símbolos de uma realidade que precisava ser renovada pelo amor incondicional que Jesus trouxe e revelou, representada no vinho. O vinho novo é o amor de Jesus manifestado “até o fim” (Jo 13,1).

“A mãe de Jesus estava lá”. É muito interessante interpretar essa expressão do evangelho. Primeiro, não tem nome. É mais do que a mãe de Jesus. Ela representa a comunidade cristã. Depois, é a noiva do casamento que está à procura do noivo. O casamento, a aliança se dará na Cruz, a Hora de Jesus que naquela festa de casamento ainda não havia chegado. Na cruz ele dirá: “Mulher, eis aí teu filho”.

Relacionada a Maria, mãe de Jesus, está aquela bela palavra que atravessou séculos como uma ordem da Mãe de Deus: “Fazei tudo o que ele vos disser”. Esta palavra deve continuar ecoando em nossos ouvidos e coração. Pois fazer o que Jesus mandou significa acreditar na palavra dele e colocá-la em prática. Acreditar na palavra de Jesus é abrir-se ao seu amor e deixar-se transformar como aquela água que se transformou em vinho e alegrou o coração de todos os convivas. É a vida nova, um jeito novo de ser, um caminho renovado pela graça de Deus haurida nos sacramentos, na oração, no encontro com ele.

Portanto, Maria, a Mãe de Jesus, é ícone da Igreja. Neste evangelho ela representa a comunidade de Israel que anseia pela vinda do Messias e, por outro lado, a comunidade cristã que acolhe e se deixa renovar pelo vinho novo que ultrapassa as estruturas caducas de uma lei que escraviza as pessoas. Só o amor, representado pelo vinho no relato de hoje, poderá transformar os caminhos da humanidade.

Celebrando hoje nossa Padroeira, queremos elevar nossa prece confiante ao Pai, para que nós brasileiros sejamos fiéis à nossa vocação, nos empenhemos na construção da paz e da justiça, no serviço generoso aos irmãos. Nesses tempos difíceis em que vivemos, quando o ódio, a violência, o preconceito, a tortura, a sede do poder a qualquer preço, a discórdia e a divisão estão sendo disseminados em nossa Nação, queremos voltar nosso olhar contemplativo à Mãe de Deus e nossa e pedir que ela interceda por nós e nos ajude a cultivar em nosso coração os sentimentos que havia em Cristo Jesus (cf. Fl 2, 5-11). Não haja lugar em nosso coração para o fechamento, para a discriminação, para o ódio e desejo de vingança, para a busca de lucro e sucesso a qualquer preço. Que a Paz, fruto da Justiça, encontre guarida dentro de nós e ao redor de nós.

A imagenzinha negra, pequena e simples de Aparecida nos recorde o compromisso com os quilombolas, com as nações indígenas, com os marginalizados, com os Sem-Terra e Sem-Teto, com os milhões de pobres que estão descendo cada vez à cova da morte que os bilionários e dominadores de nosso País estão lhes abrindo. Que as bancadas da Bala, da Bíblia e do Boi, ainda mais fortalecidas no último pleito, não nos tirem a esperança, o alimento, os direitos de cidadãos e de filhos e filhas do mesmo Pai.

Finalmente, que neste dia também dedicado às crianças, nosso coração se abra ao cuidado e carinho para com esses pequeninos tão amados por Nosso Senhor, muitas vezes vitimados por abusos e maus tratos de adultos irresponsáveis, maldosos e exoploradores. Peçamos a Maria, a Virgem humilde e simples de Nazaré, nos dê aquela simplicidade e candura que caracterizam o coração da criança.

 

Ó mãe da nossa pátria,

Escuta a nossa voz:

Teus olhos compassivos

Se voltam para nós.

 

Tu és nosso socorro

Em nossas aflições;

Guarda junto do teu

Os nossos corações.

 

Louvor e honra ao Filho

Que pela Virgem vem;

No Espírito és o brilho

Do Pai eterno. Amém.

 

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Mãe do Céu morena, / Senhora da América Latina.

De olhar e caridade tão divina, / de cor igual à cor de tantas raças.

 

Virgem tão serena, / Senhora destes povos tão sofridos.

Patrona dos pequenos e oprimidos, / derrama sobre nós as tuas graças.

 

Derrama sobre os jovens tua luz, / aos pobres vem mostrar o teu Jesus

Ao mundo inteiro traz o teu amor de Mãe.

 

Ensina quem tem tudo a partilhar, / ensina quem tem pouco a não cansar

E faz o nosso povo caminhar em paz.

 

Derrama a esperança sobre nós, / ensina o povo a não calar a voz.

Desperta o coração de quem não acordou.

 

Ensina que a justiça é condição / de construir um mundo mais irmão.

E faz o nosso povo conhecer Jesus.

 

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

Vida eucarística: gratidão e gratuidade

aureliano, 08.10.22

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28º Domingo do Tempo Comum [09 de outubro de 2022]

[Lc 17,11-19]

Certa ocasião, almoçando na casa de uma família, a netinha, enquanto guardava o prato, disse à sua vó e madrinha: “Deus te pague, Dindinha”. Achei aquele gesto lindo! A criança aprendeu que se deve ter um coração agradecido.

As boas atitudes se formam pela repetição de atos bons cotidianos. Em outras palavras: a atitude de gratidão se constrói a partir de pequenos gestos aprendidos desde criança, em casa, quando a mamãe ou o papai ensinam a criança a agradecer o alimento, a roupa lavada, o presentinho etc. Se não aprendermos a agradecer nunca seremos gratos e generosos. Aliás, a palavrinha mágica muito obrigado anda sumida do vocabulário familiar! E isso é desastroso, pois leva a uma compreensão de que somos donos de tudo, e que todos devem estar a nosso serviço.

Até aqui estamos falando das nossas relações humanas, de gestos de cortesia, de boa educação. Elas podem manifestar, porém, nosso ser mais profundo. Ou seja, como nos relacionamos com Deus. O Evangelho de hoje nos remete a essa relação. Foram dez os curados, mas somente um voltou para agradecer.

Quando pediram a cura a Jesus, este lhes pediu uma única coisa: “Vão mostrar-se ao sacerdote”, ou seja, cumpram o que está na Lei para voltarem ao convívio social (uma vez que os leprosos não podiam permanecer no convívio familiar e social por causa da doença contagiosa). Nove deles julgaram que bastava cumprir a Lei. Não perceberam que precisavam ir além, que tudo o que receberam foi graça. Pensavam ser ‘direito’ seu. Um apenas reconhece que sua cura é dom de Deus. Por isso volta para agradecer. E este era um samaritano, isto é, considerado inimigo pelos judeus.

Há cristãos que pensam ser direito seu receber todas as graças e bênçãos de Deus por estarem sempre na igreja, por serem dizimistas fiéis, por cumprirem tudo o que a Igreja pede. Esse modo de pensar denota claramente a falta de fé desse tipo de religioso. Escondem-se sob a capa da Lei e do Rito. Esquecem-se de que a vida, a fé, a condição de poder dizer “Jesus é o Senhor” (cf. 1Cor 12,3) são dons de Deus, graça, bondade do Pai que nos dá tudo de graça sem exigir nada em troca. Falta-lhes saber que Deus é louvado por uma vida vivida na justiça, na verdade, na fraternidade e na paz. Deus é louvado pela nossa vida. Nossos lábios tentam expressar uma vida que louva e agradece.

Outro elemento que também precisa ser considerado a partir do relato do Evangelho de hoje é o conteúdo das nossas orações: temos dificuldade de fazer oração de agradecimento. Nossas preces quase sempre são de pedido. Costumamos estabelecer uma relação comercial com Deus: “Vou fazer um jejum, uma oração, doar um dinheiro para que Deus me dê o que estou pedindo”. Como se Deus fosse nosso empregado e tudo o que pedimos devesse ser concedido porque “merecemos”! Porém o relato do leproso agradecido quer nos remeter a uma experiência de fé mais profunda e gratuita. A Eucaristia que celebramos, como o próprio nome está a indicar (Eucaristia = Ação de graças), deve ser nossa prece maior de gratidão ao Pai por tudo. Pois tudo é graça. Aliás, é próprio Cristo que se oferece ao Pai por nós. Ele mesmo leva ao Pai nossos pedidos e agradecimentos.

A experiência de Deus nos ajuda a reconhecer que tudo é d’Ele: a família, os irmãos, a mãe natureza, os bens, os dons, nossas capacidades. Mas só faz a experiência de gratidão quem se reconhece pequeno.

Finalmente, o relato quer nos ajudar a perceber que os milagres realizados por Jesus eram sinais que pretendiam conduzir à fé. Aqueles nove que não voltaram representam as pessoas que pedem e recebem, mas ficam no “milagre”, olhando para o sinal. Jesus quer que os sinais levem as pessoas ao encontro com ele. A fazerem a experiência do amor de Deus. Um encontro que transforma, que dá novo horizonte à vida, que leva a ter atitude de gratidão e de serviço. De nada adianta viver à cata de milagres e fechar-se a Deus e aos irmãos.

Para ajudar: Você costuma fazer oração de agradecimento? Sabe agradecer às pessoas os favores e serviços? É reconhecido àqueles que cuidaram e cuidam de você? Sabe identificar os milagres que Deus faz em sua vida todos os dias? Sua fé aparece nas suas ações e atitudes cotidianas: honestidade, verdade, justiça, fraternidade, perdão, tolerância, paciência, compreensão, solidariedade, lealdade, oração, caridade?

Tudo é dom de Deus, pertence a Deus, portanto, deve ser usado com os critérios do Evangelho. Você usa com critério e sabedoria os bens que Deus lhe deu? Sabe partilhar com quem não tem? Vota em políticos e luta por políticas públicas que se empenham para que todos os pobres tenham acesso aos bens da criação? A fé cristã compromete a vida!

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

A fé se concretiza na caridade

aureliano, 01.10.22

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27º Domingo do Tempo Comum [02 de outubro de 2022]

[Lc 17,5-10]

No evangelho deste domingo, Jesus continua formando seus discípulos para o serviço a partir do fortalecimento da fé para servirem melhor.

O contexto imediatamente anterior do evangelho de hoje mostra Jesus ensinando a necessidade do perdão: “Caso teu irmão peque contra ti sete vezes por dia e sete vezes retornar dizendo ‘estou arrependido’, tu lhe perdoarás” (Lc 17, 4). Parece que perdoar não era algo fácil para os discípulos, como não o é para nós. Por isso pedem: “Aumenta-nos a fé”. O perdão é algo intrinsecamente unido à fé. Perdoamos porque acreditamos num Deus que ama e perdoa. Perdoamos porque sem perdão não há convivência, alegria, vida.

Penso que vale a pena recordar aqui a crise de fé de que por vezes somos assaltados. Sobretudo quando situações difíceis, dolorosas nos acometem; então perguntamos: “Onde está Deus em meio a tudo isso?” Por essas crises passaram também profetas e santos. Crise de fé não é ateísmo. Normalmente as crises de fé vêm acompanhadas de crises existenciais, ou seja, dificuldades no relacionamento familiar, no sentido de vida, fases da própria idade, situações de doença etc. Como diz Leonardo Boff: “Crise é oportunidade de crescimento”. Se vivenciarmos bem nossas crises de fé, certamente sairemos mais amadurecidos, mais firmes, mais comprometidos. Para isso é preciso pedir: “Senhor, aumentai a minha fé”.

Crer é dar-se a Deus. É ancorar-se somente n’Ele. Confiar no seu amor apesar de todas as aparências contrárias, porque sua palavra não nos pode enganar. A fé é diferente de religião embora esteja relacionada com ela. Também não é uma adesão intelectual a uma doutrina ou série de verdades abstratas, mas é adesão a uma Pessoa, a Deus, que nos propõe seu amor em Cristo morto e ressuscitado. É dom de Deus e tarefa humana para tornar-se a alma de nossa vida cotidiana e da comunidade cristã.

O discípulo que assume a fé em Jesus Cristo como comprometimento pessoal não fica contabilizando o bem que faz (como os politiqueiros que querem sempre tirar vantagem de tudo), mas coloca-se sempre como alguém que fez o que devia ter feito.

Só uma fé madura, acrisolada (passada pelo crisol/crise) nos dará coragem de assumir o avental de servidores, nos desvestindo do manto de senhores. Então poderemos transportar para o mar as montanhas do egoísmo, do consumismo, do preconceito, da maldade. Isso mediante uma fé informada pela caridade (Cf. Gl 5,6).

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COLABORADORES DE DEUS

Dois elementos precisam ser considerados neste relato evangélico da liturgia deste domingo: a fé e o serviço.

Quando os discípulos pedem a Jesus “aumenta a nossa fé”, não devem pensar em termos de quantidade, pois a fé não se quantifica. O que devem pedir a Jesus é o reavivamento da fé. Agora, não mais como judeus observantes, mas como discípulos de Jesus, precisam de uma fé renovada, madura, comprometida com a nova proposta de Reino trazida por Jesus. Sem uma fé reavivada, refeita, madura não dariam conta de realizar o seguimento de Jesus “até Jerusalém”. A fé agora não é aquela de acreditar num Deus de conveniência, mas uma fé que desperte a responsabilidade com o Reino de Deus e a possibilidade de amar como Jesus amou: “até o fim” (Jo 13,1). É essa a fé que transporta “montanhas”.

O segundo elemento é o do serviço generoso. Certamente, na comunidade dos primeiros discípulos estavam surgindo aqueles que buscavam os primeiros lugares, que brigavam pelo poder, que reclamavam reconhecimento e aplausos pelo que faziam, que se beneficiavam política e economicamente dos lugares de comando e coordenação. E Jesus vai dizer que, no Reino trazido por ele, esse tipo de busca precisa ser desfeito, invertido. O que conta para o discípulo do Reino é ser colaborador de Deus. Nada mais. Ninguém deve ficar à cata de aplausos, de reconhecimento social, de sucesso. Deve, outrossim, colocar no coração que  cada um está aí para colaborar com a obra da salvação, independente de resultados.

*Mês das Missões: “Sereis minhas testemunhas” (At 1,8). Com esse versículo dos Atos dos Apóstolos, o Papa Francisco nos exorta à missão neste ano de 2022. Vejamos: É pedido aos discípulos para construírem a sua vida pessoal em chave de missão: são enviados por Jesus ao mundo não só para fazer a missão, mas também e sobretudo para viver a missão que lhes foi confiada; não só para dar testemunho, mas também e sobretudo para ser testemunhas de Cristo. Assim o diz, com palavras verdadeiramente comoventes, o apóstolo Paulo: «Trazemos sempre no nosso corpo a morte de Jesus, para que também a vida de Jesus seja manifesta no nosso corpo» (2 Cor 4, 10). A essência da missão é testemunhar Cristo, isto é, a sua vida, paixão, morte e ressurreição por amor do Pai e da humanidade. Não foi por acaso que os Apóstolos foram procurar o substituto de Judas entre aqueles que tinham sido, como eles, testemunhas da ressurreição (cf. At 1, 22). É Cristo, e Cristo ressuscitado, Aquele que devemos testemunhar e cuja vida devemos partilhar. Os missionários de Cristo não são enviados para comunicar-se a si mesmos, mostrar as suas qualidades e capacidades persuasivas ou os seus dotes de gestão. Em vez disso, têm a honra sublime de oferecer Cristo, por palavras e ações, anunciando a todos a Boa Nova da sua salvação com alegria e ousadia, como os primeiros apóstolos”. (Mensagem para o Dia Mundial das Missões de 2022).

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN