“Não tenhais medo!”
12º Domingo do Tempo Comum [25 de junho de 2023]
[Mt 10,26-33]
Estamos no capítulo 10º de Mateus. Ele chama os discípulos e os envia em missão. Depois de transmitir aos seus discípulos sua própria autoridade (Mt 9,35 – 10,16), Jesus não lhes esconde que deverão enfrentar perseguição e sofrimento por causa dEle. Ao enviar os discípulos, Jesus lhes transmite algumas orientações. São sentenças orientadoras de Jesus para a ação missionária das comunidades. As orientações no relato de hoje querem fortalecer e prevenir o discípulo contra o medo. Não ter medo de ser perseguido por causa do evangelho.
Um dado interessante na vida é que sofrimento e perseguição são realidades diferentes. Enquanto o sofrimento é uma realidade angustiante que atinge a todas as pessoas, inocentes e culpados, a perseguição, na perspectiva da Sagrada Escritura, atinge os justos exatamente por serem justos. O amor e a fidelidade à Palavra de Deus trazem como consequência a perseguição. Nem sempre o sofrimento é fruto de perseguição. Mas a perseguição gera sofrimento. A confiança em Deus dá serenidade para lidar com a dor. É o que podemos notar em Jeremias, como nos atesta a primeira leitura deste domingo: Jr 20,10-13. Elemento fundamental neste relato é a confiança em Deus: “O Senhor está ao meu lado”. “A ti confiei a minha causa”. “Ele livrou a vida do pobre das mãos dos malvados”.
Por três vezes o Senhor adverte: “Não tenhais medo.” Por que será que Jesus insiste tanto nesse ponto? Na verdade, o medo é um dos maiores impedimentos ao anúncio do evangelho. E este não pode permanecer escondido: “O que escutais ao pé do ouvido, proclamai-o sobre os telhados”. Além disso, o medo expõe o discípulo ao risco de ser renegado: “Aquele que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante do meu Pai que está nos céus”.
Outra dimensão do medo está na linha existencial: medo de ser rejeitado pelo grupo, medo de perder oportunidades, medo de perder o emprego, medo de passar necessidades, medo de perder privilégios, medo de ser criticado, medo de perder o amigo, medo de ser contaminado por alguma doença, medo de ... Na verdade é sempre medo de perder. A gente só quer ganhar. Na hora de perder, de entregar algo de nós ou nosso, “o bicho pega”. E a vida é um “perde-ganha”. Não há ninguém que sempre ganhe na vida. Todo mundo perde alguma coisa: perde os cabelos, perde a beleza juvenil, perde parentes e amigos, perde oportunidade, perde a eleição, perde tempo, perde a alegria, perde demanda judicial, perde encantamento, perde...
Acho que a gente precisa aprender a perder, a lidar com os fracassos e frustrações da vida. Um dos grandes dramas da moçada nova (e velha também!) é lidar com os fracassos, com as perdas. Tem gente que acha que vai ser “brotinho” a vida toda! E começa a pintar aqui, espichar ali, cortar acolá, malhar pra ganhar corpo “sarado”, “bombado”. E onde vai parar? Não há jeito: o tempo é irreversível; a finitude humana é implacável. Todo mundo caminha para o fim. Então a gente precisa dar um novo sentido à vida. E Cristo veio dar esse sentido: “Se o grão de trigo caído na terra não morrer, permanece só; mas se morrer, produzirá muito fruto” (Jo 12,24).
Proclamar o Evangelho do Reino, na comunhão com Cristo, significa empenho pela paz, pela fraternidade, pela justiça. Há duas forças que pressionam o discípulo de Jesus para desistir da empreitada. Podemos nomeá-las em forças externas (perseguições, ameaças de morte, matança de líderes comunitários e agentes de pastorais) e forças internas (desânimo, acomodação, busca de vantagens pessoais, ganância, sede de ter e de poder etc).
Estas forças, de dentro e de fora do ser humano, podem criar uma estrutura fechada, impenetrável, egoísta, que o leva a colocar-se indiferente ao Evangelho. Poderá, talvez, escutá-lo todos os dias na igreja, mas não se deixa penetrar pela Palavra porque criou uma carapaça de busca de si mesmo, de fechamento, de egoísmo, de medo de se doar a quem mais precisa.
A grande questão que precisa ser colocada é que, se o evangelho não é vivido e anunciado, os ídolos, realidades que assumem o lugar de Deus Criador, vão consumindo a humanidade. Idolatria é uma realidade que suga todas as forças e energias que a pessoa tem. Ela mata tudo e todos. A busca do prazer, do ter e do poder a qualquer preço é vislumbre da idolatria. É colocar-se no lugar de Deus, invertendo o processo criacional. Em vez de reconhecer o Senhor como seu Deus, quer submeter o Criador ao seu domínio. Fomos criados por Deus; ele criou tudo para nós; e nós existimos por Ele e para Ele. Este é o sentido da Criação.
Podemos dizer que a mensagem principal do relato de hoje é que o discípulo de Jesus não pode se deixar levar pelo medo, pois Jesus prometeu estar com os seus. Ele não nos abandona, jamais. O medo é paralisante e contrário ao evangelho. Para anunciar o evangelho é preciso vencer o medo e ter a coragem de desapegar-se da própria vida. A confiança e a esperança devem superar o medo. Também é preciso enfrentar os inimigos internos: o comodismo, a preguiça, o envergonhar-se de assumir uma postura cristã, a busca do lucro a qualquer preço, querer sempre levar vantagem em cima dos outros etc. Vive como cristão aquele que coloca Jesus Cristo como centro de sua vida e de suas opções e decisões. O caminho que Jesus nos mostra é o caminho da vida. Sigamos por ele!
Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN