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Finados: a volta para a casa do Pai

aureliano, 30.10.24

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Comemoração de todos os fiéis defuntos [02 de novembro de 2024]

[Mt 11,25-30 ou Mt 25,31-46 ou Jo 6,37-40]

Para o cristão, celebrar Finados é o mesmo que celebrar a Esperança. A vitória de Cristo sobre o pecado e a morte é critério para o cristão no momento decisivo de sua partida, ou na participação na morte de alguém. “O último inimigo a ser vencido é a morte” (1Cor 15, 26). O mistério da vinda do Filho de Deus a este mundo (Encarnação) e sua Morte e Ressurreição colocou um ponto final sobre a nossa morte.

“A vontade daquele que me enviou é esta: que eu não perca nada do que ele me deu, mas que o ressuscite no último dia” (Jo 6,39). Quando Jesus faz essa afirmação na sinagoga de Cafarnaum, numa belíssima palavra sobre sua vinda a esse mundo como “pão da vida”, deixa claro o desígnio do Pai a respeito do ser humano: fomos criados para a comunhão plena com Deus, participando de uma vida que não tem ocaso. A ressurreição para a vida é a meta de todo aquele que empenha suas forças em ser bom à semelhança de Jesus de Nazaré: “Cada vez que o fizestes a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes” (Mt 25,40). Ele põe abaixo aquela ideia existencialista de que o ser humano é um “ser para a morte”.

A morte para o cristão é um mistério. Isto é, ela só pode ser compreendida à luz do que aconteceu com Jesus de Nazaré. Assim como Ele foi aprovado por Deus, assim também aquele que procura viver como ele viveu será aprovado, ressuscitado pelo Pai. Ressurreição é passagem da morte para a vida (cf. Jo 20,1-18); do pecado para a graça (cf. Cl 1,21-22). É chegar à comunhão com Deus para viver com ele eternamente (cf. Ap 21,1-7). Ressurreição é uma vida vivida em Deus, para Deus, a serviço dos pequeninos do Reino.

Finados ou o falecimento de pessoas queridas pode ser uma “pedra de toque” na nossa vida. Ajuda-nos a valorizar o que ultrapassa os limites da matéria. Lembra-nos a importância de morrermos para nós mesmos. A morte é uma realidade espiritual que confirma a definitiva e inabalável superação do homem confinado na perspectiva material.

Um texto que ajuda a despertar a esperança e a confiança são aquelas palavras de Isaías: “Por acaso uma mulher se esquecerá da sua criancinha de peito? Não se compadecerá ela do filho do seu ventre? Ainda que as mulheres se esquecessem, eu não me esqueceria de ti!” (Is 49,15).

Aquele que nos deu a vida e nos fez sair do aconchegante ventre materno para a luz do dia, há de nos fazer sair deste mundo, demasiadamente limitado, para a luz e a paz de Deus. “O que os olhos não viram, os ouvidos não ouviram e o coração do homem não percebeu, isso Deus preparou para aqueles que o amam” (1Cor 2,9).

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EM CRISTO, A VIDA PREVALECE SOBRE A MORTE - (Jo 11,17-45)

Defunto vem do particípio latino, defunctu, de+fungor, significa falecido, aquele que cumpriu inteiramente sua função. Quando, na Igreja, esta palavra é acrescida do termo ‘fiéis’, quer dizer que há algo mais do que uma mera função cumprida. O cristão e todo aquele que busca viver os valores do Evangelho não termina sua vida na morte. Não perde simplesmente uma função ao morrer. Sua vida está “escondida com Cristo em Deus” (cf. Cl 3,1-4). Para quem busca a vida, defende a vida, dá a vida pela vida, não há morte. Deus não o abandona na “sombra da morte”. O que o Pai fez com seu Filho, fará também com todo aquele que busca viver como Cristo viveu.

A liturgia de hoje propõe vários textos para escolha da equipe de liturgia. Escolhi este relato do evangelho de João. Julguei muito interessante trabalhar esta cena do evangelho, talvez pouco explorada na liturgia.

O capítulo 11 de João é uma catequese sobre a ressurreição. No evangelho de João encontramos Jesus realizando sete sinais. O primeiro aconteceu em Caná da Galileia, na transformação da água em vinho. O sétimo é o relato da revivificação de Lázaro. João não fala de milagres, mas de sinais. O que Jesus realiza é para levar o discípulo a confiar nele, a reafirmar sua fé no Cristo Ressuscitado. O relato de hoje prepara o discípulo para entrar confiante e esperançoso na cena da paixão. Em outras palavras, a paixão de Jesus, sua cruz e morte não devem ser motivo de desânimo nem de desencanto para o discípulo, mas motivo de se firmar no caminho da cruz (oferta da vida), pois esta leva à glória do Pai.

Uma afirmação central no relato de hoje deve sempre nos acompanhar: “Eu sou a ressurreição e a vida” (Jo 11,25). Esta palavra tem sentido quando se torna viva e eficaz dentro de nós. A pergunta de Jesus à Marta e sua consequente resposta coloca nossa vida cristã em constante desafio de fidelidade, sobretudo nas situações-limite da vida. “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá jamais. Crês isto?” (Jo 11,26). Marta, aqui, simboliza o discípulo que não desiste da fidelidade e da confiança em meio às tribulações, e professa sua fé: “Sim, Senhor, eu creio firmemente que tu és o Messias, o Filho de Deus que devia vir ao mundo” (Jo 11,27).

Outro elemento, relacionado ao que acabamos de comentar, é o do significado de Marta e de Maria neste relato. Maria, pela atitude de ficar em casa, mergulhada na tristeza, prisioneira do círculo da morte e do pranto, representa aquele que se fecha à possibilidade da fé. Marta, no entanto, embora triste e sofrida pela morte do irmão, se abre confiante ao Senhor como Aquele que pode libertá-la da prisão da morte. Sai do mundo da morte para ser mensageira d’Aquele que é o portador da vida. Uma vez alimentada e confirmada na esperança, vai confortar e animar sua irmã que jaz no círculo da morte. É a nossa missão!

Ainda uma breve palavra a respeito de Jesus nesta cena. Vemos claramente a humanidade de Jesus: “E Jesus chorou”. Dizem que este é o menor versículo da Sagrada Escritura. Jesus era um homem que tinha sentimentos. Chorou a morte do amigo! O interessante para nós é que Jesus não se prendia aos sentimentos. Nem os reprimia. O norte da vida de Jesus era a vontade do Pai. Tinha consciência de sua missão. Sabia que devia levá-la até o fim. Ao realizar aquele sinal da revivificação de Lázaro, no contexto do diálogo com Marta e Maria e na presença de seus inimigos, sabe que sua ação terá consequências em vista do Reino de Deus.

Então não há problema em chorar e lamentar a morte de alguém. Mas é preciso ressignificá-la na fé. Marta se torna para nós inspiração de abertura, de discipulado, de adesão firme e confiante ao Senhor que se nos revela nos acontecimentos dolorosos da história.

A morte permanece para o ser humano como um mistério profundo. Ainda não se descobriu a pílula da imortalidade! Todos morreremos: ricos e pobres, sãos e doentes, novos e velhos, religiosos e descrentes. É o fim de todos. O modo como cada um encara este momento é que varia. Para o cristão, a morte segue o caminho de Jesus. Pode ser um cálice amargo que se deve beber até o fim. Porém com aquela certeza de que, se cumprirmos a vontade do Pai, ele nos acolherá de braços abertos para a vida que não tem ocaso.

Como se dará isso, certamente, não o sabemos. Mas a Igreja reza assim: “Nele (Cristo) refulge para nós a esperança da feliz ressurreição. E aos que a certeza da morte entristece, a promessa da imortalidade consola. Ó Pai, para os que creem em vós, a vida não é tirada, mas transformada, e desfeito o nosso corpo mortal, nos é dado, nos céus, um corpo imperecível” (Prefácio da missa).

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Cemitério vem do grego koimetérion (dormitório, quarto de dormir), pelo latim coemeterium. O conceito ajuda a interpretar a morte como “sono eterno”. Para nós, cristãos, as pessoas que morreram em Deus, não caíram no abismo eterno, mas adormeceram no Senhor: “Felizes os mortos, os que desde agora morreram no Senhor. Sim, diz o Espírito, que descansem de suas fadigas, pois suas obras os acompanham” (cf. Ap 14,13). E, mais adiante: “Ele (Deus) enxugará toda lágrima dos seus olhos, pois nunca mais haverá morte, nem luto, nem clamor, e nem dor haverá mais” (Ap 21,4).

Essa fundamentação semântica e bíblica da morte pode ajudar-nos a viver melhor. A redescobrir o sentido da vida. A visita ao cemitério, que normalmente se faz nesse dia, deve adquirir novo sentido. Não estamos visitando os mortos. Estamos, sim, reafirmando nossa fé na “comunhão dos santos”, rezando por aqueles que já partiram antes de nós.

A Igreja celebra Todos os Santos no dia 1º de novembro (cuja solenidade no Brasil foi transferida para o domingo seguinte) e Finados no dia 02 com o intuito de juntar essas duas realidades post-mortem à nossa de peregrinos em Cristo. Na linguagem tradicional: Igreja militante ou peregrina (os vivos em peregrinação), Igreja padecente (os que terminaram sua peregrinação e passam pela purificação) e Igreja triunfante (aqueles que já estão na Luz que não se apaga, triunfam com Cristo no céu).

Mas nota-se que o povo se identifica mais com o cemitério, com a morte, com o sofrimento. Parece ser a realidade que ele conhece, experimenta. A Glória lhe é desconhecida. O importante, porém, é tentar fazer sempre o caminho da esperança, da conversão, da morte para a vida.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

O salto confiante da fé

aureliano, 25.10.24

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30º Domingo do Tempo Comum [27 de outubro 2024]

   [Mc 10,46-52]

Entender o que Jesus queria ensinar não foi tarefa fácil para seus discípulos. Os evangelhos mostram a dificuldade de compreensão por parte daqueles que ele chamara a seu seguimento a respeito da dinâmica do Reino de Deus.

No último domingo vimos Tiago e João disputando os primeiros lugares. Jesus, por sua vez, lhes dá a lição: “Vós sabeis que os chefes das nações as oprimem e os grandes as tiranizam. Mas entre vós não deve ser assim” (Mc 10,42-43). Os discípulos mantinham uma incompreensão em relação à missão messiânica de Jesus. Estavam cegos. O relato de hoje vem mostrar, no cego Bartimeu, o estado de cegueira dos discípulos.

Jesus está a caminho de Jerusalém, onde deve entrar triunfalmente, antes de morrer. O caminho é para a morte, mas a entrada é triunfal. Um triunfo que por um lado revela a messianidade de Jesus, e, por outro, o equívoco da multidão em relação à missão do Filho de Deus. O relato de Marcos, colocando essa situação do cego Bartimeu exatamente nessa altura do evangelho, reveste-se de um significado profundo: aquele cego representa os discípulos de Jesus e o “salto” (“deixando sua capa, levantou-se = deu um salto”) que precisam ainda dar, bem como a cegueira de que precisam se curar.

Para aquele homem tudo ao seu redor era noite. Não vê nada! Mas ele ‘ouve’ uma luz. Surge uma possibilidade. E quanto mais o repreendiam, mais ele gritava! E Jesus, ouvindo seus clamores diz: “Chamai-o”. Esse chamado de Jesus remete a tantos chamados que o Senhor faz. Esse homem não via, mas ouvia. Estava atento aos sinais do Senhor. Por isso ouviu o ‘chamado’. Em meio a tantas “vozes” mundanas, não é fácil distinguir qual é a voz de Jesus!

Interessante notar que, enquanto alguns o repreendiam, outros o animavam: “Coragem, levanta-te, Jesus te chama!” Vejam a importância de se ter alguém que encoraje, que anime. Na comunidade é assim também: há pessoas que não querem o crescimento do irmão. Humilham, diminuem, marginalizam. Por outro lado, há também aqueles que transmitem esperança e coragem. É destes que precisamos nos aproximar. É nesses que devemos nos inspirar.

Os gestos realizados pelo cego revestem-se de uma riqueza maravilhosa! São três: “O cego jogou o manto, deu um pulo e foi até Jesus”. O que isso significa? Aquele manto era o lugar em que o mendigo dormia, se sentava, recolhia as esmolas etc. Era sua “casa”. Jogar o manto é romper com o passado, com o comodismo. É deixar aquela vida medíocre de esmoler, de dependência e assumir sua própria vida. Mais. Ser cego, na cultura daquele tempo, era ser castigado por Deus. O cara não podia ler as Sagradas Escrituras. Não podia caminhar até o Templo ou à sinagoga. Então era tido como uma escória social, totalmente discriminado, marginalizado. E “saltar” em direção a Jesus significa deixar este estado de ‘homem velho’, na expressão de São Paulo, e assumir uma vida nova.

Vejam que ele salta ainda cego, antes de receber a cura. É o salto da fé. Esta nos coloca num estado de esperança, de confiança. É um salto no escuro! Mas sabendo que não se há de ser desamparado. Há Alguém que nos acolhe, nos ampara, não nos deixa cair e nos dá a vida nova. Este homem encontra a salvação por causa de sua fé.

O terceiro gesto, também é muito significativo. Complementa o segundo. “Foi até Jesus”. É o gesto da confiança, da simplicidade, da humildade, do caminho percorrido. Ele sabe que Jesus poderá dar-lhe a visão. Jesus era a única pessoa que poderia fazê-lo enxergar. E a palavra de Jesus unida à sua fé, devolveu-lhe a visão. Quem se aproxima de Jesus, deixando de lado as coisas, o desejo de posse, o comodismo, buscando assumir um caminho novo, certamente enxergará o mundo de uma forma nova, como Deus o vê. Enxergará o irmão!

E, finalmente, o coroamento. Aonde o evangelho quer chegar: “... ele foi seguindo Jesus pelo caminho”. Aquilo que faltava aos discípulos se realizou no cego Bartimeu. Os discípulos estavam como que cegos. Não conseguiam enxergar quem era Jesus. Estavam na procissão, mas não sabiam para quê. Os interesses escusos dos discípulos os colocavam em situação de trevas. Ainda mais: o medo e a falta de compreensão do projeto do Pai levavam-nos a ter atitudes egoístas e infantis.

O cego Bartimeu nos dá também a grande lição de que não podemos deixar passar a oportunidade da “passagem de Deus” pela nossa vida. Nem os opositores, nem o manto, nem a própria cegueira o impediram de lançar-se à busca de uma nova vida. Por isso foi salvo. A presença graciosa de Jesus transformou seu comodismo e seus medos em coragem, ousadia e nova visão de mundo. É o que acontece com quem se aproxima de Jesus e se deixa transformar por ele.

“Senhor, tu tens palavra de vida e de amor! Tu és a luz dos olhos meus! Brilhe essa luz nos passos meus seguindo os teus! Ajuda-me a deixar para trás o fechamento, os preconceitos, a dureza de coração e de mente. Abre meus olhos e meu coração ao teu amor para ajudar a tantas pessoas que vivem na escuridão da ganância e da mentira, da sede do poder e do ter, do desejo de fazer do semelhante um objeto em suas mãos. Dá-me um pouco de tua luz a fim de que, iluminado, possa também iluminar as situações de morte, de violência, de miséria, de insensibilidade, de indiferença e de mesquinhez que assolam nosso mundo. Jesus, tu és a luz, tu és o caminho, tu és a água viva que preenche o vazio do meu coração e me coloca em movimento de misericórdia e de perdão, de acolhida e de construção de um mundo mais justo humano e fraterno, na paz e no bem”.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

 

Salvação é graça, simplicidade e serviço

aureliano, 19.10.24

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29º Domingo do Tempo Comum [20 de outubro 2024]

   [Mc 10,35-45]

No domingo passado, Jesus exortava a renunciar às riquezas. O apego a elas é empecilho para o seguimento de Jesus, para a salvação. Jesus propõe um caminho novo: a partilha com os pobres. Para que não haja necessitados (cf. At 4, 32-35).

Neste domingo, continuando o caminho para Jerusalém, onde se dará o desfecho de sua entrega total ao Pai por nós, Jesus continua ensinando aos seus discípulos, a partir do caminho que eles mesmos vão fazendo em que aparecem suas incompreensões, defeitos e pecados. Eles precisam mudar a mentalidade. E como é difícil mudar a maneira de pensar! Sobretudo quando se trata de pensar à maneira de Jesus: sair de si mesmo.

Os filhos de Zebedeu, do grupo dos primeiros discípulos, já pensavam nos privilégios de terem sido os primeiros! Pensando que Jesus seria um grande líder político, que entraria triunfalmente em Jerusalém, dominando e desbaratando o poder opressor, querem garantir uma fatia no bolo do poder: “Deixa-nos sentar um à tua direita e outro à tua esquerda, quando estiveres na tua glória” (Mc 10,37).

Jesus se vale desse pedido para dar-lhes um ensinamento. É preciso “beber o cálice”. Ou seja, é preciso participar da mesma sorte de Jesus. É preciso “ser batizado” no mesmo batismo de Jesus. Isto é, terão que dar conta de experimentar, de imergir na paixão e sofrimento do Mestre. João e Tiago precisam estar dispostos a enfrentar a dor e o sofrimento, a percorrer o caminho da entrega da vida com o Mestre pela salvação da humanidade.

Na segunda parte do evangelho Jesus é bem claro no ensinamento a respeito do poder temporal buscado pelos filhos de Zebedeu: “Os chefes das nações as oprimem e os grandes as tiranizam. Mas, entre vós não deve ser assim: quem quiser ser grande, seja vosso servo; e quem quiser ser o primeiro, seja o escravo de todos” (Mc 10, 42-44). Os discípulos poderiam recordar a tirania do império romano e de outros malvados de seu tempo como Herodes Antipas e seus familiares. Jesus propõe uma interrelação totalmente diferente. Agora a relação deve ser de fraternidade e de serviço: “Porque o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate por muitos” (Mc 10, 45).

“Entre vós não deve ser assim”. Essa palavra de Jesus deve nos acompanhar. Penso que ela resume todo o ensinamento de Jesus nesse relato. Ele exige que sejamos diferentes, que tenhamos atitudes diferentes daquelas que o mundo propõe. Enquanto a sociedade do consumo propõe como caminho de felicidade o sucesso, o dinheiro, a aparência, os aplausos, o acúmulo, o poder, a capacidade de influenciar, o gozo a todo custo, Jesus propõe um caminho de doação, de respeito, de solidariedade, de saída de si, de partilha dos bens, do serviço generoso, da alegre convivência, de cuidado para com o mais fraco.

Essa é a “política” de Jesus. É o Reino de Deus que ele inaugurou. Enquanto no mundo da política rasteira muitos estão preocupados com seus cargos em perigo, com os altos salários, com os acordos espúrios para tirar vantagem, com os primeiros lugares, com os privilégios, Jesus vem propor uma atitude de serviço, de lava-pés, de fazer valer o poder-serviço.

Ministro vem de minus ou minor, menor. Quem tem algum ministério, seja na Igreja, seja na sociedade, deve entender-se como servidor de todos. Em face do pequeno o homem revela o que tem no coração: bondade ou sede de poder. O pequeno, o fraco, o necessitado de minha ajuda pode ser um objeto para meus caprichos, como pode ser alguém que me ajuda a expressar a bondade e a misericórdia.

Para refletir: Como exerço meu ministério na comunidade: busco servir ou me sirvo do ministério? Como tenho atuado na política: estou à cata de vantagens pessoais, ou estou empenhado nas necessidades da comunidade? Ainda mais: os outros discípulos começaram a brigar com João e Tiago por causa de seu pedido. Fico disputando, brigando, competindo com os outros? Ou valorizo, respeito, admiro e mesmo incentivo aqueles que exercem bem seu ministério?

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Certamente a palavra emblemática de Jesus: “Quem quiser ser o maior, se faça servidor de todos” encontre pouca repercussão em nossa sociedade atual. Hoje perdura a busca do triunfo. De modo geral, as pessoas querem vencer, ter sucesso a todo custo. Além de medir força com os outros, há também a busca do bem-estar pessoal, social. Bom salário, cartão de crédito quase sem limites, aplicação financeira em paraísos fiscais, o máximo possível de passeios e curtição, livrar-se de qualquer situação ou pessoa que ‘pese’ a vida. Um modo de vida que traga o máximo de prazer e conforto, e eliminação de toda pessoa ou situação que gere desconforto, mal-estar. Estabelecer poucas relações sociais para não ser incomodado: cada um cuide de si mesmo. Não complicar a vida. Quanto mais distante daqueles que me ‘incomodam’, melhor. Aproximações somente para tirar vantagens.

Bem. Diante de tal quadro é bem difícil fazer ecoar a palavra do Evangelho. Ser cristão, discípulo de Jesus, em meio a tanta indiferença humana talvez seja o grande desafio para nós, hoje.

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O relato de hoje acena para a necessidade se refletir sobre a religião. Pe. Pagola fala de “Religião da autoridade” e “Religião do chamado”. A ‘religião de autoridade’ busca impor normas e doutrinas, exigindo obediência à autoridade que se impõe pelo medo, pela ameaça, pela coação. Já a “religião do chamado” não impõe, mas propõe um caminho de salvação; não atua pelo poder, mas pelo serviço; não julga nem condena, mas acolhe, perdoa e incentiva a caminhar. A fé cristã deve colocar-se no caminho de um serviço humanizador aos homens e mulheres de nosso tempo se quiser perdurar e influenciar a história.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

 

Como você se relaciona com o dinheiro?

aureliano, 12.10.24

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28º Domingo do Tempo Comum [13 de outubro 2024]

   [Mc 10,17-30]

No evangelho do domingo passado refletimos sobre Jesus orientando a vida familiar. A relação conjugal não se fundamenta numa relação de dominação, mas de respeito, de corresponsabilidade, de ajuda mútua. Em síntese, marido e mulher são co-criadores com o Pai.

Neste domingo, prosseguindo a leitura do evangelho de Marcos, Jesus continua a instruir seus discípulos para que a vida deles seja um marco diferencial na sociedade e na história. O cristão precisa fazer a diferença. Agora Jesus ensina a se relacionar com os bens. Realidade muito próxima do casamento. A gente sabe que muitas crises no relacionamento conjugal brotam da relação e gestão dos bens, da casa, do dinheiro. Quantas brigas por conta de dívidas, por conta de diferença de salários, por conta de compra e venda! Quanta confusão, depois da separação, por causa de bens e de pensão! Quanta confusão e, por vezes, morte por causa de herança! Então vamos acompanhar a orientação de Jesus a respeito desse caminho que o discípulo deve fazer.

Esse moço que recorre a Jesus se preocupa com a vida eterna. Não lhe interessa tanto a vida presente uma vez que os bens já lhe estão garantidos. Primeiramente Jesus faz com que sua atenção se volte para o Pai e não tanto para Jesus: “Só Deus é bom”. Os mandamentos da Lei relativos ao próximo ele os tem observado. Notamos, porém, que os Dez Mandamentos não foram citados. Apenas alguns e mesmo assim naquela conotação negativa: “não”. Então lhe faltava a dimensão positiva da vida. Ele observava a Lei, mas não sabia partilhar. Não tinha gratuidade. Não tinha plena consciência e conhecimento do que estava fazendo. Observava a lei por costume e tradição. Como aqueles casos muito comuns entre nós: “Por que você quer batizar seu filho?” Ou “Por que você é católico?” A resposta normalmente ecoa: “Porque todo mundo batiza” Ou “Porque meu pai é católico”. Ou simplesmente: “Por que nasci numa tradição católica”. E por aí se vai. Uma fé sem fundamento, sem gratuidade, sem generosidade, sem conhecimento, sem razão, sem convicção e decisão livre e consciente.

Jesus quis ajudar aquele homem a dar um passo decisivo na vida. É algo que faz parte integrante da fé cristã: o desapego dos bens e o espírito de partilha. “Vai, vende tudo o que tens. Dá o dinheiro aos pobres. Depois vem e segue-me”. Não basta, pois, dividir os bens com os pobres. É preciso seguir a Jesus. O seguimento de Jesus é que caracteriza o cristão. Poder-se-iam distribuir os bens por vaidade. E nesse aspecto Paulo já alertara: “Ainda que eu desse todos os meus bens aos pobres; se não tivesse amor, isso de nada valeria” (1Cor 13,3).

No desenrolar do texto Jesus percebe a dificuldade de o rico entrar no Reino. Jesus não está falando de vida depois da morte, não. Ele está falando do Reino de Deus. A vida eterna começa aqui, com a erupção do Reino de Deus. Quem não se desapega, como aquele moço que não teve coragem de se desvencilhar dos bens, não pode entrar na vida de Deus. A vida eterna é a vida em Deus.

A salvação é dom de Deus: “Para Deus tudo é possível”. Ninguém compra a vida de Deus, repartindo seus bens, fazendo caridade etc. Deus nos salva de graça. Porém nossos gestos de bondade, de generosidade, de partilha, de perdão, de tolerância, de respeito, de solidariedade são nossa resposta à bondade de Deus que nos salva. Quem vive preso às suas coisas, fechado em si mesmo, indiferente ao sofrimento alheio ou, pior ainda, buscando sempre oportunidades para aumentar suas posses, defraudando os outros, extorquindo, sonegando impostos, deixando de cumprir com as obrigações sociais de seus funcionários, está cada vez mais longe do Reino de Deus, da salvação. Sua vida está atravancando a ação salvadora de Deus. É uma pedra de tropeço, um escândalo, que impede a vida de florescer. Mata a alegria e as esperanças das pessoas.

Na prática, cada um de nós podia dar uma olhadinha no modo como lida com os bens e posses. O que fazemos com o dinheiro? Onde o guardamos? Em que o empregamos? Com que finalidade? O que estamos comprando? Para que compramos? Tem gente que renova as mobílias todos os anos. Compra sem necessidade nenhuma. Tem gente que está sempre na ponta da tecnologia. É necessário estar na “crista da onda”? Por outro lado, há pessoas que deixam de comprar coisas essenciais para a casa, que deixam de cuidar da saúde da família para guardar o dinheiro ou aumentar o patrimônio. E, muitas vezes, se endividando com prestações a perder de vista. Tem gente que nem consulta a família para fazer certos gastos. Tem gente que gasta o salário com jogos de azar, com prostituição e adultério, com bebedeira sem conta, com churrascada desmedida para amigos, com drogas de toda qualidade. Tem gente que vive uma vida miserável para aplicar o dinheiro em rendimentos bancários. Mas não é capaz de partilhar um centavo com os mais pobres!

Isso sem falar da agiotagem que assassina milhares de famílias. Um pecado que brada aos céus: o sujeito tem dinheiro; vê o irmão na pior; empresta-lhe a juros exorbitantes; escraviza o pobre coitado que nunca ou quase nunca consegue pagar (Cf. Sl 15,5). E o que dizer daqueles que transferem sua fortuna para os “paraísos fiscais”, deixando os pobres brasileiros a “ver navios”? Pior: muitos destes tais se dizem cristãos!

“A maneira sadia de lidar com o dinheiro é ganhá-lo de forma limpa, utilizá-lo com inteligência, fazê-lo frutificar com justiça e saber compartilhá-lo com os mais necessitados” (Pe. J. A. Pagola). O acúmulo de bens é idolatria. O reino pessoal, a busca de si mesmo não garante lugar no Reino de Deus.

Não está na hora de colocarmos a mão na consciência e rezarmos um pouco mais nosso ser cristão? Aquele homem do evangelho voltou triste porque possuía muitos bens. Conclui-se que a posse de muitos bens não traz alegria para ninguém. A verdadeira alegria está no bom uso dos bens, do dinheiro. Quando sabemos partilhar, distribuir, comprar ou vender dentro de critérios honestos e a partir de um diálogo respeitoso e cristão dentro de nossa casa, estamos no caminho do verdadeiro discipulado de Jesus. Então experimentaremos a verdadeira alegria que brota de uma vida vivida em Deus, na construção do Reino de partilha, de paz e de justiça.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

O casamento é um dom e não uma lei

aureliano, 04.10.24

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27º Domingo do Tempo Comum [06 de outubro 2024]

[Mc 10,2-16]

O ser humano é chamado, no amor, a realizar-se como pessoa. Porém essa realização não se dá sem a colaboração do outro que lhe diz quem ele é e por onde está caminhando. Ele deve realizar um encontro com alguém que seja capaz de comunhão com ele: “Então o homem exclamou: ‘Esta sim é osso de meus ossos e carne de minha carne! Ela será chamada ‘mulher’, porque foi tirada do homem’” (Gn 2,23). É aí que se dará um diálogo aberto e nobre para, juntos, descobrirem a plenitude de sua vocação.

Quando os fariseus, cheios de maldade e de dúvidas também, fazem a Jesus aquela pergunta crucial sobre o divórcio, ele responde com maestria remetendo-se à ordem da Criação: “Desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne. Assim já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe” (Mc 2,6-7).

Jesus quer dizer que a separação do casal não faz parte do projeto original de Deus. Homem e mulher foram criados em mesmo nível de igualdade. Para viverem juntos, constituindo família, segundo sua vocação, realizando-se no que fazem e vivem. A indissolubilidade do matrimônio é uma consequência do amor conjugal. A união livre e responsável do homem e da mulher em matrimônio é um dom, uma graça. Ou seja, indissolubilidade não vem primeiro, mas o amor conjugal. A indissolubilidade protege a parte mais frágil e fortalece o projeto original de Deus na criação do ser humano.

Aqui entra um elemento fundamental: Deus não fez o homem (varão) superior à mulher. Nem vice-versa. Jesus condena essa atitude e quer que todos tenham a mesma dignidade e igualdade nas relações. Jesus desautoriza explicitamente todo autoritarismo machista que permitia ao homem “despedir a mulher por qualquer motivo”.

Na verdade havia interpretações divergentes relativas a esse tema entre as duas escolas mais famosas do judaísmo de então: a de Hillel, mais liberal em relação ao divórcio, permitindo, por exemplo, que o marido poderia pedir carta de divórcio quando a mulher não cozinhasse de acordo com seu gosto, ou quando ele se cansasse da mulher e quisesse buscar outra. Já a escola de Shammai, mais rigorosa, só admitia o divórcio em caso de adultério ou má conduta da mulher. À mulher restava recorrer para separação se o marido tivesse contraído a lepra ou exercesse um ofício repugnante.

Por aí se vê que a discussão não era simples. E os fariseus ficavam meio engasgados diante de tamanho impasse. Queriam saber a opinião de Jesus. Ao invocar o projeto original de Deus, a Criação, Jesus convida a uma reflexão mais profunda. Não se trata somente de continuar com a mulher ou abandoná-la. Em primeiro lugar trata-se de perceber que Deus os fez homem e mulher. São iguais perante Deus. Depois é preciso notar que o casamento é um projeto divino. É um dom para a humanidade. É o cuidado de um pelo outro e de ambos pelos filhos. Não se pode invocar a lei para justificar projetos egoístas. A Lei que deve prevalecer no coração humano é a Lei do amor.

O sonho de Deus é que o casal entre num projeto de vida estável e indissolúvel. O divórcio não faz parte do projeto do Pai, porque ele traz em si as marcas da dor, do golpe, da ferida quase incurável, da morte. As facilidades oferecidas por Moisés “por causa da dureza de vossos corações” estão em alta, nos últimos tempos. Sabemos por experiência que, sempre que o egoísmo prevalece, o sofrimento intensifica-se na vida humana. Mas todas as vezes que o amor-ágape encontra guarida no coração humano, o sofrimento é minimizado pelo alento da generosidade, do cuidado e do perdão.

Quando Moisés pede que se dê “carta de divórcio” entende-se que o homem deve deixar a mulher ir em paz. Por vezes o homem despedia a mulher e ficava vigiando pra ver com quem ela iria ficar. Ou para impedi-la de arranjar outra pessoa. Não é o que costuma acontecer até hoje? Homens que se julgam donos das mulheres, perseguindo, maltratando, assassinando as mulheres. É um horror o que se vê por aí! A violência contra as mulheres grita aos céus. O amor de Deus ainda está muito longe de nossas realidades familiares e sociais.

Ainda mais. Cabe aqui também levar em consideração os casos de fracasso no casamento. Podemos dizer que não faz parte do projeto ideal de Deus. Mas a continuidade da convivência sob o mesmo teto por vezes se torna insustentável. Quando o egoísmo toma conta de uma parte ou de ambas, a situação vai se tornando insuportável, chega a ser desumana. Sem mencionar aquelas situações em que uma das partes é, simplesmente, abandonada (com os filhos). Se a parte fiel, sadia, encontra amparo de alguém que valoriza, que respeita, que cuida, resta-lhes atirarem-se confiantes nos braços da providência e da misericórdia divinas. Sabendo-se, no entanto, que a questão da separação do casal não deve estar sempre sobre a mesa, como insistem muitos por aí nas redes sociais e telenovelas. O casal que se faz discípulo de Jesus empenha todas as forças para levar adiante essa relação que significa o amor eterno que Deus tem por todos nós. Amor manifestado na entrega de seu Filho Unigênito pela nossa salvação. Amor expresso na entrega de Cristo pela sua Igreja.

Cabe considerar também a necessidade de acolhermos e oferecermos nosso ombro aos casais em nova união. Eles não estão excomungados, não foram expulsos da Igreja. Estão em situação irregular, mas continuam em comunhão eclesial. Devem ser acolhidos. Devem participar da celebração, dos serviços da Igreja. Se a Igreja lhes retira o direito de receber a comunhão é porque “seu estado e condição de vida contradizem objetivamente a união de amor entre Cristo e a Igreja, significada e atualizada na eucaristia” (São João Paulo II). Mas isso não autoriza ninguém condená-los, discriminá-los, rejeitá-los. Precisam ser acolhidos e amados em sua nova condição. É preciso ter para com eles o espírito de Jesus. Podem não participar do Pão Eucarístico, mas participam da Eucaristia.

Escutemos o Papa Francisco: “Quanto às pessoas divorciadas que vivem em uma nova união, é importante fazer-lhes sentir que fazem parte da Igreja, que ‘não estão excomungadas’ nem são tratadas como tais, porque sempre integram a comunhão eclesial. Estas situações ‘exigem um atento discernimento e um acompanhamento com grande respeito, evitando qualquer linguagem e atitude que as faça sentir discriminadas e promovendo a sua participação na vida da comunidade. Cuidar delas não é, para a comunidade cristã, um enfraquecimento da sua fé e do seu testemunho sobre a indissolubilidade do matrimônio; antes, ela exprime precisamente neste cuidado a sua caridade” (Amoris Laetitia, 243).

“Essa sublime vocação do matrimônio indissolúvel é hoje fonte de violentas críticas à Igreja. Que fazer com os que fracassam? Objetivamente falando, sem inculpar ninguém – pois de culpa só Deus entende, e perdoa – devemos constatar que há fracassos, e que fica muito difícil celebrar um ‘sinal eficaz do amor inquebrantável de Jesus’ na presença de um matrimônio desfeito... Por isso, a Igreja não reconhece como sacramento o casamento de divorciados. Teoricamente, se poderia discutir se o segundo casamento não pode ser aceito como união não-sacramental (como se faz na Igreja Ortodoxa). E observe-se que muitos casamentos em nosso meio são, propriamente falando, inválidos, porque contraídos sem suficiente consciência ou intenção; poderiam, portanto, ser anulados (como se nunca tivessem existido). Em todo caso, o matrimônio cristão, quando bem conduzido em amor inquebrantável, é uma forma de seguir Jesus no caminho do dom total” (Pe. J. Konings).

O que importa aqui é nos colocarmos diante do Pai como a criança, porque “o Reino de Deus é dos que são como elas”. Ou seja, em qualquer circunstância, é preciso de nos colocarmos diante do Pai com o coração aberto, com disponibilidade de alma, desarmados, confiantes na misericórdia d’Ele, como aprendizes, com transparência e sinceridade de coração.

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TRÊS PALAVRAS MÁGICAS PARA FAZER O CASAMENTO DURAR

Papa Francisco esclarece que o "para sempre" não é só questão de duração. "Um casamento não se realiza somente se ele dura, sua qualidade também é importante. Estar juntos e saber amar-se para sempre é o desafio dos esposos".

E fala sobre a convivência matrimonial: "Viver juntos é uma arte, um caminho paciente, bonito e fascinante (…) que tem regras que se podem resumir exatamente naquelas três palavras: 'posso?', 'obrigado' e 'desculpe'".

"Posso? é o pedido amável de entrar na vida de alguém com respeito e atenção. O verdadeiro amor não se impõe com dureza e agressividade. São Francisco dizia: 'A cortesia é a irmã da caridade, que apaga o ódio e mantém o amor'. E hoje, nas nossas famílias, no nosso mundo amiúde violento e arrogante, faz falta muita cortesia."

"Obrigado: a gratidão é um sentimento importante. Sabemos agradecer? (…) É importante manter viva a consciência de que a outra pessoa é um dom de Deus, e aos dons de Deus diz-se 'obrigado'. Não é uma palavra amável para usar com os estranhos, para ser educados. É preciso saber dizer 'obrigado' para caminhar juntos."

"Desculpe-me: na vida cometemos muitos erros, enganamo-nos tantas vezes. Todos. Daí a necessidade de utilizar esta palavra tão simples: 'desculpe-me'. Em geral, cada um de nós está disposto a acusar o outro para se desculpar. É um instinto que está na origem de tantos desastres. Aprendamos a reconhecer os nossos erros e a pedir desculpa. Também assim cresce uma família cristã.

Finalmente, o Papa acrescenta com bom humor: "Todos sabemos que não existe uma família perfeita, nem o marido ou a mulher perfeitos. Isso sem falar da sogra perfeita…".
E conclui: "Existimos nós, os pecadores. Jesus, que nos conhece bem, ensina-nos um segredo: que um dia não termine nunca sem pedir perdão, sem que a paz volte à casa. Se aprendemos a pedir perdão e a perdoar aos outros, o matrimônio durará, seguirá em frente" -https://pt.aleteia.org/2014/03/12

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN