Caminhar na presença de Deus
Apresentação do Senhor [02 de fevereiro de 2025]
[Lc 2,22-40]
Estamos a 40 dias do Natal. Jesus, “o sol nascente que nos veio visitar” para iluminar os que jazem nas trevas (cf. Lc 1,78-79), o Sol que não se apaga, nascido de Maria, é celebrado nesse dia como a Luz da humanidade, em “substituição” à divindade “sol invicto”, celebrada pelos romanos na antiguidade, por ocasião do Natal cristão.
Essa festa litúrgica nos remete também a 1Sm 1,28, quando Ana, esposa de Elcana, foi ao templo e ofereceu seu filho, Samuel: “De minha parte eu o dedico ao Senhor por todos os dias que viver, assim o dedico ao Senhor”. Um convite a consagrarmos nossos filhos ao Senhor. O que nossos filhos estão oferecendo ao Senhor e à vida? Que oferenda estamos sendo para Deus? Estou me apresentando a Deus todos os dias? – Na perspectiva de Miquéias 6,6-8: “Com que me apresentarei ao Senhor, e me inclinarei diante do Deus do céu? (...) Foi-te anunciado, ó homem, o que é bom e o que o Senhor exige de ti: nada mais do que praticar o direito, gostar do amor e caminhar humildemente com o teu Deus”. É assim que somos chamados a viver e a caminhar nesse mundo. Nada mais.
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A festa da Apresentação do Senhor remonta ao século V. Tem origem nos relatos do próprio evangelho de hoje. Quarenta dias depois de nascido o primogênito masculino, o judeu piedoso ia ao Templo apresentá-lo como sinal de gratidão, de consagração e também para oferecer o sacrifício prescrito para a purificação da mãe e do filho, conforme a Lei prescrevia (cf. Lv 12,3-4; Êx 13,2.11).
A celebração litúrgica de hoje era marcada por uma procissão com velas acesas. Trazia o nome de Nossa Senhora das Candeias. Por quê? Exatamente por causa daquele Menino trazido nos braços de Maria e aclamado por Simeão: “Luz para iluminar as nações” (Lc 2,32).
Maria e José vão ao Templo apresentar o filho ao Senhor. Esse gesto é muito significativo, sobretudo, para nossos tempos em que predominam as preocupações mundanas em relação aos filhos. De modo geral qual é a primeira preocupação dos pais em relação aos seus filhos? Não parece ser a de dar uma boa condição de vida? Isso tem sua importância. Mas será que deve ocupar o primeiro lugar? E a vida de oração? E a relação com Deus? E a participação na vida da comunidade: uma boa catequese, o senso da partilha, do respeito ao meio ambiente, a honestidade, a justiça, a verdade? As crianças aprendem mais vendo do que ouvindo. As atitudes e gestos de respeito, de generosidade, de perdão, de honestidade dos pais marcam profundamente o coração dos filhos. Não adianta mandar fazer: é preciso fazer primeiro.
Oferecer uma boa escola, boa faculdade, plano de saúde, academia, roupa de marca, celular top, carro etc parece ocupar o centro de preocupação dos pais. Mas o evangelho de hoje diz outra coisa. Os pais de Jesus tiveram como preocupação primeira a consagração do filho ao Senhor. As coisas de Deus ocupam o primeiro lugar na formação do Menino de Nazaré. Precisamos pensar nisso.
Figura interessante é a do velho Simeão. Homem “justo e piedoso”. Por ter levado uma vida segundo o ‘Ensinamento do Senhor’, estava aberto ao Espírito Santo por quem deixava-se mover. Foi consolado por ver a libertação de Israel. E bendiz a Deus com confiança: “Agora podes deixar teu servo partir em paz” (Lc 2,29). Nossos idosos podem fazer essa oração? Vivem de tal modo que sentem o conforto do Pai? É de suma importância que a gente viva de tal forma que, no final da vida se possa colocar-se com confiança e alegria nas mãos do Pai. É triste ver idosos desgostosos da vida, ranzinzas, insatisfeitos, azedos, também abandonados à sua própria sorte. Há alguma coisa aí que precisa ser melhorada!
Simeão era um homem simples. Não era do grupo dos sumos sacerdotes do Templo. Não tinha nada a não ser uma fé confiante em Deus. Esperava! Podemos até traduzir por uma palavra mais significativa: esperançava. É um homem que se sente feliz. E num gesto paterno-maternal toma o menino nos braços e bendiz a Deus. Que liberdade e serenidade nesse homem de Deus! Lucas quer nos mostrar que devemos acolher Jesus como Simeão: com carinho, confiança, alegria e fé. Abraçá-lo. Aderir a Jesus como o centro absoluto de nossa vida. Aquele que ilumina nossas decisões e inspira nossas ações.
Ana, viúva de idade avançada, passou sua viuvez no serviço do Senhor. Não ficou ociosa, de casa em casa, nem de ‘caso em caso’. Mulher resolvida na vida, tinha consciência do modo como deveria viver. A idade não era impedimento para o exercício da missão: “Falava do menino a todos os que esperavam a libertação de Israel” (Lc 2,38). Inspira nossas ações missionárias. É preciso anunciar a Boa Nova.
Nesse dia dedicado à Vida Consagrada, renovemos nossa consagração. O Pai nos consagrou para a missão. Então olhemos para José, Maria, Simeão, Ana, Pe. Júlio Maria, e caminhemos com confiança à luz do Senhor. Fomos iluminados para iluminar: “Por onde formos também nós que brilhe a tua luz! Fala, Senhor, em nossa voz, em nossa vida! Nosso caminho, então, conduz: queremos ser assim. Que o pão da vida nos revigore no nosso sim”.
Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN