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aurelius

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A correção fraterna

aureliano, 04.09.20

23º domingo do TC - A - 06 de setembro.jpg

23º Domingo do Tempo Comum [06 de setembro de 2020]

[Mt 18,15-20]

Estamos no capítulo 18 de Mateus em que ele relata o discurso de Jesus sobre a comunidade. E o relato de hoje está imediatamente após a parábola da ‘ovelha perdida’. Essa observação é muito importante porque nos ajuda a compreender e a realizar a correção fraterna: deve-se buscar sempre trazer a pessoa de volta para a comunidade, pois a Igreja é a comunidade dos reconciliados: “Não é da vontade de vosso Pai, que está nos céus, que nenhum destes pequeninos se perca” (Mt 18,14). Cristo não nos salva somente pela sua morte na cruz, não. Ele quer nos salvar também pela comunidade na qual deseja que estejamos plenamente inseridos, em comunhão.

É muito comum entre nós falar mal dos outros, fofocar, condenar etc. Somos mestres em criticar  e condenar as pessoas. Dificilmente encontramos alguém que chame a pessoa que se julgue errada e lhe mostre o erro e o caminho de saída. Tem gente que se afasta da comunidade por causa desse ou daquele; tem gente que expulsa pessoas da comunidade por posturas julgadas inadequadas.

Pois bem, o Evangelho de hoje nos exorta a sairmos de um moralismo inconsequente  e ajudarmos o irmão que erra a fazer o caminho de volta. Chamá-lo em particular, para não humilhá-lo ou ridicularizá-lo. Numa segunda tentativa devem-se buscar testemunhas, ou seja, mostrar o interesse de outras pessoas, para que outros possam também manifestar-se em relação ao irmão que se desencaminhou. Finalmente, tendo mostrado que foram envidados todos os esforços, se não quis ouvir nem a pessoa em particular nem as testemunhas, deve-se comunicar à Igreja: a comunidade cristã é que tem o poder das “chaves”: ligar e desligar.

O que se ressalta deste texto é o desejo de Jesus que se empenhe com toda força na recuperação de quem está no caminho do mal. Lembre-se aqui do imperativo de Jesus: “Vai”. É preciso ir corrigir, e não ficar falando pelas costas, covardemente. A salvação que Jesus veio trazer passa pela comunidade. E esta precisa sempre mais se aproximar de Jesus para ser sinal de seu amor. A compaixão de Jesus, seus gestos de acolhida e de respeito, a quebra de todo preconceito, sua solicitude para com os pequenos e sofredores mostram como a comunidade cristã deve proceder.

Vale lembrar aqui, do ponto de vista político-social, a pouca-vergonha e canalhice de muitos quando sabem das roubalheiras, das propinas, dos desvios de verba, dos subornos, das sonegações de impostos, das “rachadinhas” e permanecem calados como se nada soubessem, ou mesmo buscando se beneficiar da situação. Seria hora de nos acordarmos para o Evangelho da vida nessa cultura de morte que muitas vezes recorre à própria Palavra de Deus para justificar a podridão!

“Se ele te ouvir terás ganho teu irmão”. Esta palavra de Jesus deve ecoar forte dentro de nós. Assumirmos uma postura tal que o irmão seja capaz de nos ouvir. Toda atitude condenatória, rígida, arrogante, impetuosa afasta, espanta, irrita, distancia. O Papa Francisco adverte: “Nós, os católicos, como ensinamos a moral? Não podemos ensinar apenas preceitos como: ‘Você não pode fazer isso, tem que fazer aquilo, você pode, você não pode’. A moral é uma consequência do encontro com Jesus Cristo. Para nós, católicos, é uma consequência da fé. E para os demais, a moral é uma consequência do encontro com um ideal, ou com Deus, ou consigo mesmo, mas com a melhor parte de si mesmo. A moral é sempre uma consequência. […] Algumas pessoas preferem falar de moral em homilias ou em cursos de teologia. Há um grande perigo para os pregadores, que é cair na mediocridade… condenar somente a moralidade – desculpe-me – ‘da cintura para baixo’. Mas os outros pecados, que são mais graves, o ódio, a inveja, o orgulho, a vaidade, matar o outro, tirar a vida… não se fala tanto deles” (pt.aleteia.org – 04/09/2017).

Talvez fosse oportuno fazermos um exame de consciência: como lidamos com aqueles que se afastam ou erram em nossa comunidade? Nossa atitude se assemelha à de Jesus? Costumamos falar mal dos outros, fofocarmos, condenarmos? Deixamo-nos tocar pelo sofrimento e dor do outro, pela sua situação de angústia e medo? Impomos medo nas pessoas? Ameaçamos? Ou buscamos estabelecer uma relação de confiança e liberdade?

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DIMENSÃO COMUNITÁRIA DO SACRAMENTO DA CONFISSÃO

O evangelho deste domingo nos remete a um elemento fundamental dos sacramentos da Igreja, mas que no decurso da história parece ter sido esquecido no sacramento da Reconciliação ou Confissão: sua dimensão eclesial ou comunitária. Em outras palavras, o sacramento da Penitência ou Confissão precisa retomar sua dimensão comunitária.

Já no AT os ritos de penitência eram comunitários. E, segundo consta, nos primórdios da Igreja, a confissão dos pecados era pública, ou seja, feita na comunidade. Percorrendo, porém, a história desse sacramento, constata-se ter havido uma passagem progressiva da celebração penitencial de toda a comunidade à confissão individual. Isso levou à alienação do rito do perdão nos relacionamentos da comunidade, tornando-o um ato quase mágico. Tal procedimento também desvinculou o pecado de sua dimensão comunitária, como se o pecado fosse de responsabilidade e proporções apenas individuais sem consequência na vida da comunidade.

O pecado atinge de cheio a comunidade: os corruptos e ladrões de nosso País roubam o pão dos pobres, os medicamentos e atendimento médico-hospitalar dos doentes, o direito a uma educação de qualidade crianças e jovens etc. Faz a miséria se instalar ainda mais na vida dos “descartáveis”, daqueles que não contam na sociedade. Com ele crescem a violência e o ódio. O pecado destrói a família, desfaz a alegria de viver, quebra a amizade e a comunhão entre os irmãos. O pecado explora o meio-ambiente e descarta as vidas, as culturas, as pessoas. O pecado afoga a pessoa no seu próprio ego (narcisismo) e mata a quem está por perto, pois seus tentáculos atingem tanto mais pessoas quanto maior for sua gravidade.

Ora, a celebração dos sacramentos é a rememoração e atualização do evento salvífico de Deus na história, por Cristo, no Espírito Santo. Salvação essa que se dá como evento eclesial (embora Deus possa salvar também por outros meios). Tratando-se, pois, do sacramento da Reconciliação (sinal salvífico eclesial), não parece ter sentido realizá-lo como um ato isolado. Se o Batismo, a primeira penitência ou perdão, é essencialmente comunitário, por que razão a Reconciliação, segunda penitência, foi privada de tal dimensão?

Torna-se, pois, urgente recuperar a dimensão comunitária, eclesial do sacramento da Reconciliação. Deus não salva o indivíduo no seu isolamento. Ele salva a comunidade e na comunidade. É, pois, em comunidade que deve ser operada a conversão e a busca do perdão. Na Igreja Católica, o padre ou o bispo, são os representantes da comunidade eclesial quando ministram esse sacramento. Portanto, na confissão sacramental, a pessoa é reconciliada com Deus e com a comunidade.

Se se forma o fiel cristão para o verdadeiro sentido da comunidade querida por Jesus, e para o sentido e necessidade da conversão na vida humana, se compreenderá por que Jesus centrou sua pregação na proclamação da penitência, da conversão (metanóia) como único caminho de entrada e participação no Reino de Deus: “Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede do Evangelho” (Mc 1,15).

Concluindo: o sacramento da Penitência ou Confissão se torna eficaz quando nos reconcilia com Deus e com os irmãos. Quando nos leva a uma verdadeira conversão do coração e mudança de vida. Quando nos reintroduz na vida e participação da comunidade. Quando nos leva a devolver o que roubamos, ou a alegria e paz de que privamos as pessoas.

* Setembro Amarelo: São registrados cerca de 12 mil suicídios todos os anos no Brasil e mais de 01 milhão no mundo. Trata-se de uma triste realidade, que registra cada vez mais casos, principalmente entre os jovens. Cerca de 96,8% dos casos de suicídio estão relacionados a transtornos mentais.

Em primeiro lugar está a depressão, seguida do transtorno bipolar e abuso de substâncias. Com o objetivo de prevenir e reduzir estes números a campanha Setembro Amarelo tem como objetivo mobilizar a sociedade para se empenhar na prevenção do suicídio. Um elemento fundamental é ouvir a pessoa que está em estado de sofrimento depressivo ou transtorno mental, sem juízo de valor. Acolher, estender a mão, estar junto. Com uma ação de generosa escuta e acolhida a gente pode salvar muitas vidas.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

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