A porta é estreita, mas continua aberta
21º Domingo do Tempo Comum [25 de agosto de 2019]
[Lc 13,22-30]
“Esforçai-vos por entrar pela porta estreita”. Estas palavras do divino Mestre nos remetem a Jo 10,9: “Eu sou a porta: quem entrar por mim será salvo”. Portanto, a porta estreita pela qual devem passar aqueles que buscam a salvação é o próprio Jesus. Não há outra porta nem outro caminho: “Eu sou o caminho”, afirmara Jesus em outro lugar. Entrar pela “porta estreita” é seguir Jesus, é confiar no Pai, é voltar-se, com compaixão, para os pequenos e pobres.
O relato deste domingo quer nos mostrar que o ser cristão não é um meio mágico de salvação. Esta é o resultado do encontro entre esforço humano e o dom de Deus (cf. Mt 7,13-14). Pensar que seguir uma religião, praticar determinados ritos, frequentar o templo são atitudes suficientes para se salvar, é ledo engano. Uma religião que não nos compromete eticamente com o mundo, com a transformação social, com o cuidado para com o planeta e com o ser humano pode ser uma religião falsa. A gente pode estar caminhando para ouvir aquelas duras palavras: “Não vos conheço. Afastai-vos de mim vós que praticais a iniquidade”.
A “porta estreita” está relacionada com Mt 25,31-46: “Tudo o que fizerdes a um destes meus irmãos mais pequeninos foi a mim que o fizestes”. Quem quer entrar na vida de Deus precisa abrir o coração para o exercício da caridade e da misericórdia. Esse é, sem dúvida, o caminho da salvação. Pois salvação não é uma realidade do além, mas uma dinâmica que já começa aqui. Quem entra pela “porta estreita”, quem procura perfazer um caminho de salvação, preocupa-se com os irmãos sofredores, “caminha na justiça e não engana o semelhante” (Sl 15), procura viver com fidelidade sua vocação na família, no trabalho, na consagração. E, consequemente, gera uma realidade de “vida eterna” ao seu redor. “A vida eterna é esta: que conheçam a ti, ó Pai, como único Deus verdadeiro e àquele que enviaste, Jesus Cristo” (Jo 17,3).
-------xxx-------
A PORTA É ESTREITA E DEUS NÃO QUER NINGUÉM DE FORA
A curiosidade com o número dos eleitos do Reino costuma preocupar algumas pessoas. Mas Jesus deixa claro no evangelho de hoje que isso não importa. O que importa mesmo é a conversão, esforçar-se para entrar e se empenhar em manter-se dentro. A festa é para todos. A porta continua aberta; mas num determinado momento ela será fechada.
Há alguns grupos religiosos que insistem em afirmar que basta “entregar” tudo a Jesus e cruzar os braços. O Evangelho mostra outro caminho: é preciso esforço, empenho pessoal, seguimento de Jesus ”rumo a Jerusalém” pela “porta estreita”. A eleição não corresponde a mérito humano, mas à graça de Deus. Diante do chamado de Deus, é preciso ouvir, converter-se, esforçar-se para entrar pela “porta estreita”.
É bom lembrar também que a fé nunca é conquistada para sempre. É como o maná do deserto: se for guardado até a manhã seguinte, apodrece. Quem não retoma todos os dias o trabalho de responder à Palavra com uma autêntica conversão, gritará em vão: “Senhor, eu fui à missa, participei dos movimentos da igreja...!” O que importa não é ir à igreja (templo), mas ser Igreja (cristão). Vai-se à igreja para celebrar e se fortalecer para ser Igreja, isto é, sinal de Jesus no meio do mundo.
A salvação é para todos. Só não o é para aqueles que a rejeitam, fechando-se na sua auto-suficiência e privilégios
O cristão instalado, acomodado, apegado às formalidades das práticas religiosas, não se importando em viver como Jesus viveu no amor e serviço ao próximo, vai ficar de fora se não se converter. Quem serve a Deus só com os lábios e não de coração não será reconhecido pelo Pai. A profundidade da vocação e da missão do cristão está em viver como Jesus viveu.
A questão, portanto, não é de se perguntar se poucos ou muitos serão salvos, mas se estamos dispostos a entrar pela “porta estreita” da desinstalação, da acolhida do amor de Deus, do compromisso com a comunidade, com os pobres.
A palavra de Deus deve nos incomodar e desacomodar!
*Queremos deixar nosso abraço carinhoso a todos os catequistas neste domingo a eles dedicado. Catequizar é fazer ecoar o amor de Deus no coração do catequizando. O catequista tem um papel preponderante na comunidade: ele ajuda o catequizando a entrar no caminho de Jesus dentro da comunidade cristã. Nossos dedicados catequistas têm feito um bem enorme às nossas comunidades pela sua dedicação, pelo seu testemunho, pelo empenho para que nossas crianças, adolescentes, jovens e adultos se comprometam com Jesus e seu Reino. Obrigado, catequistas!
Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN