Acender nossa luz na Cruz de Jesus
20º Domingo do Tempo Comum [14 de agosto de 2016]
[Lc 12,49-53]
No evangelho do domingo passado acompanhamos Jesus que nos falava da importância de cultivar e guardar o tesouro mais precioso que é a relação de intimidade com o Senhor: “Onde está o teu tesouro, aí estará o teu coração”. Para isto é preciso “manter a lâmpada acesa e os rins cingidos”: estar desperto. E o destino dos bens deve ser sempre a partilha generosa. Jesus insiste que o discípulo deve viver desapegado dos bens e das pessoas, possuindo como único tesouro o próprio Jesus, Princípio e Fim de sua vida.
No evangelho da liturgia deste domingo notamos que Jesus continua insistindo na opção decisiva e comprometida por ele. Quero, brevemente, tentar ajudar a compreender algumas palavras de Jesus neste evangelho. “Vim trazer fogo...”. “Não vim trazer a paz, mas a divisão...”. Como entender este fogo que Jesus veio trazer? E esta divisão/espada de que fala Jesus?
Fogo: um dos quatro elementos clássicos da natureza. Mas Jesus não se refere, naturalmente, ao fogo material. Aqui é uma expressão significativa: uma imagem usada por Jesus para falar do amor.
Muito embora a palavra amor esteja passando por uma banalização muito grande, contudo, é preciso ajudar a voltar ao que ela realmente significa.
As Escrituras dizem que Deus é Amor (1Jo 4,8). O Espírito Santo é o amor do Pai e do Filho. Ainda mais: “Deus amou tanto o mundo que entregou seu Filho único...” (Jo 3,16).
Além de amor, o fogo lembra também a Luz. Deus é luz e nele não há sombra alguma (cf. 1Jo 1,5). “Eu sou a luz do mundo” (Jo 8,12; 12,46) proclamou Jesus. Também fogo lembra purificação, destruição, transformação etc.
Depois destes breves fundamentos podemos entender de que fogo trata Jesus. Parece que ele deseja ardentemente que sejamos um reflexo de sua luz, de seu amor. Mas, curioso e desconcertante: nossa luzinha é acesa na sua Cruz! Isto por vezes apavora e faz tremer. Faz também fugir, reinterpretar, desconversar. Mas o contexto deste relato do evangelho nos remete, inconteste, a essa interpretação. “Devo receber um batismo, e como me angustio até que esteja consumado!” (cf. Mc 10,38). E quando Jesus fala da divisão familiar que veio trazer, mostra claramente que a opção decisiva por ele, tem consequências de cruz.
Paz, na Sagrada Escritura, é Shalom, ou seja, um modo de vida em abundância para todos. Não significa aquele sentimento desligado da vida e das pessoas, ausência de briga ou de guerra. É um modo de ser que nos leva à abertura a Deus e aos irmãos. É a vivência da justiça do Reino, pois não há paz sem justiça. E por vezes é necessário ir à “guerra”, ou seja, lutar para que as pessoas não vivam uma paz encoberta pela maldade e repressão de poderosos.
Deste modo podemos concluir que o discípulo de Jesus deve viver de tal maneira que sua vida espalhe aquele fogo que arde no Coração de Jesus: o amor. Deve passar pelo batismo pelo qual o Mestre passou: a cruz, a incompreensão, o rejeição. E ainda precisa ter a coragem de romper com relações familiares que o impedem de levar adiante uma vida coerente com o ser cristão.
O que vale em tudo isto é a busca de uma vida coerente com a fé professada. Todo cristão que opta pela verdade, pela justiça, pela fidelidade, pela paz, passará pelo “batismo” pelo qual Jesus passou.
*Neste domingo em que comemoramos o Dia dos Pais, queremos lembrar essa figura representativa do Pai do céu. Oxalá os pais assumissem, de verdade, sua missão para além da manutenção de casa e comida. Pai é aquele que educa, que forma, que se faz presente, que ampara, que dá carinho, que oferece segurança, que aponta e ajuda a trilhar caminhos de vida. Penso que nem todo homem, embora casado, tenha vocação para ser pai. Não adianta ter filhos, mas não ser referência de vida, de honestidade, de cuidado, de paternidade responsável. Parabéns papais! Dêem uma olhadinha na paternidade assumida por São José.
Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN