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aurelius

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As consequências da fé batismal

aureliano, 24.05.18

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Solenidade da Santíssima Trindade [27 de maio de 2018]

[Mt 28,16-20]

Celebramos hoje a Solenidade da Santíssima Trindade. No relato do evangelho da liturgia desse domingo Jesus dá aos discípulos a missão de fazer novos discípulos e de batizar. A pessoa entra para a vida cristã através do ‘mergulho’ “no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”.

Quase sempre, neste dia, ficamos presos a explicações intelectualizantes sobre a Santíssima Trindade. É uma tentativa de ‘explicar o inexplicável’. Ou seja, o Mistério de Deus em Três Pessoas deve ser crido e não explicado. Deve ser entendido, porém a partir do ‘mergulho’ (batismo) nele. No dizer de Santo Agostinho “é preciso crer para entender” (credo ut intelligam). Ultrapassa nossa inteligência humana e limitada, mas não a contradiz. É um mistério que nos envolve, nos fascina, nos encanta: Tremendum et fascinans: imprime medo, temor, mas atrai, fascina, encanta!...

Desejo discorrer um pouco sobre a profissão de fé, realidade implícita ao batismo, sacramento que nos introduz na vida de Deus, nos incorpora a Cristo e nos torna membros da comunidade cristã, a Igreja,  Povo de Deus, Corpo de Cristo, Templo do Espírito.

Imediatamente antes de derramar a água na cabeça daquele que vai ser batizado, o ministro o convida a fazer a promessa de ‘renúncia ao mal’ (conversão); em seguida o convida a professar a fé. Por este ato a Igreja professa sua fé no Pai, no Filho, no Espírito Santo. Fé que renovamos todos os domingos em nossas celebrações. Queremos ajudar a compreender o que isso significa em nossa vida.

Creio em Deus Pai todo poderoso: reafirmamos nossa fé em Deus que é nosso Pai, que nos criou e cuida de nós com carinho. Um Pai que não nos abandona. Mesmo quando passamos por sofrimentos e tribulações, por dificuldades que não compreendemos e que por vezes não buscamos nem merecemos, Ele está ao nosso lado. Ampara-nos com seu amor que nunca falha. Sua promessa jamais será tirada. Podemos dizer com confiança Pai nosso, isto é, Paizinho querido (Abbá)! Mesmo que estejamos naquelas situações de risco, de desespero, de desalento, de decepção, Ele está perto de nós. Muitos o negam. Muitos tentam quebrar a aliança de amor que Ele fez conosco. Nossos filhos podem recusar seu amor. Mas Ele continua fiel e amoroso. Podemos confiar nele. Cremos nele!

Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor. Jesus, o Filho amado do Pai. É o presente de Deus para nós. Veio a esse mundo e entregou sua vida por nós. Mostrou-nos quem é o Pai. Seus gestos e palavras são expressão de que o Pai nos ama e quer nosso bem e nossa salvação. Devolve a saúde aos doentes, dá o perdão aos pecadores, acolhe a todos que vêm a ele em busca de conforto, de perdão e de paz. Tudo nele revela o rosto bondoso e maternal do Pai/Mãe que cuida de todos com carinho e amor. O Filho mostrou-nos o caminho da vida: é preciso amar sempre, até o fim, dar a vida. “Sede misericordiosos como o Pai é misericordioso”. Se nos esquecemos de Jesus, se o deixamos de lado, quem vai preencher o vazio do nosso coração? Somente Jesus pode preencher as profundezas e compreender as dobras do nosso coração. Somente uma vida vivida de acordo com o ensinamento de Jesus pode ser verdadeiramente feliz. É a consequência do batismo.

Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida: é o mistério que celebramos no domingo de Pentecostes: o Espírito Santo foi derramado em nossos corações. Recebemos a missão de ‘fazer discípulos e de batizar’, porém com a força do Espírito Santo. Ele já nos foi dado. Está dentro de cada um de nós. É o amor do Pai e do Filho. É o “Vento” santo de Deus (Ruáh) que nos coloca em movimento, como aconteceu à Virgem Maria que, uma vez inundada da força do alto, foi às pressas ajudar sua prima Isabel. Esse “Sopro” santo nos deixa leves, nos ajuda a abandonar as “obras da carne” para vivermos a “liberdade dos filhos de Deus”. É o “sopro” que nos perdoa, nos liberta, nos santifica, nos leva em direção àqueles que precisam de nós. É o Espírito de Deus que nos ajuda a vencer o espírito do mundo: o lucro a qualquer custo, a ganância, a mentira, a corrupção, a exploração, a preguiça, o comodismo. É o “Senhor doador da vida” que nos move a defender a vida sempre e em qualquer circunstância.

Em determinadas circunstâncias somos tentados pela vaidade de pensarmos e agirmos como se Deus precisasse de nós. Ninguém precisa ficar surpreso, não. Elias, o grande profeta do Primeiro Testamento, também foi acometido por essa tentação. Julgava-se imprescindível para a obra de Deus. O preço de sua vaidade foi cair em depressão: fugindo da perseguição da Rainha, sentou-se sob o carvalho e pediu a morte. Ali ele percebeu que a obra é de Deus e não dele. Ele era um mero colaborador, frágil, pequeno, necessitado. Uma vez refeito pelo pão do céu, se levanta e vai ao encontro de Deus (cf. 1Rs 19,1-8). Todas as vezes que agimos levados pela vaidade, pela soberba de nos julgarmos indispensáveis, insubstituíveis, prejudicamos a ação de Deus na história. Importa nos colocarmos no Coração da Trindade com humildade, generosidade e alegria.

É nessa fé que fomos batizados. É essa a realidade que professamos e que somos chamados a viver. Não se trata, pois, de ‘segredos’ nem de ‘mistérios’, mas de um convite amoroso a vivermos essa fé trinitária, fazendo de nossa vida um hino de louvor à Trindade Santa: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo para sempre. Amém. Lembrados sempre do dizer de Santo Irineu de Lião: “A glória de Deus é o ser humano vivo. E a vida do ser humano é a visão de Deus”.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

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