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aurelius

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Colaborar com a ação de Deus

aureliano, 21.03.25

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3º Domingo da Quaresma [23 de março de 2025]

[Lc 13,1-9]

Nossa preparação para Páscoa continua. É um caminho de conversão. No batismo fomos purificados do mal, iluminados por Cristo, ressuscitados para uma vida nova. A caminhada neste mundo nos coloca em situação de risco permanente. As tentações nos empurram para o mal, ao egoísmo, ao rompimento da aliança com Deus. Consequentemente brota a necessidade de um caminho cotidiano de conversão, de busca de uma interioridade mais profunda que nos leve à Fonte e Raiz de nossa vida.

TEOLOGIA DA RETRIBUIÇÃO X SINAIS DE DEUS

O evangelho deste domingo traz dois relatos distintos: o primeiro é a crueldade de Pilatos assassinando galileus que, provavelmente, se opuseram à invasão e assalto do cofre do Templo por parte do Governador, e a catástrofe da torre de Siloé que, ao cair, mata 18 pessoas; o outro relato é a parábola da figueira estéril. No primeiro caso temos uma situação que mexe bastante com o imaginário popular: atribuir catástrofes e acidentes a castigo divino. Está em jogo a teologia da retribuição, condenada por Jesus. Este diz enfaticamente: “Pensais que eram mais pecadores do que todos os outros?” E acrescenta um “Não” definitivo. O Deus anunciado por Jesus é misericordioso e quer a salvação de todos.

Podemos dizer que as catástrofes naturais ou criminosas são um recado de Deus para nós. Quando a gente menos espera, nossa vida pode estar terminando. É preciso, pois, vigiar. Por isso mostra-se oportuna a palavra de Jesus: “Se não vos converterdes ireis morrer todos do mesmo modo”. Jesus aproveita-se desses acontecimentos para dar um ensinamento sobre o juízo de Deus e a necessidade de permanente conversão.

As catástrofes e horrores pelos quais o Brasil e o mundo têm passado são reveladores de opções desastrosas que governos e empresários (pretensos donos do poder) têm feito. Estão na contramão da vida, do evangelho, da salvação. Uma cultura de violência e de dominação, alimentada pela sede do lucro, pela falta de sentido de vida, pelo ódio e desejo de vingança tem ceifado milhares de vidas. Onde está o evangelho em nossa Nação que se pretende cristã, católica? Onde estão os projetos de políticas públicas que visem às ações de cuidados para com a vida? Administradores públicos, parlamentares, judiciários que realmente se empenhem pela vida, abrindo mão de seus interesses perversos! Os sinais de morte apontam para caminhos que precisam ser refeitos a partir do Evangelho. Surgem sinais claros de que precisamos nos converter.

Conversão: eis o conceito que a liturgia de hoje quer destacar. Todos os acontecimentos devem ser lidos à luz de Deus como um sinal indicador de um caminho sempre novo que precisamos assumir. Um retornar e renovar constantemente a aliança e a consagração batismal. A busca incessante do seguimento a Jesus.

A sociedade propõe vida fácil, consumismo, preocupação com o bem-estar pessoal acima do interesse coletivo, corrupção descarada, favorecimento do banditismo, sucesso financeiro, capa religiosa e moral para encobrir falcatruas, busca de fama e sucesso etc. E as atitudes verdadeiramente cristãs vão se perdendo pela vida afora. Se o cristão quiser se firmar no caminho da salvação precisa voltar seu olhar para Jesus Cristo. Seu parâmetro de ação deve ser sempre o Evangelho.

CULTIVAR A FIGUEIRA: PACIÊNCIA E CUIDADOS

A parábola da figueira estéril provoca alguns questionamentos em nós: Para que serve uma religião sem conversão? Um culto sem mudança de atitudes? Um aparato religioso sem transformação social? Para que serve uma comunidade que vive de aparência? Para que um templo muito bonito e enfeitado, se a Igreja viva, que são as pessoas, está abandonada, às traças? Que adianta rezar e pregar dentro do templo se as pessoas continuam sofrendo por falta de cuidados, de remédio, de educação, de amparo, de afeto, de presença, de segurança, de pão, da alegria de viver? São dois lados de uma mesma moeda: não se pode viver uma dimensão e esquecer-se da outra. A fé salva, mas quem salva esta fé que salva é a caridade, atos concretos, comprovados (cf. Gl 5,6). É o que chamamos de fé e vida.

Vale a pena cultivar a figueira. Ter um pouco de paciência. Mas se não se cavar e colocar adubo, ficará do mesmo jeito! Ou seja, é preciso instaurar um processo de transformação no terreno, ao redor do pé da figueira para que ela produza. É o processo que nos faz sair de nós mesmos. Quando gastamos a vida cuidando de uma pessoa pobre, ajudando a levar adiante um projeto social, visitando e cuidando de um doente, assumindo a responsabilidade familiar, vivendo e trabalhando de modo coerente, honesto e justo: esse empenho é que faz a diferença. São os frutos que o Agricultor quer encontrar. Do contrário, para que ficar ocupando a terra em vão? Que sentido tem ocupar um lugar na Criação se nossa vida não contribui para a construção de um mundo melhor? Que sentido faz ocupar um cargo de influência se o faço em benefício próprio? Para que assumir ministérios na comunidade se os assumo como cargos e funções que me dão reconhecimento social e não como serviço humilde e desinteressado aos irmãos?

É claro que a parábola nos convida à paciência! É preciso saber esperar. O tempo é de Deus. Mas não se pode deixar tudo para o final. E se não der mais tempo? O tempo de Deus é hoje. Não se pode contar com o amanhã. Não dizemos que o dia de amanhã pertence a Deus? Então! Não basta comer da “comida espiritual” nem beber da “bebida espiritual” (cf. 1Cor 10,2-3). Paulo emenda: “No entanto, a maioria deles não agradou a Deus” (1Cor 10,5). Por isso “Quem julga estar de pé tome cuidado para não cair” (1Cor 10,12).

*Campanha da Fraternidade 2025: “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31).

“Apesar de a sociedade contar com dados científicos e com os alertas proféticos das religiões, há grupos que promovem ideologicamente a negação das mudanças climáticas (Laudate Deum, n. 5-10). Dizem que elas não existem e por isso não devemos nos preocupar. Isso gera confusão e dúvida entre as pessoas, dificultando a conversão ecológica e a onseqüênci prática de ações concretas para lidar com desafios climáticos. Felizmente, a maioria da população está ciente das mudanças climáticas e vivencia diariamente as onseqüências dessas mudanças em níveis locais e regionais. O movimento de conscientização socioambiental tem ganhado força nas últimas décadas, especialmente entre os jovens, que demonstram maior sensibilidade a essas questões” (Texto-Base, n. 41).

Atitudes:

  1. Contemplar a Ecologia Integral como questão transversal que perpassa toda a nossa ação eclesial nos Planos Diocesanos, Paroquiais e Comunitários de Evangelização e Pastoral.
  2. Organizar retiros, caminhadas e Vias-Sacras ecológicas, com o objetivo de despertar a consciência socioambiental.
  3. Criar hortas comunitárias agroecológicas, incentivando a partilha dos alimentos produzidos, beneficiando as pessoas mais pobres.
  4. Combater a cultura das queimadas, que concebe o fogo como solução e conscientizar as pessoas sobre as suas trágicas consequências.
  5. Incentivar e apoiar a coleta seletiva e a reciclagem nas comunidades e paróquias, junto às cooperativas de catadores, para promover educação ambiental e apoiar a economia circular.
  6. Promover o cultivo de plantas medicinais e a capacitação e implementação de farmácias comunitárias alternativas.
  7. Assumir ações comuns, tais como utilização de energia solar, a reutilização da água da chuva, o plantio de mudas de árvores nativas e/ou a abolição do uso de descartáveis etc., em todas as comunidades e paróquias de uma Forania ou Diocese. (Texto-Base, n. 157. B).

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN