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Jesus, a Igreja e a “lepra” de hoje

aureliano, 09.02.18

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6º Domingo do Tempo Comum [11 de fevereiro de 2018]

[Mc 1,40-45]

O evangelho de Marcos é um livrinho de catequese escrito para as primeiras comunidades cristãs, principalmente provenientes do paganismo, para mostrar quem é Jesus: o Filho de Deus que veio a este mundo para libertar o homem do mal. Jesus tem poder sobre o mal e o pecado. A comunidade pode crer, confiar nele. Ele está acima de qualquer lei tanto imperial como mosaica. Ele é a Lei. Sua vida é a norma de vida para todos, judeus ou pagãos.

O relato do evangelho deste domingo mostra o encontro de Jesus com um leproso. É preciso notar o que significava a lepra para a comunidade judaica. De todas as doenças era a que os judeus consideravam mais impura, pois  destruía a integridade e a vitalidade física do ser humano. Por isso se previa a exclusão da pessoa do convívio social. Na opinião popular essa doença devia ser obra de um espírito muito ruim.

Jesus quebra todas as leis e normas que excluíam o leproso. Jesus é um judeu diferente: ele se torna participante da situação do leproso. É movido de profunda compaixão (termo que não aparece no relato de Lucas e Mateus) por aquele homem que lhe implora a cura, confiando em seu poder: “Se queres podes curar-me”. E Jesus estende a mão e toca aquele homem. O leproso, segundo a Lei, não podia ser tocado por ninguém, não somente pela contaminação da doença, que poderia se proliferar e colocar em risco a comunidade, mas também porque colocava o judeu piedoso fora da comunhão com Deus. A doença era considerada consequência do pecado, sobretudo a lepra, pois destruía a integridade física do ser humano. Mas Jesus tem outra interpretação. Mostra que o culto a Deus passa pela misericórdia para com os sofredores: “Quero misericórdia e não sacrifício”. Esse sinal realizado em favor daquele homem indica que Jesus veio tirar do mundo e do ser humano a “lepra” do pecado que destrói a humanidade, carregando em si mesmo nossas enfermidades (cf. Is 53,3-12).

O relato de hoje nos ajuda a pensar na conciliação de duas realidades na vida de Jesus que precisam ser olhadas por nós com muito carinho: poder e compaixão. A Lei simboliza aqui o poder. Ela existe para o bem da pessoa. Quando unida à misericórdia pode salvar a muitos. Mas sem essa qualidade divina, torna-se excludente e perversa. Jesus não vai consultar os sacerdotes, guardiães da lei daquele tempo, mas restabelece aquele homem na sua necessidade imediata. Depois de beneficiado, então ele vai agradecer e oferecer o sacrifício prescrito. Jesus não se opõe à Lei, mas dá-lhe um novo sentido. Ela deve ser cumprida para o bem de todas as pessoas e não para oferecer privilégios a uns e descarte de outros. O auxílio moradia e os altos salários dos juízes, senadores, deputados, vereadores e executivos, mostram bem como a lei pode ser perversa. Pode estar a serviço de privilégios.

As consequências para nossa vida de fé indicadas no relato de hoje são bem evidentes. É uma catequese sobre a reintegração dos marginalizados de hoje. Podemos nomear alguns banidos de nossa sociedade: os que vivem nos barracos das favelas nas grandes cidades, os fracassados, os desempregados, os dependentes de droga, as vítimas de uma sociedade do consumismo e do sucesso a qualquer custo, as pessoas com deficiência, os idosos e doentes que não mais produzem nem dão lucro, os encarcerados, os aidéticos, os maltrapilhos etc. Enfim, vivemos numa sociedade marcada pela lepra do preconceito e da discriminação.  

Jesus vem nos mostrar um jeito novo, diferente de agir. Ninguém pode ficar ´de fora´, banido. Nosso coração precisa ser tomado desse poder compassivo que habitava o coração de Jesus para construirmos relações verdadeiramente fraternas e libertadoras. O poder de Jesus foi transmitido a nós. A missão agora é nossa. Muitos ‘leprosos’ estão suplicando pela cura, pela inclusão, pelo reconhecimento, pela acolhida em nosso meio. O que temos feito? Como nos relacionamos com eles? Temos tido coragem de sair de nós mesmos? Ou estamos também acometidos pela ‘lepra’ do comodismo, do egoísmo, do fechamento, da ganância, da sede do poder e do ter que mata em nós todo sentimento de compaixão, de desejo de salvação de todos?

Onde quer que falte alimento, água potável, casa, medicamento, trabalho, educação, meios necessários para levar uma vida verdadeiramente humana; onde estiver um aflito ou sem saúde, um presidiário ou maltratado, aí deve estar a caridade cristã para consolá-los e reerguê-los oferecendo-lhes auxílio. É essa a missão da Igreja e é isso que o mundo de hoje espera dela. Porque é chamada a ser continuadora da ação de Jesus.

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Neste dia 11/02 celebramos o Dia Mundial do Enfermo. Uma palavrinha do Papa para esse dia pode ser iluminadora e confortadora: "Ao dom de Jesus corresponde o dever da Igreja, bem ciente de que deve pousar, sobre os doentes, o mesmo olhar rico de ternura e compaixão do seu Senhor. A pastoral da saúde permanece e sempre permanecerá um dever necessário e essencial, que se há de viver com um ímpeto renovado começando pelas comunidades paroquiais até aos centros de tratamento de excelência. Não podemos esquecer aqui a ternura e a perseverança com que muitas famílias acompanham os seus filhos, pais e parentes, doentes crónicos ou gravemente incapacitados. Os cuidados prestados em família são um testemunho extraordinário de amor pela pessoa humana e devem ser apoiados com o reconhecimento devido e políticas adequadas. Portanto, médicos e enfermeiros, sacerdotes, consagrados e voluntários, familiares e todos aqueles que se empenham no cuidado dos doentes, participam nesta missão eclesial. É uma responsabilidade compartilhada, que enriquece o valor do serviço diário de cada um" (Papa Francisco em mensagem para o Dia Mundial do Enfermo).

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Estamos em dias de Carnaval. Outrora esse tempo era oportunidade de alegria, de extravasamento sadio. Hoje, de modo geral, tornou-se tempo de preocupação, de violência, de morte. O apelo que fazemos é que se brinque e se divirta com aquela justa medida que faça todos experimentarem a alegria de viver. Os excessos nunca fizeram bem a ninguém. Bebida alcoólica, drogas, sexo desregrado, imprudência no trânsito etc são alguns elementos que precisam de medida evangélica.

E não se esqueçam de que na Quarta-feira de Cinzas, dia de jejum e abstinência, iniciamos a Quaresma, tempo de preparação para celebrarmos a Páscoa da Ressurreição do Senhor. Tempo de conversão para uma vida mais fraterna. Você já sabe qual é o tema da Campanha da Fraternidade desse ano? Pois fique sabendo: “Fraternidade e superação da violência”. Com o lema: “Vós sois todos irmãos” (Mt 23,8).

"Derrama sobre nós o Espírito Santo, para que, com o coração convertido, acolhamos o projeto de Jesus e sejamos construtores de uma sociedade justa e sem violência, para que, no mundo inteiro, cresça o vosso Reino de liberdade, verdade e paz".

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

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