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aurelius

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Jesus e o sofrimento humano

aureliano, 02.02.18

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5º Domingo do Tempo Comum [04 de fevereiro de 2018]

[Mc 1,29-39]

As páginas da Liturgia da Palavra de hoje nos ajudam a refletir sobre a realidade do sofrimento humano e atuação de Deus nessa realidade comum a todas as pessoas.

Muito se escreveu e se disse sobre essa realidade da vida. E muito também se fez e se faz, particularmente por parte daquelas pessoas e instituições que desenvolvem um espírito humano e cristão. E por mais que se diga, nunca se dirá o suficiente e nunca se chegará a uma explicação para essa dura realidade da vida. E por mais que se faça, nunca se encontrará a “pílula da felicidade” que acabe de vez com o sofrimento.

Jesus também não buscou explicação. Ele apresentou uma solução: assumiu o sofrimento humano. É isso mesmo: ele tomou sobre si nossas dores e enfermidades. Não ficou indiferente diante do sofredor. Serviu-se de sua “autoridade”, como vimos no domingo passado, para aliviar as dores e os sofrimentos do ser humano.

O sofrimento está presente na vida de todos. De formas variadas. Em um é a dor física, em outro é dor moral, em outro ainda é a droga na família, o desemprego, a fome, o descaso, o abandono, a traição, o ostracismo, a ingratidão etc. O sofrimento se dá de diferentes formas.

Existe uma mentalidade perversa chamada pelos estudiosos de “teologia da prosperidade” que consiste em afirmar que Deus castiga os maus e recompensa os bons. Ou seja: a prosperidade material é sinal da bênção e Deus e os insucessos são sinais da maldição divina. Se tudo vai bem na vida, então Deus está abençoando. Se tudo vai mal é sinal de que Deus abandonou. Essa ideia traz como consequência o desespero ou a indiferença religiosa e humana, pois a pessoa que assim acredita vive em função de si, de crescer economicamente, de resolver seus problemas a qualquer custo. E como não consegue, entra no desespero total ou na indiferença religiosa e humana. Não se importa com quem sofre. Considera maldição de Deus. Se estiver sofrendo é porque merece, porque pecou etc.

Nas curas que realiza conforme o relato do evangelho de hoje, Jesus mostra o interesse de Deus por quem sofre. Quer que todos estejam bem, assumam com serenidade suas vidas, levantem-se para servir, como a sogra de Pedro: “Segurou-a pela mão e ajudou-a a levantar-se. Então a febre desapareceu e ela começou a servi-los”. Vejam como Jesus muda a perspectiva de lidar com quem sofre: é preciso aproximar-se, tocar, tomar pela mão, ajudar a levantar-se. Então a pessoa terá condições de servir. Mesmo que continue acamada, ela encontra um novo sentido para a vida. Experimenta a alegria da presença de Deus através do irmão que está ali e se coloca ao seu lado.

Jesus veio para todos, por isso vinha gente de todo lado para procurá-lo. Os doentes, abandonados e marginalizados pela sociedade da época, encontraram em Jesus uma possibilidade de restabelecimento de sua saúde física e moral. Agora podem voltar “para o meio”. Podem sair da margem.

A grande causa da dor e do sofrimento continua sendo o pecado. Não o pecado pessoal necessariamente. Esse também pode trazer sofrimento. Mas falo aqui do pecado social, estrutural. Ou seja, há uma estrutura social viciada pelo mal que busca sempre e em todo lugar seu interesse pessoal, seu bem estar, em detrimento dos outros. É o crescimento econômico a qualquer preço. É a busca do poder, da dominação que joga os pobres e sofredoras numa sarjeta da qual não conseguem sair. É o abandono e/ou traição da família que fica abandonada á sua própria sorte. Isso é terrível! Isso faz a humanidade sofrer demais! É dessa libertação que as curas realizadas por Jesus são sinais!

E Jesus não se contenta em ficar num mesmo lugar. Vai para outras regiões, percebe outras necessidades. Há gente sofrendo em outros lugares. Está consciente de sua missão. Ele mostra que Deus conhece o sofrimento do homem por dentro. E quer aliviá-lo. Não se alivia o sofrimento simplesmente curando males físicos. Alivia-se o sofrimento curando-se as feridas da alma. Buscando construir uma sociedade em que o sofrimento seja cada vez mais debelado e mesmo ressignificado. Para que a vida, grande dom do Pai, prevaleça sempre mais. “Eu vim para que todos tenham vida”.

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GESTOS ELOQUENTES

Quero retomar aqui uma reflexão do Pe. Adroaldo, jesuíta, que, comentando o relato da cura da sogra de Pedro, destaca três gestos de Jesus que jamais poderão sair de nosso horizonte;

  1. Jesus se aproximou dela: É o gesto que Jesus sempre faz e pediu que fizéssemos: tornar-nos próximos. A dor olhada à distância, pela TV, pelas redes sociais, não dói. Tem gente que chora diante de cenas sensacionalistas da televisão. Mas Jesus fez diferente. Ele se aproximou de quem sofria. É preciso olhar de perto para sentir com quem sofre. E quando o sofredor nos sente pertos, começa a se curar; seus sofrimentos começam a diminuir.
  2. Jesus a tomou pela mão: Jesus infringe a Lei que proibia tocar os doentes e mortos. Quem tocasse esse tipo de pessoa ficava impuro para os exercícios cultuais. Foi por isso que o sacerdote e o levita da parábola do bom samaritano “passaram ao largo”. Estavam indo para o templo. Jesus, no entanto, não hesita em tocar os doentes para curá-los. E aqui Jesus realiza um gesto mais do que um simples toque: toma pela mão. Este gesto demonstra carinho, amizade, solidariedade, bem-querer. Jesus quer nos ensinar que devemos andar pela vida estendendo a mão a quem está caído. Construir comunidade é estender a mão a quem sofre, àqueles que não dão conta de se levantar sozinhos. Querem estar de pé, mas não tem forças. Mais um gesta silencioso do Mestre de Nazaré a nos cutucar.
  3. Jesus ajudou-a a levantar-se: Este gesto é muito próprio de Jesus, pois se refere à ressurreição: levantar-se, ficar de pé, estar vivo. Não basta estender a mão a alguém a modo de politiqueiros que só o fazem para ganhar voto. Não basta pegar a mão de alguém para desejar a paz, na celebração, e por vezes nem se olha no rosto de quem se toca. Não. É preciso continuar o gesto: ajudar os caídos a se levantarem. Nossas mãos são para o outro. Ajudá-lo a colocar-se de pé, a dar um rumo novo à própria vida. Estar de pé significa liberdade, autonomia. É a postura da dignidade, da autoridade, de luminosidade. Em muitas outras ocasiões Jesus procurou levantar, endireitar, colocar de pé os encurvados e humilhados.

Então a mulher “pôs-se a servi-los”: Na perspectiva de Jesus, só poderá servir aquele que estiver livre. O serviço na fé cristã não é servidão ou servilismo, mas a partir da liberdade e generosidade de cada um. Serviço significa cuidado de uns para com os outros. É para isso que existem as comunidades cristãs.

Pai de bondade, que em Jesus curaste tantos doentes, sendo sinal de bondade para tantas pessoas, arranca de nosso coração todo comodismo e preguiça. Torna-nos mais abertos e generosos para ajudar aqueles que nos procuram ou precisam de nós ‘fora de hora’. E faze-nos missionários corajosos para irmos a outros lugares e necessidades. Amém.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

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