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aurelius

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Maria nos dá o Vinho Novo

aureliano, 10.10.25

 

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Nossa Senhora da Conceição Aparecida (12 de outubro de 2025]

[Jo 2,1-11]

Ó mãe da nossa pátria,

Escuta a nossa voz:

Teus olhos compassivos

Se voltam para nós.

 

Tu és nosso socorro

Em nossas aflições;

Guarda junto do teu

Os nossos corações.

 

Louvor e honra ao Filho

Que pela Virgem vem;

No Espírito és o brilho

Do Pai eterno. Amém.

 

Diferentemente dos outros evangelistas, João não apresenta Jesus chamando publicamente as pessoas para a conversão ao Reino de Deus (Mt 4,17; Mc 1,15). João apresenta Jesus iniciando sua vida pública numa festa de casamento. Em Israel o casamento é imagem da aliança de Deus com seu povo (cf. Os 2,19-22).

Neste mesmo capítulo notaremos a discussão a respeito do templo quando Jesus se apresenta como o Templo de Deus, substituindo o templo de Jerusalém que se tornara objeto de exploração dos pobres (cf. Jo 2,13-22). Então o relato de hoje quer mostrar que Deus Pai fez uma nova aliança com a humanidade na pessoa de Jesus de Nazaré. Um novo casamento. Por isso, no evangelho de João, temos a narrativa do primeiro sinal de Jesus numa festa de casamento.          

Aqueles aparatos da festa são metáforas da religião antiga que deveria ser renovada pela presença salvadora de Jesus. As talhas, a água, o encarregado são símbolos de uma realidade que precisava ser renovada pelo amor incondicional que Jesus trouxe e revelou, representada no vinho. O vinho novo é o amor de Jesus manifestado “até o fim” (Jo 13,1).

Interessante notar que o texto não fala de ter transformado a água das talhas em vinho, mas está escrito: “’Enchei as talhas de água’. Eles as encheram até à borda. Então lhes disse: ‘Tirai agora e levai ao mestre-sala’. Eles levaram. Quando o mestre-sala provou a água transformada em vinho...”.  Então foi a água levada ao mestre-sala que se transformou em vinho. Ou seja, o serviço (serventes=diáconos) é que transforma a “água em vinho”. Uma vez que vinho simboliza o amor, a alegria, a generosidade. Isso é que estava faltando na vida religiosa do judaísmo. As talhas estavam vazias do amor, da generosidade, da verdade. Havia um culto vazio, sem expressão e correspondência na vida. Jesus traz esse “vinho novo”, alegria, amor, culto verdadeiro, generosidade. Ou melhor, ele mesmo é esse vinho novo.

“A mãe de Jesus estava lá”. É muito interessante interpretar essa expressão do evangelho. Primeiro, ela não tem nome. O evangelho de João não dá nome à mãe de Jesus. É mais do que a mãe de Jesus. Ela representa a comunidade cristã. Depois, é a noiva do casamento que está à procura do noivo. O casamento, a aliança se dará na Cruz, a Hora de Jesus que naquela festa de casamento ainda não havia chegado. Na cruz ele dirá: “Mulher, eis aí teu filho”. Maria é o ícone da Igreja. A Mãe que cuida dos filhos.

Relacionada a Maria, mãe de Jesus, está aquela bela palavra que atravessou séculos como uma ordem da Mãe de Deus: “Fazei tudo o que ele vos disser”. Esta palavra deve continuar ecoando em nossos ouvidos e coração. Pois fazer o que Jesus mandou significa acreditar na palavra dele e colocá-la em prática. Acreditar na palavra de Jesus é abrir-se ao seu amor e deixar-se transformar como aquela água que se transformou em vinho e alegrou o coração de todos os convivas. É a vida nova, um jeito novo de ser, um caminho renovado pela graça de Deus haurida nos sacramentos, na oração, no encontro com ele.

Maria, a Mãe de Jesus, ícone da Igreja, representa nesse evangelho a comunidade de Israel que anseia pela vinda do Messias e, por outro lado, a comunidade cristã que acolhe e se deixa renovar pelo vinho novo que ultrapassa as estruturas caducas de uma lei que escraviza as pessoas. Só o amor, representado pelo vinho no relato de hoje, poderá transformar os caminhos da humanidade.

Celebrando hoje nossa Padroeira, queremos elevar nossa prece confiante ao Pai, para que nós brasileiros sejamos fiéis à nossa vocação, nos empenhemos na construção da paz e da justiça, no serviço generoso aos irmãos e no cuidado para com a Mãe Natureza, tão maltratada pela ganância, pela busca frenética do lucro a qualquer preço.

Que neste dia também dedicado às crianças, nosso coração se abra ao cuidado e carinho para com esses pequeninos tão amados por Nosso Senhor, muitas vezes vitimados por abusos e maus tratos por parte de adultos irresponsáveis e maldosos. Pensemos nas crianças sofridas nos ambientes de guerra, fruto da maldade de alguns que se julgam donos do mundo e das vidas dos outros. Peçamos a Maria, a Virgem humilde e simples de Nazaré, nos dê aquela simplicidade e candura que caracterizam o coração da criança.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN