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aurelius

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“Não chores!”

aureliano, 03.06.16

10º Domingo do Tempo Comum [05 de junho de 2016]

[Lc 7,11-17]

No relato do último domingo vimos alguém ir ao encontro de Jesus para lhe pedir a cura (Lc 7,1-10). Hoje vemos Jesus indo ao encontro da mãe viúva que leva seu filho único para o cemitério. Posturas diferentes de Jesus que revelam seu olhar misericordioso. Deixa-se sempre tocar pelo sofrimento humano.

Se o relato do evangelho do domingo passado quis mostrar que Jesus veio trazer a salvação para todos, o relato de hoje quer confirmar essa presença de Deus no meio do povo na pessoa de Jesus de Nazaré: “Um grande profeta apareceu entre nós e Deus visitou o seu povo” (Lc 7,16).

Esse texto precisa ser relacionado com a primeira leitura de hoje: 1Rs 17,17-24. Aí se conta que Elias, hospedado na casa da viúva de Sarepta, devolve à mãe o filho com vida: “Eis aqui o teu filho vivo”. A mulher exclama admirada e agradecida: “Agora vejo que és um homem de Deus, e que a palavra do Senhor é verdadeira em tua boca” (1Rs 17,24). A diferença entre esse fato e o de Jesus é que aqui Elias é reconhecido como um “homem de Deus”; e Jesus é reconhecido como “Senhor”. Acrescente-se ainda que, se Elias precisou de se inclinar três vezes sobre o corpo do menino, a Jesus bastou uma palavra: “Jovem, eu te ordeno, levanta-te”. Remete-nos à Criação: “Deus disse: faça-se” (cf. Gn 1,3ss.). A Palavra criadora de Deus “se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14).

Jesus é o “Profeta” esperado por Israel (Dt 18,15). Mais do que o Profeta, é o Filho de Deus, Deus mesmo visitando e libertando seu povo (cf. Lc 7,16; 1,68).

O evangelho fala de duas “multidões”. Enquanto uma formava um cortejo fúnebre, acompanhando a viúva desatinada, a outra acompanhava Jesus, o “Senhor” da vida. Enquanto uma multidão era tomada pelo pranto, pela dor, pelo desalento, a outra vislumbrava caminhos de esperança, de novos horizontes, de vida nova.

Eis que Jesus se depara com a multidão que caminha sem esperança e vê uma pobre viúva que chora a morte de seu filho. “Ao vê-la, o Senhor sentiu compaixão para com ela e lhe disse: ‘Não chores’”. Jesus não caminha indiferente nem passa despercebido diante das lágrimas de uma pobre viúva que terá como herança o abandona à própria sorte, pois a única esperança de apoio que tinha lhe foi retirada: o filho único.

Esse relato quer mostrar que a “visita” de Deus é uma realidade na pessoa de Jesus de Nazaré. Seu gesto para com a viúva mostra o rosto misericordioso do Pai que se inclina a todos os homens e mulheres, particularmente aos sofredores e enxuga-lhes as lágrimas. É assim o Reino que Jesus veio revelar. Se observarmos as visitas que um governador ou prefeito ou presidente ou algum politiqueiro faz a um bairro ou cidade ou córrego, normalmente, os vemos procurando quem tem poder, quem tem influência, ou então está à cata de votos, de vantagens pessoais. Jesus faz diferente. Ele atenta para um cortejo fúnebre e se aproxima de uma viúva que sofre e chora. Ele vem curar sua dor. Vem curar as feridas do coração (cf. Is 61,1; Sl 147,3).

Talvez fosse bom pensarmos e refletirmos um pouco sobre nossas visitas, nossa presença junto ao povo. A quem buscamos? De quem nos aproximamos? O que temos feito para enxugar as lágrimas dos sofredores? Ainda mais: temos evitado fazer alguém derramar lágrimas por nossa causa? Uma palavra fora de propósito, um gesto ofensivo e arrogante, um desprezo, uma falta de acolhida e de compreensão num momento de dor ou de fraqueza, uma traição... Como temos nos posicionado diante das pessoas que sofrem?

A Igreja é mãe. Deve olhar com misericórdia os sofredores, os pobres, os aflitos, os doentes, os menores. Ela não deve ser motivo de dor, de sofrimento e de lágrimas para ninguém. Pelo contrário, deve ser motivo de alegria, deve enxugar as lágrimas, deve “devolver” a alegria aos que sofrem.

Quantos jovens “mortos” ou no caminho da morte, é oportuno pensarmos nas mães sofridas em conseqüência da “morte” de seus filhos! A sociedade do consumismo, do capitalismo selvagem, do hedonismo a qualquer custo, da corrupção descarada leva nossos jovens para o túmulo de uma vida sem sentido, provocando muita dor e lágrimas. O que podemos fazer para transformar essa realidade de morte em aurora de vida? O que Jesus nos ensina nesse relato de hoje? Que compromisso levo para minha semana?

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN