Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

aurelius

aurelius

Pecado, Perdão e Preconceito

aureliano, 10.06.16

11º Domingo do Tempo Comum

Lc 7,36 – 8,3

Antes de tudo é preciso ressaltar que Lucas dá grande destaque, em seu evangelho, à misericórdia de Deus e às mulheres, dentre outros. E o evangelho deste domingo quer visibilizar esse perdão de Deus que transcende toda fraqueza e pecado humanos. Também destaca as mulheres como constituintes do grupo dos discípulos.

O relato do evangelho deste domingo nos permite refletir sobre três elementos presentes nas nossas relações com Deus e com os irmãos: o pecado, o perdão de Deus, o preconceito.

O evangelho mostra que Jesus não tinha medo de pessoas mal-afamadas. Naquela atitude da pecadora que chora a seus pés, esconde-se o mistério do amor de Deus. A mulher mostrou muito amor porque encontrou grande perdão.

O pecado: é a recusa do amor e da comunhão com Deus. É recusar-se a amar. E traz como conseqüência a desagregação do ser humano e da sociedade. Deus é a fonte de vida. Ora, recusar-se a acolher o amor de Deus é desprezar a fonte de vida. A consequência disso é a morte, cujo sinal é a morte física. Os males que nos cercam como a violência, a corrupção, o tráfico de drogas e de seres humanos, a coisificação da pessoa, a ganância, a dominação do outro, a traição, a mentira, a exploração irresponsável da Mãe Terra são realidades de pecado que trazem em seu interior a destruição, a dor, a tristeza, o desencanto, a morte.

O perdão: o evangelho de hoje vem nos mostrar que Jesus veio para destruir o pecado e fazer brotar vida nova. Ao acolher aquela mulher pecadora na casa de Simão, o fariseu, Jesus deixa transparecer o rosto misericordioso do Pai. E aqui é preciso notar um aspecto muito importante do relato de hoje: o perdão de Deus precede o amor humano. Aquela mulher amou muito porque se sentiu perdoada, amada por Deus. Não se pode entender o perdão de Deus como resposta ao amor humano, mas pelo contrário, o amor que o ser humano manifesta a Deus revela sua acolhida ao perdão do Pai. O ser perdoado é motivo mais forte para amar mais a Deus. “São amigos de Deus aqueles que reconhecem diante de Deus sua dívida de amor e dele recebem a remissão. Então, abrir-se-ão em gestos de gratidão, semelhantes ao gesto da pecadora” (Pe. J. Konings).

O preconceito: é outro elemento que precisa ser considerado no relato de hoje. Vejam que aquele fariseu (portanto, religioso observante) lançou sobre aquela mulher um olhar de terrível preconceito. “Vendo isso, o fariseu que o havia convidado ficou pensando: ‘Se este homem fosse um profeta, saberia que tipo de mulher está tocando nele, pois é uma pecadora’”.

O preconceito é um dos grandes males da sociedade e da Igreja. Olhamos a pessoa por fora, pelos rótulos que lhe foram colocados. Temos imensa dificuldade em lançar um olhar de profundidade como o de Jesus. Custa-nos ver as pessoas além das aparências. Jesus enxergava a alma da pessoa. Ainda que estivesse tomada pelo mal, Jesus procurava compreender, tomar pela mão e ajudar a se erguer.

Quando nos lembramos das mulheres prostituídas, então sim, pesa mesmo um olhar preconceituoso. A sociedade as discrimina e condena. O mesmo fazem alguns líderes da Igreja. São usadas como objeto por grandes e pequenos. Há gente graúda, cheia de dinheiro e de poder, às vezes muito religiosa até, que se vale das mulheres como mercado para satisfazer seus caprichos e desejos desordenados. Depois as jogam na sarjeta do preconceito e do desamparo. A respeito destas mulheres escreve Pe. Pagola: “Enganadas e escravizadas, submetidas a toda sorte de abusos, aterrorizadas para mantê-las dominadas, muitas sem proteção nem segurança alguma, são as vítimas invisíveis de um mundo cruel e desumano, silenciado em boa parte pela sociedade e ignorado praticamente pela Igreja. Seguidores de Jesus, não podemos viver indiferentes ao sofrimento destas mulheres. Nossas Igrejas diocesanas não podem abandoná-las à sua triste sorte”. Compreende-se então por que Jesus disse: “Os cobradores de impostos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus” (Mt 21,31).

O fariseu que convidou Jesus era um homem profundamente religioso, mas não foi capaz de ultrapassar uma religião de rito. Assim sói ocorrer dentro de nossas comunidades: há muito rito e pouco empenho em transformação pessoal e comunitária da realidade. O farisaísmo ainda vigora sem peias.

Penso que uma atitude urgente de conversão que devemos tomar é a de acolher a pessoa humana como Jesus, olhá-la com o olhar de Deus e arrancarmos de nosso coração o preconceito que faz tanto mal. Preconceito contra as mulheres (que constituíam o grupo dos discípulos de Jesus!), contra outros grupos e movimentos. Buscarmos compreender o que se passa por dentro de cada ser humano bem como as motivações que os levam a assumir essa ou aquela postura na vida. Compreendermos cada um dentro de seu contexto de vida e ajudá-los a fazer um caminho de seguimento a Jesus. É essa a nossa missão, pois foi a missão de Jesus.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

 

1 comentário

Comentar post