Poucos operários!
11º Domingo do Tempo Comum [18 de junho de 2017]
[Mt 9,36 – 10,8]
O relato do evangelho deste domingo está colocado no seguinte contexto: Jesus ensinou os discípulos: Sermão da Montanha (capítulos 5, 6 e 7) e confirmou sua palavra com vários milagres/sinais ( capítulos 8 – 9,34). Agora escolhe um grupo para enviá-los em missão, dando-lhes autoridade e orientando-os no exercício da missão. É um novo Povo constituído pelo próprio Jesus, o novo Moisés. A lista dos Doze realiza o que prefiguravam as Doze Tribos de Israel. Este Novo Povo não é apenas sinal da Aliança entre Deus e a humanidade, mas são constituídos missionários, anunciadores do Reino de Deus instaurado por Jesus.
Ao chamar e constituir o grupo dos Doze e enviá-los em missão, Jesus se distancia dos mestres de seu tempo que reuniam discípulos para ficarem em torno de si. Eram alunos. Jesus quer missionários. Itinerante, quer discípulos também itinerantes. O discípulo de Jesus é formado de tal maneira que não espera que o ouvinte venha, mas vai-lhe ao encontro, coloca-se em marcha. É preciso ir “às ovelhas perdidas”. Os discípulos compreenderam perfeitamente o que o Mestre queria. Inicialmente cuidaram da “casa de Israel”. Depois estenderam sua missão “até os confins da terra”. Por isso chegou até nós! Graças a Deus!
Um aspecto interessante que não pode passar despercebido é a presença de Judas Iscariotes na lista dos Doze. Isto mostra que Jesus quer contar com todos. Não discrimina ninguém. Dá chance a todos. Mesmo aqueles que traem, que dissimulam, que não se dispõem a entrar no projeto de Jesus, são chamados e enviados. Isto pode nos ajudar a ter paciência para trabalhar com os dissimulados. É aquela paciência em deixar crescer juntos o joio e o trigo: a nós compete semear; é o Pai quem faz a colheita. Mas também nos adverte quanto ao risco que corremos de fazermos parte do grupo de eleitos, e sermos infiéis à oportunidade que Deus nos dá. Deus chama, consagra e envia, mas a resposta e a acolhida dependem de cada um na sua liberdade.
“Vendo Jesus as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor”. Jesus quer contar conosco na sua “lavoura”. Quer que tenhamos aquela sensibilidade que ardia no seu coração. Só será possível despertar em nós essa sensibilidade se nos dispusermos a conviver com Jesus. Sem intimidade com o Mestre é impossível percebermos a dor e o sofrimento dos pobres. Sem convivência com Jesus não teremos coragem de sair de nossa vida cômoda e curarmos as feridas dos que sofrem.
Não é fácil lidar com problemas dos outros! “Curar os enfermos” significa trabalhar em favor de quem tem menos vida; lutar pelos que sofrem em suas residências ou nas filas dos postos de saúde e hospitais. Ter um olhar de carinho para com aqueles que vivem sofridos e angustiados pelas lutas de cada dia. Já pensou naquela mãe ou pai cujo filho com deficiência exige cuidados dia e noite? Ou naquela mãe que não sabe o que fazer com seu filho/filha envolvido na droga e na criminalidade? Ou mesmo, que pensar daquele filho/a cuja mãe acamada ou desfalecida não encontra apoio nos irmãos ou familiares para colaborar nos cuidados com a doente?
“Ressuscitar os mortos”: empenhar-se na defesa da vida das pessoas e do planeta. Alimentar a esperança naqueles que se encontram angustiados, sem perspectiva de vida, enlutados. Ajudar a fortalecer no coração a confiança em Deus e o desejo de lutar pela vida.
“Limpar os leprosos” pode-se interpretar como o empenho em purificar a sociedade de tanta corrupção que assola a economia do País e a vida dos pobres. Corrupção significa também estado de putrefação. A podridão moral e social em que vivemos é como uma lepra, doença contagiosa, que contamina os sãos. Não se contaminar, e trabalhar para que este mal não destrua ainda mais os pequenos e pobres: eis uma tarefa árdua e cotidiana! A violência no campo e na cidade, a disseminação de roubos e furtos, o desrespeito generalizado são como uma lepra que tem origem em líderes religiosos, políticos e judiciários que são colocados como ‘modelos’ sociais, porém altamente contaminados pelo mal contagioso e desgraçado da "lepra" da ganância, da vaidade, da mentira.
“Expulsar os demônios” significa libertar as pessoas de tudo o que escraviza, domina, amarra. Assim, podemos nomear alguns demônios: a mentira, a traição, o roubo, a desonestidade, a ganância, a exploração, o preconceito, a fofoca, o desrespeito, a preguiça etc. Esses demônios impedem a pessoa de se realizar como ser humano e gera muito mal na vida, no mundo.
Jesus nos constituiu como Igreja, novo Povo de Deus, não para ficarmos em torno de nós mesmos, de nosso egoísmo, de nossos caprichos e vaidades. Somos Povo de Deus para uma ação mais eficaz na história: “A messe é grande e precisa de operários”. Há muitos batizados, mas poucos são os operários.
Participar da Eucaristia não é um modo de nos tornarmos aceitos por Deus e tranquilizar nossa consciência. Participar da Eucaristia é nos colocarmos decididamente ao lado de Deus, de assumirmos efetivamente a defesa da vida dos filhos de Deus.
Você participa da Eucaristia para se sentir em paz ou para trabalhar na vinha do Senhor? Você vive como operário na lavoura de Deus, ou vive apenas como batizado? Como você vive sua vida cristã? Ela tem algum traço de Jesus? Tente listá-los.
Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN