Qual é o Jesus da minha fé: das estrelas ou do evangelho?
12º Domingo do Tempo Comum [19 de junho de 2016]
[Lc 9,18-24]
O terceiro evangelho (Lucas) narra uma grande caminhada de Jesus para Jerusalém. Em breve (13º domingo) a liturgia vai trazer o início desta caminhada. Para realizarem o discipulado seus seguidores devem reconhecer sua identidade como o Messias, Filho de Deus, e colocarem-se corajosos e confiantes em seu seguimento até à cruz.
No relato de deste domingo notamos três aspectos que compõem este texto: 1º) Após a oração, um diálogo messiânico com os discípulos. 2º) A predição da paixão. 3º) Um convite ao seguimento radical.
Em primeiro lugar notamos que, no evangelho de Lucas, Jesus sempre toma as decisões depois de um encontro profundo e amoroso com o Pai. Ao perguntar seus discípulos sobre a compreensão que tinham dele, ele o fez depois de um momento orante. Essa relação de intimidade de Jesus com o Pai nos ajuda a perceber a necessidade que temos de realizar, com frequência, esse encontro. Particularmente nos momentos decisivos de nossa história. Sem ele nossa vida cai no vazio, na falta de sentido, e no desvio do cumprimento da vontade do Pai.
Depois, notamos nesse diálogo, uma confusão na compreensão da identidade de Jesus. Nos relatos dos domingos anteriores (Lc 7,11-17; 7,36 – 8,3) vimos a busca de identificar Jesus com “o Profeta”: “Um grande profeta apareceu no meio de nós”, e ainda: “Se este homem fosse um profeta, saberia...”. Hoje o relato diz que alguns identificavam Jesus com “algum dos antigos profetas que ressuscitou”. Por aí se vê, claramente, o desejo de encontrarem aquele “Profeta” prometido (Dt 18,15).
Para nossa alegria Pedro reconhece em Jesus de Nazaré o "Cristo de Deus”. Ele é mais do que um profeta. Nele o Pai se revela, mostrando ao mundo sua bondade e ternura.
Nossa grande dificuldade é a de assumir Jesus de Nazaré como nosso Senhor. Dizer que acreditamos nele e que recorremos a ele nas necessidades é fácil. Mas será que ele é mesmo o centro de nossas celebrações, reuniões, decisões, escolhas? Nossa vida, nossas atitudes revelam o rosto de Jesus?
Em segundo lugar, lemos no evangelho a predição da paixão do Senhor. Os discípulos ainda não tinham entendido a missão de Jesus. Concebiam a Jesus como um líder político que iria livrar a Palestina das garras do poder romano. Jesus quer mostrar-lhes que será rejeitado por parte da liderança político-religiosa do Israel de então. Sua fidelidade incondicional ao Pai vai custar-lhe alto preço. Mas está disposto a enfrentar o sofrimento e a morte para resgatar a humanidade do poder do mal. Encara livremente a realidade de cruz. Há dentro de nós convicções firmes de fé a ponto de enfrentarmos os esquemas de mentira e de maldade pela defesa da verdade, da justiça, da paz? Estamos dispostos a abraçar a cruz com Jesus?
O terceiro elemento do relato de hoje está associado ao segundo: a dimensão da cruz. O discípulo de Jesus não estará isento da cruz. Não há como colocar-se no seguimento de Jesus sem disposição de deixar para trás um modo de vida egoísta, ganancioso, acomodado. Podemos até chamar a Jesus de Mestre. Mas isso não fará nenhum sentido se não nos comportarmos como discípulos seus. O discipulado cristão exige um despojamento constante e uma perseverante atitude de conversão cotidiana: “Tomar a cruz a cada dia”.
“Confessamo-lo abertamente como Deus e Senhor nosso, mas às vezes Ele não significa quase nada nas atitudes que inspiram nossa vida. Por isso, é bom ouvir sinceramente sua pergunta: ‘E vós, quem dizeis que eu sou?’ Na realidade, quem é Jesus para nós? Que lugar ele ocupa em nossa vida diária?” (Pe. Antônio Pagola, O caminho aberto por Jesus, p. 150).
Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN