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aurelius

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Que significa “tomar a cruz”?

aureliano, 01.09.17

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22º Domingo do Tempo Comum [03 de setembro de 2017]

[Mt 16,21-27]

Estamos no capítulo 16 de Mateus, exatamente no momento posterior à profissão de fé de Pedro: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Se antes era “bem-aventurado” (“Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas...”), agora Pedro é cognominado de “satanás”: “Afasta-te de mim, Satanás! Tu me serves de pedra de tropeço, porque não pensas as coisas de Deus, mas as dos homens” (Mt 16,23). Essa contradição no texto de Mateus sugere algumas possíveis interpretações: revela que Pedro proclamava o Messias Salvador pela força do Espírito, sem compreender ainda o que dizia; também pode ser algo revelador da fragilidade de Pedro, que não conseguiu manter-se firme diante da cruz; pode ainda expressar uma exaltação da instituição eclesial pela comunidade, tardiamente; segundo alguns autores, parece demonstrar a dificuldade que a Igreja tinha, representada na pessoa de Pedro, em assumir a cruz, a perseguição por causa do Evangelho.

Bem. Para além das questões exegéticas, muito embora importantes para fiel interpretação do texto, queremos que o relato que proclamamos hoje seja uma luz para nossa vida cristã. E um fato, sem dúvida, norteador do episódio de hoje é a cruz.

A cruz era o instrumento de suplício que os romanos aplicavam aos revoltosos contra o regime imperial. Era o pior castigo que uma pessoa podia receber: afixados à cruz, nus, à beira do caminho para que todos pudessem ver e se intimidar, deixados por lá até à morte. Muitos eram devorados pelas aves de rapina. A crucifixão, segundo o historiador Flávio Josefo, era um horror.

Quando Jesus fala da cruz como projeto de vida, ele não quer dizer com isso que gosta de ver seu discípulo sofrer; muito menos que ele mesmo quer sofrer. Seria uma insanidade! Jesus não é masoquista, nem paranoia. Quer apenas dizer que o projeto do Pai que ele veio anunciar e realizar não visa ao sucesso, à realização pessoal apenas, mas implica rejeição, perseguição, dor e morte produzidas pela ganância de poder e de ter que pervade a sociedade. Em outras palavras, o seguimento de Jesus implica cruz por ser um projeto de vida num mundo imbuído de um projeto de morte. “Quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la, mas quem perder a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la”. Deus não quer ‘sacrificar’ as pessoas (isso já o faz a sociedade idolátrica), mas quer testemunhas de seu projeto: mostrar que Deus ama a humanidade e quer que todos vivam esse amor.

Por vezes confundimos a cruz com qualquer desgraça que acontece na vida ou mal-estar produzido pelo nosso próprio pecado. Jesus não está falando desse tipo de sofrimento. Tomar a cruz aqui significa assumir nossa profissão de fé, encarnar na vida as palavras e atitudes de Jesus. Seria um erro confessar a Jesus “Filho do Deus vivo” e negá-lo na vida cotidiana.

Tomar a cruz é assumir a atitude cristã de doar-se, de deixar-se seduzir pelo amor de Jesus (cf. Jr 20,7), assumindo uma atitude de combate ao consumismo, à ambição, à destruição da mãe Terra (vejam o que o Governo Federal está fazendo com as reservas ambientais – RENCA!), à violência contra as crianças, adolescentes e jovens, à violência e desrespeito às mulheres, ao desprezo e desrespeito para com os idosos.

Tomar a cruz é assumir na própria vida os sentimentos de Jesus. Olhar as pessoas com o olhar de Jesus, acolhendo as diferenças, aceitando com serenidade as críticas, enfrentando e vencendo os preconceitos, tendo coragem de andar na contramão da história por causa de Jesus. É estar atento àqueles que passam por dificuldades e colocar-se ao lado deles. “Ele (Jesus) sempre se mostrou cheio de misericórdia pelos pequenos e pobres, pelos doentes e pecadores, colocando-se ao lado dos perseguidos e marginalizados” (Prefácio da Oração Eucarística VI - D).

É assumir posturas e projetos que defendem a vida contra os projetos de morte. É renovar nossa maneira de ver e de julgar; renovar nossa mentalidade, deixando de pensar e de viver a lógica do mundo enquanto é injusto, ganancioso, mentiroso, perverso e enganador, para fazer a vontade de Deus (cf. Rm 12,2).

Assumir a cruz de cada dia é o nosso culto espiritual (cf. Rm 12,1). Numa nova mentalidade, pensar como Deus e não como os homens (Mt 16,23).     Isso é tarefa para todos os dias da vida!

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

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