Ser sal e ser luz: dar sabor e ver
5º Domingo do Tempo Comum [05 de fevereiro de 2017]
[Mt 5,13-16]
Hoje continuamos a rezar, na liturgia, o Sermão da Montanha. Jesus, o novo Moisés, quer mostrar a novidade do seu ensinamento em relação ao antigo. Com o projeto do Reino dos Céus (ou de Deus) anunciado por Jesus, Mateus procura mostrar às comunidades cristãs oriundas do judaísmo que precisavam assumir uma prática de vida nova, um novo modo de viver (cf. Mt 5,1-12: Bem-aventuranças) uma vez que a postura dos judeus de então não correspondia mais ao sonho de Deus para a humanidade.
Na confusão de propostas religiosas, de pregadores de todo canto, o discípulo de Jesus deveria assumir uma postura nova e decisiva: ser sal e ser luz. Em outras palavras: devia dar novo sabor e nova cor à vida das pessoas, ao mundo, a partir de uma vida de intimidade com Jesus. Participando da vida de Jesus, “Sol nascente que nos veio visitar”, o discípulo - tal qual a lua que recebe do sol a luz para iluminar a noite -, uma vez iluminado, ilumina a vida em torno de si, ilumina a vida do irmão, percebe e solidariza-se com sua necessidade: repartirá o pão com o faminto, hospedará o pobre sem destino (migrante), vestirá o nu, jamais se esconderá de seu irmão pobre, enfrentará o “dedo que acusa e a conversa maligna” (cf. Is 58, 7-10).
Os cristãos são chamados a transformar um mundo sem sal, sem sabor (sabedoria), sem a luz da verdade, da justiça e da fidelidade, em Reino de Deus. Isso só será possível se o discípulo de Jesus procurar configurar sua vida à de Cristo. Se procurar viver os valores do Evangelho, se buscar reproduzir as atitudes de Jesus, sobretudo para com os pequeninos, os indefesos, os pecadores, os doentes, os sofredores.
“Se fizeres isto (repartindo o pão com o faminto, recolhendo em casa os pobres desabrigados, vestindo os que estão nus), a tua luz romperá como aurora. Então tua luz brilhará nas trevas e tua escuridão será iluminada” (cf. Is 58,7-10). É a participação na glória de Deus. Glória que se manifesta e se exercita na caridade para com os pobres. Onde não há caridade não está Deus, por conseguinte não há luz. E sem luz não se caminha seguro, corre-se sempre o risco de se cair no precipício ou de atropelar os outros.
O espírito mundano nos leva ao espírito de competição, a abocanhar tudo, a fechar os olhos para a necessidade do miserável, a gastar tudo ou a acumular sem repartir, a pagar o mal com o mal, a valer-nos das oportunidades para tirar vantagens em prejuízo dos outros, a extorquir os desamparados e indefesos etc. O espírito de Jesus nos convida a assumir uma postura de luz que brota do seu coração e chega aos pobrezinhos através de nós; uma postura de sal que dá um novo sabor à vida de tanta gente. Pois a sabedoria da vida, o prazer de viver não está no acúmulo de bens, nem em curtir todo o prazer do mundo, nem no luxo, nem na ostentação, mas em ocupar-se com aqueles que são mais fracos, impotentes, desprezados, que não são levados em conta na sociedade. A propriedade de conservar que o sal possui quer dizer que, a prática da caridade em favor do irmão, sobretudo do indefeso, ajuda a conservar em nós a Aliança que o Senhor fez conosco em seu Filho Jesus.
De nossa vida ficará aquilo que se tiver tornado amor: “No entardecer da vida seremos julgados sobre o amor” (S. João da Cruz). Se tiver ficado amor na vida que tivermos vivido, não entraremos nas trevas (noite) da morte, pois a Luz amorosa mantida no coração e na vida não se apagará jamais. O resto irá para o túmulo. É preciso, pois, que nos convertamos a cada dia em amor. Então seremos sal, seremos luz!
Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN