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Oração, Jejum e Esmola: um sentido de vida

aureliano, 04.03.25

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Quarta-feira de Cinzas [05 de março de 2025]

[Mt 6,1-6.16-18]

Não nos é dado saber com certeza data e local precisos do surgimento da Quaresma na vida litúrgica da Igreja. O que sabemos é que ela foi se formando progressivamente. Estava entranhada na consciência dos cristãos a necessidade de dedicar um tempo em preparação à celebração da Páscoa do Senhor. As primeiras alusões a um período pré-pascal estão registradas lá pelo século IV. Consta também que, na Quinta-Feira Santa, acontecia a reconciliação dos pecadores; e que na Vigília Pascal se realizavam os batizados dos catecúmenos (aqueles que estavam preparados para o batismo). Esses dois costumes, vividos desde a antiguidade da fé cristã, vem mostrar que esse tempo nos remete à renovação das promessas batismais ou preparação para o batismo e a práticas penitenciais que nos levem a uma conversão profunda do coração.

A propósito desse elemento da história, o Concílio Vaticano II recomenda: “Tanto na liturgia quanto na catequese litúrgica, esclareça-se melhor a dupla índole quaresmal, que, principalmente pela lembrança ou preparação do batismo e pela penitência, fazendo os fiéis ouvirem com mais frequência a Palavra de Deus e entregarem-se à oração, os dispõe à celebração do Mistério Pascal. Por isso, utilizem-se com mais abundância os elementos batismais próprios da liturgia quaresmal; segundo as circunstâncias, restaurem-se certos elementos da tradição anterior. Diga-se o mesmo dos elementos penitenciais” (SC 109).

É bom entender que a Quaresma não é um tempo de práticas penitenciais ultrapassadas, mas é um tempo de experiência de um Deus que está vivo no nosso meio e quer que todos vivam: “Eu vim para que todos tenham vida” (Jo 10,10). Um tempo em que somos chamados a participar dos sofrimentos de Cristo para participarmos também de sua glória (cf. Rm 8,17). O acento não está, portanto, nas práticas de penitência, mas na graça santificadora do Senhor que nos convida todos os dias à conversão.

Por possuir um caráter fundamentalmente batismal, a Quaresma nos convida a entrar numa dinâmica de permanente conversão para nos mantermos no caminho encetado pelo batismo. Mortos com Cristo, ressuscitamos com ele para uma vida nova. Quem ressuscitou com Cristo busca as “coisas do alto”. Compromete-se com a vida de todas as pessoas, particularmente com aqueles que não contam, que não são visíveis aos olhos da sociedade, os “sobrantes”.

As três práticas propostas pela Igreja, com raiz na tradição judaica são a oração, o jejum e a esmola. Elas nos ajudam no processo de conversão.

O JEJUM quer nos ajudar a deixar de lado o consumismo proposto por uma sociedade governada por ricos e poderosos que querem ganhar sempre mais à custa dos pobres. Querem arrancar o pouco que o pobre tem. Neste tempo é bom a gente aprender a viver com pouco, a reaproveitar as coisas, a levar uma vida mais simples, mais sóbria. Não se trata de passar necessidade ou fome, pois não é isso que Deus quer. Mas a gente pode viver de modo mais simples sem entrar no modismo da sociedade consumista que mata e exclui. Mais do que jejuar, talvez fosse muito proveitoso evitar o desperdício, jogar o lixo na lixeira, manter limpo os espaços públicos; cuidar das fontes e rios; usar a água tratada com mais consciência, como dom do Pai; reutilizar resíduos e água; preocupar-se e solidarizar-se com quem passa necessidade; superar toda forma de violência; ser mais terno e comedido nas palavras; evitar ofender, maldizer; ser mais paciente no trânsito; tomar as dores e defender aqueles que sofrem violência; promover a paz através do diálogo, da tolerância e do respeito às diferenças; maior empenho por uma educação que leve em conta a totalidade da pessoa humana; lutar por um sistema de saúde que trabalhe preventivamente e que cuide com zelo e responsabilidade dos doentes etc. Trata-se de um ‘esvaziar-se’ para encher-se dos sentimentos de Jesus; encher-se da bondade de Deus.

A ESMOLA quer despertar-nos para a solidariedade com os mais pobres. Uma conversão que nos torne capazes de partilhar com os outros os bens e os dons que temos. Que nos mobilize pelas causas justas, em favor dos menores, dos ‘invisíveis’, sem voz nem vez. É a luta contra a ganância que faz tantas vítimas em nosso meio. A esmola nos tira de nós mesmos e nos remete em direção dos irmãos pelo gesto da partilha solidária. Não se trata apenas de darmos algo de nós, mas darmo-nos a nós mesmos. A visita a um doente, idoso, pobre é um bom gesto que ajuda no processo de conversão. É a oferta do tempo que temos para nós e que doamos a alguém. A esmola ajuda a quebrar nosso orgulho, nos dispõe ao desapego dos bens e à partilha, nos aproxima de Deus. “Dar esmola é oferecer um sacrifício de louvor” (Eclo 35,2). E ainda diz a Escritura: “Quem dá a um pobre empresta a Deus, quem lho retribuirá senão ele?” (Pr 19,17).

A ORAÇÃO nos coloca numa profunda comunhão com o Pai. Sem uma vida orientada pela oração não podemos construir um mundo de acordo com o sonho de Deus. E a oração verdadeira é aquela que nos coloca em sintonia com o querer de Deus, que nos move em direção aos pobres e sofredores. Ele veio “para que todos tenham vida”. Aproveitar esse tempo para reforçar a leitura orante da bíblia. Rezar todos os dias algum texto bíblico! Oramos não porque Deus desconhece nossas necessidades, mas porque queremos nos entregar a Ele e descobrir a melhor forma de servi-lo nos irmãos. A Leitura Orante ilumina nosso caminho, nossa vida. Como reza um prefácio da Liturgia Eucarística: “Ainda que nossos louvores não vos sejam necessários, vós nos concedeis o dom de vos louvar. Eles nada acrescentam ao que sois, mas nos aproximam de vós” (Prefácio Comum, IV). Oramos para nos colocarmos na presença de Deus gratuitamente, generosamente. Talvez fosse bom redistribuir o tempo despendido às redes sociais: não deixar que os bate-papos e diversões da internet e séries de TV roubem o tempo da oração.

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A Campanha da Fraternidade deste ano tem como tema: “Fraternidade e Ecologia Intetral”, com o lema: “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31). Vejamos alguns números que nos ajudam a perceber a importância da temática:

“Novamente, Deus nos chama a vivenciar a Quaresma. Desta vez, porém, com um apelo especial a louvá-lo pela beleza da criação, e fazer um caminho decidido de conversão ecológica e a vivenciar a Ecologia Integral. É preciso despertar para “a grandeza, a urgência e a beleza do desafio” de cuidar da Casa Comum (LS, n. 15). Assim, renovados pela força do Espírito Santo, aprendemos a falar “a língua da fraternidade e da beleza na nossa relação com o mundo” criado (LS, n. 11). Então, ao nos sentirmos intimamente unidos a tudo o que existe, brotarão do encantamento a sobriedade e a generosidade (cf. LS, n. 11). No dizer do Papa Francisco, “o mundo é  algo mais do que um problema a resolver; é um mistério gozosos que contemplamos na alegria e no louvor” (LS, n. 12). (Texto-Base, n. 5).

“Colaborar com pastorais, redes eclesiais e educacionais, organizações da sociedade civil, assumindo soluções concretas em defesa da nossa Casa Comum e dos mais pobres e vulneráveis.

Adotar um estilo de vida profundamente crítico e afastado do consumismo e mais focado em valores duradouros e definitivos, cientes de que o ato de comprar e consumir não é apenas econômico, mas um ato com exigentes implicações morais.

Priorizar a compra de produtos locais, orgânicos, vindos da agricultura familiar e agroecológica.

Optar por formas de transporte mais sustentáveis, como o transporte público e a mobilidade ativa, a carona solidária, a bicicleta e a caminhada” (Texto-Base, 156 A).

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

 

 

Eis o tempo de conversão

aureliano, 13.02.24

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Quarta-feira de Cinzas [14 de fevereiro de 2024]

[Mt 6,1-6.16-18]

Não nos é dado saber com certeza data e local precisos do surgimento da Quaresma na vida litúrgica da Igreja. O que sabemos é que ela foi se formando progressivamente. Estava entranhada na consciência dos cristãos a necessidade de dedicar um tempo em preparação à celebração da Páscoa do Senhor. As primeiras alusões a um período pré-pascal estão registradas lá pelo século IV. Consta também que, na Quinta-Feira Santa, acontecia a reconciliação dos pecadores; e que na Vigília Pascal se realizavam os batizados dos catecúmenos (aqueles que estavam preparados para o batismo). Esses dois costumes, vividos desde a antiguidade da fé cristã, vem mostrar que esse tempo nos remete à renovação das promessas batismais ou preparação para o batismo e a práticas penitenciais que nos levem a uma conversão profunda do coração.

A propósito desse elemento da história, o Concílio Vaticano II recomenda: “Tanto na liturgia quanto na catequese litúrgica, esclareça-se melhor a dupla índole quaresmal, que, principalmente pela lembrança ou preparação do batismo e pela penitência, fazendo os fiéis ouvirem com mais frequência a Palavra de Deus e entregarem-se à oração, os dispõe à celebração do Mistério Pascal. Por isso, utilizem-se com mais abundância os elementos batismais próprios da liturgia quaresmal; segundo as circunstâncias, restaurem-se certos elementos da tradição anterior. Diga-se o mesmo dos elementos penitenciais” (SC 109).

É bom entender que a Quaresma não é um tempo de práticas penitenciais ultrapassadas, mas é um tempo de experiência de um Deus que está vivo no nosso meio e quer que todos vivam: “Eu vim para que todos tenham vida” (Jo 10,10). Um tempo em que somos chamados a participar dos sofrimentos de Cristo para participarmos também de sua glória (cf. Rm 8,17). O acento não está, portanto, nas práticas de penitência, mas na graça santificadora do Senhor que nos convida todos os dias à conversão.

O Cardeal José Tolentino traz-nos uma reflexão que pode nos ajudar a entrar no sentido mesmo da quaresma: “Vamos começar a quaresma por quê? Não apenas por uma imposição do calendário litúrgico, mas porque precisamos renascer. Sentimos o inacabamento, percebemos que é-nos possível ser mais e que está ao nosso alcance viver com mais autenticidade a nossa condição de discípulos de Jesus. (...) Começamos a quaresma porque somos chamados a dar lugar ao Espírito em nossas vidas. (...) Começamos a quaresma porque acreditamos no amor de Deus. (...) As mudanças que contam em nossa vida não acontecem de um dia para o outro ou de forma espontânea. Acontecem no meio de um paciente combate interior. Temos de estar preparados para um caminho exigente e através de muitas tentações. É muito fácil sermos crentes de bancada, cristãos de sofá, fregueses do templo”.

Por possuir um caráter fundamentalmente batismal, a Quaresma nos convida a entrar numa dinâmica de permanente conversão para nos mantermos no caminho iniciado pelo batismo. Mortos com Cristo, ressuscitamos com ele para uma vida nova. Quem ressuscitou com Cristo busca as “coisas do alto”. Compromete-se com a vida de todas as pessoas, particularmente com aqueles que não contam, com os invisíveis da sociedade, os “sobrantes”, os descartados.

As três práticas propostas pela Igreja, com raiz na tradição judaica, são a oração, o jejum e a esmola. Devidamente compreendidas e vividas podem nos ajudar no processo de conversão.

O JEJUM quer nos ajudar a deixar de lado o consumismo proposto por uma sociedade governada por ricos e poderosos que querem ganhar sempre mais à custa dos pobres. Querem arrancar o pouco que o pobre tem. Neste tempo é bom a gente aprender a viver com pouco, a reaproveitar as coisas, a levar uma vida mais simples, mais sóbria. Não se trata de passar necessidade ou fome, pois não é isso que Deus quer. Mas a gente pode viver de modo mais simples sem entrar no modismo da sociedade consumista que mata e exclui. Mais do que jejuar, talvez fosse muito proveitoso evitar o desperdício, jogar o lixo na lixeira, manter limpo os espaços públicos; cuidar das fontes e rios; usar a água tratada com mais consciência, como dom do Pai (não deixando a torneira aberta sem necessidade); reutilizar lixo e água; preocupar-se e solidarizar-se com quem passa necessidade; superar toda forma de violência; ser mais terno e comedido nas palavras; evitar ofender, maldizer; ser mais paciente no trânsito; tomar as dores e defender aqueles que sofrem violência; promover a paz através do diálogo, da tolerância e do respeito às diferenças; maior empenho por uma educação que leve em conta a totalidade da pessoa humana; lutar por um sistema de saúde que trabalhe preventivamente e que cuide com zelo e responsabilidade dos doentes etc. Trata-se de um ‘esvaziar-se’ para encher-se dos sentimentos de Jesus; encher-se da bondade de Deus. “Jejum não é somente privar-se do pão, é também dividir o pão com o faminto” (Papa Francisco).

A ESMOLA quer despertar-nos para a solidariedade com os mais pobres. Uma conversão que nos torne capazes de partilhar com os outros os bens e os dons que temos. Que nos mobilize pelas causas justas, em favor dos menores, dos ‘invisíveis’, sem voz nem vez. É a luta contra a ganância que faz tantas vítimas em nosso meio. A esmola nos tira de nós mesmos e nos remete na direção dos irmãos pelo gesto da partilha solidária. Não se trata apenas de darmos algo de nós, mas darmo-nos a nós mesmos. A visita a um doente, idoso, pobre é um bom gesto que ajuda no processo de conversão. É a oferta do tempo que temos para nós e que doamos a alguém. Papa Francisco ensina que não basta doar, mas é preciso doar-se: “A caridade sempre supõe uma doação oblativa da própria vida. Isso será significativo, além de uma ação concreta, quando oferecer à pessoa uma porta aberta para uma vida nova” (Papa Francisco à Caritas, em 05/09/22).

A ORAÇÃO nos coloca numa profunda comunhão com o Pai. Sem uma vida orientada pela oração não podemos construir um mundo de acordo com o sonho de Deus. E a oração verdadeira é aquela que nos coloca em sintonia com o querer de Deus, que nos move em direção aos pobres e sofredores. Ele veio “para que todos tenham vida”. Aproveitar esse tempo para reforçar a leitura orante da bíblia. Rezar todos os dias algum texto bíblico! Oramos não porque Deus desconhece nossas necessidades, mas porque queremos nos entregar a Ele e descobrir a melhor forma de servi-lo nos irmãos. A Leitura Orante ilumina nosso caminho, nossa vida. Oramos para nos colocarmos na presença de Deus gratuitamente, generosamente. Talvez fosse bom redistribuir o tempo despendido às redes sociais: não deixar que os bate-papos e diversões da internet roubem o tempo da oração.

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A Campanha da Fraternidade deste ano tem como tema: “Fraternidade e Amizade Social”, com o lema: “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23,8). Vejamos alguns números que nos ajudam a perceber a importância da temática:

“Os tempos atuais e o Papa Francisco nos desafiam a ‘ir além dos grupos de amigos e construir a amizade social, tão necessária para a boa convivência (...) [fugindo] da inimizade social, que só destrói (...). Isso nem sempre é fácil, principalmente hoje, quando parte da sociedade e da mídia se empenha em criar inimigos para derrotá-los em um jogo de poder” (Texto-base, 07).

“Amizade social é o amor que ultrapassa as barreiras da geografia e do espaço. Amizade social é uma fraternidade aberta, que permite reconhecer, valorizar e amar todas as pessoas, independentemente da sua proximidade física. Amizade social é um amor desejoso de abraçar a todos. Amizade social é comunicar com a vida e o amor de Deus, recusando impor  doutrinas por meio de uma guerra dialética. Amizade social é viver livre de todo desejo de domínio sobre os outros. Amizade social é o amor que estende para além das fronteiras, para todo ser vivo. Amizade social é a nossa vocação para formar uma comunidade feita de irmãos que se acolhem mutuamente e cuidam uns dos outros”(TB, 16).

“O pecado nos distancia do projeto de Deus e faz-nos enxergar as diferenças, divergências e oposições não como riquezas, oportunidades ou mesmo obstáculos a serem superados, mas como características dos inimigos a serem abatidos. É preciso que fique muito claro que a subjetividade é um valor, as diferenças não são um problema e a solução não é a homogeneidade de pensamento” (TB, 27).

“É interessante notar que, desde o Gênesis, o mal que penetra no mundo tem suas raízes na quebra das relações fraternas” (TB, 96).

“É importante encontrar e criar oportunidade para propor a reflexão da CF 2024 nas celebrações comunitárias, nas catequeses, nos conselhos diocesanos, paroquiais e comunitários, nos encontros e reuniões de grupos pastorais e movimentos eclesiais, nas escolas e nas câmaras legislativas. O que importa é insistir no que é a CF em si mesma, um instrumento de comunhão eclesial, de formação das consciências e do comportamento cristão e de edificação de uma verdadeira fraternidade cristã e amizade social entre os brasileiros” (134).

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

 

Oração, Jejum e Esmola para a conversão

aureliano, 28.02.22

Campanha da Fraternidade 2022.jpg

Quarta-feira de Cinzas [02 de março de 2022]

[Mt 6,1-6.16-18]

Não nos é dado saber com certeza data e local precisos do surgimento da Quaresma na vida litúrgica da Igreja. O que sabemos é que ela foi se formando progressivamente. Estava entranhada na consciência dos cristãos a necessidade de dedicar um tempo em preparação à celebração da Páscoa do Senhor. As primeiras alusões a um período pré-pascal estão registradas lá pelo século IV. Consta também que, na Quinta-Feira Santa, acontecia a reconciliação dos pecadores; e que na Vigília Pascal se realizavam os batizados dos catecúmenos (aqueles que estavam preparados para o batismo). Esses dois costumes, vividos desde a antiguidade da fé cristã, vem mostrar que esse tempo nos remete à renovação das promessas batismais ou preparação para o batismo e a práticas penitenciais que nos levem a uma conversão profunda do coração.

A propósito desse elemento da história, o Concílio Vaticano II recomenda: “Tanto na liturgia quanto na catequese litúrgica, esclareça-se melhor a dupla índole quaresmal, que, principalmente pela lembrança ou preparação do batismo e pela penitência, fazendo os fiéis ouvirem com mais frequência a Palavra de Deus e entregarem-se à oração, os dispõe à celebração do Mistério Pascal. Por isso, utilizem-se com mais abundância os elementos batismais próprios da liturgia quaresmal; segundo as circunstâncias, restaurem-se certos elementos da tradição anterior. Diga-se o mesmo dos elementos penitenciais” (SC 109).

É bom entender que a Quaresma não é um tempo de práticas penitenciais ultrapassadas, mas é um tempo de experiência de um Deus que está vivo no nosso meio e quer que todos vivam: “Eu vim para que todos tenham vida” (Jo 10,10). Um tempo em que somos chamados a participar dos sofrimentos de Cristo para participarmos também de sua glória (cf. Rm 8,17). O acento não está, portanto, nas práticas de penitência, mas na graça santificadora do Senhor que nos convida todos os dias à conversão.

Por possuir um caráter fundamentalmente batismal, a Quaresma nos convida a entrar numa dinâmica de permanente conversão para nos mantermos no caminho encetado pelo batismo. Mortos com Cristo, ressuscitamos com ele para uma vida nova. Quem ressuscitou com Cristo busca as “coisas do alto”. Compromete-se com a vida de todas as pessoas, particularmente com aqueles que não contam, que não são visíveis aos olhos da sociedade, os “sobrantes”.

As três práticas propostas pela Igreja, com raiz na tradição judaica são a oração, o jejum e a esmola. Elas nos ajudam no processo de conversão.

O JEJUM quer nos ajudar a deixar de lado o consumismo proposto por uma sociedade governada por ricos e poderosos que querem ganhar sempre mais à custa dos pobres. Querem arrancar o pouco que o pobre tem. Neste tempo é bom a gente aprender a viver com pouco, a reaproveitar as coisas, a levar uma vida mais simples, mais sóbria. Não se trata de passar necessidade ou fome, pois não é isso que Deus quer. Mas a gente pode viver de modo mais simples sem entrar no modismo da sociedade consumista que mata e exclui. Mais do que jejuar, talvez fosse muito proveitoso evitar o desperdício, jogar o lixo na lixeira, manter limpo os espaços públicos; cuidar das fontes e rios; usar a água tratada com mais consciência, como dom do Pai; reutilizar lixo e água; preocupar-se e solidarizar-se com quem passa necessidade; superar toda forma de violência; ser mais terno e comedido nas palavras; evitar ofender, maldizer; ser mais paciente no trânsito; tomar as dores e defender aqueles que sofrem violência; promover a paz através do diálogo, da tolerância e do respeito às diferenças; maior empenho por uma educação que leve em conta a totalidade da pessoa humana; lutar por um sistema de saúde que trabalhe preventivamente e que cuide com zelo e responsabilidade dos doentes etc. Trata-se de um ‘esvaziar-se’ para encher-se dos sentimentos de Jesus; encher-se da bondade de Deus.

A ESMOLA quer despertar-nos para a solidariedade com os mais pobres. Uma conversão que nos torne capazes de partilhar com os outros os bens e os dons que temos. Que nos mobilize pelas causas justas, em favor dos menores, dos ‘invisíveis’, sem voz nem vez. É a luta contra a ganância que faz tantas vítimas em nosso meio. A esmola nos tira de nós mesmos e nos remete em direção dos irmãos pelo gesto da partilha solidária. Não se trata apenas de darmos algo de nós, mas darmo-nos a nós mesmos. A visita a um doente, idoso, pobre é um bom gesto que ajuda no processo de conversão. É a oferta do tempo que temos para nós e que doamos a alguém.

A ORAÇÃO nos coloca numa profunda comunhão com o Pai. Sem uma vida orientada pela oração não podemos construir um mundo de acordo com o sonho de Deus. E a oração verdadeira é aquela que nos coloca em sintonia com o querer de Deus, que nos move em direção aos pobres e sofredores. Ele veio “para que todos tenham vida”. Aproveitar esse tempo para reforçar a leitura orante da bíblia. Rezar todos os dias algum texto bíblico! Oramos não porque Deus desconhece nossas necessidades, mas porque queremos nos entregar a Ele e descobrir a melhor forma de servi-lo nos irmãos. A Leitura Orante ilumina nosso caminho, nossa vida. Oramos para nos colocarmos na presença de Deus gratuitamente, generosamente. Talvez fosse bom redistribuir o tempo despendido às redes sociais: não deixar que os bate-papos e diversões da internet roubem o tempo da oração.

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A Campanha da Fraternidade deste ano tem como tema: “Fraternidade e  Educação”, com o lema: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (Pr 31,26). Vejamos alguns números que nos  ajudam a perceber a importância da temática:

“A realidade da educação nos interpela e exige profunda conversão de todos. Verdadeira mudança de mentalidade, reorientação da vida, revisão das atitudes e busca de um caminho que promova o desenvolvimento pessoal integral, a formação para a vida fraterna e para a cidadania. Refletir e atuar a favor da educação é uma forma de viver a penitência quaresmal. É reconhecer que algo pode e deve mudar neste cenário e, principalmente, em nossas relações” (Texto Base, 05).

“Somos convidados a ver a realidade da educação em diversos âmbitos, iluminá-la com a Palavra de Deus, encontrando e redescobrindo meios eficazes que favoreçam processos mais adequados e criativos a fim de que ninguém seja excluído de um caminho educativo integral que humanize, promova a vida e estabeleça relações de proximidade, justiça e paz. A educação é um indispensável serviço à vida. Ela nos ajuda a crescer na vivência do amor, do cuidado e da fraternidade” (Texto-Base, 06).

“Da pandemia da Covid-19 nos cabe tirar as lições e os compromissos para o presente e o futuro. Aprender lições com a vida é imperativo para todos os educadores: pais, professores, lideranças comunitárias e religiosas. Educar, antes de dar lições, é aprender com as lições cotidianas e com as crises. Precisamos aprender para passar pelas crises e para enfrentar suas futuras versões de forma mais qualificada. Se as crises são, de certa forma, uma constante na sociedade, o aprendizado também precisa ser. Aprender não é só uma capacidade humana, mas é condição da nossa própria humanidade. ‘A tribulação, a incerteza, o medo e a consciência dos próprios limites, que a pandemia despertou, fazem ressoar o apelo a repensar os nossos estilos de vida, as nossas relações, a organização das nossas sociedades e, sobretudo, o sentido da nossa existência’” (Texto-Base, 34).

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

Oração, Jejum e Esmola para a conversão

aureliano, 16.02.21

Quarta-feira de cinzas - 2021.jpg

Quarta-feira de Cinzas [17 de fevereiro de 2021]

[Mt 6,1-6.16-18]

Não nos é dado saber com certeza data e local precisos do surgimento da Quaresma na vida litúrgica da Igreja. O que sabemos é que ela foi se formando progressivamente. Estava entranhada na consciência dos cristãos a necessidade de dedicar um tempo em preparação à celebração da Páscoa do Senhor. As primeiras alusões a um período pré-pascal estão registradas lá pelo século IV. Consta também que, na Quinta-Feira Santa, acontecia a reconciliação dos pecadores; e que na Vigília Pascal se realizavam os batizados dos catecúmenos (aqueles que estavam preparados para o batismo). Esses dois costumes, vividos desde a antiguidade da fé cristã, vem mostrar que esse tempo nos remete à renovação das promessas batismais ou preparação para o batismo e a práticas penitenciais que nos levem a uma conversão profunda do coração.

A propósito desse elemento da história, o Concílio Vaticano II recomenda: “Tanto na liturgia quanto na catequese litúrgica, esclareça-se melhor a dupla índole quaresmal, que, principalmente pela lembrança ou preparação do batismo e pela penitência, fazendo os fiéis ouvirem com mais frequência a Palavra de Deus e entregarem-se à oração, os dispõe à celebração do Mistério Pascal. Por isso, utilizem-se com mais abundância os elementos batismais próprios da liturgia quaresmal; segundo as circunstâncias, restaurem-se certos elementos da tradição anterior. Diga-se o mesmo dos elementos penitenciais” (SC 109).

É bom entender que a Quaresma não é um tempo de práticas penitenciais ultrapassadas, mas é um tempo de experiência de um Deus que está vivo no nosso meio e quer que todos vivam: “Eu vim para que todos tenham vida” (Jo 10,10). Um tempo em que somos chamados a participar dos sofrimentos de Cristo para participarmos também de sua glória (cf. Rm 8,17). O acento não está, portanto, nas práticas de penitência, mas na graça santificadora do Senhor que nos convida todos os dias à conversão.

Por possuir um caráter fundamentalmente batismal, a Quaresma nos convida a entrar numa dinâmica de permanente conversão para nos mantermos no caminho encetado pelo batismo. Mortos com Cristo, ressuscitamos com ele para uma vida nova. Quem ressuscitou com Cristo busca as “coisas do alto”. Compromete-se com a vida de todas as pessoas, particularmente com aqueles que não contam, que não são visíveis aos olhos da sociedade, os “sobrantes”.

As três práticas propostas pela Igreja, com raiz na tradição judaica são a oração, o jejum e a esmola. Elas nos ajudam no processo de conversão.

O JEJUM quer nos ajudar a deixar de lado o consumismo proposto por uma sociedade governada por ricos e poderosos que querem ganhar sempre mais à custa dos pobres. Querem arrancar o pouco que o pobre tem. Neste tempo é bom a gente aprender a viver com pouco, a reaproveitar as coisas, a levar uma vida mais simples, mais sóbria. Não se trata de passar necessidade ou fome, pois não é isso que Deus quer. Mas a gente pode viver de modo mais simples sem entrar no modismo da sociedade consumista que mata e exclui. Mais do que jejuar, talvez fosse muito proveitoso evitar o desperdício, cuidar melhor de jogar o lixo na lixeira, manter limpo os espaços públicos; cuidar das fontes e rios; usar a água tratada com mais consciência, como dom do Pai; reutilizar lixo e água; tomar conhecimento dos biomas de nosso País e cuidar deles; preocupar-se e solidarizar-se com quem passa necessidade; superar toda forma de violência; ser mais terno e comedido nas palavras; evitar ofender, maldizer; ser mais paciente no trânsito; tomar as dores e defender aqueles que sofrem violência; promover a paz através do diálogo, da tolerância e do respeito às diferenças etc. Trata-se de um ‘esvaziar-se’ para encher-se dos sentimentos de Jesus; encher-se da bondade de Deus.

A ESMOLA quer despertar-nos para a solidariedade com os mais pobres. Uma conversão que nos torne capazes de partilhar com os outros os bens e os dons que temos. Que nos mobilize pelas causas justas, em favor dos menores, dos ‘invisíveis’, sem voz nem vez. É a luta contra a ganância que faz tantas vítimas em nosso meio. A esmola nos tira de nós mesmos e nos remete em direção dos irmãos pelo gesto da partilha solidária. Não se trata apenas de darmos algo de nós, mas darmo-nos a nós mesmos. A visita a um doente, idoso, pobre é um bom gesto que ajuda no processo de conversão. É a oferta do tempo que temos para nós e que doamos a alguém.

A ORAÇÃO nos coloca numa profunda comunhão com o Pai. Sem uma vida orientada pela oração não podemos construir um mundo de acordo com o sonho de Deus. E a oração verdadeira é aquela que nos coloca em sintonia com o querer de Deus, que nos move em direção aos pobres e sofredores. Ele veio “para que todos tenham vida”. Aproveitar esse tempo para reforçar a leitura orante da bíblia. Rezar todos os dias algum texto bíblico! Oramos não porque Deus desconhece nossas necessidades, mas porque queremos nos entregar a Ele e descobrir a melhor forma de servi-lo nos irmãos. A Leitura Orante ilumina nosso caminho, nossa vida. Oramos para nos colocarmos na presença de Deus gratuitamente, generosamente. Talvez fosse bom redistribuir o tempo despendido às redes sociais: não deixar que os bate-papos da internet roubem o tempo da oração.

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A Campanha da Fraternidade desse ano tem como tema a “Fraternidade e diálogo, compromisso de amor”, com o lema: “Cristo é nossa Paz: do que era dividido, fez uma unidade” (Ef 2,14a). Vou reproduzir um relato do Texto-Base que retrata a importância do respeito e ajuda mútua entre pessoas de religiões diferentes. Uma experiência inspiradora e iluminadora.

 “Uma das grandes belezas do Brasil é a sua diversidade religiosa. No entanto, nem sempre se reconhece o valor desta força pulsante que nos caracteriza. Ao longo do Texto-Base, lemos sobre o racismo religioso que é a intolerância dirigida para religiões características de uma determinada raça e etnia. Esse e o caso da intolerância contra as religiões de matriz africana.

No ano de 2016, na cidade de Brasília, um Terreiro bastante conhecido foi incendiado em consequência de intolerância. Nesse Terreiro, eram desenvolvidos vários projetos sociais, principalmente com jovens. Alguns dias após o incêndio, a diretoria do CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs) reuniu-se em Brasília para uma de suas reuniões anuais. Nos mesmos dias, ocorreu o Congresso Nacional da Juventude, que contou com a participação de jovens das Igrejas membros do CONIC. Decidimos, junto com a Iniciativa das Religiões Unidas, realizar uma visita de solidariedade à Mãe de Santo responsável pelo Terreiro. Ligamos para ela perguntando o que poderíamos levar para minimizar as perdas provocadas pelo incêndio. Ela pediu uma muda de Pau-Brasil, pois entre as várias árvores que ela tinha no Terreiro essa era uma que ainda faltava. Conseguimos a muda e nos organizamos para ir. Participaram da visita aproximadamente 20 lideranças religiosas de diferentes Igrejas, entre pessoas ordenadas e leigas. A Mãe de Santo nos contou a história do Terreiro, mostrou a área queimada, falou sobre os projetos que desenvolvia e que precisaram ser interrompidos e do impacto disso na vida de jovens pobres. Falou da dor que sentia por ver seu espaço sagrado destruído e que se sentia agradecida por ninguém ter sido ferido. No cair da tarde, fomos plantar a árvore que levamos para ela. O local do plantio já estava devidamente preparado. Plantamos a árvore ao pôr do sol, com tambores tocando e celebrando o plantio da árvore, símbolo da amizade e do diálogo. Foi um momento bastante forte e significativo. Depois disso, todos os anos, celebramos o aniversário da árvore que se tornou uma marca do respeito entre as religiões” (Texto-Base, p. 57-58).

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

Como está minha vida cristã?

aureliano, 24.02.20

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Quarta-feira de Cinzas [26 de fevereiro de 2020]

[Mt 6,1-6.16-18]

Não nos é dado saber, com absoluta certeza, data e local precisos do surgimento da Quaresma na vida litúrgica da Igreja. O que sabemos é que esse tempo litúrgico foi se formando progressivamente. Estava entranhada na consciência dos cristãos a necessidade de dedicar um tempo em preparação à celebração da Páscoa do Senhor. As primeiras alusões a um período pré-pascal estão registradas lá pelo século IV. Consta também que, na Quinta-Feira Santa, acontecia a reconciliação dos pecadores; e que na Vigília Pascal se realizavam os batizados dos catecúmenos (aqueles que estavam preparados para o batismo). Essas duas práticas litúrgicas, celebradas desde a antiguidade da fé cristã, vêm mostrar que esse tempo nos remete à renovação das promessas batismais ou preparação para o batismo e a práticas penitenciais que nos levem a uma conversão profunda do coração. Portanto, batismo e penitência/conversão.

A propósito desse elemento da história, o Concílio Vaticano II recomenda: “Tanto na liturgia quanto na catequese litúrgica, esclareça-se melhor a dupla índole quaresmal, que, principalmente pela lembrança ou preparação do batismo e pela penitência, fazendo os fiéis ouvirem com mais frequência a palavra de Deus e entregarem-se à oração, os dispõe à celebração do Mistério Pascal. Por isso, utilizem-se com mais abundância os elementos batismais próprios da liturgia quaresmal; segundo as circunstâncias, restaurem-se certos elementos da tradição anterior. Diga-se o mesmo dos elementos penitenciais” (SC 109).

É bom entender que a Quaresma não é um tempo de práticas penitenciais, mas é um tempo de experiência de um Deus que está vivo no nosso meio e quer que todos vivam: “Eu vim para que todos tenham vida” (Jo 10,10). Um tempo em que somos chamados a participar dos sofrimentos de Cristo para participarmos também de sua glória (cf. Rm 8,17). O acento não está, portanto, nas práticas de penitência, mas na graça santificadora do Senhor que nos convida todos os dias à conversão. A penitência ajuda a predispor nosso coração à conversão.

Por possuir um caráter fundamentalmente batismal, a Quaresma nos convida a entrar numa dinâmica de permanente conversão para nos mantermos no caminho encetado pelo batismo. Mortos com Cristo, ressuscitamos com ele para uma vida nova. Quem ressuscitou com Cristo busca as “coisas do alto”. Compromete-se com a vida de todas as pessoas, particularmente com aqueles que não contam, que não são visíveis aos olhos da sociedade, os “sobrantes”, os sem importância. Esse foi o caminho de Jesus!

As três práticas propostas pela Igreja, com raiz na tradição judaica são a oração, o jejum e a esmola. Elas ajudam no processo da conversão cotidiana em que o cristão deve sempre se empenhar.

O JEJUM quer nos ajudar a deixar de lado o consumismo proposto por uma sociedade governada por ricos e poderosos que querem ganhar sempre mais à custa dos pobres. Querem arrancar o pouco que o pobre tem. Neste tempo é bom a gente aprender a viver com pouco, a reaproveitar as coisas, a levar uma vida mais simples, mais sóbria. Não se trata de passar necessidade ou fome, pois não é isso que Deus quer. - O jejum de alimento nos ajuda a solidarizarmos com quem não pode tomar três refeições diárias! - Podemos viver de modo mais simples sem entrar no modismo da sociedade consumista que mata e exclui. Além de jejuar, talvez fosse muito proveitoso também evitar o desperdício, manter limpos os espaços públicos; cuidar dos rios e nascentes; usar a água com mais consciência, como dom do Pai; reutilizar lixo; preocupar-se e solidarizar-se com quem passa necessidade; tomar conhecimento das políticas públicas e empenhar-se nelas pelo bem dos mais pobres; superar toda forma de violência; ser mais terno e comedido nas palavras; evitar ofender, maldizer; ser mais paciente no trânsito; tomar as dores e defender aqueles que sofrem violência etc. Trata-se de um ‘esvaziar-se’ para encher-se dos sentimentos de Jesus; encher-se da bondade de Deus. “O homem bom, do bom tesouro do coração tira o que é bom” (Lc 6,45).

A ESMOLA quer despertar-nos para a solidariedade com os mais pobres. Uma conversão que nos torne capazes de partilhar com os outros os bens e os dons que temos. Que nos mobilize pelas causas justas, em favor dos menores, sem voz nem vez. É a luta contra a ganância que faz tantas vítimas em nosso meio. A esmola nos tira de nós mesmos e nos remete em direção dos irmãos pelo gesto da partilha solidária. Não se trata apenas de darmos algo que temos, mas darmo-nos a nós mesmos. A visita a um doente, idoso, pobre é um bom gesto que ajuda no processo de conversão. Participar de ONGs, associações de bairros, conselhos comunitários e iniciativas de promoção do bem comum. É a oferta do tempo que temos para nós e que doamos a alguém, a alguma causa nobre.

A ORAÇÃO nos coloca numa profunda comunhão com o Pai. Sem uma vida orientada pela oração não podemos construir um mundo de acordo com o sonho de Deus. E a oração verdadeira é aquela que nos coloca em sintonia com o querer de Deus, que nos move em direção aos pobres e sofredores. Ele veio “para que todos tenham vida”. Aproveitar esse tempo para reforçar a leitura orante da bíblia. Rezar todos os dias algum texto bíblico! Oramos não porque Deus desconhece nossas necessidades, mas porque queremos nos entregar a Ele e descobrir a melhor forma de servi-lo nos irmãos. A Leitura Orante ilumina nosso caminho, nossa vida. Oramos para nos colocarmos na presença de Deus gratuitamente, generosamente. Talvez fosse bom redistribuir o tempo despendido nas redes sociais: não deixar que os bate-papos e curiosidades das mídias sociais roubem o tempo da oração.

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A Campanha da Fraternidade desse ano tem como tema “Fraternidade e vida: dom e compromisso”, cujo lema reza: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,33-34). A parábola do Bom Samaritano nos coloca a realidade do próximo que precisa de nossos cuidados. “A vida é essencialmente samaritana tal qual o homem que interrompeu sua rotina de quem estava caído à beira do caminho (Lc 10,25-37). Não se pode viver a vida passando ao largo das dores dos irmãos e irmãs” (Texto-Base, Apresentação).

“O rompimento da indiferença torna o samaritano mais humano. A compaixão expressa o zelo aos moldes de Deus: aproximar-se e fazer-se útil ao outro. Servi-lo! Ver, sentir compaixão e cuidar apresentam-se como um autêntico Programa quaresmal:

  1. Escuta da Palavra que converte o coração;
  2. Verdadeira atenção pelos outros;
  3. Romper com a indiferença frente ao sofrimento;
  4. Disponibilidade para o serviço”; (Texto-Base, 15).

“Não te rendas à noite (...) o mundo caminha graças ao olhar de tantos homens que abriram frestas, que construíram pontes, que sonharam e acreditaram; mesmo quando ao seu redor ouviam palavras de escárnio” (Papa Francisco, Texto-Base, 225).

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

“Tu és pó e ao pó tornarás” (Gn3,19)

aureliano, 04.03.19

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Quarta-feira de Cinzas [06 de março de 2019]

[Mt 6,1-6.16-18]

Não nos é dado saber, com absoluta certeza, data e local precisos do surgimento da Quaresma na vida litúrgica da Igreja. O que sabemos é que esse tempo litúrgico foi se formando progressivamente. Estava entranhada na consciência dos cristãos a necessidade de dedicar um tempo em preparação à celebração da Páscoa do Senhor. As primeiras alusões a um período pré-pascal estão registradas lá pelo século IV. Consta também que, na Quinta-Feira Santa, acontecia a reconciliação dos pecadores; e que na Vigília Pascal se realizavam os batizados dos catecúmenos (aqueles que estavam preparados para o batismo). Essas duas práticas litúrgicas, celebradas desde a antiguidade da fé cristã, vêm mostrar que esse tempo nos remete à renovação das promessas batismais ou preparação para o batismo e a práticas penitenciais que nos levem a uma conversão profunda do coração. Portanto, batismo e penitência/conversão.

A propósito desse elemento da história, o Concílio Vaticano II recomenda: “Tanto na liturgia quanto na catequese litúrgica, esclareça-se melhor a dupla índole quaresmal, que, principalmente pela lembrança ou preparação do batismo e pela penitência, fazendo os fiéis ouvirem com mais frequência a palavra de Deus e entregarem-se à oração, os dispõe à celebração do Mistério Pascal. Por isso, utilizem-se com mais abundância os elementos batismais próprios da liturgia quaresmal; segundo as circunstâncias, restaurem-se certos elementos da tradição anterior. Diga-se o mesmo dos elementos penitenciais” (SC 109).

É bom entender que a Quaresma não é um tempo de práticas penitenciais, mas é um tempo de experiência de um Deus que está vivo no nosso meio e quer que todos vivam: “Eu vim para que todos tenham vida” (Jo 10,10). Um tempo em que somos chamados a participar dos sofrimentos de Cristo para participarmos também de sua glória (cf. Rm 8,17). O acento não está, portanto, nas práticas de penitência, mas na graça santificadora do Senhor que nos convida todos os dias à conversão. A penitência ajuda a predispor nosso coração à conversão.

Por possuir um caráter fundamentalmente batismal, a Quaresma nos convida a entrar numa dinâmica de permanente conversão para nos mantermos no caminho encetado pelo batismo. Mortos com Cristo, ressuscitamos com ele para uma vida nova. Quem ressuscitou com Cristo busca as “coisas do alto”. Compromete-se com a vida de todas as pessoas, particularmente com aqueles que não contam, que não são visíveis aos olhos da sociedade, os “sobrantes”, os sem importância. Esse foi o caminho de Jesus!

As três práticas propostas pela Igreja, com raiz na tradição judaica são a oração, o jejum e a esmola. Elas ajudam no processo da conversão cotidiana em que o cristão deve sempre se empenhar.

O JEJUM quer nos ajudar a deixar de lado o consumismo proposto por uma sociedade governada por ricos e poderosos que querem ganhar sempre mais à custa dos pobres. Querem arrancar o pouco que o pobre tem. Neste tempo é bom a gente aprender a viver com pouco, a reaproveitar as coisas, a levar uma vida mais simples, mais sóbria. Não se trata de passar necessidade ou fome, pois não é isso que Deus quer. - O jejum de alimento nos ajuda a solidarizarmos com quem não pode tomar três refeições diárias! - Podemos viver de modo mais simples sem entrar no modismo da sociedade consumista que mata e exclui. Além de jejuar, talvez fosse muito proveitoso também evitar o desperdício, manter limpos os espaços públicos; cuidar dos rios e nascentes; usar a água com mais consciência, como dom do Pai; reutilizar lixo; preocupar-se e solidarizar-se com quem passa necessidade; tomar conhecimento das políticas públicas e empenhar-se nelas pelo bem dos mais pobres; superar toda forma de violência; ser mais terno e comedido nas palavras; evitar ofender, maldizer; ser mais paciente no trânsito; tomar as dores e defender aqueles que sofrem violência etc. Trata-se de um ‘esvaziar-se’ para encher-se dos sentimentos de Jesus; encher-se da bondade de Deus. “O homem bom, do bom tesouro do coração tira o que é bom” (Lc 6,45).

A ESMOLA quer despertar-nos para a solidariedade com os mais pobres. Uma conversão que nos torne capazes de partilhar com os outros os bens e os dons que temos. Que nos mobilize pelas causas justas, em favor dos menores, sem voz nem vez. É a luta contra a ganância que faz tantas vítimas em nosso meio. A esmola nos tira de nós mesmos e nos remete em direção dos irmãos pelo gesto da partilha solidária. Não se trata apenas de darmos algo que temos, mas darmo-nos a nós mesmos. A visita a um doente, idoso, pobre é um bom gesto que ajuda no processo de conversão. Participar de ONGs e iniciativas de promoção do bem comum. É a oferta do tempo que temos para nós e que doamos a alguém, a alguma causa nobre.

A ORAÇÃO nos coloca numa profunda comunhão com o Pai. Sem uma vida orientada pela oração não podemos construir um mundo de acordo com o sonho de Deus. E a oração verdadeira é aquela que nos coloca em sintonia com o querer de Deus, que nos move em direção aos pobres e sofredores. Ele veio “para que todos tenham vida”. Aproveitar esse tempo para reforçar a leitura orante da bíblia. Rezar todos os dias algum texto bíblico! Oramos não porque Deus desconhece nossas necessidades, mas porque queremos nos entregar a Ele e descobrir a melhor forma de servi-lo nos irmãos. A Leitura Orante ilumina nosso caminho, nossa vida. Oramos para nos colocarmos na presença de Deus gratuitamente, generosamente. Talvez fosse bom redistribuir o tempo despendido na internet: não deixar que os bate-papos e curiosidades das mídias sociais roubem o tempo da oração.

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A Campanha da Fraternidade desse ano tem como tema a “Fraternidade e Políticas Públicas”, e cujo lema reza: “Sereis libertados pelo direito e pela justiça” (Is 1,27). As Políticas Públicas são ações do Estado, de instituições sociais e de pessoas que se empenham na defesa dos direitos dos cidadãos, particularmente dos mais pobres.

A Igreja, continuadora da missão de Jesus, busca iluminar a ação dos cristãos em favor dos pobres. Esses ensinamentos são chamados de Doutrina Social da Igreja. Os princípios básicos defendidos pela Doutrina Social da Igreja são em síntese, os seguintes:

  1. A dignidade da pessoa humana, que exclui qualquer discriminação: racial, social, econômica, religiosa ou cultural.
  2. A primazia do bem comum: a responsabilidade do Estado de trabalhar para o bem de todos, sem discriminações.
  3. A destinação universal dos bens: todas as pessoas têm direito aos bens da Criação: alimento, água, terra, moradia, saúde, educação.
  4. A primazia do trabalho sobre o capital. “O trabalho é um valor do espírito; o capital, um valor da matéria”.
  5. O princípio da subsidiariedade: o que pode ser decidido neste nível, não precisa ser levado a um nível superior.
  6. O princípio da solidariedade: cada um cresce em valor e dignidade na medida em que investe as suas capacidades e o seu dinamismo na promoção do outro. (Subsídio do MOBON: CF 2019)

Oração da Campanha da Fraternidade 2019

Pai misericordioso e compassivo,
que governais o mundo com justiça e amor,
dai-nos um coração sábio para reconhecer a presença do vosso Reino
entre nós.

Em sua grande misericórdia, Jesus,
o Filho amado, habitando entre nós
testemunhou o vosso infinito amor
e anunciou o Evangelho da fraternidade e da paz.

Seu exemplo nos ensine a acolher
os pobres e marginalizados, nossos irmãos e irmãs
com políticas públicas justas,
e sejamos construtores de uma sociedade humana e solidária.

O divino Espírito acenda em nossa Igreja
a caridade sincera e o amor fraterno;
a honestidade e o direito resplandeçam em nossa sociedade
e sejamos verdadeiros cidadãos do “novo céu e da nova terra”

Amém.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN