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Amou-nos até o fim - Amor sem medida!

aureliano, 26.03.24

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Ceia do Senhor - Quinta-feira Santa [28 de março de 2024]

[Jo 13,1-15]

Neste primeiro dia do Tríduo Pascal celebramos a instituição da Eucaristia, memorial da morte e ressurreição do Senhor, que se desdobra em dois aspectos: a instituição do Sacerdócio Ministerial e o Serviço Fraterno da Caridade.

Perpassando o evangelho de João, notamos que não há referências aos gestos rituais de Jesus sobre o pão e o vinho como o fazem os outros evangelistas. O discurso de Jesus sobre a Eucaristia está no capítulo 6° de seu evangelho.

No discurso de despedida, João salienta o gesto de Jesus ao lavar os pés de seus discípulos. Não pede que seu gesto seja reproduzido ritualmente, mas que devemos “fazer como ele fez”. Ou seja, devemos refazer em nossas relações o que Jesus fez naquele gesto simbólico: amor gratuito que torna presente o “sacramento” do amor de Cristo por todos nós. O “lava-pés” deve ser o modo de proceder, o estilo de vida da comunidade dos seguidores de Jesus: “Dei-vos o exemplo para que façais a mesma coisa que eu fiz” (Jo 15,15).

O SACRAMENTO DO AMOR

A Eucaristia, memorial do sacrifício de Jesus, é o sacramento do Corpo e Sangue de Cristo que nos é dado como alimento: “Todas as vezes, de fato, que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, estareis proclamando a morte do Senhor até que ele venha” (1Cor 11,26). Esta presença real-sacramental do Senhor ressuscitado no pão e no vinho se estende também, de algum modo, aos irmãos. Por isto não se pode conceber a comunhão eucarística sem referência aos irmãos. Particularmente aos mais pobres e necessitados. E Paulo alerta: “Quando, pois, vos reunis, o que fazeis não é comer a Ceia do Senhor; cada um se apressa em comer a sua própria ceia; e, enquanto um passa fome, o outro fica embriagado” (1Cor 11,20).

A Campanha da Fraternidade de 2023 propôs uma reflexão que toca diretamente a Eucaristia: Fraternidade Fome. Não se pode celebrar bem a Eucaristia se se abandona as pessoas que passam necessidade à sua própria sorte. “São João Crisóstomo, na sabedoria de quem escuta a Palavra de Deus e entende a coerência à qual ela convida, chamava a atenção: ‘Muitos cristãos saem da igreja e contemplam fileiras de pobres que formam como muralhas em ambos os lados e passam longe, sem se comover, como se vissem colunas e não corpos humanos. Apertam o passo como se vissem estátuas sem alma em lugar de homens que respiram. E, depois de tamanha desumanidade, se atrevem a levantar as mãos ao céu e pedir a Deus misericórdia e perdão pelos seus pecados’” (Texto-Base, 148).

Se a Eucaristia que celebramos não nos move a gestos eucarísticos de partilha, de respeito, de cuidados, de acolhida a cada irmão e irmã, não estamos celebrando a Memória de Jesus. A Eucaristia se efetiva em nossos gestos e atitudes de misericórdia para com nossos irmãos e irmãs. “Queres honrar o Corpo de Cristo? Então não o desprezes nos seus membros, isto é, nos pobres que não têm o que vestir, nem o honres no templo com vestes de seda, enquanto o abandonas lá fora ao frio e à nudez. Aquele que disse: ‘Isto é o meu corpo’ (Mt 26,26), e o realizou ao dizê-lo, é o mesmo que disse: ‘Porque tive fome não me destes de comer’(Mt 25,42); e também: ‘Sempre que deixastes de fazer isto a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer’ (Mt 25,45). (...) Que proveito resulta de a mesa de Cristo estar coberta de taças de outro, se ele morre de fome na pessoa dos pobres? Sacia primeiro o faminto, e depois adornarás o seu altar com o que sobrar. Fazes um cálice de outro e não dás ‘um copo de água fresca’? (Mt 10,42). (...) Por conseguinte, enquanto adornas a casa do Senhor, não deixes o teu irmão na miséria, pois ele é um templo e de todos  o mais precioso’” ( São João Crisóstomo, in Texto-Base, 149).

SACERDÓCIO MINISTERIAL

Os gestos que Jesus realiza de “levantar-se”, “tirar o manto”, “vestir o avental”, “lavar os pés” revelam como devem ser as relações na comunidade: não de poder, mas de serviço. Portanto, o sacerdócio ministerial, para ser coerente com o dom recebido, deve ter como inspiração os gestos de Jesus no ‘Lava-pés’.

Quem preside à comunidade, preside também a Eucaristia. Reúne a comunidade para a oração, para a escuta da Palavra, para o serviço aos pobres, distribui as tarefas e partilha os bens ofertados. Assim proclama o Concílio Vaticano II sobre a missão do sacerdote: “De coração, feitos modelos para o rebanho, presidam e sirvam de tal modo sua comunidade local, que esta dignamente possa ser chamada com aquele nome pelo qual só e todo o Povo de Deus é distinguido, a saber: Igreja de Deus” (LG, 28).

Neste dia, na Missa Crismal, o presbitério renova as promessas sacerdotais diante do Bispo. Uma destas promessas revela claramente a missão do padre. Ela reza assim: “Quereis ser fiéis distribuidores dos mistérios de Deus pela missão de ensinar, pela sagrada Eucaristia e demais celebrações litúrgicas, seguindo o Cristo Cabeça e Pastor, não levados pela ambição dos bens materiais, mas apenas pelo amor aos seres humanos?”

CENA SIMBÓLICA

Vamos contemplar os gestos de Jesus e sua relação com nossa vida:

- vestir o avental: revestir-se de simplicidade, de ternura, de presença, de serviço desinteressado.

- tirar o manto: arrancar tudo que impede o serviço; a prontidão, a disponibilidade.

- levantar-se da mesa: estar à mesa é muito bom. Mas há sempre uma situação que nos espera, um ambiente carente, um serviço urgente. Levantar-se da mesa e sentar-se à mesa é uma dinâmica constante em nossa vida. Movimentos de partida e de chegada.

- levantou-se da mesa: não se pode servir permanecendo no comodismo. Algo precisa ser feito. O Senhor “precisa” de mim, como precisou do jumentinho: “O Senhor precisa dele”.

- ficar de pé: é a atitude que tomamos quando ouvimos o evangelho na celebração. Significa prontidão para deslocar-se, para sair em qualquer direção. Prontidão para viver a Boa Nova do Reino de Deus. Estar à mesa é sinal de fraternidade, mas é preciso saber a hora certa de se levantar e sair para servir.

- tirou o manto: é abrir mão do poder. Algo que brota de dentro. O manto impede a liberdade dos movimentos. Ele traz a aparência de poder. Há “mantos” que prendem e amarram. O Senhor trocou o manto pelo avental. Quais são meus “mantos”? Costumo colocar o avental?

- colocou água na bacia...: Jesus não faz serviço pela metade. Não tem receio de se inclinar até o chão para lavar os pés dos seus discípulos. Não faz distinção de ninguém. Lava os pés de todos.

- depois, voltou à mesa: retomou o manto, mas não tirou o avental. Ele quer mostrar que seu discípulo deve ser sempre servidor. Não se pode tirar o avental do serviço. Qualquer posto ou cargo ou ministério que se ocupar deve estar ali, sob o manto do poder, o avental do serviço. Então deve ser poder-serviço. Todo exercício de poder sem a dimensão do serviço (avental) está fadado a oprimir, a se corromper, a sacrificar vidas.

Vê-se, pois, que a Eucaristia foi instituída para formar um só Corpo. O corpo sacramental de Cristo no pão consagrado deve transformar o comungante no Corpo eclesial. O Espírito Santo transforma o pão e o vinho no Corpo e Sangue de Cristo, para que a assembleia celebrante e comungante se transforme no Corpo do Senhor, a Igreja. Provém daí a expressão clássica: a Eucaristia faz a Igreja e a Igreja faz a Eucaristia. Isto tem consequências profundas em nossa vida. A comunhão eucarística nos compromete com os membros (do corpo) que sofrem, que passam fome, que pecam, que estão afastados, que experimentam o abandono, que padecem por causa de nossas omissões e covardias. O senhor deu-nos o exemplo para que façamos o mesmo que ele fez: amou-nos até o fim! Um amor sem medida!

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

Caminhos de santidade

aureliano, 04.11.16

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Solenidade de Todos os Santos [06 de novembro de 2016]

[Mt 5,1-12]

Na profissão de fé que fazemos todos os domingos confessamos: “(creio) na comunhão dos santos”. Muitas vezes rezamos assim sem saber bem o que isso significa. A solenidade de hoje nos ajuda a entender o conteúdo dessa afirmação: cremos que todos aqueles que confessaram o Cristo e o testemunharam em suas vidas, que todos aqueles que já nos precederam na fé e que procuraram viver neste mundo a comunhão de vida com o Pai, estão juntos de Deus e juntos de nós. Em outras palavras: há um intercâmbio de dons e de orações entre aqueles que crêem no Cristo. “O termo ‘comunhão dos santos’ tem dois significados, intimamente interligados: ‘comunhão nas coisas santas (sancta)’ e ‘comunhão entre as pessoas santas (sancti)’” (Catecismo da Igreja Católica, 948).

Há pessoas que passaram por esta vida e que foram proclamadas pela Igreja como santas, dadas à comunidade como exemplo/inspiração de vida cristã e intercessoras junto a Deus. A Igreja quer afirmar também que elas estão, com certeza, na luz de Deus. Há, porém, uma infinidade de pessoas que viveram neste mundo uma vida santa, fazendo o bem, doando-se aos outros e que são anônimas: não tiveram nem têm nenhum reconhecimento, seus nomes não são lembrados. Muitas delas, às vezes, nossas vizinhas, parentes etc. Pois bem, hoje é dia delas também: celebradas no Santo de Deus, Jesus Cristo, que se oferece em cada Eucaristia para nos santificar.

Quando Jesus proclama as Bem-aventuranças, ele está apresentando um programa de vida para aqueles que se dispõem a segui-lo. Em outro lugar ele diz que quem quiser segui-lo deve ‘tomar a cruz’ cotidiana. Aqui ele não diz coisas muito diferentes. Viver uma vida pobre (desprendida) em favor dos pobres, promover a paz, aguentar tribulação e aflição, ser sedento da justiça do reino, ser puro numa sociedade que só vê no outro uma possibilidade de “comê-lo”, ser perseguido por causa da justiça são realidades que necessitam de um permanente convívio com o Mestre para aprendermos dele, sermos fortalecidos por ele nesse caminho. É o caminho da santidade.

Feliz não é o rico, o que tem tudo. Quem tem tudo e não precisa de nada nem de ninguém é a pessoa mais pobre que existe porque ele não tem sequer a si mesmo, pois não se pertence, mas pertence ao dinheiro. Não é ele que tem dinheiro e bens, mas são os bens e o dinheiro que o têm. É uma situação triste, objetal! É idolatria.

Feliz não é o elogiado por todos, o aprovado por todos os poderosos do mundo, o aplaudido, que vive a fama nos palcos e nos palácios. Feliz não é aquele que por ninguém é perseguido, pois é uma pessoa que não tem nada para dizer, em nada colabora, nada acrescenta, só sabe negar-se a si mesmo e à própria consciência para agradar aos que têm poder. Parece agradar a todos, só não agrada a si mesmo. Vive em torno de si, num narcisismo desgraçado que o faz afogar-se na sua própria imagem, morrendo desesperado e desiludido.

Felizes são o pobre (humilde) e o perseguido por causa da justiça do Reino. Com eles, muitos outros também serão felizes. Isso é ser santo.

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EM QUE CONSISTE A FELICIDADE?

O evangelho de hoje nos ajuda a encontrar o caminho da verdadeira felicidade. Por vezes julgamos que felicidade é viver bem, é sentir-se bem, é ter muitas posses e riquezas, é ter muita gente do lado, é curtir festas, praias, churrascos e bebidas, noitadas e boemias.

A busca da felicidade revela um desejo divino dentro do coração humano. O problema é que nos enganamos com facilidade identificando felicidade com realização de desejos pessoais puramente mundanos e egoístas.

Quando olhamos para a sociedade judaica do tempo de Jesus, podemos identificar o que significava felicidade para aquelas pessoas: terra, filhos, prática religiosa, saúde, vida longa, abundante colheita, paz com os vizinhos.

Mas quando olhamos para a vida de Jesus não identificamos nele esse ideal de felicidade presente na cultura de seus correligionários. O modo de vida de Jesus era diferente. Suas buscas não estavam dentro de si mesmo, mas no cumprimento da vontade do Pai, no cuidado com os pequenos e pobres, no perdão dado aos pecadores, na cura dos doentes e sofredores. Sua vida não girava em torno de si mesmo. Sua felicidade parecia consistir em fazer felizes os outros. Não sabia ser feliz sozinho. Neste sentido era contracultural, remava contra a maré.

Jesus veio nos ensinar que a felicidade está na busca dos interesses e necessidades dos pequenos. Pede que não busquemos felicidade nos próprios interesses nem mesmo nos interesses da própria religião, mas fazendo da religião um modo de viver que promova o bem e a alegria de todas as pessoas.

Felizes os que têm coração de pobre, que sabem viver com pouco. Felizes os que trabalham pela paz. Felizes os que choram diante do sofrimento de alguém e lhe prestam auxílio. Felizes os que se empenham por ter um coração puro e um olhar divino. Felizes os que são perseguidos por promoverem a justiça e a fraternidade. Felizes aqueles que não guardam ódio e rancor no coração e que perdoam com generosidade. Felizes os que sabem partilhar o que têm com quem passa necessidade. Felizes os que dispõem do seu tempo para ajudar alguém. Felizes são todos aqueles que procuram conformar sua vida com a vida de Jesus: serão consolados, saciados, alcançarão misericórdia, reinarão com Cristo na vida em que toda lágrima será enxugada.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

 

"Fazei isto em memória de mim"

aureliano, 26.05.16

Celebramos, hoje, na Igreja Católica, a Solenidade de Corpus Christi. Gostaria de abordar um aspecto desta celebração que julgo ser constitutivo da essência da Eucaristia. Trata-se do verbo fazer: “Fazei isto em memória de mim” (cf. 1Cor 11,24-25).

Quero, em primeiro lugar, chamar a atenção para o gesto de Jesus: “fazei isto”. Não se trata de u’a mera repetição do rito de tomar o pão e o cálice e pronunciar as palavras sagradas. Este “fazei” está se referindo ao gesto de Jesus se entregar por nós. Pão partido e entregue e sangue derramado. Deu-se totalmente: “amou-os até o fim” (Jo 13,1).

Em segundo lugar, este “fazei” se liga a outros gestos e palavras de Jesus. Assim, na Última Ceia, depois de lavar os pés dos discípulos, diz: “O que fiz por vós, fazei-o vós também” (Jo 13,15). Ou seja, o gesto de lavar os pés dos discípulos foi um gesto eucarístico: Jesus saiu da mesa, depôs o manto, tomou o avental, desceu e se abaixou para lavar os pés dos discípulos. Sair de si e ir ao encontro de alguém: gesto eucarístico de Jesus, gesto eucarístico do discípulo. Jesus, na Ceia, se refere a este “fazer”.

outro “fazer” muito significativo nos relatos evangélicos. Trata-se da parábola do Bom Samaritano. Na conclusão da parábola o Senhor diz ao doutor da lei que lhe perguntara sobre o que “fazer” para alcançar a vida eterna: “Vai tu também e faze o mesmo” (Lc 10,37).

Para não estender muito, concluo com as palavras da Virgem Maria ao anjo que lhe anunciara o Mistério da Encarnação: “Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Um Mistério que traz a salvação para toda a humanidade quis passar pelo “fiat” de uma mulher: Maria de Nazaré.

Estas considerações sobre o “fazei isto em memória de mim” do relato da instituição da Eucaristia podem nos ajudar a entrar um pouco mais no sentido da solenidade que celebramos neste dia: Corpus Christi. Não se trata apenas de “ver” a Hóstia consagrada nem mesmo de simplesmente “comê-la”. Mas há uma consequência ética: o nosso fazer precisa coincidir com o “fazer” de Jesus para que não somente levemos o nome de cristãos, mas o sejamos verdadeiramente.

Eucaristia celebrada deve coincidir com Eucaristia vivida. Pão partilhado, mesa farta para todos, nada de desperdício, direitos de todos ao pão e ao chão para sustento cotidiano, políticas públicas que levem em consideração aqueles que realmente precisam, celebrações que ajudem os participantes a serem mais eucaristizados e eucaristizantes. “Tendo levantado os olhos, Jesus viu uma grande multidão que acorria a ele. E disse a Filipe: ‘Onde compraremos pães para que tenham o que comer?’ ... Então Jesus tomou os pães, deu graças e os distribuiu aos convivas” (Jo 6,5.11).

Tomai e comei, tomai e bebei

Meu corpo e sangue que vos dou

O Pão da vida sou Eu mesmo em refeição.

Pai de bondade, Deus de Amor

E do universo, sustentai

Os que se doam por um mundo irmão.

 

Pe Aureliano de Moura Lima, SDN

O que Jesus quer, mesmo, de nós?

aureliano, 30.04.16

6º Domingo da Páscoa [1º de maio de 2016]

[Jo 14,23-29]

Estamos no discurso de despedida de Jesus. Em breve ele será glorificado pelo Pai na sua entrega na cruz. Ao partir deste mundo, encerra sua missão terrena. De volta ao Pai deixa os continuadores de sua missão. Continua junto deles na ação Espírito Santo. Essa ação divina e trinitária se faz presente na história através da Igreja.

Existe, no entanto, um “porém”: o discípulo precisa manifestar seu amor a Jesus guardando a sua palavra. Guardar a Palavra significa ter uma vida condizente com a fé professada. Não existe fé sem amor. O amor se concretiza nas obras.

Jesus não abandona os seus. Está com eles. Envia-lhes o Consolador, aquele que os defenderá do maligno e não os deixará cair no desânimo. Aquele que não deixará o ensinamento de Jesus cair no ostracismo: “Ele vos recordará tudo o que vos tenho dito”. O que importa a Jesus é que sua mensagem não seja esquecida. Essa mensagem, Boa Nova para a humanidade, não pode ser esquecida porque é o projeto de humanização do Pai que Jesus veio revelar.

Talvez caibam aqui algumas perguntas: O que estamos guardando de Jesus? Ou manipulamos com nossas doutrinas e conveniências o ensinamento de Jesus?

O Espírito Santo é a garantia de que Jesus não abandona seus discípulos à orfandade. O Consolador os defenderá do risco de se desviarem do caminho de Jesus. Ele os enviará para o meio dos pobres: “O Espírito do Senhor está sobre mim e me enviou para anunciar a boa nova aos pobres” (Lc 4,18). Essa vida segundo o Espírito educa o discípulo para viver o estilo de vida de Jesus.

Jesus deixa a paz aos discípulos. Não é a paz mundana. Mas aquela paz que garante a plenitude da vida para todos. Fruto de uma vida vivida na comunhão e intimidade com o Pai. Essa paz, haurida do coração do Pai, deve ser levada aos ambientes por onde passarmos. As pessoas de nossa convivência devem ser contagiadas por essa paz.

Um cuidado que precisamos ter é o de jamais perdermos essa paz ou nos acovardarmos diante da missão: “Não se perturbe nem se intimide o vosso coração”. Por que então há tanto medo do futuro e da sociedade moderna? Não tenhamos medo, pois o mundo tem sede e fome de Deus. Nossa missão é ajudar as pessoas a saciar sua fome e sede numa vida nova vivida de acordo com o projeto do Pai. Há grandes sinais da presença amorosa de Deus junto de nós. O Papa Francisco, por exemplo, foi um presente de Deus: ele nos convida a tornarmos nossa Igreja mais próxima do evangelho, mais fiel a Jesus. É o Senhor presente na sua Igreja.

Quero, nesse finalzinho de reflexão, deixar essas palavras tão significativas da primeira leitura de hoje (At 15,1-2.22-29), num contexto de controvérsia por causa da cultura religiosa: “Decidimos, o Espírito Santo e nós, não vos impor nenhum fardo, além destas coisas indispensáveis: abster-se de carnes sacrificadas aos ídolos, do sangue, das carnes de animais sufocados e das uniões ilegítimas. Vós fareis bem se evitardes essas coisas”. Qual é a questão fundamental aqui? A ameaça à comunhão da Igreja. Não há Igreja se não existe comunhão. E não há comunhão se não se eliminam as barreiras. As barreiras do preconceito, da raça, das ideologias, da intolerância. Esse relato quer nos dizer que devemos nos ater ao que é essencial: a adesão e seguimento a Jesus como Igreja, em comunhão. Não nos prendermos a crendices, a discussões ocas, a devoções vazias de sentido, a costumes que não respondem mais às necessidades de nosso tempo, a imposições religiosas. Precisamos, de novo, olhar para Jesus. E aprendermos dele as atitudes que nos transformam e transformam o mundo. É por isso que Carlos de Foucauld tinha como lema: “Gritar o evangelho com a vida”. É o que basta!

Neste dia 1º de maio celebramos São José Operário e o Dia do Trabalho. A Igreja quer-nos ajudar a entender que o trabalho é uma realidade significativa em nossa vida. É constitutivo da dignidade humana. Ninguém deve viver como parasita. Ninguém deve ser explorado na sua força e capacidade de trabalho. Ninguém pode viver às custas do sangue alheio. É um dia de repúdio aos salários exorbitantes de funcionários e mandatários públicos e também privados. É um dia de repúdio a quem vive de agiotagem, de malandragem e de exploração através de jogatinas, de aplicações financeiras exorbitantes, de atravessadores que ganham sem trabalhar, de negociantes que enganam os pequeninos do Reino. “Comerás o pão com o suor de teu rosto” foi a ordem de Deus na Criação (Gn 3,19). E Paulo é enfático com os cristãos que não queriam trabalhar, à espera do Senhor que, conforme criam, viria em breve: “Quem não trabalha, não pode comer” (2Ts 3,10).

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN