Nossa missão: testemunhar e abençoar
Ascensão do Senhor [1º de junho de 2025]
[Lc 24,46-53]
“Homens da Galiléia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus que vos foi levado para o céu, virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu” (At 1,11). Estas palavras ditas pelos anjos por ocasião da subida de Jesus ao Pai, são interpretadas pela Igreja como uma palavra que nos exorta a não ficarmos parados, alienados olhando para o céu, mas que continuemos nossa caminhada nos preparando para a volta do Senhor. Essa é a missão da Igreja: ensinar e ajudar as pessoas a viver com o coração no céu e os olhos na terra.
No relato de hoje, Jesus se despede dos seus abençoando-os e confiando-lhes uma missão, a sua própria missão. Jesus não ficará na cova da morte, mas triunfará da morte e do pecado. Ele ressuscitará. E a comunidade dos crentes deverá anunciar o bem que ele fez à humanidade: a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações. O discípulo deve dar testemunho de tudo isso.
Dar testemunho significa deixar transparecer na palavra e na vida a realidade do que se crê. Dar testemunho da morte e ressurreição de Jesus é expressar com a própria vida a bondade que Jesus manifestou em sua vida. É acolher, perdoar, curar os enfermos, doar-se aos pequenos, enfrentar os riscos e perigos para defender os pequeninos do Reino, é assumir o Deus de Jesus como o absoluto da vida. E tudo isso só será possível mediante a “força do alto”. É o Espírito Santo que dará a força, a luz e a sabedoria para que o discípulo de Jesus possa reproduzir em sua vida as ações do Mestre.
“Vós sereis testemunhas de tudo isso”. Os discípulos serão testemunhas da conversão para o perdão dos pecados, realidades trazidas por Jesus. Ou seja, eles anunciarão com a palavra e com a vida a irrupção de Deus na história humana para transformá-la pela conversão e pelo perdão. O pecado desarmoniza, desorganiza, desconfigura o ser humano. A vida nova trazida por Jesus transfigura, pela força do Espírito Santo, o ser humano. A humanidade transfigurada, reconfigurada pelo Evangelho traz alento e devolve a alegria de viver.
A bênção foi o grande dom que Jesus confiou aos discípulos antes de voltar ao Pai: “Ergueu as mãos e os abençoou”. É muito importante retomarmos a reflexão sobre a bênção. Vem de benedicere=bendizer. É cantar um bendito a Deus pelos dons da criação. É ação de graças ao Pai por tudo que Ele faz por nós. É também dizer palavras de bem para alguém. Foi o que fez Jesus. É o que fazem nossos pais conosco. É o que fazemos com nossos filhos, netos, afilhados etc. Deus nos livre de ser pessoas que amaldiçoam, que carregam a maldade no coração, o desejo de vingança! É preciso que sejamos como Abraão: uma bênção (cf. Gn 12,2). Na medida em que nos aproximamos de Jesus, nos tornamos discípulos dele, nos enchemos de Deus, nos deixamos tomar por ele, fazemo-nos uma fonte de bênção para os outros.
O evangelho termina com estas palavras: “E estavam sempre no Templo, bendizendo a Deus”. O evangelho de Lucas começa no Templo – anúncio do anjo a Zacarias – e termina no Templo. Zacarias estava no Templo oferecendo incenso ao Senhor. Aqui os discípulos estão bendizendo. Abençoados por Jesus, elevam uma oração de bênção. A bênção que transmitimos aos outros não é nossa, mas procede de Deus. Ele é o “Sol” e nós somos a “lua” que não tem luz própria, mas reflete a luz do Sol.
-----------xxxxx-----------
Estamos celebrando o Dia Mundial das Comunicações Sociais com o tema: Partilhai com mansidão a esperança que está nos vossos corações (cf. 1 Pd 3,15-16).
Acompanhemos um trecho da mensagem do saudoso Papa Francisco que nos ajuda a rezar e refletir sobre a comunicação da esperança:
“Hoje em dia, com demasiada frequência, a comunicação não gera esperança, mas sim medo e desespero, preconceitos e rancores, fanatismo e até ódio. Muitas vezes, simplifica a realidade para suscitar reações instintivas; usa a palavra como uma espada; recorre mesmo a informações falsas ou habilmente distorcidas para enviar mensagens destinadas a exaltar os ânimos, a provocar e a ferir. Já várias vezes insisti na necessidade de “desarmar” a comunicação, de a purificar da agressividade. Nunca dá bom resultado reduzir a realidade a slogans. Desde os talk shows televisivos até às guerras verbais nas redes sociais, todos constatamos o risco de prevalecer o paradigma da competição, da contraposição, da vontade de dominar e possuir, da manipulação da opinião pública.
Há ainda um outro fenômeno preocupante: poderíamos designá-lo como a ‘dispersão programada da atenção’ através de sistemas digitais que, ao traçarem o nosso perfil de acordo com as lógicas do mercado, alteram a nossa percepção da realidade. Acontece portanto que assistimos, muitas vezes impotentes, a uma espécie de atomização dos interesses, o que acaba por minar os fundamentos do nosso ser comunidade, a capacidade de trabalhar em conjunto por um bem comum, de nos ouvirmos uns aos outros, de compreendermos as razões do outro. Parece que, para a afirmação de si próprio, seja indispensável identificar um “inimigo” a quem atacar verbalmente. E quando o outro se torna um “inimigo”, quando o seu rosto e a sua dignidade são obscurecidos de modo a escarnecê-lo e ridicularizá-lo, perde-se igualmente a possibilidade de gerar esperança. Como nos ensinou D. Tonino Bello, todos os conflitos ‘encontram a sua raiz no desvanecer dos rostos’. Não podemos render-nos a esta lógica.
(...) É interessante notar que o Apóstolo convida a dar conta da esperança ‘a todo aquele que vo-la peça’. Os cristãos não são, antes de mais, aqueles que ‘falam’ de Deus, mas aqueles que fazem ressoar a beleza do seu amor, uma maneira nova de viver cada pequena coisa. É o amor vivido que suscita a pergunta e exige uma resposta: porque é que viveis assim? Porque é que sois assim?” (Mensagem do Papa Francisco para o 59º Dia Mundial das Comunicações Sociais).
Nesse dia seria bom examinarmos como está nossa comunicação. A começar dentro de nossa casa. Estamos nos entendendo? Paramos para escutar? Como resolvo os conflitos: brigando ou dialogando? Ainda mais: por onde ‘navego’ nas redes sociais? A que programas de TV assisto? Que sites frequento? Que tipo de comunicação e relacionamento estabeleço no Facebook, no Twitter, no Instagram, no WatsApp etc? Compartilho mentiras, desinformação? As redes sociais são um importante instrumento de comunicação, de informação, de formação e de evangelização. Mas é preciso utilizá-las com moderação e sabedoria.
---------xxxxx----------
Gostaria de lembrar um acontecimento fundante na Igreja e para a Igreja: a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos a realizar-se nos dias 1º a 08 de junho: “Em 2025, a Semana de Oração pela Unidade Cristã (SOUC) convida todas as Igrejas, comunidades de fé e pessoas comprometidas com o ecumenismo a se unirem sob o lema “Crês nisso?”, em referência à pergunta de Jesus a Marta, em João 11,26. A iniciativa deste ano tem um significado ainda mais especial: celebra os 1700 anos do Concílio de Niceia (325 d.C.), marco histórico da unidade eclesial e da formulação da primeira confissão de fé comum entre cristãos.
Organizada pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC), a SOUC 2025 tem como proposta fortalecer os laços entre as diferentes tradições cristãs e reafirmar que, em meio à diversidade de expressões, a busca pela unidade continua sendo um testemunho essencial do Evangelho”. (https://www.cnbb.org.br/semana-de-oracao-pela-unidade-crista-2025).
Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN