Missão do jeito de Jesus
14º Domingo do Tempo Comum [06 de julho de 2025]
[Lc 10,1-12.17-20]
Jesus tomou a firme resolução de subir para Jerusalém (cf. Lc 9,51). Essa trajetória histórico-teológica de Jesus quer nos mostrar que ele veio para uma missão: cumprir a vontade do Pai. E o preço de sua fidelidade não seria baixo. Sua fidelidade devia ser corroborada também por sua firmeza.
Nesse caminho ele quis contar com alguns discípulos. Estes foram enviados à sua frente para preparar sua passagem. Enfrentariam durezas, adversidades, incompreensões, rejeições. No entanto o que lhes devia importar é que faziam parte do Reino: “Vossos nomes estão escritos no céu”.
Alguns elementos que nos ajudam a pensar nossa missão, hoje:
- A Igreja, continuadora da missão de Jesus, deve assumir uma vida de peregrina, pondo-se a caminho. Papa Francisco insistia nesta tecla: “É preferível uma Igreja acidentada, a uma Igreja doente por fechar-se em si mesma”. Ou seja, é preciso enfrentar os riscos da missão. Nada de ficar olhando para trás, com um saudosismo doentio e paralisante de quem vive de passado. O olhar retrospectivo só é válido para avaliar nosso presente e nos lançar, com novo ardor, para o futuro. Precisamos nos desvencilhar daquela ideia de que a Igreja existe para encher templos, promover grandes eventos, provocar emoções e lágrimas numa espécie de histeria coletiva. Não. A Igreja foi fundada por Jesus para mostrar ao mundo o amor que o Pai tem por todas as pessoas. E, para isso, deve promover na sociedade o cuidado pelos mais fracos, como fez Jesus.
- Jesus envia seus discípulos para “curar os doentes” e anunciar que o Reino de Deus está próximo. A mensagem do Evangelho precisa ser atraente, transformadora. Ela precisa ser lida naqueles que a anunciam. O evangelizador, imbuído do sentimento de Jesus, traz para o pobre a certeza de que o Reino de Deus chegou. Dá-lhe um sentimento de esperança. Transmite-lhe o conforto da presença de Deus em sua vida. O pobre se sente apoiado, amparado, assistido. Sente que há alguém por ele. Não basta fazer sermões bonitos ou celebrar belas liturgias. Precisamos saber ouvir, acolher, ajudar, encaminhar as situações de dor e de sofrimento das pessoas. Isso é o Reino de Deus.
- Outra palavra de Jesus que não pode passar despercebida é a da paz: “Quando entrardes numa casa dizei: paz a esta casa”. O convite que o Papa Francisco, de saudosa memória, fazia para irmos às periferias tem a ver com essa palavra de Jesus. Ao visitarmos uma pessoa para levar-lhe a Palavra de Deus, precisamos estar imbuídos da paz que brota do coração do Pai. E também ter a capacidade de respeitar a pessoa na sua circunstância. Não temos o direito de impor à pessoa uma crença, uma religião. Queremos que ela experimente a paz, o Shalon que vem de Deus e que significa uma vida vivida com alegria, de bem com todos, na participação equitativa nos bens da criação. Se vivemos assim então transmitiremos a paz às pessoas visitadas. Uma paz que brota da confiança total no Pai. Uma paz que é dom, mas que também é tarefa no sentido de que depende também de nós trabalharmos para que as pessoas saibam se respeitar; saibam viver na justiça e na equidade. Uma paz que é cultivada dentro do coração humano que busca viver uma vida em Deus.
- Outro elemento que precisa ser levado em conta nesse evangelho é a ordem de Jesus a respeito dos trabalhadores da vinha. Faltam operários. É preciso pedir ao dono da vinha que mande trabalhadores. Aqui surge a questão da “mão-de-obra”. É o Senhor que envia operários, mas é preciso pedir. Ou seja, deve haver interesse de nossa parte, que outros venham trabalhar. A vinha não é nossa. É do Senhor. Mas ele quer que a assumamos como nossa, que demos a vida por ela, que nos empenhemos para que muitas pessoas entrem nela para trabalhar. É o Reino que precisa de operários. Chega de parasitas, de exploradores! A messe precisa de gente disposta a trabalhar, a enfrentar os lobos, os espinhos, a fadiga do dia, as perseguições, a cruz. Esse é o Reino, a Igreja. É a nossa tarefa.
- Enfim, não poderia deixar de mencionar também a necessidade do desapego para a missão. Não levar muito peso. O que devemos levar é só Jesus e seu projeto. Precisamos deixar para trás nossas coisas, nossas ideias, nossos projetos. Faz parte do desapego estar aberto à realidade do outro. Ele também tem o que nos oferecer. E Jesus recomenda que comamos daquilo que o visitado nos oferece. Ou seja, é preciso compartilhar da mesa, da vida, dos sonhos, das necessidades e das ofertas dos destinatários de nossa missão. Se eu encher demais o barco da missão, corro o risco de afundá-lo. Então nem o missionário sobrevive nem a missão acontece.
A liturgia de hoje nos convida a darmos uma olhadinha em nossa vida missionária. Como estamos vivendo a missão? Temos tido coragem de sair às periferias, nos encontrarmos com as pessoas que vivem na dor, na desesperança, na falta de sentido de vida? Como temos acolhido as pessoas em nossas celebrações, em nossas casas, em nossas secretarias paroquiais? Enxergamos nelas o rosto de Jesus que sofre? Temos tido preocupação com aqueles que estão afastados?
Notemos bem: a alegria do discípulo do Reino não deve se apoiar no que faz para os outros, mas no que o Senhor fez por ele: “Vosso nome está escrito no céu”. A alegria não está no êxito da missão; nem mesmo o fracasso poderá tirá-la. Pois a alegria consiste não no fazer muitas coisas, mas em ser discípulo/a de Jesus.
Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN