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aurelius

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Frades Menores, servidores da alegria

aureliano, 30.01.24

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“Queremos que você oriente nosso retiro em janeiro”, me segredava Frei Wainer, na procissão da missa do jubileu de 50 anos da Congregação dos Frades Menores Missionários, em 15 de agosto de 2023. “Mas eu nunca orientei retiro para padres! Não dou conta disso, não!” respondi.

Ficou de fazer contato depois. E insistiu que eu assumisse, inclusive enviando a data: 24 a 30 de janeiro de 2024. Falei com o Frei Gabriel, mano querido que pertence à Congregação. E ele me asseverou que Frei Wainer é o responsável pela equipe de espiritualidade da Congregação e é ele quem cuida disso.

Em setembro o Frei volta a insistir. Não tive alternativa: assumi dizendo que iria rezar com eles e propor algumas coisas. Mas no dia que não desse certo, rezaríamos o terço etc.

Desde então vim pensando algumas propostas de oração. Em meio a várias situações novas que se sucederam: minha transferência de paróquia, minha cirurgia da tireóide e outras coisas mais. E o serviço na paróquia aumentando. Mas, finalmente me ocorreu um tema: “Caminhos de santidade”. A partir de então comecei a elaborar o cronograma do retiro. Aos poucos fui preenchendo o esqueleto.

Parti para o sul com o coração da mão e o conteúdo do retiro por terminar. Chegando a Curitiba dia 23/02 às 23:30, frei Amarildo, Ministro Geral, já estava lá, generosamente, para me levar a Ponta Grossa, convento São Francisco, onde se daria o retiro. Frei Antônio Roberto encaminhara tudo, inclusive a única suíte do convento muito bem arrumada. Ah! São duas: encontrei mais uma no corredor do convento.

Eu já sabia que o grupo é muito simples, muito acolhedor etc. Mas temia pelo nível acadêmico e pastoral dos frades. Porém todos estavam abertos, serenos, tranquilos, acolhedores. “Como Deus é bom!” exclamaria meu velho e finado pai.

Como a fraternidade e a simplicidade dessa Congregação marcam a gente! Na verdade, eu vim para orientar um retiro. Mas fui eu que fiquei enriquecido, edificado com o testemunho destes filhos de Francisco de Assis. No grupo de quase quarenta participantes, havia religiosas do ramo feminino da Congregação, noviços, pré-noviços, vocacionados. Um rol de pessoas dos mais variados tempos de vida religiosa encantadas pelo exemplo de Francisco de Assis.

Forma sancti evangelii” (assumir a forma do Santo Evangelho) foi a regra de vida que Francisco de Assis deu a seus irmãos. Anos depois fez alguns adendos à regra, mas para o Pobrezinho de Assis, o frade tem como norma absoluta de vida assumir o Santo Evangelho em sua vida. Viver e amar a Irmã Pobreza e anunciar o Evangelho da Paz.

E os Frades Menores Missionários assumiram essa forma de vida!

Como é admirável contemplar a vida dos frades menores missionários no Convento São Francisco, em Ponta Grossa/PR! Simplicidade, despojamento, fraternidade, alegria.

Os banheiros e lavatórios são comunitários. Lavanderia cheia de frades entrando e saindo lavando suas próprias roupas. Instalados cada um numa celinha de 3x2m², com uma simples cama, uma mesinha, às vezes uma estante; idosos e jovens, Geral e Guardião, todos na mesma condição, sem privilegiados. Muitos se movimentando durante os intervalos, sem perder o espírito orante do retiro, para manter a ordem e relativa limpeza dos espaços comunitários bem como preparar os ambientes litúrgicos para as celebrações.

Ninguém murmura nem reclama de nada. Todos alegres, satisfeitos, orantes, ajudando-se mutuamente. A uma palavra do Ministro Geral: “Precisamos de voluntários para lavar a louça do almoço e da janta todos os dias”, acolhida serena. Imediatamente, vários estão lá, no serviço solicitado.

Café da manhã: por equipes. Pelas 05:00h já estão se movimentando na cozinha e refeitório do convento para deixar o café pronto e participarem do Ofício Divino às 07:00h. Impreterivelmente, todos na capela, numa liturgia lindamente preparada pela equipe do dia e celebrada piedosamente por todos. Aliás, uma beleza de momentos celebrativos que eram pelo menos cinco durante o dia!

Vi aqui homens que procuram viver o Evangelho, como propôs São Francisco. A fraternidade, a ajuda mútua, a simplicidade na veste (hábitos remendados, puídos), a piedade e bom gosto nas celebrações, o espírito de obediência, o despojamento e a alegria! Não obstante as fraquezas humanas, vi aqui homens desejosos e empenhados em seguir a Jesus Cristo, a serem franciscanos de verdade. Homens de Igreja, servidores do Reino de Deus.

Vim temeroso, inseguro, desconfiado de mim mesmo. Volto fortalecido, revigorado pela participação na experiência de vida dos frades menores missionários. São homens de Deus! São servidores da alegria! A Igreja se enriquece com sua presença e missão.

“Altíssimo, onipotente, bom Senhor,

Teus são o louvor, a glória, a honra e toda a bênção.

Só a ti, Altíssimo, são devidos;

E homem algum é digno de te mencionar.

Louvado sejas, meu Senhor,

Com todas as tuas criaturas” (Cântico das criaturas).

Ponta Grossa, PR, 30 de janeiro de 2024.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

 

Evangelho, a boa notícia de Deus

aureliano, 20.01.23

3º Domingo do TC - A - 23 de janeiro.jpg

 

3º Domingo do Tempo Comum [22 de janeiro de 2023]

[Mt 4,12-23]

O primeiro escritor que recolheu a atuação e a mensagem de Jesus nas palavras “boa notícia de Deus” foi Mateus. É o Evangelho (euanggelion), a boa notícia que deve ser lida em meio a essa sociedade indiferente e desacreditada, mostrando que Jesus veio trazer algo bom, novo. Significa que não estamos perdidos, mas que temos Alguém a quem podemos agradecer e que é o “Garante” do sentido de nossa vida.

No Evangelho de Jesus nos encontramos com um Deus que, apesar de nossas fraquezas e pecados, nos dá força para defender nossa liberdade sem nos tornarmos escravos dos ídolos. Esse Deus desperta nossa responsabilidade para com os outros, mesmo que não façamos grandes coisas podemos colaborar com uma vida mais digna e alegre para os necessitados e indefesos.

Certamente, cada um de nós tem que decidir como quer viver e como quer morrer. Cada um há de escutar sua própria verdade e assumir pessoalmente sua vida. Crer em Deus não é a mesma coisa que não crer. Numa expressão brilhante do Papa Francisco: “Não se pode perseverar numa evangelização cheia de ardor, se não se está convencido, por experiência própria, que não é a mesma coisa ter conhecido Jesus ou não O conhecer, não é a mesma coisa caminhar com Ele ou caminhar tateando, não é a mesma coisa poder escutá-Lo ou ignorar a sua Palavra, não é a mesma coisa poder contemplá-Lo, adorá-Lo, descansar n’Ele ou não o poder fazer” (EG, n. 266).

Ou ainda, para encher o coração de entusiasmo, nessa expressão bonita dos Bispos Latinoamericanos: “Conhecer Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber: tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria” (Documento de Aparecida, n. 29).  

A pessoa de fé sente-se bem pelo fato de andar por esse caminho que a faz sentir-se acolhida, perdoada e amada pelo Deus revelado em Jesus. Encontra sentido para sua vida e para sua morte.

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ILUMINADOS PARA ILUMINAR

O tema da luz é marcante na liturgia da Palavra de hoje. A luz é uma necessidade básica do ser humano. Aliás, a expressão que se utiliza para se referir ao nascimento de uma pessoa é “dar à luz”. E quando alguém morre costuma-se dizer: “apagou”. Esta expressão, porém, a partir da fé cristã, é sem sentido. Pois a pessoa que morre, termina sua peregrinação neste mundo e entra na Luz de Deus. Por isso a Igreja reza: “Lux aeterna luceat eis”: “Brilhe para eles a vossa luz”.

O salmista canta na liturgia: “O Senhor é minha luz e salvação” (Sl 26). Há poucos dias, celebrando o Natal do Senhor, proclamamos: “Veio ao mundo a luz verdadeira que ilumina todo homem” (Jo 1,9). Deste modo, o ser humano é chamado a viver sempre na luz. As trevas, símbolo do pecado, se opõem à luz e tentam, embora em vão, lhe fazer sombra. Quando o dia amanhece, vê-se que o sol vai dissipando as trevas da noite. Assim, Jesus Ressuscitado, brilha em meio às trevas, enchendo de luz o coração do ser humano: “A noite escura se afasta, as trevas fogem da luz. A estrela d’alva fulgura, sinal de Cristo Jesus.” “Ao clarão desta luz que renasce, fuja a treva e se apague a ilusão. A discórdia não trema nos lábios, a maldade não turve a razão” (Hinos de Laudes).

A entrada de Deus em nossa história humana na pessoa de Jesus de Nazaré trouxe uma grande luz de sentido, de novo horizonte para a vida de todo aquele que nele crê. “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz (...) Fizeste crescer a alegria, e aumentaste a felicidade” (Is 9,1-2). A felicidade do ser humano está intimamente associada à vida na luz: “Quem faz o mal odeia a luz e não vem para a luz, para que suas obras não sejam demonstradas como culpáveis. Mas quem pratica a verdade vem para a luz, para que se manifeste que suas obras são feitas em Deus” (Jo 3,20-21). Quem vive na luz não experimenta o medo doentio. Confia, espera, entrega-se. Experimenta a liberdade dos filhos de Deus (cf. Gl 5,1).

É muito importante notarmos que Jesus inicie seu ministério anunciando o Reino de Deus e convidando à conversão: “Convertei-vos porque o Reino de Deus está próximo” (Mt 4,17). Sua palavra e suas ações demonstram sua presença de luz. Veio para transmitir a luz que faz ver o pecado presente no coração humano e na sociedade a fim de que, pela conversão, se supere o mal que destrói a vida na face da terra.

Passar das trevas à luz é fazer um caminho de conversão para se entrar no Reino de Deus. Converter-se é mudar de vida, é inverter a escala de valores que o mundo propõe para assumir os valores do Reino instaurado por Jesus.

Há grande número de cristãos que, à semelhança de alguns mestres do tempo de Jesus, julgam que não precisam de conversão. Pensam que basta fazer uma “rezazinha”, acender uma vela, dar uma esmola para desencargo de consciência ou carregar a bíblia debaixo do braço e dizer que “aceitou Jesus” etc. Não! A conversão é um caminho cotidiano. O ser humano é um misto de luz e trevas. Há muitas realidades de nossa vida pessoal e da vida social que precisam ser evangelizadas.

No passado pensava-se – e ainda esta mentalidade persiste – que evangelização consistia em frequentar a catequese para os sacramentos de iniciação cristã, e pronto. Mas hoje, graças a Deus, a Igreja percebe que é preciso trabalhar a evangelização permanentemente. É preciso voltar ao evangelho. O Papa Francisco tem insistido que não adianta ir à Igreja, comungar, rezar e não mudar de vida. “Você pode ir à missa aos domingos, mas se não tem coração solidário, se não sabe o que acontece na sua cidade, (a fé) ou está doente ou está morta. (...) A fé nos faz próximos, aproxima-nos da vida dos outros. A fé desperta o nosso compromisso com os outros, desperta nossa solidariedade” (15/07/16). O importante na vida do cristão é insistir no caminho de conformar a própria vida à vida de Jesus. Tentarmos, cotidianamente, reproduzir em nossa vida os gestos de Jesus.

Todas as vezes que perdoamos, que nos solidarizamos, que evitamos dizer uma palavra que destrói e machuca, que saímos de nossa casa para socorrer alguém, que nos esforçamos para ser fiéis e respeitosos para com nossa família, que trabalhamos com honestidade, que manifestamos nossa opinião reta e verdadeira diante de atitudes desonestas e mentirosas; todas as vezes que nos organizamos para trabalhar em favor da vida, contra a corrupção e a maldade, que aliviamos o sofrimento de alguém, que colaboramos para que as pessoas sofridas e angustiadas vivam mais alegres, estamos espargindo um pouco da Luz que brota do coração do Pai, pois estamos reproduzindo os gestos de Jesus. Isto é caminho de conversão.

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O REINADO DE DEUS

O anúncio do Reino de Deus (ou dos Céus, conforme Mateus) foi o centro da vida de Jesus. Todas as suas palavras e ações foram em vista de estabelecer o Reinado de Deus no mundo.

João Batista também pregava a conversão em vista da proximidade do Reino. Porém o Reino anunciado por Jesus tem um sentido novo. É um Reino que se realiza no amor, na misericórdia, no acolhimento, na busca da justiça e da verdade. Se o reino das trevas favorece os poderosos, aumentando-lhes os privilégios, o Reino de Deus proclamado por Jesus se dá na partilha dos bens da criação, na libertação dos oprimidos, resgatando e levantando a pessoa para a dignidade de filho de Deus.

Esse Reino se concretiza pelo caminho da conversão. Sem mudar a ”maneira de pensar” (cf. Rm 12, 2), não se constrói o Reinado de Deus. A transformação social e comunitária passa necessariamente pela conversão pessoal. O Documento de Aparecida fala da necessidade da conversão pessoal para a transformação da paróquia e da comunidade. E a conversão se faz quando se olha para Jesus, se convive com ele, se deixa modelar por ele, por seu amor misericordioso.

Para a construção do Reino, o Pai conta com colaboradores. Por isso Jesus os chama para “estar com ele e enviá-los em missão” (cf Mc 3, 14). O processo de conversão no discipulado nos leva a colocar Jesus como o centro de nossa vida. Nossas decisões são movidas e iluminadas por ele, pela postura dele, pelas palavras dele. Aquilo que nos impede de ser melhores precisa ser abandonado. É assim que se vai consolidando o Reinado de Deus na história. Os discípulos que ele chama serão formados em sua escola, a comunidade. É na comunidade que vamos aprendendo a ser mais de Jesus: pelo amor fraterno, pela escuta atenta à Palavra de Deus, pela Eucaristia celebrada, pelo engajamento nas pastorais. Enfim, cada um deve encontrar seu lugar na comunidade servindo a Deus nos irmãos mais necessitados.

“Eis que estou à porta e bato”. Como reajo ao convite do Senhor? Estou disposto a trabalhar pela extensão o Reino de Deus? Há muita gente esperando pela minha resposta generosa ao chamado de Deus. Preciso dizer: “Eis-me aqui, envia-me”.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

Evangelho, a boa notícia de Deus

aureliano, 24.01.20

3º Domingo do TC - A - 26 de janeiro.jpg

3º Domingo do Tempo Comum [26 de janeiro de 2020]

[Mt 4,12-23]

O primeiro escritor que recolheu a atuação e a mensagem de Jesus nas palavras “boa notícia de Deus” foi Mateus. É o Evangelho (euanggelion), a boa notícia que deve ser lida em meio a essa sociedade indiferente e desacreditada, mostrando que Jesus veio trazer algo bom, novo. Significa que não estamos perdidos, mas que temos Alguém a quem podemos agradecer e que é o “Garante” do sentido de nossa vida.

No Evangelho de Jesus nos encontramos com um Deus que, apesar de nossas fraquezas e pecados, nos dá força para defender nossa liberdade sem nos tornarmos escravos dos ídolos. Esse Deus desperta nossa responsabilidade para com os outros, mesmo que não façamos grandes coisas podemos colaborar com uma vida mais digna e alegre para os necessitados e indefesos.

Certamente, cada um de nós tem que decidir como quer viver e como quer morrer. Cada um há de escutar sua própria verdade e assumir pessoalmente sua vida. Crer em Deus não é a mesma coisa que não crer. Numa expressão brilhante do Papa Francisco: “Não se pode perseverar numa evangelização cheia de ardor, se não se está convencido, por experiência própria, que não é a mesma coisa ter conhecido Jesus ou não O conhecer, não é a mesma coisa caminhar com Ele ou caminhar tateando, não é a mesma coisa poder escutá-Lo ou ignorar a sua Palavra, não é a mesma coisa poder contemplá-Lo, adorá-Lo, descansar n’Ele ou não o poder fazer” (EG, n. 266).

Ou ainda, para encher o coração de entusiasmo, nessa expressão bonita dos Bispos Latinoamericanos: “Conhecer Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber: tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria” (Documento de Aparecida, n. 29).  

A pessoa de fé sente-se bem pelo fato de andar por esse caminho que a faz sentir-se acolhida, perdoada e amada pelo Deus revelado em Jesus. Encontra sentido para sua vida e para sua morte.

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ILUMINADOS PARA ILUMINAR

O tema da luz é marcante na liturgia da Palavra de hoje. A luz é uma necessidade básica do ser humano. Aliás, a expressão que se utiliza para se referir ao nascimento de uma pessoa é “dar à luz”. E quando alguém morre costuma-se dizer: “apagou”.

O salmista canta na liturgia: “O Senhor é minha luz e salvação” (Sl 26). Há poucos dias, celebrando o Natal do Senhor, proclamamos: “Veio ao mundo a luz verdadeira que ilumina todo homem” (Jo 1,9). Deste modo, o ser humano é chamado a viver sempre na luz. As trevas, símbolo do pecado, se opõem à luz e tentam, embora em vão, lhe fazer sombra. Quando o dia amanhece, vê-se que o sol vai dissipando as trevas da noite. Assim, Jesus Ressuscitado, brilha em meio às trevas, enchendo de luz o coração do ser humano: “A noite escura se afasta, as trevas fogem da luz. A estrela d’alva fulgura, sinal de Cristo Jesus.” “Ao clarão desta luz que renasce, fuja a treva e se apague a ilusão. A discórdia não trema nos lábios, a maldade não turve a razão” (Hinos de Laudes).

A entrada de Deus em nossa história humana na pessoa de Jesus de Nazaré trouxe uma grande luz de sentido, de novo horizonte para a vida de todo aquele que nele crê. “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz (...) Fizeste crescer a alegria, e aumentaste a felicidade” (Is 9,1-2). A felicidade do ser humano está intimamente associada à vida na luz: “Quem faz o mal odeia a luz e não vem para a luz, para que suas obras não sejam demonstradas como culpáveis. Mas quem pratica a verdade vem para a luz, para que se manifeste que suas obras são feitas em Deus” (Jo 3,20-21). Quem vive na luz não experimenta o medo doentio. Confia, espera, entrega-se. Experimenta a liberdade dos filhos de Deus (cf. Gl 5,1).

É muito importante notarmos que Jesus inicie seu ministério anunciando o Reino de Deus e convidando à conversão: “Convertei-vos porque o Reino de Deus está próximo” (Mt 4,17). Sua palavra e suas ações demonstram sua presença de luz. Veio para transmitir a luz que faz ver o pecado presente no coração humano e na sociedade a fim de que, pela conversão, se supere o mal que destrói a vida na face da terra.

Passar das trevas à luz é fazer um caminho de conversão para se entrar no Reino de Deus. Converter-se é mudar de vida, é inverter a escala de valores que o mundo propõe para assumir os valores do Reino instaurado por Jesus.

Há grande número de cristãos que, à semelhança de alguns mestres do tempo de Jesus, julgam que não precisam de conversão. Pensam que basta fazer uma “rezazinha”, acender uma vela, dar uma esmola para desencargo de consciência ou carregar a bíblia debaixo do braço e dizer que “aceitou Jesus” etc. Não! A conversão é um caminho cotidiano. O ser humano é um misto de luz e trevas. Há muitas realidades de nossa vida pessoal e da vida social que precisam ser evangelizadas.

No passado pensava-se – e ainda esta mentalidade persiste – que evangelização consistia em frequentar a catequese para os sacramentos de iniciação cristã, e pronto. Mas hoje, graças a Deus, a Igreja percebe que é preciso trabalhar a evangelização permanentemente. É preciso voltar ao evangelho. O Papa Francisco tem insistido que não adianta ir à Igreja, comungar, rezar e não mudar de vida. “Você pode ir à missa aos domingos, mas se não tem coração solidário, se não sabe o que acontece na sua cidade, (a fé) ou está doente ou está morta. (...) A fé nos faz próximos, aproxima-nos da vida dos outros. A fé desperta o nosso compromisso com os outros, desperta nossa solidariedade” (15/07/16). O importante na vida do cristão é insistir no caminho de conformar a própria vida à vida de Jesus. Tentarmos, cotidianamente, reproduzir em nossa vida os gestos de Jesus.

Todas as vezes que perdoamos, que nos solidarizamos, que evitamos dizer uma palavra que destrói e machuca, que saímos de nossa casa para socorrer alguém, que nos esforçamos para ser fiéis e respeitosos para com nossa família, que trabalhamos com honestidade, que manifestamos nossa opinião reta e verdadeira diante de atitudes desonestas e mentirosas; todas as vezes que nos organizamos para trabalhar em favor da vida, contra a corrupção e a maldade, que aliviamos o sofrimento de alguém, que colaboramos para que as pessoas sofridas e angustiadas vivam mais alegres, estamos espargindo um pouco da Luz que brota do coração do Pai, pois estamos reproduzindo os gestos de Jesus. Isto é caminho de conversão.

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O REINADO DE DEUS

O anúncio do Reino de Deus (ou dos Céus, conforme Mateus) foi o centro da vida de Jesus. Todas as suas palavras e ações foram em vista de estabelecer o Reinado de Deus no mundo.

João Batista também pregava a conversão em vista da proximidade do Reino. Porém o Reino anunciado por Jesus tem um sentido novo. É um Reino que se realiza no amor, na misericórdia, no acolhimento, na busca da justiça e da verdade. Se o reino das trevas favorece os poderosos, aumentando-lhes os privilégios, o Reino de Deus proclamado por Jesus se dá na partilha dos bens da criação, na libertação dos oprimidos, resgatando e levantando a pessoa para a dignidade de filho de Deus.

Esse Reino se concretiza pelo caminho da conversão. Sem mudar a ”maneira de pensar” (cf. Rm 12, 2), não se constrói o Reinado de Deus. A transformação social e comunitária passa necessariamente pela conversão pessoal. O Documento de Aparecida fala da necessidade da conversão pessoal para a transformação da paróquia e da comunidade. E a conversão se faz quando se olha para Jesus, se convive com ele, se deixa modelar por ele, por seu amor misericordioso.

Para a construção do Reino, o Pai conta com colaboradores. Por isso Jesus os chama para “estar com ele e enviá-los em missão” (cf Mc 3, 14). O processo de conversão no discipulado nos leva a colocar Jesus como o centro de nossa vida. Nossas decisões são movidas e iluminadas por ele, pela postura dele, pelas palavras dele. Aquilo que nos impede de ser melhores precisa ser abandonado. É assim que se vai consolidando o Reinado de Deus na história. Os discípulos que ele chama serão formados em sua escola, a comunidade. É na comunidade que vamos aprendendo a ser mais de Jesus: pelo amor fraterno, pela escuta atenta à Palavra de Deus, pela Eucaristia celebrada, pelo engajamento nas pastorais. Enfim, cada um deve encontrar seu lugar na comunidade servindo a Deus nos irmãos mais necessitados.

“Eis que estou à porta e bato”. Como reajo ao convite do Senhor? Estou disposto a trabalhar pela extensão o Reino de Deus? Há muita gente esperando pela minha resposta generosa ao chamado de Deus. Preciso dizer: “Eis-me aqui, envia-me”.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

Evangelho, a boa notícia de Deus

aureliano, 20.01.17

Luz Reino.jpg

3º Domingo do Tempo Comum [22 de janeiro de 2017]

[Mt 4,12-23]

O primeiro escritor que recolheu a atuação e a mensagem de Jesus nas palavras “boa notícia de Deus” foi Mateus. É o Evangelho (euanggelion), a boa notícia que deve ser lida em meio a essa sociedade indiferente e desacreditada, mostrando que Jesus veio trazer algo bom, novo. Significa que não estamos perdidos, mas que temos Alguém a quem podemos agradecer pela vida.

No Evangelho de Jesus nos encontramos com um Deus que, apesar de nossas fraquezas e pecados, nos dá força para defender nossa liberdade sem nos tornarmos escravos dos ídolos. Esse Deus desperta nossa responsabilidade para com os outros, mesmo que não façamos grandes coisas podemos colaborar com uma vida mais digna e alegre para os necessitados e indefesos.

Certamente, cada um de nós tem que decidir como quer viver e como quer morrer. Cada um há de escutar sua própria verdade. Crer em Deus não é a mesma coisa que não crer. O crente sente-se bem pelo fato de andar por esse caminho da fé que o faz sentir-se acolhido, perdoado e amado pelo Deus revelado em Jesus. Encontra sentido para sua vida e para sua morte.

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O POVO VIU UMA LUZ

O tema da luz é marcante na liturgia da Palavra de hoje. A luz é uma necessidade básica do ser humano. Aliás, a expressão que se utiliza para se referir ao nascimento de uma pessoa é “dar à luz”. E quando alguém morre costuma-se dizer: “apagou-se”.

O salmista canta na liturgia: “O Senhor é minha luz e salvação” (Sl 26). Há poucos dias, celebrando o Natal do Senhor, proclamamos: “Veio ao mundo a luz verdadeira que ilumina todo homem” (Jo 1,9). Deste modo, o ser humano é chamado a viver sempre na luz. As trevas, símbolo do pecado, se opõem à luz e tentam, embora em vão, lhe fazer sombra. Quando o dia amanhece, vê-se que o sol vai dissipando as trevas da noite. Assim, Jesus Ressuscitado brilha em meio às trevas, enchendo de luz o coração do ser humano: “A noite escura se afasta, as trevas fogem da luz. A estrela d’alva fulgura, sinal de Cristo Jesus.” “Ao clarão desta luz que renasce, fuja a treva e se apague a ilusão. A discórdia não trema nos lábios, a maldade não turve a razão” (Hinos de Laudes).

A entrada de Deus em nossa história humana na pessoa de Jesus de Nazaré, trouxe uma grande luz de sentido, de novo horizonte para a vida de todo aquele que nele crê. “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz ... Fizeste crescer a alegria, e aumentaste a felicidade” (Is 9,1-2). A felicidade do ser humano está intimamente associada à vida na luz: “Quem faz o mal odeia a luz e não vem para a luz, para que suas obras não sejam demonstradas como culpáveis. Mas quem pratica a verdade vem para a luz, para que se manifeste que suas obras são feitas em Deus” (Jo 3,20-21). Quem vive na luz não experimenta o medo doentio. Confia, espera, entrega-se. Experimenta a liberdade dos filhos de Deus (cf. Gl 5,1).

É muito importante notarmos que Jesus inicie seu ministério anunciando o Reino de Deus e convidando à conversão: “Convertei-vos porque o Reino de Deus está próximo” (Mt 4,17). Sua palavra e suas ações demonstram sua presença de luz. Veio para transmitir a luz que faz ver o pecado presente no coração humano e na sociedade a fim de que, pela conversão, se supere o mal que destrói a vida na face da terra.

Passar das trevas à luz é fazer um caminho de conversão para se entrar no Reino de Deus. Converter-se é mudar de vida, é inverter a escala de valores que o mundo propõe para assumir os valores do Reino instaurado por Jesus.

Há grande número de cristãos que, à semelhança de alguns mestres do tempo de Jesus, julgam que não precisam de conversão. Pensam que basta fazer uma “rezinha”, acender uma vela, dar uma esmola para desencargo de consciência etc. Não! A conversão é um caminho cotidiano. O cristão é um misto de luz e trevas. Há muitas realidades de nossa vida pessoal e da vida social que precisam ser evangelizadas.

No passado pensava-se – e ainda esta mentalidade persiste – que evangelização consistia em frequentar a catequese para os sacramentos de iniciação cristã,  e pronto. Mas hoje, graças a Deus, a Igreja percebe que é preciso trabalhar a evangelização permanentemente. É preciso voltar ao evangelho. O Papa Francisco tem insistido que não adianta ir à Igreja, comungar, rezar e não mudar de vida. “Você pode ir à missa aos domingos, mas se não tem coração solidário, se não sabe o que acontece na sua cidade, (a fé) ou está doente ou está morta. (...) A fé nos faz próximos, aproxima-nos da vida dos outros. A fé desperta o nosso compromisso com os outros, desperta nossa solidariedade” (15/07/16). O importante na vida do cristão é insistir no caminho de conformar a própria vida à vida de Jesus. Tentarmos, cotidianamente, reproduzir em nossa vida os gestos de Jesus.

Todas as vezes que perdoamos, que nos solidarizamos, que evitamos dizer uma palavra que destrói e machuca, que saímos de nossa casa para socorrer alguém, que nos esforçamos para ser fiéis e respeitosos para com nossa família, que trabalhamos com honestidade, que manifestamos nossa opinião reta e verdadeira diante de atitudes desonestas e mentirosas; todas as vezes que nos organizamos para trabalhar em favor da vida, contra a corrupção e a maldade, que aliviamos o sofrimento de alguém, que colaboramos para que as pessoas sofridas e angustiadas vivam mais alegres, estamos espargindo um pouco da Luz que brota do coração do Pai, pois estamos reproduzindo os gestos de Jesus. Isto é caminho de conversão.

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O REINADO DE DEUS

O anúncio do Reino de Deus (ou dos Céus, conforme Mateus) foi o centro da vida de Jesus. Todas as suas palavras e ações foram em vista de estabelecer o Reinado de Deus no mundo.

João Batista também pregava a conversão em vista da proximidade do Reino. Porém o Reino anunciado por Jesus tem um sentido novo. É um Reino que se realiza no amor, na misericórdia, no acolhimento, na busca da justiça e da verdade. Se o reino das trevas favorece os poderosos, aumentando-lhes os privilégios, o Reino de Deus proclamado por Jesus se dá na partilha dos bens da criação, na libertação dos oprimidos, resgatando e levantando a pessoa para a dignidade de filho de Deus.

Esse Reino se concretiza pelo caminho da conversão. Sem mudar a ”maneira de pensar” (cf. Rm 12, 2), não se constrói o Reinado de Deus. A transformação social e comunitária passa necessariamente pela conversão pessoal. O Documento de Aparecida fala da necessidade da conversão pessoal para a transformação da paróquia e da comunidade. E a conversão se faz quando se olha para Jesus, se convive com ele, se deixa modelar por ele, por seu amor misericordioso.

Para a construção do Reino, o Pai conta com colaboradores. Por isso Jesus os chama para “estar com ele e enviá-los em missão” (cf Mc 3, 14). O processo de conversão no discipulado nos leva a colocar Jesus como o centro de nossa vida. Nossas decisões são movidas e iluminadas por ele, pela postura dele, pelas palavras dele. Aquilo que nos impede de ser melhores precisa ser abandonado. É assim que se vai consolidando o Reinado de Deus na história. Os discípulos que ele chama serão formados em sua escola, a comunidade. É na comunidade que vamos aprendendo a ser mais de Jesus: pelo amor fraterno, pela escuta atenta à Palavra de Deus, pela Eucaristia celebrada, pelo engajamento nas pastorais. Enfim, cada um deve encontrar seu lugar na comunidade servindo a Deus nos irmãos mais necessitados.

“Eis que estou à porta e bato”. Como reajo ao convite do Senhor? Estou disposto a trabalhar pela extensão o Reino de Deus? Há muita gente esperando pela minha resposta generosa ao chamado de Deus. Preciso dizer: “Eis-me aqui, envia-me”.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN