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Preparando-nos para o fim

aureliano, 29.11.24

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1º Domingo do Advento [1º de dezembro de 2024]

[Lc 21,25-28.34-36]

Iniciamos o Ano Litúrgico da Igreja. Neste ano vamos caminhar com Lucas Evangelista. Esse evangelho se caracteriza pela alegria, pela presença das mulheres, pela revelação do rosto misericordioso do Pai, pela presença dos pobres. É o evangelho que mostra um Jesus orante: muitas vezes ele sobe a montanha ou foge para o deserto a fim de orar ao Pai. Os relatos da infância de Jesus lhe são também característicos. Lucas descreve os passos de Jesus perfazendo um longo Caminho cujo desfecho será Jerusalém. Ali ele entregará sua vida pela humanidade. E dali também enviará os discípulos em missão até os confins da terra.

O Ano Litúrgico tem início com o Advento. Esse tempo marca a celebração com uma liturgia que quer despertar o discípulo de Jesus para a espera confiante. É o tempo em que celebramos a vinda de Cristo na História e na Glória. Ele veio a primeira vez para nos libertar do pecado e da morte. Virá uma segunda vez para a manifestação definitiva do Reino de Deus: “Revestido da nossa fragilidade, ele veio a primeira vez para realizar seu eterno plano de amor e abrir-nos o caminho da salvação. Revestido de sua glória, ele virá uma segunda vez para conceder-nos em plenitude os bens prometidos que hoje, vigilantes, esperamos” (Prefácio da Missa).

O relato de hoje distingue dois momentos: o primeiro (Lc 21,25-28) fala do fim. O segundo (Lc 21,34-36) fala das atitudes que devemos cultivar em função do fim. É um relato de gênero literário apocalíptico. É bom termos diante dos olhos que esse modo de escrever do autor sagrado não tem como objetivo amedrontar, causar pânico, deixar o leitor em polvorosa. Apocalipse significa revelação. Como se algo estivesse oculto aos nossos olhos por causa de uma espécie de véu que nos cobre e impede de enxergar, devido às perseguições e dificuldades que levam ao desânimo. Esse véu é tirado e a gente começa a enxergar as coisas com um olhar de Deus. A revelação nos faz olhar para o mundo, para as pessoas numa perspectiva escatológica, de fim, das últimas coisas que irão acontecer conosco pela Palavra definitiva do Pai. Não se trata do fim de tudo, entendido como redução da criação ao nada. Mas no sentido de finalidade da vida: Deus nos criou com uma Finalidade, para um Fim: uma teleologia. E ele quer que nós vivamos de acordo com esse Fim. É a vida eterna, que já começa aqui: “A vida eterna é que eles te conheçam a ti, o único verdadeiro Deus, e àquele que enviaste, Jesus Cristo” (Jo 17,3).

Então, sem nos prendermos à ideia de catástrofes, de alarmismos, que só faz mal, vamos pensar um pouco em nossa vida, nesse Advento. Como estamos vivendo em vista do fim para o qual o Pai nos criou?

Prestemos um pouco mais de atenção nessas palavras de Jesus: “Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida”. Atentemos para o que torna o coração insensível: a gula, a embriaguez e as preocupações da vida! O nosso mundo é dominado por esse mal. A grande preocupação que invade nosso coração, geralmente, é se empanturrar de festa e comida, de gozar a vida (embriaguez/orgia) e ganhar dinheiro e poder a todo custo.  E, muitas vezes, há vidas e esperanças sacrificadas (idolatria)!

Quem é que está preocupado com a defesa dos direitos dos pobres e oprimidos? Quem reserva um tempo precioso para fazer uma visita a um doente ou idoso? A que nos estimulam as séries televisivas, as redes sociais? Quais são as principais preocupações e ações de nossos governantes e empresários? Investimos nossas forças, energias em vista de que mesmo? Qual o objetivo principal de nossa vida?

Papa Francisco, em sua homilia no dia 27/11/2019, a propósito de Apocalipse 14,14-19, ensinava a importância de pensarmos no fim. "Como será o meu fim? Como eu gostaria que o Senhor me encontrasse quando me chamar? É sábio pensar no fim, nos ajuda a seguir em frente, a fazer um exame de consciência sobre que coisas eu deveria corrigir e quais levar em frente porque são boas".

Ainda mais. “Tomai cuidado... aquele dia cairá como uma armadilha”. Jesus nos alerta à contínua vigilância. Esse “estar de pé” é garantia de um novo jeito de ser e de viver. É a atitude do guarda noturno que está sempre de atalaia para não ser surpreendido. Isso nos possibilita não sermos enganados nem nos acomodarmos.

“Orai a todo momento, a fim de terdes força”. Essa palavra de Jesus é um convite a repensar nossa fragilidade e dependência da força do Alto. A intimidade com o Senhor é que nos garante a salvação frente às forças do mal. O Pai é o nosso garante. Sem Ele o mal nos domina e nos destrói.

A propósito de uma vida vivida “em preparação”, deixo aqui mais uma palavra do Papa Francisco na mesma ocasião da citação anterior: “Nos fará bem nesta semana pensar no fim. Se o Senhor me chamasse hoje, o que eu faria? O que eu diria? Que trigo eu mostraria a ele? O pensamento do fim nos ajuda a seguir em frente; não é um pensamento estático: é um pensamento que avança porque é levado em frente pela virtude, pela esperança. Sim, haverá um fim, mas esse fim será um encontro: um encontro com o Senhor. É verdade, será uma prestação de contas daquilo que fiz, mas também será um encontro de misericórdia, de alegria, de felicidade. Pensar no fim, no final da criação, no fim da própria vida é sabedoria; os sábios fazem isso”.

Gostaria ainda de lembrar a palavra de Paulo para esse início do Advento: “Que assim ele confirme os vossos corações numa santidade sem defeito aos olhos de Deus, nosso Pai, no dia da vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, com todos os seus santos. (...) Fazei progressos ainda maiores! Conheceis, de fato, as instruções que temos dado em nome do Senhor Jesus” (1Ts3, 13. 4,1-2). Nossa vocação é para a santidade. Esta consiste em nos colocarmos diante de Deus em total dependência dEle e num esforço contínuo em viver as “instruções” que Jesus nos deixou.

Por vezes somos “instruídos” na família, na catequese inicial, e depois nos esquecemos de tudo o que aprendemos. Tomamos um caminho que entra na contramão de tudo o que Jesus, a Igreja e a família nos ensinaram. Confirma isso o fato de sermos, no Brasil, uma população com cerca de 90% de batizados, porém somos campeões mundiais na violência e na corrupção. Que esquizofrenia é essa? Isso nos leva a concluir que ser batizado não é o mesmo que ser cristão.

O batismo é um rito que infunde em nosso coração a Graça de Deus, a fé e nos introduz na comunidade cristã. Porém o processo de amadurecimento desta fé se dá pela vida afora. Vamos nos fazendo cristãos na medida que incorporamos o ensinamento de Jesus em nossa vida. O grande desejo de Jesus é que nos tornemos seus discípulos. Que façamos processo de conversão cotidiana. Que construamos um mundo de fraternidade e de paz para o bem de toda a humanidade.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

“Deveis viver para agradar a Deus”

aureliano, 30.11.18

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1º Domingo do Advento [02 de dezembro de 2018]

[Lc 21,25-28.34-36]

Estamos iniciando o Ano Litúrgico. O Advento marca este início com uma liturgia que desperta a espera confiante. É o tempo em que celebramos a vinda de Cristo na História e na Glória. Ele veio a primeira vez para nos libertar do pecado e da morte. Virá uma segunda vez para a manifestação definitiva do Reino de Deus: “Revestido da nossa fragilidade, ele veio a primeira vez para realizar seu eterno plano de amor e abrir-nos o caminho da salvação. Revestido de sua glória, ele virá uma segunda vez para conceder-nos em plenitude os bens prometidos que hoje, vigilantes, esperamos” (Prefácio da Missa).

Estamos refletindo, neste ano, o Evangelho de Lucas. Esse evangelho se caracteriza pela alegria, pela presença das mulheres, pela revelação do rosto misericordioso do Pai, pela presença dos pobres. É o evangelho que mostra um Jesus orante: muitas vezes ele sobe a montanha para orar ao Pai. Os relatos da infância de Jesus lhe são também característicos. Lucas descreve os passos de Jesus perfazendo um longo Caminho cujo desfecho será Jerusalém. Ali ele entregará sua vida pela humanidade. E dali também enviará os discípulos em missão até os confins da terra.

O relato de hoje distingue dois momentos: o primeiro (Lc 21,25-28) fala do fim. O segundo (Lc 21,34-36) fala das atitudes que devemos cultivar em função do fim. É um relato de gênero literário apocalíptico. É bom termos diante dos olhos que esse modo de escrever do autor sagrado não tem como objetivo amedrontar, causar pânico, deixar o leitor em polvorosa. Apocalipse significa revelação. Como se algo estivesse oculto aos nossos olhos por causa de uma espécie de véu que nos cobre e impede de enxergar, devido às perseguições e dificuldades que levam ao desânimo. Esse véu é tirado e a gente começa a enxergar as coisas com um olhar de Deus. A revelação nos faz olhar para o mundo, para as pessoas numa perspectiva escatológica, de fim, das últimas coisas que irão acontecer conosco pela Palavra definitiva do Pai. Não se trata do fim de tudo, entendido como redução da criação ao nada. Mas no sentido de finalidade da vida: Deus nos criou com uma Finalidade, para um Fim: uma teleologia. E ele quer que nós vivamos de acordo com esse Fim. É a vida eterna, que já começa aqui: “A vida eterna é que eles te conheçam a ti, o único verdadeiro Deus, e àquele que enviaste, Jesus Cristo” (Jo 17,3).

Então, sem nos prendermos à ideia de catástrofes, de alarmismos, que só faz mal, vamos pensar um pouco em nossa vida, nesse Advento. Como estamos vivendo em vista do fim para o qual o Pai nos criou?

Prestemos um pouco mais de atenção nessas palavras de Jesus: “Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida”. Atentemos para o que torna o coração insensível: a gula, a embriaguez e as preocupações da vida! O nosso mundo é dominado por esse mal. A grande preocupação que invade nosso coração, geralmente, é se empanturrar de festa e comida, de gozar a vida (embriaguez/orgia) e ganhar dinheiro a todo custo. Ainda que as vidas sejam sacrificadas (idolatria)!

Quem é que está preocupado com a defesa dos direitos dos pobres e oprimidos? Quem reserva um tempo precioso para fazer uma visita a um doente ou idoso? A que nos estimulam a televisão e a internet? Quais são as principais preocupações e ações de nossos governantes e empresários? Passamos a semana inteira, o mês todo preocupados com quê?

Papa Francisco, em sua homilia do último dia 27/11, a propósito de Apocalipse 14,14-19, ensinava a importância de pensarmos no fim. "Como será o meu fim? Como eu gostaria que o Senhor me encontrasse quando me chamar? É sábio pensar no fim, nos ajuda a seguir em frente, a fazer um exame de consciência sobre que coisas eu deveria corrigir e quais levar em frente porque são boas".

Ainda mais. “Tomai cuidado... aquele dia cairá como uma armadilha”. Jesus nos alerta à contínua vigilância. Esse “estar de pé” é garantia de um novo jeito de ser e de viver. É a atitude do guarda noturno que está sempre de atalaia para não ser surpreendido. Isso nos possibilita não sermos enganados nem nos acomodarmos.

“Orai a todo momento, a fim de terdes força”. Essa palavra de Jesus é um convite a repensar nossa fragilidade e dependência da força do Alto. A intimidade com o Senhor é que nos garante a salvação diante das forças do mal. O Pai é o nosso garante. Sem Ele o mal nos domina e nos devora.

A propósito de uma vivida “em preparação”, deixo aqui mais uma palavra do Papa Francisco na mesma ocasião da citação anterior: “Nos fará bem nesta semana pensar no fim. Se o Senhor me chamasse hoje, o que eu faria? O que eu diria? Que trigo eu mostraria a ele? O pensamento do fim nos ajuda a seguir em frente; não é um pensamento estático: é um pensamento que avança porque é levado em frente pela virtude, pela esperança. Sim, haverá um fim, mas esse fim será um encontro: um encontro com o Senhor. É verdade, será uma prestação de contas daquilo que fiz, mas também será um encontro de misericórdia, de alegria, de felicidade. Pensar no fim, no final da criação, no fim da própria vida é sabedoria; os sábios fazem isso”.

Gostaria ainda de lembrar a palavra de Paulo para esse início do Advento: “Que assim ele confirme os vossos corações numa santidade sem defeito aos olhos de Deus, nosso Pai, no dia da vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, com todos os seus santos. (...) Fazei progressos ainda maiores! Conheceis, de fato, as instruções que temos dado em nome do Senhor Jesus” (1Ts3, 13. 4,1-2). Nossa vocação é para a santidade. Esta consiste em nos colocarmos diante de Deus em total dependência dEle e num esforço contínuo em viver as “instruções” que Jesus nos deixou.

Por vezes somos “instruídos” na família, na catequese inicial e depois nos esquecemos de tudo o que aprendemos. Tomamos um caminho que entra na contramão de tudo o que Jesus, a Igreja e a família nos ensinaram. Confirma isso o fato de sermos uma população de cerca de 90% de cristãos (no Brasil), mas com um percentual de corrupção, de violência e de pobreza que nos faz campeões do mundo. Que esquizofrenia é essa?

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

Ninguém sabe o dia ou a hora... Só o Pai

aureliano, 16.11.18

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33º Domingo do Tempo Comum [18 de novembro 2018]

 [Mc 13,24-32]

Antes de comentarmos a mensagem do evangelho de hoje é preciso entender o contexto e gênero literário do relato. O evangelho de Marcos foi escrito por volta dos anos 70. Os judeus e os cristãos judaizantes estavam vivendo a tragédia da destruição de Jerusalém pelos romanos. Então Marcos escreve o evangelho, o primeiro a ser escrito, mencionando, numa linguagem própria, as tribulações por que passam os cristãos. Esta linguagem é o gênero literário apocalíptico. Uma forma própria de falar da presença de Deus em meio aos sofrimentos e tribulações. Não fala de tragédia, mas da presença salvadora de Deus em meio aos acontecimentos trágicos. Uma Boa Nova nos momentos difíceis da vida: “Então verão o Filho do Homem vindo...” “O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão”.

Outro elemento que precisa ser levado em conta nesta celebração é o de estarmos no final do Ano Litúrgico. A Igreja tem o costume de colocar textos que falam do fim, ou seja, textos escatológicos, nessa ocasião do ano, para ajudar os fiéis cristãos a olhar, com mais acuidade a própria vida, fazendo um exame de consciência. O fim do ano litúrgico nos lembra o fim/final da nossa existência terrena e o fim/finalidade de nossa vida.

Esclarecemos que o relato de hoje não quer dizer que o fim está próximo, como se tivesse data marcada, como algumas seitas e religiões pretendem propor. De jeito nenhum. Ninguém sabe quando será. O que importa é vigiar, viver de tal modo que nossa vida seja uma manifestação do juízo de Deus. Explico-me: nosso modo de viver deve denunciar o mal no mundo e propor um jeito novo de viver, uma nova Criação. Na verdade não se deve insistir em ‘fim de mundo’, mas na necessidade de criarmos um mundo novo ao nosso redor, onde as pessoas tenham paz, alegria; saibam se respeitar e conviver; tenham um espírito solidário; saibam partilhar o pão com generosidade e alegria.

A parábola da figueira quer nos ajudar a abrir os olhos da fé para enxergarmos mais longe: os sinais dos tempos. Deus continua falando nos acontecimentos à nossa volta. Ninguém precisa correr atrás de ‘revelação’ em sonhos, em momentos orantes, como quando alguém diz de repente: “Tive uma ‘revelação’: o Senhor me mostrou que você está com um encosto (ou alguma doença ou como queiram) na sua vida”. Isso é mentira, desejo de enganar, dominar e manipular os incautos. Ninguém precisa fechar os olhos para ter uma ‘revelação’. Pelo contrário, é preciso estar com os olhos cada vez mais abertos e atentos ao que acontece: “Aprendei, pois, da figueira...”. Então assumiremos a postura de cristãos que denunciam o mal e anunciam o bem.

Uma vez que a liturgia de hoje nos move a trabalhar na construção de “um novo céu e uma nova terra”, uma recriação do mundo, seria bom pensarmos um pouco no modo como lidamos com o meio ambiente, como exploramos os recursos da natureza. Os avanços da ciência e da técnica foram muito benéficos. Se por um lado trouxeram progresso, bem-estar, facilidades, conforto, por outro, desencadearam uma corrida frenética pelo lucro desmedido que destrói e arrasa a vida no planeta (p. ex.: o rompimento da barragem de dejetos de minério em Bento Rodrigues, Mariana/MG. Ou mesmo a proposta dos executivos liberais eleitos em eliminar as secretarias e ministérios que cuidam do meio ambiente). O que estamos fazendo, concretamente, para defender a vida, o meio ambiente, a saúde pública, os rios e as matas, a humanidade e os animais? Que destinação damos ao nosso lixo? Como utilizamos a água? Que cuidado temos tido com o uso da energia elétrica? Não é atitude cristã diminuir o gasto somente por economia financeira. É preciso economizar por solidariedade com as pessoas e com a Criação. A crise hídrica pode nos ajudar a repensar muitos hábitos em relação ao uso da água e do meio ambiente.

O mundo não é um mero objeto de exploração humana. Nem o ser humano é algo jogado e abandonado no universo. Do ponto de vista da fé, há uma teleologia na Criação. Há uma harmonia no universo criado por Deus. O ser humano criado à imagem e semelhança do Criador, está aí para glorificar o Pai e servir aos irmãos. Um dia chegará seu fim. Um dia terá que morrer. Mas a morte é vivida como um mistério, e não como um absurdo. Ela encontra sua resposta na morte-ressurreição de Jesus, o Filho amado do Pai. Então o Filho de Deus torna-se o salvador e o protótipo de vida para o ser humano.

Retomemos os valores que contam: ainda que eu não tenha dinheiro para abastecer o meu carro, não estou isento de visitar meu irmão que sofre e precisa de mim. Ainda que eu me sinta ameaçado no meu cargo que me proporciona um bom salário, não estou dispensado de ser justo, honesto, verdadeiro. Ainda que não seja um farol, o cristão deve ser uma pequena luz, que mantém viva a esperança nesse mundo marcado pelas trevas da maldade. No dizer do autor da Carta a Diogneto (século II): “Numa palavra, o que a alma é no corpo, isso são os cristãos no mundo. A alma está em todos os membros do corpo e os cristãos em todas as cidades do mundo. A alma habita no corpo, não é, contudo, do corpo; também os cristãos, se habitam no mundo, não são do mundo. A alma invisível vela no corpo visível; também os cristãos sabe-se que estão neste mundo, mas a sua religião permanece invisível”.

* Dia mundial dos pobres

“Este pobre homem gritou a Deus e foi ouvido”. Com esse versículo do Salmo 34,7, o Papa Francisco propõe o Segundo Dia Mundial dos Pobres. Segundo Francisco, é “uma iniciativa de evangelização, oração e partilha”. O santo Padre quer, com essa iniciativa, incentivar “uma crescente atenção às necessidades dos últimos, dos marginalizados e dos famintos”.

Seria bom que cada fiel, cada família, cada comunidade realizassem um gesto concreto de cuidado e partilha para com os mais pobres. Há pobres de dinheiro, pobres de espírito, pobres de saúde, pobres de sentimento, pobres enlutados, pobres desamparados, pobres explorados. Pobres que sofrem o abandono, o preconceito, o desrespeito. Pobres que são xingados, humilhados, usados, desesperançados... Você conhece algum pobre? É amigo/próximo de algum? Partilha seu tempo, suas coisas, seus dons, sua vida com ele? Coloca-se à disposição para ajudá-lo nas dores dele?

A celebração do Dia Mundial dos Pobres e a extinção do Programa Mais Médicos (Médicos Cubanos), dá o que pensar! Quem não tem plano de saúde, quem não é sustentado pelos cofres públicos, quem depende do SUS, quem sobrevivia às suas enfermidades e prevenções de doenças beneficiados pelos Médicos Cubanos, certamente irá experimentar dor ainda maior. Vamos rezar e pensar nessa dura realidade!

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN