Eucaristia: partilhar o pão, tornar-se pão
18º Domingo do Tempo Comum [04 de agosto de 2024]
[Jo 6,24-35]
Uma pergunta intrigante: Por que continua o interesse pela pessoa de Jesus mesmo depois de dois mil anos de sua vida em Nazaré? Por que seus ensinamentos continuam mexendo com os corações e as mentes de tanta gente?
Aproximando-nos do evangelho deste domingo (Jo 6, 24-35), quando Jesus, depois de alimentar uma multidão faminta, lhe diz: “Esforçai-vos pelo alimento que não se perde”, notamos aí que o pão material não preenche o vazio do coração humano. Este busca algo maior, mais consistente, permanente, que ultrapasse a fome de apenas consumir, de satisfação físico-psíquica.
Em primeiro lugar deve vir o pão material, é claro. Não é possível evangelizar alguém que passa fome, pois o primeiro sinal do evangelho é a promoção da vida: “Eu vim para que todos tenham vida” (Jo 10,10). Dom Avelar Brandão Vilela, ex-arcebispo de Teresina tinha como lema: “Humanizar e Evangelizar”. Assim resume Pe. Tony Batista, da Arquidiocese de Teresina: “Trazendo consigo o lema ‘humanizar e evangelizar’, Dom Avelar acreditava que ninguém pode fazer uma adesão a Jesus Cristo, compreender sua Palavra, se vive na miséria, no abandono e na fome. Por isso, chegando a Teresina, ele se colocou como o pastor dos pobres, e criou a ASA como um instrumento de promoção da pessoa humana para estar sempre ao lado dos mais abandonados da sociedade, não dando esmolas, mas através de ações concretas para que todos tivessem vida, e vida em abundância”(https://arquidiocesedeteresina.org.br/2021/06/15/).
Quando Jesus multiplica os pães e os peixes para alimentar a multidão pretende mover as pessoas a realizar a partilha daquilo que elas mesmas já têm: cinco pães e dois peixes. Nas mãos de um só, alimentava o individualismo humano. Nas mãos de Jesus, depois de dar graças, alimenta uma multidão. Tudo que é partilhado se multiplica. Tudo que é acumulado estraga e míngua (a vida própria e dos outros).
A resposta de Jesus a um povo que o procura por causa dos milagres, pode parecer, à primeira vista, um tanto dura e, até mesmo, sinal de desprezo pelos que saciara no dia anterior. Mas não se trata nem de menosprezo nem de indelicadeza nem de dureza. Jesus quis mostrar que o sinal realizado deveria servir de lição para os líderes do povo. Estes são os primeiros responsáveis por promover entre o povo a partilha e a solidariedade. Confiar em ‘salvador da pátria’ ou ‘herói nacional’ sempre foi desastroso. A História mostra isto. O líder deve ajudar o grupo a desenvolver suas próprias capacidades e seus próprios dons para que não falte a ninguém as condições necessárias à vida.
Porém, Jesus quer ajudar ainda o grupo a sair de uma dimensão materialista e mesquinha da vida. O relato mostra que o povo tem sede de algo mais. E que, além disso, não sabe caminhar sozinho. E pode, por conseguinte, entrar numa relação de dependência e comodismo. Por isso Jesus recomenda realizar as obras de Deus que é “crer naquele que ele enviou”. E crer significa comprometer-se, acolher na esperança, investir todas as forças e energias na proposta do Reino que Jesus veio revelar, aderir à sua Pessoa. Significa assumir na própria vida as atitudes de Jesus. Ainda mais: fé cristã não é aderir ou cumprir uma série de regras e normas eclesiásticas e divinas. Fé cristã é a busca permanente, cotidiana de conformar a própria vida com a vida de Jesus. É decidir assumir na própria vida as atitudes de Jesus: acolhida, perdão, compreensão, respeito, partilha, entrega.
Jesus percebe nossa fome e quer saciar-nos. Sabe que temos fome de justiça, de paz, de fraternidade, de perdão, de sentido de vida, de verdade. Jesus se apresenta como “o pão da vida”, aquele que alimenta, que “dá vida ao mundo”. É esse alimento que nos dá alento no sofrimento, nas tribulações, nas angústias, na hora da morte. É o pão que perdura para a vida eterna. Quem come deste pão, a vida de Jesus, nunca mais terá fome ou sede.
É por isso que a vida e a pessoa de Jesus, não obstante dois mil anos passados, continuam atraindo e provocando as pessoas. Ele é o pão verdadeiro. Há muitos alimentos por aí com aparência de ‘pão’, mas envenenados. Quanto mais a pessoa os consome, mais fome tem, mais vazia fica. Somente Jesus preenche o vazio do coração humano. Por isso aquela gente grita: “Senhor, dá-nos sempre deste pão”.
Com aquela multidão queremos também pedir ao Senhor que desperte em nós a preocupação com os que passam fome de pão e de paz, de alegria e de harmonia, de justiça e de fraternidade. Não pensemos apenas no nosso pão, na nossa mesa, na nossa casa, mas também nos que precisam de nossa colaboração para conseguir o pão. Esse é o sentido da Eucaristia que semanalmente celebramos: uma vez eucaristizados, nos tornamos eucaristia para os outros: pão tomado por Deus, partido e entregue para o povo: “Fazei isto em memória de mim”.
*Neste primeiro domingo de agosto celebramos o Dia do Padre. É oportunidade de agradecermos a Deus pelos padres que passaram por nossa vida, nos ajudaram, nos ministraram os sacramentos. Alguns já partiram desta vida. Outros continuam no meio de nós. É dia também de rezarmos e refletirmos sobre as vocações sacerdotais. O que você tem feito pelas vocações? Você ajuda, reza, apoia os vocacionados? Você ajuda a nós padres a sermos mais pastores, mais próximos, mais dedicados, mais humanos? Não trate o padre como ‘coitadinho’, não! Ele escolheu essa vocação atendendo ao chamado de Deus e da Igreja. Colocou-se livremente a serviço do evangelho. Precisa ser ajudado a viver com fidelidade e dedicação. E você, cristão leigo, deve ajudá-lo a ser um verdadeiro colaborador e servidor das comunidades, rezando por ele, fazendo a correção fraterna quando necessário, sendo colaborativo nos serviços e ministérios da comunidade! Ajude-nos a ser mais pastores, mais misericordiosos, mais generosos, mais paternais. Ajude-nos a ser homens de Deus, santos.
Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN