“Não podeis servir a Deus e ao dinheiro”
25º Domingo do Tempo Comum [18 de setembro de 2016]
[Lc 16, 1-13]
No evangelho do último domingo (Lc 15, 11-32), vimos como aqueles dois filhos tinham perspectivas diferentes na administração dos bens. O filho mais novo pegou sua herança, antes de o pai morrer, e ‘queimou’ tudo. O filho mais velho não teve coragem de pedir um ‘cabrito’ para comer com seus amigos. Só trabalhava. O pai da parábola mostra que o ser humano está acima de qualquer valor monetário. O que importa mesmo é construir relações de perdão, de partilha, de fraternidade para que a vida possa brotar com mais exuberância.
No evangelho de hoje, Jesus conta a parábola do administrador infiel. É preciso notar que ele estava ‘dissipando os bens’ do patrão. Por isso ele foi demitido. Aquele fato de baixar a conta dos devedores está ligado ao costume daquele tempo de se permitir aos administradores emprestarem os bens do patrão e ganhar uma comissão com isso. Esse administrador do evangelho estava abrindo mão desse benefício com vistas a ser recebido nas casas daqueles beneficiados. Por isso foi elogiado pelo patrão.
O que interessa no texto de hoje é a má administração dos bens. Aquele administrador estava botando a perder os bens que o patrão possuía.
Tudo o que temos e somos são dons de Deus que devem ser administrados de acordo com o projeto do Pai. E a primeira tarefa é nos considerarmos administradores e não donos. Os bens não são nossos. Os filhos não são nossos. Os dons não são nossos. Tudo é do Pai! A consagração batismal nos remete a essa realidade: tudo que somos e temos foi consagrado ao Pai.
Tendemos a viver em função do ter e do poder. Pensamos valer pelo que temos. Há pessoas que buscam acumular cada vez mais dinheiro, vivendo, por vezes, uma vida miserável. Outros gastam demais. Gastam o que não têm. Vivem endividadas porque sentem necessidade de comprar e de exibir uma realidade que não são.
Em relação aos bens públicos então, é uma lástima! Há pessoas que não sentem nenhum escrúpulo em esbanjar as coisas públicas: combustível, veículos, energia, água, telefone etc. Desperdiçam, ‘deitam e rolam’ em cima do erário público sem nenhum constrangimento. É um absurdo os gastos desnecessários nos órgãos públicos! Como se desperdiça, como se gasta, como se desvia o dinheiro público!
E quando se trata de funcionalismo público então?! Resguardadas as honrosas exceções, há funcionários que não trabalham! Passam o tempo todo batendo papo, falando mal dos outros, articulando meios de tirar proveito de situação etc. Uma tristeza! O relato do evangelho de hoje quer lembrar a todos que o salário deve ser justo, mas também ganho com honestidade.
Jesus nos ensina a pensar e a viver de modo mais solidário a administração dos bens públicos e privados. Eles devem ser colocados a serviço de todos. Eles são para todos. Inclusive para aqueles que virão depois de nós!
Ao invés de abraçarmos a lógica da desonestidade, da mentira, da hipocrisia, deveríamos hoje nos perguntar: como estamos administrando os recursos que Deus nos deu? Como lidamos com os bens públicos que não são ‘nossos’, mas de todos? Quem ocupa mesmo o centro de minha vida, que orienta minha história e decisões: o Deus de Jesus ou Dinheiro iníquo?
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CUIDADO COM O DINHEIRO!
Alguém me abordou, nestes dias, pedindo uma explicação para a seguinte passagem do evangelho: “Usai o dinheiro injusto para fazer amigos, pois, quando acabar, eles vos receberão nas moradas eternas” (Lc 16,9). O que significa “dinheiro injusto”? É, de fato, um texto que impõe uma reflexão maior.
No tempo de Jesus, os pobres que moravam nas cidades usavam moedas para compra e venda, mas de estanho e de cobre. Com Herodes, começaram a circular moedas de ouro e prata. Portanto tinham um valor maior. Davam mais segurança. Daí que, para entender o que o texto quer dizer, é preciso ir à raiz da palavra que foi traduzida como “dinheiro”. O termo usado no tempo de Jesus era mammona. Vem da raiz aman que significa, em aramaico, confiar, apoiar-se. Era algo em que o indivíduo colocava sua confiança.
Enfim, o que Jesus quis dizer com “dinheiro injusto”? Parece que Jesus não conheceu “dinheiro limpo”. Podemos concluir que Jesus considerava sempre o dinheiro como algo injusto. As relações comerciais de seu tempo eram profundamente injustas, sobretudo a partir do Império Romano. Então o “dinheiro” se tornara um ídolo, ocupando o lugar de Deus. Quanto mais moedas de ouro e prata tanto mais rico e autossuficiente. Jesus então oferece uma saída: “fazer amigos com o dinheiro injusto”. Ou seja, empenhar-se sempre na partilha, no não-acúmulo para não cair na idolatria. Se o dinheiro era “sujo”, recomenda “lavá-lo” na distribuição e cuidado com os pobres. O dinheiro é fonte de intriga e divisão. É preciso, pois, trabalhar para que favoreça a amizade e a comunhão, a igualdade e a fraternidade.
Vale deixar aqui a palavra de São Basílio, a respeito do uso do acúmulo e riqueza: “Não és acaso um ladrão, tu que te apossas das riquezas cuja gestão recebeste?... Ao faminto pertence o pão que conservas; ao homem nu, o manto que manténs guardado; ao descalço, os sapatos que estão se estragando em tua casa; ao necessitado, o dinheiro que escondeste. Cometes assim tantas injustiças quantos são aqueles a quem poderias dar”.
E o que dizer da “teologia da prosperidade” que assola nosso povo religioso? – Aquele “assalto” para vender ou comprar bênçãos e milagres! Uma verdadeira afronta ao evangelho! Um pecado que “brada aos céus e pede a Deus vingança”! Pergunto, de novo: qual é a origem e qual é a destinação do dinheiro que entra no meu bolso? (cf. Amós 8,4-7).
Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN