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aurelius

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Vida cristã: ser configurado a Cristo

aureliano, 04.08.23

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Transfiguração do Senhor [06 de agosto de 2023]

[Mt 17,1-9]

A festa da Transfiguração do Senhor já era celebrada no Oriente no século IX. Foi estendida ao Ocidente no século XV pelo Papa Calisto II, em memória da vitória dos cristãos contra as forças otomanas, no cerco de Belgrado, em 1456.

O relato da transfiguração é apresentado logo após o anúncio da paixão, seguido da ‘repreensão’ que Pedro fizera a Jesus (cf. Mt 16,22-23), pois ele esperava um Messias poderoso para libertá-los das mãos dos romanos. Por isso entendemos que nesse relato estão entrelaçados dois aspectos paradoxais: sofrimento e glória. Lucas o confirma ao relatar que a conversa entre Moisés, Elias e Jesus versava sobre “sua partida que iria se consumar em Jerusalém” (Lc 9, 31). A glória ilumina a cruz. A perspectiva da Glória nos ajuda a dar sentido às dificuldades e cruzes da vida. É um apelo aos discípulos a reconhecerem a verdadeira identidade de Jesus, o Filho amado do Pai, ao mesmo tempo que evidencia o crime hediondo daqueles que tramam sua morte.

Quando vemos, nesse relato, sofrimento e glória articulados, não devemos interpretar como sendo o sofrimento o preço da glória; como se Deus barganhasse conosco. Não. A cruz ou sofrimento é consequência da fidelidade ao projeto do Pai. Faz parte da vida do discípulo de Jesus que busca viver um estilo de vida que se opõe à proposta mundana que conduz e gera a morte. “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e me siga” (Mt 16, 24). Como o Pai glorificou e confirmou seu Filho, ele fará o mesmo com aqueles que buscarem configurar sua vida com a vida de Jesus. No ser humano de Jesus toda a humanidade foi transfigurada, glorificada.

Moisés e Elias: este, representante dos profetas e aquele, representante da Lei. Ambos se encontraram com Deus na montanha. O episódio da transfiguração mostra Jesus, o Filho amado do Pai, que realiza e sintetiza em sua própria vida a Lei e os Profetas. Agora é Ele que deve ser ouvido.

A voz do Pai deve continuar ressoando em nossa vida: “Este é o meu Filho bem-amado, aquele que me aprouve escolher. Ouvi-o”. Essas palavras nos remetem ao relato do batismo de Jesus: “Este é meu Filho bem-amado, aquele que me aprouve escolher” (Mt 3, 17). Consequentemente, nos levam ao nosso batismo pelo qual nos foi dada a vida nova em Jesus Cristo.

Escutar a voz do Filho, revelador do amor do Pai, deve ser a meta de todo cristão. Abraão ouviu, acreditou e “partiu” (cf. Gn 12, 1-4). Por isso se tornou a grande bênção para a sua posteridade. O cristão batizado, ouvindo a voz do Filho, confirmado pelo pedido de sua mãe: “Fazei tudo o que ele vos disser” (Jo 2, 5), será sempre uma bênção para sua família e comunidade. Não se esqueça, porém, que é uma realidade que demanda a cruz. O que conforta e anima é a perspectiva da ressurreição, da vida nova, da serenidade, da alegria verdadeira que “ninguém poderá tirar” (Jo 16,22).

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O MEDO DE ESCUTAR JESUS

“Ao ouvirem isso, os discípulos caíram de rosto em terra tomados de grande medo” (Mt 17,6). Os discípulos não suportaram ouvir aquela voz que confirmava a vida de Jesus. E não suportaram também a ordem: “Escutai o que ele diz”. Parece que os discípulos ainda não queriam ouvir a Jesus. Preferiam continuar ouvindo outras vozes.

Quão frequente é a tentação da recusa em ouvir a voz do Senhor que clama dentro de nós, em nossa consciência e nos fala pelas nossas comunidades e sinais dos tempos! Por isso a Igreja reza com o salmista: “Hoje, não fecheis o vosso coração, mas ouvi a voz do Senhor” (Sl 95). Preferimos, muitas vezes, permanecer na ignorância, na mesmice, no “deixa pra lá”. Não é tarefa fácil prestar ouvido ao apelo à conversão, à mudança de vida, pois pede desacomodo.

É preciso deixar-se tocar pelo Senhor: “Jesus aproximou-se, tocou neles e disse: ‘Levantai-vos! Não tenhais medo’” (Mt 17,7). É o toque do Senhor que nos acorda, que nos faz perceber e ver a história com outros olhos. Deixar-se tocar pelo Senhor é desenvolver a capacidade de ouvir as pessoas, de olhar o mundo com um olhar de Deus; de debruçar-se todos os dias sobre a Palavra de Deus e orientar a própria vida por ela. É deixar que o projeto do Pai ilumine nossos próprios projetos. É lançar-se com mais confiança nas mãos do Pai, sabendo que Ele cuida de todos nós.

O Servo de Deus, Pe. Júlio Maria De Lombaerde, fundador de nossa Congregação, comentando este evangelho, falava da importância de se retirar para ouvir o Senhor. Jesus – observava ele – conduziu os discípulos à parte sobre uma alta montanha. Significa que é preciso deixar de lado as distrações e preocupações mundanas para estar com o Senhor e ouvi-lo. “Enquanto uma alma está entregue às preocupações das noticias, aos devaneios, ao tumulto dos vãos pensamentos, fica escravizada pela imaginação e pelas distrações, e Deus não é para ela senão o Deus desconhecido de Atenas (At 17,23)”. E continua: “O homem distraído não se conhece a si mesmo, não vê o que deve reformar em si, não descobre razões de melhorar, de praticar a virtude. Toda a sua vida decorre no esquecimento de Deus e na ignorância dos próprios defeitos. (...) O homem espiritual, porém quer elevar-se da terra, aproximar-se de Jesus transfigurado, transfigurar-se com Ele pela prática da virtude” (Comentário Litúrgico, p. 164-165).

Sobe, pois, a montanha! Escuta o Mestre! Deixa-te tocar por ele! Põe-te de pé e segue a Jesus! Não tenhas medo de ouvi-lo e de segui-lo! O movimento é sempre este: subida e descida: subir a Montanha para estar com ele. Descer a Montanha para estar com os outros de modo novo, iluminado, transfigurado, encantado, fortalecido.

*Lembramos hoje a vocação ao ministério ordenado: diácono, padre e bispo. Seria bom fazermos, hoje, uma prece pelo nosso pároco, pelos padres que conhecemos, por aqueles que nos marcaram na fé, por aqueles padres que passam por dificuldades, tribulações, desencanto e enfermidades, por aqueles que vivem em situação de risco, de violência, de miséria. E vamos pedir ao Pai que envie padres profetas e santos para sua Igreja. Sacerdotes configurados a Cristo-Servo.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

“Escutai o que Ele diz”

aureliano, 10.03.17

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2º Domingo da Quaresma [12 de março de 2017]

[Mt 17,1-9]

O relato da transfiguração é apresentado logo após o anúncio da paixão, seguido da repreensão de Pedro que esperava um messias poderoso para libertá-los das mãos dos romanos. Por isso dizemos que nesse relato estão entrelaçados dois aspectos paradoxais: sofrimento e glória. Lucas o confirma ao relatar que a conversa entre Moisés, Elias e Jesus versava sobre “sua partida que iria se consumar em Jerusalém” (Lc 9, 31).

O que esse relato nos quer transmitir? É um apelo aos discípulos a reconhecerem a verdadeira identidade de Jesus, o Filho amado do Pai, ao mesmo tempo que evidencia o crime hediondo daqueles que tramam sua morte.

Moisés e Elias: este, representante dos profetas e aquele, da Lei. Ambos encontraram-se com Deus na montanha. O episódio da transfiguração mostra Jesus, o Filho amado do Pai, que realiza e sintetiza em sua própria vida a Lei e os Profetas. Agora é Ele que deve ser ouvido.

Quando vemos, nesse relato, sofrimento e glória articulados, não devemos interpretar que o sofrimento é o preço da glória; como se Deus barganhasse conosco. Não. A cruz ou sofrimento é consequência da fidelidade ao projeto do Pai. Faz parte da vida do discípulo de Jesus que busca viver um estilo de vida que se opõe à proposta mundana de morte. “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e me siga” (Mt 16, 24). Como o Pai glorificou e confirmou seu Filho, ele fará o mesmo com aqueles que buscarem conformar sua vida com a vida de Jesus. No ser humano de Jesus toda a humanidade foi glorificada.

A voz do Pai deve continuar ressoando em nossa vida: “Este é o meu Filho amado em quem me comprazo, ouvi-o”. Essas palavras nos remetem ao relato do batismo de Jesus: “Este é meu Filho amado em quem me comprazo” (Mt 3, 17). Consequentemente nos levam ao nosso batismo, vida nova em Jesus Cristo. E a quaresma sempre foi, na Igreja, desde os primórdios, tempo de preparação para o batismo (para os catecúmenos), e de retomada dos compromissos batismais para fiéis cristãos.

Escutar a voz do Filho, revelador do amor do Pai, deve ser a meta de todo cristão. Abraão ouviu, acreditou e “partiu” (cf. Gn 12, 1-4). Por isso se tornou a grande bênção para a sua posteridade. O cristão batizado, ouvindo a voz do Filho, confirmado pelo pedido de sua mãe: “Fazei tudo o que ele vos disser” (Jo 2, 5), será sempre uma bênção para sua família e comunidade. Não se esqueça, porém que é uma realidade que demanda a cruz. O que conforta é a perspectiva da ressurreição, da vida nova, da serenidade, da alegria verdadeira que “ninguém poderá tirar” (Jo 16,22).

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O MEDO DE ESCUTAR JESUS

“Ao ouvirem isso, os discípulos caíram de rosto em terra tomados de grande medo” (Mt 17,6). Os discípulos não suportaram ouvir aquela voz que confirmava a vida de Jesus. E não suportaram também a ordem: “Escutai o que ele diz”. Parece que os discípulos ainda não queriam ouvir a Jesus. Preferiam continuar ouvindo outras vozes.

Quão freqüente é a tentação da recusa de ouvir a voz do Senhor tanto em nós e em nossas comunidades! Por isso a Igreja reza com o salmista: “Hoje, não fecheis o vosso coração, mas ouvi a voz do Senhor” (Sl 95). Preferimos, muitas vezes, permanecer na ignorância, na mesmice. Preferimos, muitas vezes, a recusa em ouvir os clamores dos pobres, a opinião de quem pensa diferente, o chamado à conversão.

Então é preciso deixar-se tocar pelo Senhor: “Jesus aproximou-se, tocou neles e disse: ‘Levantai-vos! Não tenhais medo’” (Mt 17,7). É o toque do Senhor que nos acorda, que nos faz perceber e ver a história com outros olhos. Deixar-se tocar pelo Senhor é desenvolver a capacidade de ouvir as pessoas, de olhar o mundo com um olhar de Deus; de debruçar-se todos os dias sobre a Palavra de Deus e orientar a própria vida por ela. É deixar que o projeto do Pai ilumine os próprios projetos. É lançar-se com mais confiança nas mãos do Pai, sabendo que Ele cuida de todos nós.

O Servo de Deus, Pe. Júlio Maria De Lombaerde, comentando este evangelho, falava da importância de se retirar para ouvir o Senhor. Jesus – observava ele – conduziu os discípulos à parte sobre uma alta montanha. Significa que é preciso deixar de lado as distrações e preocupações mundanas para estar com o Senhor e ouvi-lo. “Enquanto uma alma está entregue às preocupações das noticias, aos devaneios, ao tumulto dos vãos pensamentos, fica escravizada pela imaginação e pelas distrações, e Deus não é para ela senão o Deus desconhecido de Atenas (At 17,23)”. E continua: “O homem distraído não se conhece a si mesmo, não vê o que deve reformar em si, não descobre razões de melhorar, de praticar a virtude. Toda a sua vida decorre no esquecimento de Deus e na ignorância dos próprios defeitos. (...) O homem espiritual, porém quer elevar-se da terra, aproximar-se de Jesus transfigurado, transfigurar-se com Ele pela prática da virtude” (Comentário Litúrgico, p. 164-165).

Sobe, pois, a montanha! Escuta o Mestre! Deixa-te tocar por ele! Põe-te de pé e segue a Jesus! Não tenhas medo de ouvi-lo e de segui-lo! O movimento é sempre este: subida e descida: subir a Montanha para estar com ele. Descer a Montanha para estar com os outros de modo novo, iluminado, transfigurado, encantado, fortalecido.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN