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aurelius

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A oração que transforma

aureliano, 26.06.21

13º Domingo do TC - B - 27 de junho.jpg

13º Domingo do Tempo Comum [27 de junho de 2021]

   [Mc 5,21-43]

Continuando a leitura do evangelho de Marcos, Jesus mostra as consequências de uma fé verdadeira. O relato traz dois acontecimentos que mostram a bondade de Jesus e a atitude confiante de duas pessoas que dele se aproximam.

Aquela mulher não tem nome, como Jairo. Aproxima-se timidamente, receosa de ser enxotada ou recriminada, mas enfrenta-se a si mesma e a multidão. Não toca no Mestre, pois a Lei proibia o contato físico para quem sofria daquele tipo de enfermidade. Mas toca na roupa, por detrás. Não ousa colocar-se diante do Mestre. Não sente necessidade disso, tamanha sua confiança

Jesus não se faz de desentendido. Sente que alguém o tocou. É sensível aos pequenos e sofredores. Veio, preferivelmente, para estes. Os discípulos, porém não entenderam nada: “Estás vendo que a multidão te comprime e ainda perguntas: ‘Quem me tocou?’”. Jesus percebe a força que dele saiu em favor daquela mulher. Sua vinda ao mundo foi para dispensar sua ‘força’, suas energias em favor dos doentes, pobres e pecadores.

Este relato nos faz pensar naquelas pessoas de nossas comunidades que são discriminadas por causa de sua condição de raça, por ser pobre ou outra situação de vida. Talvez mais do que pensar nas pessoas, nos leva a pensar nas nossas atitudes de discriminação e desprezo para com aqueles que vem buscar uma palavra de conforto, um apoio necessário, um gesto de acolhida. Ainda mais: há muitas pessoas que sofrem terrivelmente na alma por causa de escrúpulos e condenações recebidas por parte de líderes religiosos que as jogam num inferno de dúvidas, angústias e desilusões.

O gesto acolhedor de Jesus aliado à prece humilde e confiante daquela anônima mulher sofredora, arrancou do coração de Deus o conforto para aquela alma sofredora. Uma comunidade que busca assumir a atitude de Jesus, acolhendo os pequenos e sofredores, certamente fará sair aquela ‘força’ divina que restaura e reanima os sofredores, restaurando-lhes a dignidade e a alegria de viver. Sem esses gestos, a comunidade perde totalmente seu sentido.

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A ORAÇÃO DE JAIRO

Outro relato significativo no texto de hoje é a cura da filha de Jairo. Este já tem nome, fala diretamente com Jesus, diferentemente da mulher anônima e que não fala com Jesus: somente o ‘toca’.

É interessante tecer algumas considerações em torno da oração. A primeira pergunta pode ser: a quem a gente reza? E outra pergunta: para que a gente reza? Os ‘Mestres da suspeita’ do século passado diziam que quando o homem se ajoelha em oração, ele se ajoelha diante de si mesmo. A oração seria uma espécie de busca de si mesmo diante da impotência frente ao mal ou à angústia da vida. Uma fuga, um ‘ópio’.

Se considerarmos atentamente o que esses homens considerados ateus diziam a respeito do cristão, encontramos aí alguma verdade. Muitas vezes a oração pode ser ateia ou idolátrica. Parece uma afirmação contraditória. Mas, se nossa oração visar ao nosso interesse próprio, à busca de nós mesmos, certamente é oração ateia, isto é, sem o Deus de Jesus; ou uma idolatria, quando criamos um deus à nossa imagem e semelhança. É como se a gente vivesse uma ilusão.

Segundo o evangelho de hoje, alguns da sinagoga queriam levar Jairo a desistir: “Tua filha morreu. Por que ainda incomodas o mestre?” Mas a palavra de Jesus foi reconfortante: “Não tenhas medo. Basta ter fé!”. Jairo não buscava a si mesmo. Ele se preocupava com a vida de sua filhinha, ainda menina. Firma-se confiante na palavra de Jesus. Este ‘levanta’ (ressuscita) aquela que estava morta.

Em ambos os episódios do evangelho deste domingo notamos o despertar da fé confiante na palavra e na pessoa de Jesus. A mulher hemorroíssa e a menina ‘adormecida’ recebem de Jesus a vida nova, o ‘toque’ proibido pela Lei e censurado pelos circunstantes, que lhes introduz numa relação, não mais de exclusão, de preconceito, de censura, mas de plena integração na comunidade que ele inicia com seus discípulos. Uma nova forma de relacionar-se com Deus na oração, traz uma nova forma de viver e de se relacionar com os irmãos.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN