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Deus veio até nós por Maria, a Serva

aureliano, 21.12.23

4º Domingo do Advento - B - 20 de dezembro.jpg

4º Domingo do Advento [24 de dezembro de 2023]

[Lc 1, 26-38]

O Natal está às portas. O evangelho de hoje traz o cumprimento de todos os sinais que anunciavam a vinda do Salvador. A promessa feita a Davi (2Sm 7), realiza-se no filho de Maria. Maria não era descendente de Davi. Era uma jovem, como tantas outras, na cidade pacata e periférica de Nazaré que, como a ascendência de Maria, o Primeiro Testamento jamais mencionou.

É José que garante a realização das Escrituras, dando descendência davídica ao filho de Maria, garantindo assim juridicamente a Jesus o título de ‘Filho de Davi’.

É interessante notar alguns aspectos deste evangelho:

“No sexto mês”: Aqui somos remetidos ao “sexto dia” da criação, quando Deus fez o homem. O texto quer dizer que, em Jesus, há uma nova criação, uma nova humanidade. Deus quer contar com pessoas renovadas, livres do pecado que desfigura o ser humano. A Encarnação do Filho de Deus nos dá um novo modo de existir.

“Uma cidade da Galiléia chamada Nazaré”: Deus está invertendo a ordem da realidade religiosa e social daquele tempo. Da Judéia, onde estava o Templo, para a Galiléia, região periférica em relação ao poder e à religião. Nazaré era uma cidadezinha cujo nome nem aparece no Primeiro Testamento. Mas é aí, de onde não se esperava nada de bom (cf. Jo 1,46), no anonimato, que Jesus passa boa parte de sua vida.

“Uma jovem”: Mulher sem ascendência renomada, do comum do povo. Escolhida para ser a mãe de Jesus. O que importa aqui é que a graça de Deus está nela: “Alegra-te, ó cheia de graça, o Senhor está contigo”. Torna-se mãe do Filho de Deus, filho do Altíssimo. Sua grandeza não está em ser Filho de Davi, mas Filho do Altíssimo. Maria é a nova habitação de Deus. É escolhida e agraciada como sinal salvífico de Deus: “O Senhor vos dará um sinal: eis que a jovem está grávida e dará á luz um filho e dar-lhe-á o nome de Emanuel” (Is 7, 14). Esse gesto de Deus em escolher uma “virgem” (mulher nova), mostra a gratuidade e generosidade de Deus que salva a humanidade, que a recria de maneira miraculosa e misteriosa como somente Ele sabe e pode fazer. É iniciativa de Deus! Ao homem compete colocar-se numa atitude de acolhida, de respeito, de contemplação, de ação de graças.

“Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo”: Alegrar-se em meio a tanta desilusão e decepção não é coisa fácil. Mas é a primeira palavra que Maria ouve do Anjo. A alegria precisa criar raízes dentro de nós, de nossas famílias, de nossas comunidades eclesiais. A tristeza não pode prevalecer em nós. A grande força que nos move e não nos deixa abater pela tristeza e desilusões é a certeza de que o “Senhor está conosco”. O encontro com Ele e a certeza da presença d’Ele junto de nós deve encher nosso coração de alegria (Papa Francisco).

“Não temas, Maria!”: Essa expressão é das mais repetidas na Sagrada Escritura. O Senhor sabe que somos muito medrosos e que o medo nos faz muito mal. Por isso insiste tanto: “Não tenhas medo”. Medo do futuro, medo da morte, medo de ser abandonado, medo de perder o emprego, medo de malefícios, medo de fazer caminhos de conversão etc. Vamos recobrar nossa confiança no Senhor! Entreguemo-nos confiantes a Ele. E teremos aquela intrepidez que animou os santos mártires na vivência da fé cristã diante dos inimigos da fé e da humanidade.

“Darás à luz um filho, e tu o chamarás com o nome de Jesus”: Nós cristãos somos chamados a ser iluminadores. Jesus é a luz do mundo. Nós também, n’Ele, somos chamados a ser luz. Há muita gente precisando de nossa luz: um bom exemplo, um coração que seja capaz de escutar, uma palavra sábia, um bom conselho, uma palavra de conforto, uma visita solidária, uma presença motivadora, uma atitude de acolhida e respeito etc. Fazer nascer Jesus para tantos que anseiam por conhecê-lo e amá-lo.

“Eu sou a serva do Senhor”: Palavras que expressam a resposta de Maria à proposta/convite de Deus chamando-a para colaborar na obra da salvação/recriação da humanidade. A graça de Deus só se torna fecunda no homem se este o quiser. Ao responder ‘Sim’, Maria coloca-se como serva na obra salvadora da humanidade. É a primeira pessoa que, pela adesão da fé, ‘permite’ a Deus realizar a obra da salvação do mundo em Jesus Cristo. O ‘sim’ de Maria representa a fé da humanidade e a disponibilidade com que a Igreja quer assumir o Mistério do Natal.

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“Eis aqui a serva do Senhor...” “De Davi e de Natã aprendemos que a pressa é vizinha da superficialidade, e ambas são um perigo para a fé lúcida e operante. O Advento é um convite à escuta despojada e ao diálogo aberto: escuta de Deus que fala inclusive à margem dos livros e canais de TV, no silêncio do recolhimento e na contemplação profunda dos sinais dos tempos; diálogo tecido com os fios de intercâmbio, dos encontros com os diferentes, das ações solidárias, das preces engajadas.

E aqui emerge límpida a figura de Maria. À margem dos grandes acontecimentos, na periferia dos lugares importantes, no anonimato suspeito de Nazaré, ela é capaz de discernir a Palavra de Deus na tenda da sua casa. E Deus começa apreciando e elogiando a beleza daquela que seria sua primeira morada, da arca que abrigaria o sacramento da sua Aliança definitiva com seus filhos e filhas. “Alegre-se, cheia de graça! O senhor está com você!”

No coração do diálogo, uma proposta, um pedido tão exigente quanto irrecusável: “Você vai ficar grávida, terá um filho e dará a ele o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado filho do Altíssimo.” Maria mostra-se pronta ao engajamento de corpo e alma no desejo de Deus e discute apenas o modo como isso poderá ser feito. Sua preocupação não é construir um templo para que Deus habite no mundo. Ela aceita ser a morada de Deus e coloca-se a seu serviço” (Pe. Itacir Brassiani).

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AVE MARIA

Um senhor, que há muito se afastara da vida de fé, procurou o padre manifestando o desejo de voltar à vida de comunidade. O padre pediu-lhe que recitasse o Pai Nosso. O penitente o esquecera. Pediu-lhe então: “Reze uma Ave Maria”.  – “Desta, sim, me lembro”, retrucou feliz e aliviado aquele que buscava o sentido para sua vida. E recitou feliz e reconfortado a Ave Maria.

Esta historinha quer nos ajudar a perceber o quanto é conhecida esta oração e o efeito que ela produz no coração de quem a recita com confiança. É a mais comum e recitada de todas. Porque simples e significativa, muito rezada. Fala de uma mulher simples e significativa para a história da salvação.

A primeira parte desta prece está na Sagrada Escritura. São as palavras do Anjo e de Isabel a respeito daquela que fora escolhida para ser Mãe do Filho de Deus. A segunda parte - Santa Maria, Mãe de Deus - não se tem ao certo quando foi composta. Mas nos inícios da Idade Média já era recitada. Uma prece que mostra nossa dependência de Deus e nossa confiança de que Maria, Mãe de Deus e nossa, intercede por nós, preocupa-se conosco. Nos momentos alegres e difíceis ela nos acompanha. “Agora e na hora de nossa morte”: no momento em que pronunciamos a oração e naquele momento derradeiro acreditamos que Ela está por perto, como o fizera com seu Filho na Cruz.

A primeira palavra do Anjo a Maria foi “Alegra-te”. É palavra que deve sempre nos acompanhar. A visita de Deus deve nos encher de alegria. De modo que, na ‘hora derradeira’ aquela Alegria continue presente dando-nos a esperança do perdão do Pai e da acolhida em Seus braços. “Alegra-te, Maria”. “Roga por nós, Mãe”.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

 

“Não chores!”

aureliano, 03.06.16

10º Domingo do Tempo Comum [05 de junho de 2016]

[Lc 7,11-17]

No relato do último domingo vimos alguém ir ao encontro de Jesus para lhe pedir a cura (Lc 7,1-10). Hoje vemos Jesus indo ao encontro da mãe viúva que leva seu filho único para o cemitério. Posturas diferentes de Jesus que revelam seu olhar misericordioso. Deixa-se sempre tocar pelo sofrimento humano.

Se o relato do evangelho do domingo passado quis mostrar que Jesus veio trazer a salvação para todos, o relato de hoje quer confirmar essa presença de Deus no meio do povo na pessoa de Jesus de Nazaré: “Um grande profeta apareceu entre nós e Deus visitou o seu povo” (Lc 7,16).

Esse texto precisa ser relacionado com a primeira leitura de hoje: 1Rs 17,17-24. Aí se conta que Elias, hospedado na casa da viúva de Sarepta, devolve à mãe o filho com vida: “Eis aqui o teu filho vivo”. A mulher exclama admirada e agradecida: “Agora vejo que és um homem de Deus, e que a palavra do Senhor é verdadeira em tua boca” (1Rs 17,24). A diferença entre esse fato e o de Jesus é que aqui Elias é reconhecido como um “homem de Deus”; e Jesus é reconhecido como “Senhor”. Acrescente-se ainda que, se Elias precisou de se inclinar três vezes sobre o corpo do menino, a Jesus bastou uma palavra: “Jovem, eu te ordeno, levanta-te”. Remete-nos à Criação: “Deus disse: faça-se” (cf. Gn 1,3ss.). A Palavra criadora de Deus “se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14).

Jesus é o “Profeta” esperado por Israel (Dt 18,15). Mais do que o Profeta, é o Filho de Deus, Deus mesmo visitando e libertando seu povo (cf. Lc 7,16; 1,68).

O evangelho fala de duas “multidões”. Enquanto uma formava um cortejo fúnebre, acompanhando a viúva desatinada, a outra acompanhava Jesus, o “Senhor” da vida. Enquanto uma multidão era tomada pelo pranto, pela dor, pelo desalento, a outra vislumbrava caminhos de esperança, de novos horizontes, de vida nova.

Eis que Jesus se depara com a multidão que caminha sem esperança e vê uma pobre viúva que chora a morte de seu filho. “Ao vê-la, o Senhor sentiu compaixão para com ela e lhe disse: ‘Não chores’”. Jesus não caminha indiferente nem passa despercebido diante das lágrimas de uma pobre viúva que terá como herança o abandona à própria sorte, pois a única esperança de apoio que tinha lhe foi retirada: o filho único.

Esse relato quer mostrar que a “visita” de Deus é uma realidade na pessoa de Jesus de Nazaré. Seu gesto para com a viúva mostra o rosto misericordioso do Pai que se inclina a todos os homens e mulheres, particularmente aos sofredores e enxuga-lhes as lágrimas. É assim o Reino que Jesus veio revelar. Se observarmos as visitas que um governador ou prefeito ou presidente ou algum politiqueiro faz a um bairro ou cidade ou córrego, normalmente, os vemos procurando quem tem poder, quem tem influência, ou então está à cata de votos, de vantagens pessoais. Jesus faz diferente. Ele atenta para um cortejo fúnebre e se aproxima de uma viúva que sofre e chora. Ele vem curar sua dor. Vem curar as feridas do coração (cf. Is 61,1; Sl 147,3).

Talvez fosse bom pensarmos e refletirmos um pouco sobre nossas visitas, nossa presença junto ao povo. A quem buscamos? De quem nos aproximamos? O que temos feito para enxugar as lágrimas dos sofredores? Ainda mais: temos evitado fazer alguém derramar lágrimas por nossa causa? Uma palavra fora de propósito, um gesto ofensivo e arrogante, um desprezo, uma falta de acolhida e de compreensão num momento de dor ou de fraqueza, uma traição... Como temos nos posicionado diante das pessoas que sofrem?

A Igreja é mãe. Deve olhar com misericórdia os sofredores, os pobres, os aflitos, os doentes, os menores. Ela não deve ser motivo de dor, de sofrimento e de lágrimas para ninguém. Pelo contrário, deve ser motivo de alegria, deve enxugar as lágrimas, deve “devolver” a alegria aos que sofrem.

Quantos jovens “mortos” ou no caminho da morte, é oportuno pensarmos nas mães sofridas em conseqüência da “morte” de seus filhos! A sociedade do consumismo, do capitalismo selvagem, do hedonismo a qualquer custo, da corrupção descarada leva nossos jovens para o túmulo de uma vida sem sentido, provocando muita dor e lágrimas. O que podemos fazer para transformar essa realidade de morte em aurora de vida? O que Jesus nos ensina nesse relato de hoje? Que compromisso levo para minha semana?

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN