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aurelius

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São José, homem Justo

aureliano, 19.03.24

São José.jpg

São José, Esposo da Virgem Maria [19 de março de 2024]

[Mt 1,16-25]

Celebre a José a corte celeste,

Prossiga o louvor o povo cristão:

Só ele merece à Virgem se unir

Em casta união.

Ao ver sua Esposa em Mãe transformar-se,

José quer deixar Maria em segredo.

Um anjo aparece: “É obra de Deus!”

Afasta-lhe o medo. (Oficio de Vésperas).

A Igreja celebra São José em dois dias no ano: 19 de março e 1º de maio. No dia 19 de março, São José é celebrado como patrono da Igreja Universal; já no dia 1º de maio, dia do Trabalho, São José é honrado como Operário, o carpinteiro de Nazaré.

Em 1870 São José foi declarado o patrono da Igreja católica. E em 1955 o Papa Pio XII honrou o Dia do Trabalho (1º de maio) com a invocação: São José, operário. A devoção a São José sempre existiu. Já o culto litúrgico veio mais tarde lá no fim do século XV. É um dos santos mais populares. Ainda hoje o nome José é dado com muita frequência pelos pais aos seus filhos. Também há milhares de comunidades, igrejas, praças e cidades em homenagem a São José.

Há alguns traços marcantes na vida de São José que o Evangelho registrou e que vale a pena destacar. Podem nos ajudar em nossa vida cotidiana.

O Justo: “José, seu marido, era justo e, não querendo denunciá-la, resolveu abandonar Maria, em segredo” (Mt 1,19). A alcunha de ‘justo’ na cultura judaica quer significar fiel observante do Ensinamento de Deus; pessoa cheia de Deus e que busca fazer-lhe sempre a vontade. Aquele que foge do pecado e busca fazer sempre o bem. Aquele que dá a cada um o que lhe pertence, sobretudo “a Deus o que é de Deus”. José é justo, não pelo fato de buscar separar-se de Maria, mas porque procura e reconhece em todas as coisas a vontade de Deus.  Abriu mão de seus projetos pessoais para abraçar a missão que o Pai lhe pedira. É justo porque não quer ver Maria, mulher que ele admirava e em quem confiava, ser exposta a situação de penúria. É justo porque, como homem de Deus, percebe que há uma realidade de mistério no acontecimento com Maria, e ele respeita e se coloca reverente.

Pai adotivo: Este título é um dos mais significativos. José não foi o pai carnal de Jesus. “A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José, e, antes de viverem juntos, ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo” (Mt 1,18). A presença de José na genealogia do rei Davi garante a Jesus a linhagem real segundo o relato de Mateus: “Jacó foi pai de José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado Cristo” (Mt 1,16). Este ministério dá a José o lugar de Deus Pai. Leonardo Boff diz que José é a “personificação de Deus Pai”. Exatamente por ter assumido a missão de cuidador, de zelador, de nutrício do Filho de Deus. José assume um filho que não é seu. Ele abraça a missão com todas as consequências. Interessante notar que, em nossa vida, surgem situações que nos colocam desafios semelhantes. De repente precisamos enfrentar ou assumir u’a missão que nunca imaginávamos. Mas se abraçamos como dom e missão vindos do Pai, será fonte de graça para toda a comunidade.

Carpinteiro: “Não é ele o filho do carpinteiro?” (Mt 13,55). Numa situação de incompreensão por parte de seus conterrâneos e correligionários – “De onde lhe vem essa sabedoria e esses milagres?” (Mt 13,54) –, Jesus é chamado, em tom de desprezo, filho do carpinteiro. Neste relato José aparece como um trabalhador. Empenhava-se em trabalho duro para sustentar a família. Não vivia como sanguessuga, nem como agiota ou como quotista em empresas e bolsas de valores, nem como explorador do trabalho e suor alheios. Seu pão era conquista de esforço cotidiano. Patrono, por isso, dos trabalhadores e trabalhadoras que lutam bravamente para ganhar “o pão com suor do rosto” (Gn 3,19).

Homem do silêncio fecundo: “Enquanto José pensava nisso, eis que um anjo do Senhor apareceu-lhe, em sonho...” (Mt 1,20). Este relato mostra José como um homem orante e contemplativo. Não se precipita. Procura entender o que Deus quer. Os evangelhos não registraram nenhuma palavra de José. Isso mostra que ele era um homem discreto, silente, contemplativo. A profundidade de uma pessoa, muitas vezes, se mede pela sua capacidade de ouvir, de silenciar-se, contemplativamente.

Esposo e Pai: Os evangelhos narram a solicitude de José para com sua família. Diante da ameaça do famigerado Herodes, instruído pelo Senhor, foge para o Egito: “Ele se levantou, tomou o menino e sua mãe, durante a noite, e partiu para o Egito” (Mt 2,14). Não descuidava dos compromissos religiosos: “Seus pais iam todos os anos a Jerusalém para a festa da Páscoa” (Lc 2,41). E não perdia de vista o filho que lhe foi confiado: “Ele ficou em Jerusalém sem que seus pais o notassem. Pensando que estivesse na caravana, andaram o caminho de um dia, e puseram-se a procurá-lo entre parentes e conhecidos. E não o encontrando, voltaram a Jerusalém à sua procura” (Lc 2,43-45). Lucas resume numa frase a vida da Sagrada Família em Nazaré: Jesus lhes era submisso e ia crescendo em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e dos homens. (Lc 2,51-52).

O sonhador: José teve quatro sonhos segundo Mt 1,20; 2,13; 2,19; 2,22. Mostra que foi um homem sempre aberto à vontade de Deus. Uma vida sintonizada com o Senhor. Este o encontrava sempre aberto à sua Palavra. Ainda mais: a missão que o Senhor lhe confiava não era fácil. Sempre em defesa da vida de Jesus e de Maria, mulher e filho. Somente lhe dava as indicativas. O restante era por conta dele. Acolher um filho que não era seu, mas de quem deveria cuidar. Não deixar que os perseguidores e perversos tirassem sua vida. Defendê-los da fome, do frio, do sol e da chuva, dos perigos das matas e desertos. Buscar trabalho e comida para sobrevivência. Uma vida totalmente doada, eucarística, entregue. O Senhor revelava, José cumpria. E pronto!

O relato do evangelho de hoje sugere que Deus faz coisas novas. Onde sua iniciativa é acolhida com a boa vontade das pessoas justas, caso de Maria e José, a Graça atua de modo exuberante.

Maria, virgem que se torna mãe sem intervenção do varão, representa em sua virgindade toda a humanidade disposta a receber a maravilhosa intervenção divina dando-nos uma nova vida. Graças à cooperação de Maria, a realidade de Deus desceu até nós em Jesus. A liturgia católica celebra hoje em tom solene a lembrança, o exemplo de vida, a intercessão daquele que está na passagem do Antigo para o Novo Testamento: José, o justo.

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José, homem que amou Maria de verdade. Seu amor guardou e protegeu Maria e Jesus. Um amor que brotou do coração do Pai e que foi cultivado em seu coração.

José é um homem discreto. Os evangelhos não trazem nenhum registro de alguma palavra sua. Um homem que soube abrir mão de seus sonhos e projetos pessoais para cumprir o que o Senhor lhe pedira. Deu uma resposta de fé à semelhança de Abraão. Aceitou ser pai de quem não era seu filho, mas filho de Deus e de Maria. E cumpriu com fidelidade sua missão.

Homem justo que não quis difamar Maria com quem tinha um contrato de casamento. Acolhe Maria em sua casa como esposa. Não coloca condições prévias. Confia nas palavras do Anjo. Hoje São José se apresenta como homem que nos ajuda a respeitar as mulheres e a combater todo tipo de violência contra as mulheres, muitas vezes vítimas do machismo e misoginia impregnados no coração da sociedade marcada pelo preconceito e hipocrisia.

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Para celebrar os 150 anos da proclamação de São José como Patrono Universal da Igreja Católica pelo Beato Pio IX, o Papa Francisco quis compartilhar conosco “algumas reflexões pessoais sobre esta figura extraordinária, tão próxima da condição humana de cada um de nós. (...) ... no meio da crise que nos afeta, as nossas vidas são tecidas e sustentadas por pessoas comuns (habitualmente esquecidas), que não aparecem nas manchetes dos jornais e revistas, nem nas grandes passarelas do último espetáculo” (Carta Apostólica Patris Corde, p. 02). Desse modo, o Papa Francisco dedicou o ano de 2020/21 a São José. Seu desejo é que “todos possam encontrar em São José – o homem que passou despercebido, o homem da presença cotidiana discreta e escondida – um intercessor, um amparo e um guia nos momentos de dificuldade. São José lembra-nos que todos aqueles que estão, aparentemente, escondidos ou em segundo plano, têm um protagonismo sem paralelo na história da salvação. A todos eles dirijo uma palavra de reconhecimento e gratidão” (Idem, p. 02).

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

 

São José, homem Justo

aureliano, 18.03.23

São José.jpg

São José, Esposo da Virgem Maria [18 de março de 2023]

[Mt 1,16-25]

Celebre a José a corte celeste,

Prossiga o louvor o povo cristão:

Só ele merece à Virgem se unir

Em casta união.

Ao ver sua Esposa em Mãe transformar-se,

José quer deixar Maria em segredo.

Um anjo aparece: “É obra de Deus!”

Afasta-lhe o medo. (Oficio de Vésperas).

 

A Igreja celebra São José em dois dias no ano: 19 de março e 1º de maio. No dia 19 de março, São José é celebrado como patrono da Igreja Universal; já no dia 1º de maio, dia do Trabalho, São José é honrado como Operário, o carpinteiro de Nazaré.

Em 1870 São José foi declarado o patrono da Igreja católica. E em 1955 o Papa Pio XII honrou o Dia do Trabalho (1º de maio) com a invocação: São José, operário. A devoção a São José sempre existiu. Já o culto litúrgico veio mais tarde lá no fim do século XV. É um dos santos mais populares. Ainda hoje o nome José é dado com muita frequência pelos pais aos seus filhos. Também há milhares de comunidades, igrejas, praças e cidades em homenagem a São José.

Há alguns traços marcantes na vida de São José que o Evangelho registrou e que vale a pena destacar. Podem nos ajudar em nossa vida cotidiana.

O Justo: “José, seu marido, era justo e, não querendo denunciá-la, resolveu abandonar Maria, em segredo” (Mt 1,19). A alcunha de ‘justo’ na cultura judaica quer significar fiel observante do Ensinamento de Deus; pessoa cheia de Deus e que busca fazer-lhe sempre a vontade. Aquele que foge do pecado e busca fazer sempre o bem. Aquele que dá a cada um o que lhe pertence, sobretudo “a Deus o que é de Deus”. José é justo, não pelo fato de buscar separar-se de Maria, mas porque procura e reconhece em todas as coisas a vontade de Deus.  Abriu mão de seus projetos pessoais para abraçar a missão que o Pai lhe pedira. É justo porque não quer ver Maria, mulher que ele admirava e em quem confiava, ser exposta a situação de penúria. É justo porque, como homem de Deus, percebe que há uma realidade de mistério no acontecimento com Maria, e ele respeita e se coloca reverente.

Pai adotivo: Este título é um dos mais significativos. José não foi o pai carnal de Jesus. “A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José, e, antes de viverem juntos, ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo” (Mt 1,18). A presença de José na genealogia do rei Davi garante a Jesus a linhagem real segundo o relato de Mateus: “Jacó foi pai de José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado Cristo” (Mt 1,16). Este ministério dá a José o lugar de Deus Pai. Leonardo Boff diz que José é a “personificação de Deus Pai”. Exatamente por ter assumido a missão de cuidador, de zelador, de nutrício do Filho de Deus. José assume um filho que não é seu. Ele abraça a missão com todas as consequências. Interessante notar que, em nossa vida, surgem situações que nos colocam desafios semelhantes. De repente precisamos enfrentar ou assumir u’a missão que nunca imaginávamos. Mas se abraçamos como dom e missão vindos do Pai, será fonte de graça para toda a comunidade.

Carpinteiro: “Não é ele o filho do carpinteiro?” (Mt 13,55). Numa situação de incompreensão por parte de seus conterrâneos e correligionários – “De onde lhe vem essa sabedoria e esses milagres?” (Mt 13,54) –, Jesus é chamado, em tom de desprezo, filho do carpinteiro. Neste relato José aparece como um trabalhador. Empenhava-se em trabalho duro para sustentar a família. Não vivia como sanguessuga, nem como agiota ou como quotista em empresas e bolsas de valores, nem como explorador do trabalho e suor alheios. Seu pão era conquista de esforço cotidiano. Patrono, por isso, dos trabalhadores e trabalhadoras que lutam bravamente para ganhar “o pão com suor do rosto” (Gn 3,19).

Homem do silêncio fecundo: “Enquanto José pensava nisso, eis que um anjo do Senhor apareceu-lhe, em sonho...” (Mt 1,20). Este relato mostra José como um homem orante e contemplativo. Não se precipita. Procura entender o que Deus quer. Os evangelhos não registraram nenhuma palavra de José. Isso mostra que ele era um homem discreto, silente, contemplativo. A profundidade de uma pessoa, muitas vezes, se mede pela sua capacidade de ouvir, de silenciar-se, contemplativamente.

Esposo e Pai: Os evangelhos narram a solicitude de José para com sua família. Diante da ameaça do famigerado Herodes, instruído pelo Senhor, foge para o Egito: “Ele se levantou, tomou o menino e sua mãe, durante a noite, e partiu para o Egito” (Mt 2,14). Não descuidava dos compromissos religiosos: “Seus pais iam todos os anos a Jerusalém para a festa da Páscoa” (Lc 2,41). E não perdia de vista o filho que lhe foi confiado: “Ele ficou em Jerusalém sem que seus pais o notassem. Pensando que estivesse na caravana, andaram o caminho de um dia, e puseram-se a procurá-lo entre parentes e conhecidos. E não o encontrando, voltaram a Jerusalém à sua procura” (Lc 2,43-45). Lucas resume numa frase a vida da Sagrada Família em Nazaré: Jesus lhes era submisso e ia crescendo em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e dos homens. (Lc 2,51-52).

O sonhador: José teve quatro sonhos, segundo Mt 1,20; 2,13; 2,19; 2,22. Estes relatos mostram que foi um homem sempre aberto à vontade de Deus. Uma vida sintonizada com o Senhor. Este o encontrava sempre aberto à sua Palavra. Ainda mais: a missão que o Senhor lhe confiava não era fácil. Sempre em defesa da vida de Jesus e de Maria, mulher e filho. Somente lhe dava as indicativas. O restante era por conta dele. Acolher um filho que não era seu, mas de quem deveria cuidar. Não deixar que os perseguidores e perversos tirassem sua vida. Defender Jesus e Maria da fome, do frio, do sol e da chuva, dos perigos das matas e desertos. Buscar trabalho e comida para sobrevivência. Uma vida totalmente doada, eucarística, entregue. O Senhor revelava sua vontade, José cumpria. E pronto!

O relato do evangelho de hoje sugere que Deus faz coisas novas. Onde sua iniciativa é acolhida com a boa vontade das pessoas justas, caso de Maria e José, a Graça atua de modo exuberante.

Maria, virgem que se torna mãe sem intervenção do varão, representa em sua virgindade toda a humanidade disposta a receber a maravilhosa intervenção divina dando-nos uma nova vida. Graças à cooperação de Maria, a realidade de Deus desceu até nós em Jesus. A liturgia católica celebra hoje em tom solene a lembrança, o exemplo de vida, a intercessão daquele que está na passagem do Antigo para o Novo Testamento: José, o justo.

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Para celebrar os 150 anos da proclamação de São José como Patrono Universal da Igreja Católica pelo Beato Pio IX, o Papa Francisco quis compartilhar conosco “algumas reflexões pessoais sobre esta figura extraordinária, tão próxima da condição humana de cada um de nós. (...) ... no meio da crise que nos afeta, as nossas vidas são tecidas e sustentadas por pessoas comuns (habitualmente esquecidas), que não aparecem nas manchetes dos jornais e revistas, nem nas grandes passarelas do último espetáculo” (Carta Apostólica Patris Corde, p. 02). Desse modo, o Papa Francisco dedicou o ano de 2020/21 a São José. Seu desejo é que “todos possam encontrar em São José – o homem que passou despercebido, o homem da presença cotidiana discreta e escondida – um intercessor, um amparo e um guia nos momentos de dificuldade. São José lembra-nos que todos aqueles que estão, aparentemente, escondidos ou em segundo plano, têm um protagonismo sem paralelo na história da salvação. A todos eles dirijo uma palavra de reconhecimento e gratidão” (Idem, p. 02).

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

A oração que vem de dentro

aureliano, 21.10.22

30º Domingo do TC - 27 de outubro - C.jpg

30º Domingo do Tempo Comum [23 de outubro de 2022]

[Lc 18,9-14]

Esta é uma pergunta de fundo da parábola de hoje: que postura de vida agrada a Deus? O fariseu era um religioso fiel, dedicado, comprometido com o que determinava a Lei. Era, de alguma forma, ‘impecável’. Já o publicano não era exemplo de vida. Um cobrador de impostos malvisto pelos correligionários, tirava proveito de uma situação política para arranjar recursos ou para enriquecer-se ou para sobreviver às penúrias da dominação romana. Mas este volta para casa justificado.

Os dois vão ao mesmo templo, com o ‘mesmo objetivo’ e começam sua oração com a mesma invocação “ó Deus”. O conteúdo da oração deles é que determina a intencionalidade, a postura de fé. O primeiro eleva uma oração belíssima, de louvor e de ação de graças, completa do ponto de vista da estrutura literário-litúrgica, mas totalmente autossuficiente, orgulhosa, reveladora de uma prática religiosa que não leva em conta nem a Deus nem o próximo. Coloca-se no centro, dirige-se a si mesmo. O segundo, porém, coloca-se em atitude de dependência e necessidade da misericórdia de Deus. Mostra-se verdadeiramente um homem de fé porque deposita toda sua confiança em Deus. Não atribui nada a si mesmo. Reconhece-se pecador e quer retomar o caminho da vida e da salvação. E sabe que isso não depende somente dele, mas, sobretudo do Pai compassivo.

A oração do fariseu não leva em conta ninguém mais a não ser a si mesmo. Não pensa nos pobres, nos pequenos, nos excluídos. Julga que, observando as práticas externas da Lei, já está agradando o Criador. No entanto, Jesus ensina que não basta uma prática externa da Lei. É preciso de uma vida que acompanhe a oração. Ou melhor, é preciso de uma oração que informe a vida para lhe dar sentido. Oração que chega ao coração do Pai é aquela que brota de uma alma humilde, pequena, simples, confiante, misericordiosa, preocupada com as necessidades dos irmãos.

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É DEUS QUEM NOS FAZ JUSTOS

Quando Jesus, no evangelho deste domingo, fala a respeito de duas posturas (fariseu e publicano) distintas na oração, quer nos mostrar que não basta praticar uma religião de modo formal apenas, mas é preciso reconhecer nossa realidade diante de Deus. Ninguém pode salvar-se sozinho, ou seja, entrar na amizade de Deus por conta própria. A primeira atitude deve ser de reconhecer nossa impotência diante de Deus e abrir-nos ao seu amor.

Os fariseus, termo que significa separado, constituíam um grupo que buscava observar fielmente a Torah (o Ensinamento de Deus). Eram pessoas bem intencionadas e até estimadas pelo povo com quem trabalhavam. O problema é que eles se tornaram muito rigorosos com aqueles que, por motivo de pressão dos dominadores romanos, não observavam a Lei com todo o rigor. Estabelecia-se entre eles e os publicanos uma distância, até mesmo uma inimizade.

Jesus quer mostrar que não basta cumprir a Lei pela Lei, mas é preciso colocar-se numa relação amorosa. O que conta mesmo é o amor.

A conclusão da parábola nos leva a compreender por que o publicano voltou justificado para casa: ele se reconheceu pecador, necessitado da misericórdia de Deus na qual acreditava. Reconhecer-se pecador e clamar por misericórdia é demonstrar a necessidade de ser ajudado, amparado por Deus. E Deus se dá a conhecer no perdão, na vida nova que ele concede a quem a busca nele, com humildade. O que nos justifica diante de Deus não são nossos méritos, mas a bondade de Deus que nos fortalece para a prática da justiça: a caridade.

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MISSÃO: FAZER ECOAR O AMOR DE DEUS

Nesse final de semana a Igreja realiza a Campanha Missionária. Uma oportunidade de participarmos financeiramente das ações missionárias no Brasil e no mundo. Às vezes se tem uma visão deturpada de missão. Isto parece dever-se ao fato de ter-nos sido imposta pelos colonizadores europeus uma cultura que, em nome da fé, sacrificou muitas vidas. Ficamos então pensando que fazer missão é pregar para os outros, impondo nossa maneira de pensar e de viver. Fazer todo mundo ir para a igreja, ser católico etc. Hoje entendemos que as “sementes do Verbo”, isto é, o próprio Deus já está presente nas pessoas e nas comunidades. Resta-nos ajudar a descobrir, pela força da Palavra, Sua presença nessas realidades e não deixar que o pecado, fruto do egoísmo humano, mate ou devaste a beleza do Criador em cada ser humano.

Nossa ação missionária se dá de diversas formas: pela oração, pela visita, pela acolhida, pelo trabalho na comunidade, pelo perdão, pelo jeito de trabalhar e de realizar o cotidiano, pela honestidade no trabalho e nos negócios, por uma vida digna e honrada aos olhos de Deus, marcados pelos “sentimentos que havia em Jesus Cristo” (Fl 2,5).

Ser missionário não é uma questão de opção, mas é intrínseca à fé cristã. O cristão não pode dizer que não quer ser missionário. Ser cristão implica necessariamente a missão. É resultado de um amor que transborda de dentro de nós e nos faz inquietos. O que é bom para mim, faz sentido para mim, me enche de alegria interior quero-o também para os outros. ”Dai de graça o que de graça recebestes”. Isto é missão.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

São José, homem Justo

aureliano, 19.03.21

São José 2021.jpg

São José, Esposo de Nossa Senhora [19 de março de 2021]

[Mt 1,16-25]

Celebre a José a corte celeste,

Prossiga o louvor o povo cristão:

Só ele merece à Virgem se unir

Em casta união.

Ao ver sua Esposa em Mãe transformar-se,

José quer deixar Maria em segredo.

Um anjo aparece: “É obra de Deus!”

Afasta-lhe o medo. (Oficio de Vésperas).

 

A Igreja celebra São José em dois dias no ano: 19 de março e 1º de maio. No dia 19 de março, São José é celebrado como patrono da Igreja Universal; já no dia 1º de maio, dia do Trabalho, São José é honrado como Operário, o carpinteiro de Nazaré.

Em 1870 São José foi declarado o patrono da Igreja católica. E em 1955 o Papa Pio XII honrou o Dia do Trabalho (1º de maio) com a invocação: São José, operário. A devoção a São José sempre existiu. Já o culto litúrgico veio mais tarde lá no fim do século XV. É um dos santos mais populares. Ainda hoje o nome José é dado com muita frequência pelos pais aos seus filhos. Também há milhares de comunidades, igrejas, praças e cidades em homenagem a São José.

Há alguns traços marcantes na vida de São José que o Evangelho registrou e que vale a pena destacar. Podem nos ajudar em nossa vida cotidiana.

O Justo: “José, seu marido, era justo e, não querendo denunciá-la, resolveu abandonar Maria, em segredo” (Mt 1,19). A alcunha de ‘justo’ na cultura judaica quer significar fiel observante do Ensinamento de Deus; pessoa cheia de Deus e que busca fazer-lhe sempre a vontade. Aquele que foge do pecado e busca fazer sempre o bem. Aquele que dá a cada um o que lhe pertence, sobretudo “a Deus o que é de Deus”. José é justo, não pelo fato de buscar separar-se de Maria, mas porque procura e reconhece em todas as coisas a vontade de Deus.  Abriu mão de seus projetos pessoais para abraçar a missão que o Pai lhe pedira.

Pai adotivo: Este título é um dos mais significativos. José não foi o pai carnal de Jesus. “A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José, e, antes de viverem juntos, ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo” (Mt 1,18). A presença de José na genealogia do rei Davi garante a Jesus a linhagem real segundo o relato de Mateus: “Jacó foi pai de José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado Cristo” (Mt.1,16). Este ministério dá a José o lugar de Deus Pai. Leonardo Boff diz que José é a “personificação de Deus Pai”. Exatamente por ter assumido a missão de cuidador, de zelador, de nutrício do Filho de Deus. José assume um filho que não é seu. Ele abraça a missão com todas as consequências. Interessante notar que, em nossa vida, surgem situações que nos colocam desafios semelhantes. De repente precisamos enfrentar ou assumir u’a missão que nunca imaginávamos. Mas se abraçamos como dom e missão vindos do Pai, será fonte de graça para toda a comunidade.

Carpinteiro: “Não é ele o filho do carpinteiro?” (Mt 13,55). Numa situação de incompreensão por parte de seus conterrâneos e correligionários – “De onde lhe vem essa sabedoria e esses milagres?” (Mt 13,54) –, Jesus é chamado, em tom de desprezo, filho do carpinteiro. Neste relato José aparece como um trabalhador. Empenhava-se em trabalho duro para sustentar a família. Não vivia como sanguessuga, nem como agiota ou como quotista em empresas e bolsas de valores, nem como explorador do trabalho e suor alheios. Seu pão era conquista de esforço cotidiano. Patrono, por isso, dos trabalhadores e trabalhadoras que lutam bravamente para ganhar “o pão com suor do rosto” (Gn 3,19).

Homem do silêncio fecundo: “Enquanto José pensava nisso, eis que um anjo do Senhor apareceu-lhe, em sonho...” (Mt 1,20). Este relato mostra José como um homem orante e contemplativo. Não se precipita. Procura entender o que Deus quer. Os evangelhos não registraram nenhuma palavra de José. Isso mostra que ele era um homem discreto, silente, contemplativo. A profundidade de uma pessoa, muitas vezes, se mede pela sua capacidade de ouvir, de silenciar-se, contemplativamente.

Esposo e Pai: Os evangelhos narram a solicitude de José para com sua família. Diante da ameaça do famigerado Herodes, instruído pelo Senhor, foge para o Egito: “Ele se levantou, tomou o menino e sua mãe, durante a noite, e partiu para o Egito” (Mt 2,14). Não descuidava dos compromissos religiosos: “Seus pais iam todos os anos a Jerusalém para a festa da Páscoa” (Lc 2,41). E não perdia de vista o filho que lhe foi confiado: “Ele ficou em Jerusalém sem que seus pais o notassem. Pensando que estivesse na caravana, andaram o caminho de um dia, e puseram-se a procurá-lo entre parentes e conhecidos. E não o encontrando, voltaram a Jerusalém à sua procura” (Lc 2,43-45). Lucas resume numa frase a vida da Sagrada Família em Nazaré: Jesus lhes era submisso e ia crescendo em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e dos homens. (Lc. 2,51-52).

O relato do evangelho de hoje sugere que Deus faz coisas novas. Onde sua iniciativa é acolhida com a boa vontade das pessoas justas, caso de Maria e José, a Graça atua de modo exuberante.

Maria, virgem que se torna mãe sem o ato sexual, representa em sua virgindade toda a humanidade disposta a receber a maravilhosa intervenção divina dando-nos uma nova vida. Graças à cooperação de Maria, a realidade de Deus desceu até nós em Jesus. A liturgia católica celebra hoje em tom solene a lembrança, o exemplo de vida, a intercessão daquele que está na passagem do Antigo para o Novo Testamento: José, o justo.

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Para celebrar os 150 anos da proclamação de São José como Patrono Universal da Igreja Católica pelo Beato Pio IX, o Papa Francisco  quis compartilhar conosco “algumas reflexões pessoais sobre esta figura extraordinária, tão próxima da condição humana de cada um de nós. (...) ... no meio da crise que nos afeta, as nossas vidas são tecidas e sustentadas por pessoas comuns (habitualmente esquecidas), que não aparecem nas manchetes dos jornais e revistas, nem nas grandes passarelas do último espetáculo” (Carta Apostólica Patris Corde, p. 02). Desse modo, o Papa Francisco dedicou esse ano em curso a São José. Seu desejo é que “todos possam encontrar em São José – o homem que passou despercebido, o homem da presença cotidiana discreta e escondida – um intercessor, um amparo e um guia nos momentos de dificuldade. São José lembra-nos que todos aqueles que estão, aparentemente, escondidos ou em segundo plano, têm um protagonismo sem paralelo na história da salvação. A todos eles dirijo uma palavra de reconhecimento e gratidão” (Idem, p. 02).

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

São José, homem justo

aureliano, 20.03.17

sao jose.jpg

São José, Esposo de Nossa Senhora [19 (20) de março de 2017]

[Mt 1,16-24]

Celebre a José a corte celeste,

Prossiga o louvor o povo cristão:

Só ele merece à Virgem se unir

Em casta união.

 

Ao ver sua Esposa em Mãe transformar-se,

José quer deixar Maria em segredo.

Um anjo aparece: “É obra de Deus!”

Afasta-lhe o medo. (Oficio de Vésperas).

 

A Igreja celebra São José em dois dias no ano: 19 de março e 1º de maio. No dia 19 de março, São José é celebrado como patrono da Igreja Universal; já no dia 1º de maio, dia do Trabalho, São José é honrado como Operário, o carpinteiro de Nazaré.

Em 1870 São José foi declarado o patrono da Igreja católica. E em 1955 o Papa Pio XII honrou o Dia do Trabalho (1º de maio) com a invocação: São José, operário. A devoção a São José sempre existiu. Já o culto litúrgico veio mais tarde lá no fim do século XV. É um dos santos mais populares. Ainda hoje o nome José é dado com muita frequência pelos pais aos seus filhos. Também há milhares de comunidades, igrejas, praças e cidades em homenagem a São José.

Há alguns traços marcantes na vida de São José que o Evangelho registrou e que vale a pena destacar. Podem nos ajudar em nossa vida cotidiana.

O Justo: “José, seu marido, era justo e, não querendo denunciá-la, resolveu abandonar Maria, em segredo” (Mt 1,19). A alcunha de ‘justo’ na cultura judaica quer significar fiel observante do Ensinamento de Deus; pessoa cheia de Deus e que busca fazer-lhe sempre a vontade. Aquele que foge do pecado e busca fazer sempre o bem. Aquele que dá a cada um o que lhe pertence, sobretudo “a Deus o que é de Deus”. José é justo, não pelo fato de buscar separar-se de Maria, mas porque procura e reconhece em todas as coisas a vontade de Deus.  Abriu mão de seus projetos pessoais para abraçar a missão que o Pai lhe pedira.

Pai adotivo: Este título é um dos mais significativos. José não foi o pai carnal de Jesus. “A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José, e, antes de viverem juntos, ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo” (Mt 1,18). A presença de José na genealogia do rei Davi garante a Jesus a linhagem real segundo o relato de Mateus: “Jacó foi pai de José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado Cristo” (Mt.1,16). Este ministério dá a José o lugar de Deus Pai. Leonardo Boff diz que José é a “personificação de Deus Pai”. Exatamente por ter assumido a missão de cuidador, de zelador, de nutrício do Filho de Deus. José assume um filho que não é seu. Ele abraça a missão com todas as consequências. Interessante notar que, em nossa vida, surgem situações que nos colocam desafios semelhantes. De repente precisamos enfrentar ou assumir u’a missão que nunca imaginávamos. Mas se abraçamos como dom e missão vindos do Pai, será fonte de graça para toda a comunidade.

Carpinteiro: “Não é ele o filho do carpinteiro?” (Mt 13,55). Numa situação de incompreensão por parte de seus conterrâneos e correligionários – “De onde lhe vem essa sabedoria e esses milagres?” (Mt 13,54) –, Jesus é chamado, em tom de desprezo, filho do carpinteiro. Neste relato José aparece como um trabalhador. Empenhava-se em trabalho duro para sustentar a família. Não vivia como sanguessuga, nem como agiota ou como quotista em empresas e bolsas de valores, nem como explorador do trabalho e suor alheios. Seu pão era conquista de esforço cotidiano. Patrono, por isso, dos trabalhadores e trabalhadoras que lutam bravamente para ganhar “o pão com suor do rosto” (Gn 3,19).

Homem do silêncio fecundo: “Enquanto José pensava nisso, eis que um anjo do Senhor apareceu-lhe, em sonho...” (Mt 1,20). Este relato mostra José como um homem orante e contemplativo. Não se precipita. Procura entender o que Deus quer. Os evangelhos não registraram nenhuma palavra de José. Isso mostra que ele era um homem discreto, silente, contemplativo. A profundidade de uma pessoa, muitas vezes, se mede pela sua capacidade de ouvir, de silenciar-se, contemplativamente.

Esposo e Pai: Os evangelhos narram a solicitude de José para com sua família. Diante da ameaça do famigerado Herodes, instruído pelo Senhor, foge para o Egito: “Ele se levantou, tomou o menino e sua mãe, durante a noite, e partiu para o Egito” (Mt 2,14). Não descuidava dos compromissos religiosos: “Seus pais iam todos os anos a Jerusalém para a festa da Páscoa” (Lc 2,41). E não perdia de vista o filho que lhe foi confiado: “Ele ficou em Jerusalém sem que seus pais o notassem. Pensando que estivesse na caravana, andaram o caminho de um dia, e puseram-se a procurá-lo entre parentes e conhecidos. E não o encontrando, voltaram a Jerusalém à sua procura” (Lc 2,43-45). Lucas resume numa frase a vida da Sagrada Família em Nazaré: Jesus lhes era submisso e ia crescendo em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e dos homens. (Lc. 2,51-52).

O relato do evangelho de hoje sugere que Deus faz coisas novas. Onde sua iniciativa é acolhida com a boa vontade das pessoas justas, caso de Maria e José, a Graça atua de modo exuberante.

Maria, virgem que se torna mãe sem o ato sexual, representa em sua virgindade toda a humanidade disposta a receber a maravilhosa intervenção divina dando-nos uma nova vida. Graças à cooperação de Maria, a realidade de Deus desceu até nós em Jesus. A liturgia católica celebra hoje em tom solene a lembrança, o exemplo de vida, a intercessão daquele que está na passagem do Antigo para o Novo Testamento: José, o justo.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN