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aurelius

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A missão com Jesus

aureliano, 06.07.19

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14º Domingo do Tempo Comum [07 de julho de 2019]

[Lc 10,1-12.17-20]

Jesus tomou a firme resolução de subir para Jerusalém (cf. Lc 9,51). Essa trajetória histórico-teológica de Jesus quer nos mostrar que ele veio para uma missão: cumprir a vontade do Pai. E o preço de sua fidelidade não seria baixo. Sua fidelidade devia ser corroborada também por sua firmeza. “Tomar a cruz” significa fidelidade ao Pai e aos irmãos. O que vale para Jesus vale para os seus discípulos, para todos nós.

Nesse caminho ele quis contar com alguns discípulos. Estes foram enviados à sua frente para preparar sua passagem. Enfrentariam durezas, adversidades, incompreensões, rejeições. No entanto o que lhes devia importar é que faziam parte do Reino: “Vossos nomes estão escritos no céu”.

Alguns elementos que nos ajudam a pensar nossa missão, hoje:

  • A Igreja, continuadora da missão de Jesus, deve assumir uma vida de peregrina, pondo-se a caminho. O nosso Papa tem insistido nesta tecla: “Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças” (EG 49). Ou seja, é preciso enfrentar os riscos da missão. Nada de ficar olhando para trás, com um saudosismo doentio e paralisante de quem vive de passado. O olhar retrospectivo só é válido para avaliar nosso presente e nos lançar, com novo ardor, para o futuro. Precisamos nos desvencilhar daquela ideia de que a Igreja existe para encher templos, promover grandes eventos, provocar emoções e lágrimas numa espécie de histeria coletiva. Não. A Igreja foi fundada por Jesus para mostrar ao mundo o amor que o Pai tem por todas as pessoas. E, para isso, deve promover na sociedade o cuidado pelos mais fracos, como fez Jesus.
  • Jesus envia seus discípulos para “curar os doentes” e anunciar que o Reino de Deus está próximo. A mensagem do Evangelho precisa ser atraente, transformadora. Ela precisa ser “lida”” naqueles que a anunciam. O evangelizador, imbuído do sentimento de Jesus, traz para o pobre a certeza de que o Reino de Deus chegou. Dar-lhe um sentimento de esperança. Transmitir-lhe o conforto da presença de Deus em sua vida. O pobre se sente apoiado, amparado, assistido. Sente que há alguém por ele. Não basta fazer sermões bonitos ou celebrar belas liturgias. Precisamos saber ouvir, acolher, ajudar, encaminhar as situações de dor e de sofrimento das pessoas. Isso é o Reino de Deus.
  • Outra palavra de Jesus que não pode passar despercebida é a da paz: “Quando entrardes numa casa, dizei: paz a esta casa”. O convite que o Papa Francisco faz para irmos às periferias geográficas e existenciais tem a ver com essa palavra de Jesus. Ao visitarmos uma pessoa para levar-lhe a Palavra de Deus, precisamos estar imbuídos da paz que brota do coração do Pai. E também ter a capacidade de respeitar a pessoa na sua circunstância. Não podemos impor à pessoa uma crença, uma religião. Não fomos enviados para isso. Queremos que ela experimente a paz, o Shalon que vem de Deus e que significa uma vida vivida com alegria, de bem com todos, na participação equitativa nos bens da criação, experimentada pela comunidade e não apenas pelo indivíduo. Se vivemos assim então transmitiremos a paz às pessoas visitadas. Uma paz que brota da confiança total no Pai. Uma paz que é dom, mas que também é tarefa, no sentido de que depende também de nós trabalharmos para que as pessoas saibam se respeitar; saibam viver na justiça e na equidade. Uma paz que é cultivada dentro do coração humano que busca viver uma vida em Deus.
  • Outro elemento que precisa ser levado em conta nesse evangelho é a ordem de Jesus a respeito dos trabalhadores da vinha. Faltam operários. É preciso pedir ao dono da vinha que mande trabalhadores. Aqui surge a questão da “mão-de-obra”. É o Senhor que envia operários, mas é preciso pedir. Ou seja, deve haver interesse de nossa parte que outros venham trabalhar. A vinha não é nossa. É do Senhor. Mas ele quer que a assumamos como nossa, que demos a vida por ela, que nos empenhemos para que muitas pessoas entrem nela para trabalhar. É o Reino que precisa de operários. Chega de parasitas, de exploradores do povo! A messe precisa de gente disposta a trabalhar, a enfrentar os lobos, os espinhos, a fadiga do dia, as perseguições, a cruz. Este é o Reino que a Igreja anuncia. É a nossa tarefa.
  • Enfim, não poderia deixar de mencionar também a necessidade do desapego para a missão. Não levar muito peso. O que devemos levar é só Jesus e seu projeto. Precisamos deixar para trás nossas coisas, nossas ideias, nossos projetos. Estar aberto à realidade do outro faz parte do desapego. Livres de preconceitos. O outro também tem o que nos oferecer. E Jesus recomenda que comamos daquilo que o visitado nos oferece. Ou seja, é preciso compartilhar da mesa, da vida, dos sonhos, das necessidades de das ofertas dos destinatários de nossa missão. Se eu encher demais o barco para ir em missão, corro o risco de afundá-lo. Então nem o missionário sobrevive nem a missão acontece. Despojamento, simplicidade, acolhida, escuta sem julgamento!

Para refletir: como estamos vivendo a missão? Temos tido coragem de sair às periferias, nos encontrarmos com as pessoas que vivem na dor, na desesperança, na falta de sentido de vida? Como temos acolhido as pessoas em nossas celebrações, em nossas casas, em nossas secretarias paroquiais? Enxergamos nelas o rosto de Jesus que sofre? Temos tido preocupação com aqueles que estão afastados?

Notemos bem: a alegria do discípulo do Reino não deve se apoiar no que faz para os outros, mas no que o Senhor fez por ele: “Vosso nome está escrito no céu”. A alegria não está no êxito da missão; nem mesmo o fracasso poderá tirá-la. Pois a alegria consiste não no fazer muitas coisas, mas em ser discípulo de Jesus.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

Poucos operários!

aureliano, 17.06.17

a messe é grande.jpg

11º Domingo do Tempo Comum [18 de junho de 2017]

[Mt 9,36 – 10,8]

O relato do evangelho deste domingo está colocado no seguinte contexto: Jesus ensinou os discípulos: Sermão da Montanha (capítulos 5, 6 e 7) e confirmou sua palavra com vários milagres/sinais ( capítulos 8 – 9,34). Agora escolhe um grupo para enviá-los em missão, dando-lhes autoridade e orientando-os no exercício da missão. É um novo Povo constituído pelo próprio Jesus, o novo Moisés. A lista dos Doze  realiza o que  prefiguravam as Doze Tribos de Israel. Este Novo Povo não é apenas sinal da Aliança entre Deus e a humanidade, mas são constituídos missionários, anunciadores do Reino de Deus instaurado por Jesus.

Ao chamar e constituir o grupo dos Doze e enviá-los em missão, Jesus se distancia dos mestres de seu tempo que reuniam discípulos para ficarem em torno de si. Eram alunos. Jesus quer missionários. Itinerante, quer discípulos também itinerantes. O discípulo de Jesus é formado de tal maneira que não espera que o ouvinte venha, mas vai-lhe ao encontro, coloca-se em marcha. É preciso ir “às ovelhas perdidas”. Os discípulos compreenderam perfeitamente o que o Mestre queria. Inicialmente cuidaram da “casa de Israel”. Depois estenderam sua missão “até os confins da terra”. Por isso chegou até nós! Graças a Deus!

Um aspecto interessante que não pode passar despercebido é a presença de Judas Iscariotes na lista dos Doze. Isto mostra que Jesus quer contar com todos. Não discrimina ninguém. Dá chance a todos. Mesmo aqueles que traem, que dissimulam, que não se dispõem a entrar no projeto de Jesus, são chamados e enviados. Isto pode nos ajudar a ter paciência para trabalhar com os dissimulados. É aquela paciência em deixar crescer juntos o joio e o trigo: a nós compete semear; é o Pai quem faz a colheita. Mas também nos adverte quanto ao risco que corremos de fazermos parte do grupo de eleitos, e sermos infiéis à oportunidade que Deus nos dá. Deus chama, consagra e envia, mas a resposta e a acolhida dependem de cada um na sua liberdade.

 “Vendo Jesus as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor”. Jesus quer contar conosco na sua “lavoura”. Quer que tenhamos aquela sensibilidade que ardia no seu coração. Só será possível despertar em nós essa sensibilidade se nos dispusermos a conviver com Jesus. Sem intimidade com o Mestre é impossível percebermos a dor e o sofrimento dos pobres. Sem convivência com Jesus não teremos coragem de sair de nossa vida cômoda e curarmos as feridas dos que sofrem.

Não é fácil lidar com problemas dos outros! “Curar os enfermos” significa trabalhar em favor de quem tem menos vida; lutar pelos que sofrem em suas residências ou nas filas dos postos de saúde e hospitais. Ter um olhar de carinho para com aqueles que vivem sofridos e angustiados pelas lutas de cada dia. Já pensou naquela mãe ou pai cujo filho com deficiência exige cuidados dia e noite? Ou naquela mãe que não sabe o que fazer com seu filho/filha envolvido na droga e na criminalidade? Ou mesmo, que pensar daquele filho/a cuja mãe acamada ou desfalecida não encontra apoio nos irmãos ou familiares para colaborar nos cuidados com a doente?

“Ressuscitar os mortos”: empenhar-se na defesa da vida das pessoas e do planeta. Alimentar a esperança naqueles que se encontram angustiados, sem perspectiva de vida, enlutados. Ajudar a fortalecer no coração a confiança em Deus e o desejo de lutar pela vida.

“Limpar os leprosos” pode-se interpretar como o empenho em purificar a sociedade de tanta corrupção que assola a economia do País e a vida dos pobres. Corrupção significa também estado de putrefação. A podridão moral e social em que vivemos é como uma lepra, doença contagiosa, que contamina os sãos. Não se contaminar, e trabalhar para que este mal não destrua ainda mais os pequenos e pobres: eis uma tarefa árdua e cotidiana! A violência no campo e na cidade, a disseminação de roubos e furtos, o desrespeito generalizado são como uma lepra que tem origem em líderes religiosos, políticos e judiciários que são colocados como ‘modelos’ sociais, porém altamente contaminados pelo mal contagioso e desgraçado da "lepra" da ganância, da vaidade, da mentira.

“Expulsar os demônios” significa libertar as pessoas de tudo o que escraviza, domina, amarra. Assim, podemos nomear alguns demônios: a mentira, a traição, o roubo, a desonestidade, a ganância, a exploração, o preconceito, a fofoca, o desrespeito, a preguiça etc. Esses demônios impedem a pessoa de se realizar como ser humano e gera muito mal na vida, no mundo.

Jesus nos constituiu como Igreja, novo Povo de Deus, não para ficarmos em torno de nós mesmos, de nosso egoísmo, de nossos caprichos e vaidades. Somos Povo de Deus para uma ação mais eficaz na história: “A messe é grande e precisa de operários”. Há muitos batizados, mas poucos são os operários.

Participar da Eucaristia não é um modo de nos tornarmos aceitos por Deus e tranquilizar nossa consciência. Participar da Eucaristia é nos colocarmos decididamente ao lado de Deus, de assumirmos efetivamente a defesa da vida dos filhos de Deus.

Você  participa da Eucaristia para se sentir em paz ou para trabalhar na vinha do Senhor? Você vive como operário na lavoura de Deus, ou vive apenas como batizado? Como você vive sua vida cristã? Ela tem algum traço de Jesus? Tente listá-los.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN