Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

aurelius

aurelius

Que a vingança dê lugar à reconciliação

aureliano, 16.09.23

24º Domingo do TC - A - 13 de setembro.jpg

24º Domingo do Tempo Comum [17 de setembro de 2023]

[Mt 18,21-35]

Como já dissemos em outro momento, o capítulo 18 de Mateus é um discurso com orientações de Jesus sobre a Igreja. No domingo passado a liturgia da palavra nos ajudava a rever nossa vida comunitária marcada pelo pecado. Como lidarmos, na comunidade, com o irmão que peca (Mt 18,15-20)? O caminho é a tentativa permanente de salvar a pessoa porque “não é da vontade de vosso Pai que está nos céus, que um desses pequeninos se perca” (Mt 18,14).

O evangelho deste domingo quer nos ajudar a trabalhar a realidade do perdão de ofensas interpessoais. Pedro pergunta a Jesus se deve perdoar até sete vezes. Está sendo muito generoso, pois a compreensão que se tinha do perdão recíproco era bem mesquinha. Os mestres daquele tempo explicavam que Deus perdoa até três vezes. À mulher, aos filhos e aos irmãos se recomendava que fossem perdoados certo número de vezes. Mas não se sabia ao certo quantas vezes. Prevalecia, geralmente, lei do Talião: “olho por olho e dente por dente” (cf. Ex 21,22-25).

Jesus vem trazer um ensinamento novo. Pede que se perdoe sempre: “setenta vezes sete”. Número que simboliza a plenitude. É preciso perdoar sempre, ilimitadamente. Como, aliás, já ensinara: “Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem” (Mt 5,44). Também no ensinamento sobre a oração, diz: “Perdoai-nos as nossas dívidas como nós perdoamos aos nossos devedores” (Mt 6,12).

Na parábola de hoje Jesus ilumina o caminho do cristão em dificuldade com o irmão: o perdão dado ao ofensor é precedido pelo perdão recebido do Pai. O sentido da parábola está em que Deus perdoa gratuitamente, desinteressadamente a quem lhe pede perdão. A consequência disso é que o ser humano perdoado deve aprender a perdoar seus irmãos gratuitamente, isto é, ainda que não haja nenhum merecimento ou mostras de conversão ou arrependimento da parte de quem ofendeu.

A dimensão do perdão das ofensas tem profundas consequências para a história. Nenhuma comunidade humana se constrói sem perdão. Às vezes somos induzidos por algumas ideias de que o mundo seria melhor se se aplicasse uma estrita justiça, simplesmente castigando-se os maus, sem benevolência. Alguns, insanamente, estão a repetir por aí: “Bandido bom é bandido morto”. Mas qual seria o futuro de uma sociedade ou de uma comunidade em que se suprimisse o perdão? Aonde queremos chegar quando defendemos e promovemos o “olho por olho e dente por dente”? Como é possível conciliar a crença no evangelho e a defesa da tortura e matança? Devemos nos convencer de que só o perdão consegue impor um limite ao mal.

“Queres ser feliz por um momento? Vinga-te. Queres ser feliz para sempre? Perdoa”. Essa expressão de Lacordaire, pensador francês, diz muito. Num primeiro momento somos tomados pela ira e desejamos vingar-nos, pagar o mal com o mal. Mas a satisfação gerada por essa atitude é muito fugaz. Depois vem o remorso, peso na consciência etc. Por isso a Igreja reza: “Sim, ó Pai, porque é obra vossa que a busca da paz vença os conflitos, que o perdão supere o ódio, e a vingança dê lugar à reconciliação” (Oração Eucarística VIII).

Quem não perdoa irá sempre culpar alguém e vingar-se. Isso produz sofrimento físico e espiritual. Não perdoar gera amargura, azedume, tristeza. Quem perdoa não deixa a amargura enraizar-se no seu coração.

Perdoar é também não julgar, não condenar, compreender, tolerar. Quando perdoamos damos um novo significado ao fato que nos magoou. O perdão realiza o encontro com a verdade de si e do outro. Perdoar é gesto de gratuidade, de generosidade que fazemos de nós mesmos a Deus e aos irmãos.

Perdoar não quer dizer fazer de conta que o mal não existiu nem ignorar a injustiça sofrida nem tampouco esquecer tudo como se nada tivesse acontecido. Não! A injustiça precisa ser reparada de alguma forma. Os instrumentais para ajudar o processo de conversão, de mudança de atitude precisam ser aplicados. E pode ocorrer de nunca nos esquecermos do mal que alguém nos fez. Mas essa lembrança não pode se transformar em ódio e desejo de vingança. O perdão é que cura a ferida.

Sem o perdão somos pesados, doentes, depressivos, agressivos, desumanos. O ressentimento e o desejo de vingança nos envenenam, tornando-nos agressivos, doentes. Podemos ser tomados pela insônia. Morremos aos poucos. Ficamos insuportáveis. Muitas doenças e males físicos e psíquicos têm sua raiz na falta de perdão.

“As conseqüências negativas da falta de perdão são tão perigosas e destruidoras que a Bíblia aconselha a perdoar antes do pôr do sol. Não deixar para amanhã. Não ir dormir com raiva: ‘Não se ponha o sol sobre vossa ira’ (Ef 4,26). Igualmente Jesus manda perdoar setenta vezes sete, isto é, sempre, imediatamente e de todo coração. O perdão é tão benéfico que deve ser dado incondicionalmente, totalmente, incansavelmente. Na oração do Pai Nosso, o perdão está ao lado do pão de cada dia. O perdão também é pão da vida, porque é o amor sem medidas, amor de mãe, amor misericordioso. É o perdão que possibilita a fraternidade e a boa qualidade do relacionamento humano” (Dom Orlando Brandes, Arcebispo de Aparecida).

---------xxxxx----------

CAMINHOS DE PERDÃO

O perdão é algo divino, mas difícil de se compreender e de se viver. O perdão nos torna parecidos com Deus. Sem perdão não se constrói comunidade, família, amizade. Sem perdão é impossível viver-se bem, ser feliz.

Quando Pedro faz essa pergunta a Jesus sobre quantas vezes deve perdoar, ele está querendo uma resposta que lhe atenda o desejo: o máximo até sete vezes! O espírito de vingança dos povos antigos e também no judaísmo era muito forte. A tolerância era quase zero.

Quando Jesus lhe responde "setenta vezes sete vezes" quer dizer que se deve perdoar sempre, sem medida, sem contabilizar. Não se deve vingar nunca, de ninguém. Como Deus é misericordioso e perdoa sempre, assim deve proceder o ser humano.

Essa medida do perdão proposta por Jesus faz lembrar Lamec que diz de si mesmo ser vingado setenta vezes por ter matado um inocente: “É que Caim é vingado sete vezes, mas Lamec setenta e sete vezes” (Gn 4,24). Jesus quer superar esse sentimento de vingança que leva à morte e mostra que o perdão é fonte de vida para quem perdoa e para quem é perdoado. É preciso quebrar a corrente da vingança, do ódio e da violência, como fez Jesus.

Devemos perdoar porque Deus nos perdoou primeiro. Nosso perdão dado aos outros é expressão de gratidão ao Pai pelo perdão que ele nos dá. Quem perdoa é perdoado: "Perdoai-nos como nós perdoamos". A medida do perdão de Deus é sem medida. Perdoamos com a certeza de que Deus nos perdoou primeiro.

Negar o perdão é renegar a misericórdia do Pai. É rejeitar o perdão que Ele nos dá todos os dias.

Perdoar está no nível da razão/vontade/liberdade, não do sentimento/emoção. Por isso a gente não esquece, pois a dor nos faz lembrar. Perdoar está no nível da razão iluminada pela fé, pelo evangelho. Ainda que eu me lembre e me entristeça pelo mal sofrido, digo para mim mesmo e para Deus: “Por amor de Jesus Cristo eu quero perdoar”. Jesus na cruz pediu perdão pelos seus malfeitores: “Pai, perdoa-lhes, não sabem o que fazem” (Lc 23,34). E Estêvão, secundando Jesus, rezou: “Senhor, não lhes leves em conta este pecado” (At 7,60).

Como você lida com o perdão? É capaz de rezar por aqueles que ofendem você? É capaz de desejar-lhes o bem? Fortalece no coração a capacidade de ampará-los se vierem a precisar de você? - Isso é caminho de perdão.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

 

O perdão e a paz vencem o medo

aureliano, 27.05.23

Pentecostes 2020 - 31 de maio.jpg

Solenidade de Pentecostes [28 de maio de 2023]

[Jo 20,19-23] 

UM POUCO DE HISTÓRIA

Inicialmente celebrada pelos israelitas, Pentecostes era a comemoração da colheita dos primeiros frutos do trigo. Porque marcava o 50º dia depois do início da colheita, era, por esse motivo, chamada de Pentecostes. (Confira Ex 23, 14-17; 34, 22; Lv 23,15-21; Dt 16, 9-12). É a festa da colheita. Portanto, tempo de muita alegria e fartura.       

A narrativa de At 2, 1-11 mostra a importância que ganhou na Igreja esta festa. Fazendo uso de um recurso literário, Lucas faz o Pentecostes cristão coincidir com o Pentecostes judaico. O Espírito se manifesta confirmando a missão que os discípulos haviam recebido do Mestre. Pentecostes marca o nascimento da Igreja. É a celebração dos frutos do Ressuscitado: o perdão e a paz que brotam de seu Coração bondoso, superando o egoísmo e a maldade do coração humano.

A MENSAGEM DO EVANGELHO

No próprio dia da Páscoa Jesus vem entregar o Dom do Espírito Santo aos seus discípulos. Este Dom garante a continuação da missão de Jesus no mundo. A missão de dar a paz e de tirar o pecado do mundo: “A paz esteja convosco” (Jo 20, 19); “Aqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados” (Jo 20, 23). É o próprio Jesus agindo por meio de sua Igreja.

“As portas estavam fechadas por medo dos judeus”: Esse relato nos faz pensar no medo que tomava conta dos discípulos antes de serem revestidos do Dom do Pai. Como o medo nos paralisa, nos fecha em nós mesmos, nos impede de servir! O medo é um sentimento que precisa ser assumido e trabalhado em nós. Quando agimos movidos pelo medo fazemos muito mal a nós e aos outros. Medo de assumir um trabalho na comunidade; medo de arriscar; medo de assumir a própria vida; medo de romper com relações que escravizam e destroem a própria vida e a vida dos outros; medo de falar e de viver a verdade; medo movido pela preocupação excessiva com a própria imagem: o que vão pensar ou dizer? Medo de chamar para conversar sobre dificuldades interrrelacionais. Medo da doença, medo da morte, medo de ser abandonado, desprezado, ridicularizado. É preciso vencer o medo! O medo fecha a porta para Deus e para os irmãos! “No mundo tereis tribulações, mas tende coragem: eu venci o mundo!” (Jo 16,33).

Mas há o outro lado da moeda: aqueles que querem amedrontar, causar pânico, intimidar os outros, gritar, esbravejar, calar a boca. Quantas pessoas se satisfazem provocando medo para dominar! Querem se impor pela força física, pela pressão psicológica, pelo cargo que exercem, pelas ameaças que fazem, pelo poder financeiro. Há muitas pessoas que sofrem terrivelmente debaixo de gente perversa, dominadora, satânica. Há gente que domina os outros até mesmo servindo-se da religião ou da boa-fé da pessoa. Crianças, mulheres, idosos, pobres, pessoas vulneráveis e indefesas são as principais vítimas dos dominadores. Um pecado que brada aos céus e pede a Deus vingança! Jesus nunca se impôs aos outros, nunca amedrontou ninguém. Pelo contrário, sempre mostrou-se afável, acolhedor, doador do perdão e da paz.

“Como o Pai me enviou também eu vos envio”. Palavra de Jesus aos discípulos antes de comunicar-lhes do Dom do Espírito Santo. É um elemento essencial na missão. O Pai enviou o Filho para comunicar seu amor ao mundo. Agora o Filho envia aqueles que ele escolheu e consagrou com essa mesma missão: o Pai nos ama e quer salvar a todos. Quer comunicar-nos o perdão e a paz. A Igreja é a mensageira e portadora dessa Boa Nova.

ABRIR O CORAÇÃO PARA A MISSÃO

Ao longo de seu ministério Jesus havia prometido o Espírito Santo aos seus discípulos para auxiliá-los na tarefa que lhes confiaria. Ele teria a missão de inspirá-los, fortalecê-los, lembrar-lhes o que lhes havia ensinado. Desde então lhes restava plantar, pois o Pai garantiria a colheita.

Compete a nós abrir o coração para a ação do Espírito Santo em nossa vida a fim de que nossa vida e nossas comunidades se renovem. Aquele vigor concedido aos primeiros discípulos continua sendo dado a quem se abre à sua ação libertadora. Deixemos o Espírito agir em nós, pois sem a sua força a Igreja fica estéril e confusa, sem ternura e sem missão.

-----------xxxxx-----------

A FORÇA DO ALTO PERDOA E ANIMA

A festa de Pentecostes tem sua história na comunidade israelita. Inicialmente era o agradecimento a Deus pelos frutos da terra. Uma festa agrícola. Posteriormente foi associada à entrega da Lei no Sinai, tornado-se assim a festa da Aliança de Deus com seu povo.

No cristianismo, Pentecostes celebra a manifestação pública da Igreja. Embora, segundo João, o Espírito Santo seja dado no dia da Páscoa, na Ressurreição, a comunidade lucana a coloca cinquenta dias depois da Páscoa, para evocar e celebrar a manifestação pública da Igreja. Em forma de “línguas de fogo” para dizer do testemunho e da palavra dos discípulos de Jesus manifestando a ação de Deus na pessoa de Jesus de Nazaré. No Sinai foi entregue a Lei a Moisés, escrita em tábuas de pedra. Aqui celebramos a Lei derramada nos nossos corações.

 O evangelho deste domingo mostra a comunidade dos discípulos acuada, medrosa. Os discípulos não tinham iniciativa nem coragem de anunciar a experiência que haviam feito de Jesus. Aquele em quem haviam depositado a esperança frustrou-lhes as expectativas: morrera na cruz como um malfeitor. Porém, a divina “Ruah” do alto, aquele Sopro vital os encheu de novo ânimo, de coragem. Começam então a anunciar, com todo ardor e entusiasmo, aquela realidade que haviam experimentado: a vida de Jesus e a vida em Jesus é o caminho para se viver de maneira justa, alegre e mais feliz.

Soprou sobre eles e disse...”. Esta passagem nos faz lembrar aquele sopro vital que o Criador fez penetrar no homem formado da argila: “Ele insuflou nas suas narinas o hálito da vida, e o homem se tornou um ser vivo” (Gn 2,7). Ou mesmo aquele Sopro de vida de que fala o profeta Ezequiel: “Porei meu sopro em vós para que vivais” (Ez 37,14). Somos cristãos leigos de barro, padres de barro, bispos de barro. É o Sopro Santo de Deus que nos comunica vida. Jesus comunica a nova vida que ele veio trazer do Pai: o Espírito Santificador que nos inspira, nos ilumina, nos fortalece para darmos testemunho da ressurreição do Senhor.

É interessante notar que o Espírito Santo não desceu somente sobre os “Onze”. Ele veio sobre todos que estavam no Cenáculo. Ali havia muitas outras pessoas além dos Apóstolos. O Espírito de Jesus penetra no coração daquelas pessoas e lhes dá novo vigor, novo sentido de vida. Sem o Espírito Santo a vida fica sem sentido, vazia, deslocada daquele centro vital para o qual o Pai nos criou. Desfocada, a vida começa a perder o sentido e o pecado encontra guarida dentro de nós. É a destruição de nossa vida. A alegria dá lugar à tristeza, a paz cede a brigas e intrigas, a partilha perde terreno para o egoísmo, o perdão é substituído pelo desejo de vingança, a fraternidade é suplantada pela dominação e coisificação das pessoas, a fé perde para a dúvida e o ceticismo.  Quando Jesus sopra sobre os discípulos e lhes dá o Espírito Santo com o poder de perdoar os pecados, ele quer mostrar que a missão da Igreja, pela força do Espírito Santo, deve ser a de tirar o pecado do mundo.

O pecado, segundo Pe. Antônio Pagola, é a “força de gravidade que nos impede de ir a Deus”. Muito mais do que culpa, é peso, escravidão. Mais do que falar de perdão, é preciso, pois, falar de libertação. Por isso chamamos a Jesus de Salvador. Nota-se, pois, uma vez mais, que o Evangelho não é um ligeiro verniz que se passa no ser humano, mas é tomá-lo a partir do seu ser mais profundo, assim como é, e tornar possível sua volta para Deus. Este é o primeiro fruto do Espírito de Jesus: a libertação. Este é o Espírito, o Espírito do Filho, o Espírito dos filhos, aquele que nos resgata da escravidão da terra e nos abre o horizonte luminoso de filhos.

Esse Espírito traz e atualiza a novidade de Cristo: “Sem o Espírito Santo, Deus está distante; o Cristo permanece no passado; o evangelho, uma letra morta; a Igreja, uma simples organização; a autoridade, um poder; a missão, uma propaganda; o culto, um arcaísmo; e a ação moral, uma ação de escravos. Mas no Espírito Santo o cosmos é enobrecido pela geração do Reino, o Cristo ressuscitado está presente, o evangelho se faz força do Reino, a Igreja realiza a comunhão trinitária, a autoridade se transforma em serviço, a liturgia é memorial e antecipação, a ação humana se deifica” (Atenágoras I, Patriarca de Constantinopla).

Todos nós sentimos dificuldades. Todos sentimos a fraqueza na fé, a fragilidade da existência, a força do pecado em nós. Por vezes o mal parece prevalecer. O bem fica apagado. Fazemos o bem, nos empenhamos na construção de um mundo melhor, mas parece que nossa luta é em vão. Então peçamos ao Espírito Santo que, como aos discípulos e discípulas no Cenáculo, nos encha de seu amor, de sua luz, de sua força:

Vem Espírito Santo e liberta-nos do pecado, fortalece nossa pequenez, dá-nos tua força contra o mal. Não nos deixes desanimar, desistir de caminhar na direção do bem. Mais do que fazer o bem, ajuda-nos a ser bons, justos, solidários, fraternos. Enche-nos de tua bondade, de tua sabedoria para reproduzirmos em nossa vida as ações de Jesus que passou pelo mundo “fazendo o bem”. Faze que nossa vida manifeste a todos o amor do Pai, manifestado em Jesus de Nazaré. Amém.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

Conversão: assumir atitudes novas

aureliano, 03.12.22

2º Domingo do Advento - A - 04 de dezembro.jpg

2º Domingo do Advento [04 de dezembro de 2022]

[Mt 3,1-12]

Advento é tempo de conversão. “Arrependei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo” (Mt 3,2). Com imagens em estilo apocalíptico, João Batista anuncia o Reinado de Deus. Essas imagens usadas por João escondem uma realidade: para Deus não há privilegiados – ‘sou católico’; ‘minha mãe reza o suficiente por mim’; ‘vou à missa todos os domingos’; ‘sou dizimista’; ‘tenho muita fé’ ou coisas do gênero –. É preciso fazer um caminho de conversão.

A conversão comporta dois elementos: o arrependimento, ou seja, um olhar para o passado com desejo de mudar de vida. É o pedido de perdão com a busca sincera de se emendar. O outro elemento, muito ligado a este, é a conversão: metanoia, ou seja, mudança de mentalidade. Significa que o seguidor de Jesus deve passar a pensar e a agir como Jesus. É assumir a forma de viver e de atuar de Jesus (cf. Rm 15,5; Fl 2, 5-11) .

Temos então o momento da consciência – um olhar retrospectivo com vontade de mudar de vida – e o momento da prática que é o comprovante de nossa mudança de vida, quando assumimos na nossa vida o ensinamento de Jesus.

Pelo que vamos entendendo sobre vida cristã, estritamente falando, Advento não é tempo para preparar a festa do Natal, mas para celebrar a Vinda do Senhor. Então saímos da corrente consumista que vê nas festas natalinas uma ocasião de gastar, de comprar, de vender, de comer e beber desbragadamente, sem limite. Agora é tempo de conferir como está nossa vida em Cristo e como estamos nos preparando para sua vinda.

Fé cristã não é ir ao templo para rezar, mas uma postura nova de vida a partir do que Jesus ensinou, sobretudo no tocante ao amor fraterno. Conversão não significa uma guinada de noventa graus na vida para durar uma, duas semanas, não! Conversão é um processo permanente de nos colocarmos diante de Deus com o coração aberto e dispostos a acolher o novo, as pessoas como elas são; sermos generosos no perdão, nos desculparmos com humildade quando erramos, derrubar os muros que nos separam uns dos outros, criar pontes de aproximação e perdão, vencer as barreiras que geram desencontros dentro de nossa própria casa; assumindo uma postura ética no trabalho, nos negócios, com as pessoas. Isso se dá com o tempo, ao longo da vida, e não de um dia para o outro.

Deus não se deixa impressionar por exterioridades. Celebrações vazias que não movem o coração e a mente nem dos participantes nem dos que as presidem, tornam a todos semelhantes aos fariseus e saduceus que foram pedir o batismo a João. Ouviram aquelas palavras terríveis: “Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir? Produzi, então, fruto digno de arrependimento e não penseis que basta dizer: ‘Temos por pai Abraão’. Pois eu vos digo que mesmo destas pedras Deus pode suscitar filhos de Abraão” (Mt 3,8-9).

“Abre a porta, deixa entrar o Rei da Glória. É o tempo: ele vem orientar a nossa história”.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

A fé se concretiza na caridade

aureliano, 01.10.22

27º Domingo do TC - 06 de outubro - C.jpg

27º Domingo do Tempo Comum [02 de outubro de 2022]

[Lc 17,5-10]

No evangelho deste domingo, Jesus continua formando seus discípulos para o serviço a partir do fortalecimento da fé para servirem melhor.

O contexto imediatamente anterior do evangelho de hoje mostra Jesus ensinando a necessidade do perdão: “Caso teu irmão peque contra ti sete vezes por dia e sete vezes retornar dizendo ‘estou arrependido’, tu lhe perdoarás” (Lc 17, 4). Parece que perdoar não era algo fácil para os discípulos, como não o é para nós. Por isso pedem: “Aumenta-nos a fé”. O perdão é algo intrinsecamente unido à fé. Perdoamos porque acreditamos num Deus que ama e perdoa. Perdoamos porque sem perdão não há convivência, alegria, vida.

Penso que vale a pena recordar aqui a crise de fé de que por vezes somos assaltados. Sobretudo quando situações difíceis, dolorosas nos acometem; então perguntamos: “Onde está Deus em meio a tudo isso?” Por essas crises passaram também profetas e santos. Crise de fé não é ateísmo. Normalmente as crises de fé vêm acompanhadas de crises existenciais, ou seja, dificuldades no relacionamento familiar, no sentido de vida, fases da própria idade, situações de doença etc. Como diz Leonardo Boff: “Crise é oportunidade de crescimento”. Se vivenciarmos bem nossas crises de fé, certamente sairemos mais amadurecidos, mais firmes, mais comprometidos. Para isso é preciso pedir: “Senhor, aumentai a minha fé”.

Crer é dar-se a Deus. É ancorar-se somente n’Ele. Confiar no seu amor apesar de todas as aparências contrárias, porque sua palavra não nos pode enganar. A fé é diferente de religião embora esteja relacionada com ela. Também não é uma adesão intelectual a uma doutrina ou série de verdades abstratas, mas é adesão a uma Pessoa, a Deus, que nos propõe seu amor em Cristo morto e ressuscitado. É dom de Deus e tarefa humana para tornar-se a alma de nossa vida cotidiana e da comunidade cristã.

O discípulo que assume a fé em Jesus Cristo como comprometimento pessoal não fica contabilizando o bem que faz (como os politiqueiros que querem sempre tirar vantagem de tudo), mas coloca-se sempre como alguém que fez o que devia ter feito.

Só uma fé madura, acrisolada (passada pelo crisol/crise) nos dará coragem de assumir o avental de servidores, nos desvestindo do manto de senhores. Então poderemos transportar para o mar as montanhas do egoísmo, do consumismo, do preconceito, da maldade. Isso mediante uma fé informada pela caridade (Cf. Gl 5,6).

--------xxxxx--------

COLABORADORES DE DEUS

Dois elementos precisam ser considerados neste relato evangélico da liturgia deste domingo: a fé e o serviço.

Quando os discípulos pedem a Jesus “aumenta a nossa fé”, não devem pensar em termos de quantidade, pois a fé não se quantifica. O que devem pedir a Jesus é o reavivamento da fé. Agora, não mais como judeus observantes, mas como discípulos de Jesus, precisam de uma fé renovada, madura, comprometida com a nova proposta de Reino trazida por Jesus. Sem uma fé reavivada, refeita, madura não dariam conta de realizar o seguimento de Jesus “até Jerusalém”. A fé agora não é aquela de acreditar num Deus de conveniência, mas uma fé que desperte a responsabilidade com o Reino de Deus e a possibilidade de amar como Jesus amou: “até o fim” (Jo 13,1). É essa a fé que transporta “montanhas”.

O segundo elemento é o do serviço generoso. Certamente, na comunidade dos primeiros discípulos estavam surgindo aqueles que buscavam os primeiros lugares, que brigavam pelo poder, que reclamavam reconhecimento e aplausos pelo que faziam, que se beneficiavam política e economicamente dos lugares de comando e coordenação. E Jesus vai dizer que, no Reino trazido por ele, esse tipo de busca precisa ser desfeito, invertido. O que conta para o discípulo do Reino é ser colaborador de Deus. Nada mais. Ninguém deve ficar à cata de aplausos, de reconhecimento social, de sucesso. Deve, outrossim, colocar no coração que  cada um está aí para colaborar com a obra da salvação, independente de resultados.

*Mês das Missões: “Sereis minhas testemunhas” (At 1,8). Com esse versículo dos Atos dos Apóstolos, o Papa Francisco nos exorta à missão neste ano de 2022. Vejamos: É pedido aos discípulos para construírem a sua vida pessoal em chave de missão: são enviados por Jesus ao mundo não só para fazer a missão, mas também e sobretudo para viver a missão que lhes foi confiada; não só para dar testemunho, mas também e sobretudo para ser testemunhas de Cristo. Assim o diz, com palavras verdadeiramente comoventes, o apóstolo Paulo: «Trazemos sempre no nosso corpo a morte de Jesus, para que também a vida de Jesus seja manifesta no nosso corpo» (2 Cor 4, 10). A essência da missão é testemunhar Cristo, isto é, a sua vida, paixão, morte e ressurreição por amor do Pai e da humanidade. Não foi por acaso que os Apóstolos foram procurar o substituto de Judas entre aqueles que tinham sido, como eles, testemunhas da ressurreição (cf. At 1, 22). É Cristo, e Cristo ressuscitado, Aquele que devemos testemunhar e cuja vida devemos partilhar. Os missionários de Cristo não são enviados para comunicar-se a si mesmos, mostrar as suas qualidades e capacidades persuasivas ou os seus dotes de gestão. Em vez disso, têm a honra sublime de oferecer Cristo, por palavras e ações, anunciando a todos a Boa Nova da sua salvação com alegria e ousadia, como os primeiros apóstolos”. (Mensagem para o Dia Mundial das Missões de 2022).

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

 

Jesus não veio condenar, mas salvar

aureliano, 01.04.22

5º Domingo da quaresma - C - 03 de abril.jpg

5º Domingo da Quaresma [03 de abril de 2022]

[Jo 8,1-11]

Estamos nos aproximando da celebração da Páscoa do Senhor. Esse tempo da quaresma quer-nos ajudar a perceber onde estamos e por onde devemos caminhar. A conversão é a palavra central, pois sem este exercício não se vive a proposta de Jesus. A proposta para desviar-nos do caminho de Jesus é-nos feita constantemente pelas forças do mal. Os textos bíblicos deste tempo vêm-nos ajudar a rever nossa caminhada batismal. Que diferença tem feito em nossa vida sermos batizados ou não?

O relato do evangelho deste domingo é muito conhecido. Está dentro do evangelho de João, mas certamente não é escrito joanino, pois seu gênero literário não coincide com o de João. A crítica literária o coloca mais próximo de Lucas, sugerindo que ele deveria estar em Lc 21,38. Nem todos os manuscritos trazem esse relato dentro do evangelho de João.

Aliás, é bom lembrar que é o texto iluminador da Campanha da Fraternidade desse ano: Fraternidade e Educação. Jesus é um grande educador: Enxerga o problema, escuta, sente o pavor daquela mulher e os argumentos do seus justiceiros. Não polemiza, não acirra ânimos,  não pensa o problema de modo isolado. antes procura escutar em silência o que dizem. Depois, em diálogo, conduz pedagogicamente todas as partes envolvidas para que sintam e reflitam sobre as fragilidades humanas, às quais todos estão sujeitos (Texto-Base, 21).

Uma vez que esse texto foi reconhecido pela comunidade cristã como texto inspirado por Deus, o que nos interessa mesmo no evangelho de hoje é que ele traz um grande ensinamento para nós e nossas comunidades. Fazendo memória do evangelho do domingo passado (parábola do Pai misericordioso), notamos aqui mais uma confirmação do rosto misericordioso do Pai que Jesus nos veio revelar. É uma realização prática daquelas palavras da Escritura: “Quero a misericórdia e não o sacrifício” (Mt 12,7). E ainda: “Não quero a morte do pecador, mas que ele se converta e viva” (Ez 33,11).

Quando o evangelho diz que o povo ficava em volta de Jesus para escutá-lo significa que ele tinha algo de novo, que fazia a diferença na vida daquelas pessoas. Jesus tinha uma força que atraía as pessoas, conquistava, particularmente os marginalizados. Como diz Marcos: “Ele ensinava como quem tem autoridade, e não como os escribas” (Mc 1,22).

Trazem uma situação para Jesus resolver: uma mulher surpreendida em flagrante adultério. (Só não trouxeram o homem que adulterava com ela! – cf. Dt 22,22). Aliás, já estava resolvido para os mestres da Lei e os fariseus: “Moisés na Lei mandou apedrejar tais mulheres”. O gesto de Jesus de se inclinar e escrever com o dedo no chão pode indicar que estava dando um tempo e pensando como iria responder àquela pergunta capciosa. É a indicação de que a gente não deve responder sem pensar a perguntas e situações que envolvem a vida dos outros. É preciso parar, pensar, rezar, pedir inspiração ao Espírito Santo. Foi o que fez Jesus.

E a resposta sábia de Jesus colocou todos ‘contra a parede’: “Quem dentre vós não tiver pecado seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”. Com essa resposta Jesus quis dizer que a ninguém é permitido tirar a vida do outro, por maior que seja o seu pecado ou o seu crime.

Com essas palavras e atitudes Jesus condena a pena de morte. Por aí se vê claramente como atitudes de alguns governos andam na contramão do Evangelho. Bíblia na mão, mas a Palavra de Deus longe do coração. Não basta dizer que tem fé em Deus, frequentar o templo ou citar frases bíblicas soltas, descontextualizadas. Como diz Frei Carlos Mesters: “Todo texto fora de contexto se torna pretexto”.

Não se combate o mal com violência. Não há notícia na face da terra de que alguma violência tenha trazido algum benefício. Já a tolerância, a misericórdia, o perdão, a reconciliação sim. É preciso quebrar a corrente da violência. É preciso mudar de lente e de coração. Muito interessante observar o olhar de Jesus. Não condena, mas salva. Enquanto os homens viam uma adúltera, Jesus via uma mulher.

O perdão de Deus antecede nosso arrependimento: Esse relato nos quer fazer compreender também que o perdão de Deus é gratuito. Deus não nos perdoa porque nos arrependemos. Não! Na verdade nós nos arrependemos porque Deus nos perdoa. Em Lucas 7,47 encontramos Jesus na relação com aquela mulher pecadora que demonstra muito amor porque foi perdoada. Ou seja, Deus não nos perdoa porque amamos muito, mas nosso amor é resposta ao perdão que ele já nos deu. Deus nos perdoa sempre e sem condições. Se não fosse assim estaríamos esvaziando a Encarnação e a Cruz de Jesus. Não teria sentido sua vinda ao mundo! A salvação dependeria de nós e não da graça de Deus! Não precisamos ocultar nossa condição de pecadores, mas aceitá-la como lugar de perdão e de encontro profundo com Deus misericordioso.

Jesus não vê uma adúltera, mas uma mulher: Para o judeu piedoso, a santidade de Deus não admite diante de si qualquer realidade impura. E o Código de Santidade protegeu as mulheres em alguns aspectos, mas em outros trouxe muito embaraço devido à compreensão que se tinha de pureza. Vamos acompanhar o comentário de Frei Mesters, Ir Mercedes Lopes e Francisco Orofino:

“Desde Esdras e Neemias, a tendência oficial era de excluir a mulher de toda a atividade pública e de considerá-la inapta para qualquer função na sociedade, a não ser para a função de esposa e mãe. O que mais contribuiu para a sua marginalização foi a lei da pureza. A mulher era declarada impura por ser mãe, por ser esposa, por ser filha, por ser mulher. Por ser mãe: dando à luz, ela se torna impura. Por ser filha: o filho que nasce traz 40 dias de impureza; mas a filha, 80 dias! (cf. Levítico 12). Por ser esposa: a relação sexual a torna impura durante um dia (cf. Levítico 15,18). A mulher menstruada ficava sete dias impura. E quem a tocasse também se tornava impuro por contágio (cf. Levítico 15,19-23). E não havia meio para uma mulher manter sua impureza em segredo, pois a lei obrigava as outras pessoas a denunciá-la. Esta legislação tornava insuportável a convivência diária em casa. Durante sete dias em cada mês, a mãe de família não podia deitar na cama, nem sentar-se numa cadeira, nem tocar nos filhos ou no marido, se não quisesse contaminá-los! Esta legislação é fruto de uma mentalidade segundo a qual a mulher era inferior ao homem. Alguns provérbios revelam essa discriminação da mulher. A marginalização chegou ao ponto de se considerar a mulher como a origem do pecado e da morte e a causa de todos os males (cf. Eclesiástico 25,24).

Desta maneira se justificavam e se mantinham o privilégio e a dominação do homem sobre a mulher. Por exemplo, se um homem depois de algum tempo de casado, não gostasse mais da sua mulher, podia livrar-se dela dizendo que ela já não era virgem quando se casaram. Se os pais da mulher não conseguissem provar o contrário, ela seria apedrejada (cf. Deuteronômio 22,13ss). A lei em relação ao divórcio é outro exemplo do privilégio do homem, pois somente ele tinha o direito de pedir o divórcio, mandando a mulher embora se já não a quisesse (cf. Deuteronômio 24,1-4). A lei previa a morte do casal adúltero, mas na prática somente a mulher era julgada e condenada por adultério” (www .cebi.com).

Felizmente, há outros textos e livros da Sagrada Escritura que mostram a ação de Deus no mundo através da mulher. Temos o livro do Cântico dos Cânticos, Rute, Judite, Ester. Maria, mãe de Jesus, tem uma participação ímpar nessa história de salvação! Então é preciso mudar a mentalidade em relação à mulher, romper com o machismo ainda tão presente na sociedade e construirmos uma sociedade de igualdade de direitos e deveres. Isso precisa começar dentro de nossa casa, de nossa Igreja.

Os pequenos gestos de acolhida, de reconhecimento, de perdão, de respeito podem transformar a maneira de pensar e de viver da sociedade. Isso é conversão: de um olhar condenatório a um olhar transformado por uma vida em Cristo. Um olhar e um coração transfigurados por Cristo ressuscitado. Eis o ideal cristão.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

Quebrar a corrente da violência

aureliano, 19.02.22

7º Domingo do TC - C - 20 de fevereiro.jpg

7º Domingo do Tempo Comum [20 de fevereiro de 2022]

[Lc 6,27-38]

Um sentimento que insiste em habitar no coração humano é o da vingança: pagar o mal com o mal. Uma forma de compensar a dor sofrida é fazer o outro sofrer também. Ou, no mínimo, desejar o mal a quem nos fez mal.

Em A República, capítulo I, no diálogo em busca da definição de justiça no sentido de “dar a cada um o que lhe compete”, Sócrates faz Polemarco afirmar que “a Justiça é favorecer aos amigos e prejudicar os inimigos”. Ora, se o inimigo faz o mal, portanto deve-se-lhe devolver o que ele oferece: o mal. É muito bom prestarmos atenção nisso, pois é isso que escutamos e vemos todos os dias nas redes sociais e televisão. Pagar o mal com o mal. Quem faz o mal deve receber o mal. Recorrer às armas de fogo ou a qualquer outro armamento para combater o mal ou retribuir o mal que recebi. Já prestaram atenção naquelas frases emblemáticas de para-brisa de carro ou para-choque de caminhões? “Que você receba em dobro tudo o que me deseja”. E por aí se vai...

A compreensão de justiça na Sagrada Escritura se distancia da compreensão filosófica. Jesus vem nos ensinar como se deve entender e fazer justiça.  A justiça do Reino de Deus contesta e corrige a justiça humana. Colocar na mente e no coração a novidade trazida por Jesus que estabelece relações a partir do princípio da misericórdia não é tarefa fácil.

Nasce daqui a importância revolucionária que Jesus introduz nas relações humanas acometidas pelos conflitos e violência: “Amai os vossos inimigos e fazei o bem aos que vos odeiam” (Lc 6,27). Não se pode entender e praticar isso senão mediante o dom da fé. Uma relação amorosa e confiante com o Pai.

Quando Jesus fala do amor aos inimigos, não está falando de mero sentimento em relação a eles. Certamente o sentimento não será livre de dor, de mágoa, sobretudo quando ficam marcas, feridas profundas, cicatrizes que atravessam gerações. Quando deparamos com nossas dores diante do mal causado pelo inimigo, é natural dar-nos tempo para recuperar a paz. Aliás, não é possível ao ser humano simplesmente dizer que está perdoado, e pronto. O perdão não acontece de um dia para o outro. É um processo longo e trabalhoso.

Isso nos ajuda a entender que Deus também tem paciência conosco e nos espera no nosso tempo para nos perdoar.  Portanto, é bom compreendermos que Jesus está falando de atitude que brota da vontade, do querer, de se interessar pelo bem do inimigo. E não de mero sentimento. Uma realidade que parte da experiência de fé. Por causa da minha fé em Jesus, da minha adesão a ele e ao seu evangelho, quero que o meu inimigo, aquele que me fez o mal, se converta e viva, mude de vida, peça perdão, assuma uma vida nova.

Há pessoas que dizem: “Fulano pra mim não existe mais. Não faz mais diferença em minha vida!”. Isso significa que o ofensor foi assassinado no coração. Está morto. Então não houve perdão, mas assassinato. Neste caso o ódio deu lugar à indiferença. Tanto pior.

A novidade introduzida por Jesus quebra a corrente da violência. Ao morrer na cruz, vítima do ódio e violência de seus inimigos, Jesus quis que a corrente da violência terminasse nele, em sua entrega de amor. Nós, seus discípulos, queremos também quebrar a corrente da violência. Ao pagar o mal com o bem, ao abençoar quem nos amaldiçoa, ao pedir a Deus pelos inimigos e ofensores, enfraquecemos a força do mal que insiste em prevalecer no mundo.

O que está em jogo aqui é o amor de Deus que está para além e envolve toda miséria humana. Um amor gratuito, generoso, que não exige nada em troca. Não tem nada a ver com aquela liberalidade humana do chefe que, para agradar os subordinados e ser querido por eles, dá um lauto banquete e distribui presente a todos. Não! Não é isso. Trata-se de uma atitude amorosa, gratuita que se fundamenta em Deus, por causa de Deus, por amor a Deus.

A primeira leitura de hoje (1Sm 25,2.7-9.12-13.22-23) traz uma demonstração disso. Saul quis matar Davi. E este conseguiu se salvar da lança do Monarca. Quando surge uma oportunidade de Davi acabar com a vida de seu perseguidor, não o faz. Por quê?  Pelo fato de ser um ungido do Senhor: “Não o mates! Pois quem poderia estender a mão contra o ungido do Senhor, e ficar impune?” (1Sm 26,11). Davi entrega a Deus a causa: “O Senhor retribuirá a cada um conforme a sua justiça e fidelidade. Pois ele te havia entregue hoje em meu poder, mas eu não quis estender a mão contra o ungido do Senhor” (1Sm 26,23). Quando vejo no outro, por pior que ele me possa parecer, a imagem de Deus, me predisponho a fazer um caminho de perdão e de amor.

Essa passagem da Escritura poderia iluminar também as guerras e conflitos mundiais. Governantes que se dizem cristãos ficam de espreita para avançar e destroçar as comunidades, povos e nações. Sem piedade nem constrangimento nenhum pelo mal causado aos pequenos e fracos. Uma sede satânica de destruição, de usurpação, de avançar e tomar territórios e patrimônios dos outros! Que tristeza! Que falta de humanidade! Que falta de Deus e do evangelho em nosso mundo!

“Sede misericordiosos como vosso pai é misericordioso” (Lc 6,36). Jesus não está pedindo que sejamos perfeitos como o Pai (como está dito em Mt 5,48), mas que imitemos sua bondade, seu gesto de perdão. A medida de nosso perdão oferecido aos ofensores e inimigos faz com que o Pai não nos julgue, não nos condene, mas nos perdoe sempre (cf. Lc 6,37). Pois “com a mesma medida que medirdes, sereis medidos” (Lc 6,38).

Podemos também dizer que o gesto de perdão proposto por Jesus não é uma questão opcional. Não depende de nossa escolha, como se cada um pudesse decidir se perdoa ou não, sem implicação para a humanidade. Não! A generosidade, o perdão, a busca do bem para as pessoas são constitutivos da busca do querer de Deus. É obra de “justiça” no sentido bíblico: nossa relação filial com Deus justo e santo. No perdão acontece nossa realização como cristãos. Em síntese, poderíamos dizer que, sem esse espírito, o nome de cristãos não corresponderia ao que dizemos ser e acreditar.

O cristão é aquele que, no seguimento de Cristo, faz um caminho diferente da proposta social. Caminha na contramão da história. Coloca-se em contestação da sociedade de consumo, de vingança, de violência, de dominação, de mentira, de aparência, de busca de sucesso e poder. Suas atitudes são “estranhas”, incompreensíveis: amar os inimigos, abençoar os amaldiçoam, rezar pelos perseguidores (cf. Lc 23,24. At 7,60).

Portanto, perdoar não é esquecer. Perdoar é dar tempo ao tempo. É saber trabalhar dentro de si o desejo de vingança, o sentimento de ódio. É compartilhar com alguém a dor da ferida sofrida. É buscar a paz interior. É amar de novo. É dar nova oportunidade. É entregar o ofensor nas mãos do Pai misericordioso. Todas as vezes que se lembrar da ofensa, que sentir a dor doída no coração, oferta ao Pai do céu ambos: o ofendido e o ofensor. E poderá dizer com toda confiança: “Pai nosso... perdoai-nos como nós perdoamos”.

Contemplemos o Cristo na Cruz que disse: “Pai, perdoa-lhes porque eles não sabem o que fazem” (Lc 23,34). Estêvão, nas pegadas de Jesus, também perdoou: “Senhor, não lhes leve em conta este pecado” (At 7,60).

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

 

O perdão e a paz: dons do Espírito Santo

aureliano, 22.05.21

Pentecostes 2018.jpg

Solenidade de Pentecostes [23 de maio de 2021]

[Jo 20,19-23] 

UM POUCO DE HISTÓRIA

Inicialmente celebrada pelos israelitas, Pentecostes era a comemoração da colheita dos primeiros frutos do trigo. Celebrada no 50º dia depois do início da colheita, era, por esse motivo, chamada de Pentecostes. (Confira Ex 23, 14-17; 34, 22; Lv 23,15-21; Dt 16, 9-12). É a festa da colheita, portanto, tempo de muita alegria e fartura.

A narrativa de At 2, 1-11 mostra a importância que ganhou na Igreja esta festa. Fazendo uso de um recurso literário, Lucas faz o Pentecostes cristão coincidir com o Pentecostes judaico. O Espírito se manifesta confirmando a missão que os discípulos haviam recebido do Mestre. Pentecostes marca o nascimento da Igreja. É a celebração dos frutos do Ressuscitado: o perdão e a paz que brotam de seu Coração bondoso, superando o egoísmo e a maldade do coração humano.

A MENSAGEM DO EVANGELHO

No próprio dia da Páscoa Jesus vem entregar o Dom do Espírito Santo aos seus discípulos. Este Dom garante a continuação da missão de Jesus no mundo. A missão de dar a paz e de tirar o pecado do mundo: “A paz esteja convosco” (Jo 20, 19); “Aqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados” (Jo 20, 23). É o próprio Jesus agindo por meio de sua Igreja.

“As portas estavam fechadas por medo dos judeus”: Esse relato nos faz pensar no medo que tomava conta dos discípulos antes de serem revestidos do Dom do Pai. Como o medo nos paralisa, nos fecha em nós mesmos, nos impede de servir! O medo é um sentimento que precisa ser assumido e trabalhado em nós. Quando agimos movidos pelo medo fazemos muito mal a nós e aos outros. Medo de assumir um trabalho na comunidade; medo de arriscar; medo de assumir a própria vida; medo de romper com relações que escravizam e destroem a própria vida e a vida dos outros; medo de falar e de viver a verdade; medo movido pela preocupação excessiva com a própria imagem: o que vão pensar ou dizer? Medo de chamar a outra pessoa para conversar sobre dificuldades interrrelacionais. É preciso vencer o medo! O medo fecha a porta para Deus e para os irmãos!

“Como o Pai me enviou também eu vos envio”. Palavra de Jesus aos discípulos antes de comunicar-lhes do Dom do Espírito Santo. É um elemento essencial na missão. O Pai enviou o Filho para comunicar seu amor ao mundo. Agora o Filho envia aqueles que ele escolheu e consagrou com essa mesma missão: o Pai nos ama e quer salvar a todos. Quer comunicar-nos o perdão e a paz. A Igreja é a mensageira e portadora dessa Boa Nova.

ABRIR O CORAÇÃO PARA A MISSÃO

Ao longo de seu ministério Jesus havia prometido o Espírito Santo aos seus discípulos para auxiliá-los na tarefa que lhes confiaria. Ele teria a missão de inspirá-los, fortalecê-los, lembrar-lhes o que lhes havia ensinado. Desde então lhes restava plantar, pois o Pai garantiria a colheita.

Compete a nós abrir o coração para a ação do Espírito Santo em nós a fim de que nossa vida e nossas comunidades se renovem. Aquele vigor concedido aos primeiros discípulos continua sendo dado a quem se abre à sua ação libertadora. Deixemos o Espírito agir em nós, pois sem a sua força a Igreja fica estéril e confusa, sem ternura e sem missão.

-----------xxxxx-----------

A FORÇA DO ALTO PERDOA E ANIMA

A festa de Pentecostes tem sua história na comunidade israelita. Inicialmente era o agradecimento a Deus pelos frutos da terra. Uma festa agrícola. Posteriormente foi associada à entrega da Lei no Sinai, tornado-se assim a festa da Aliança de Deus com seu povo.

No cristianismo, Pentecostes celebra a manifestação pública da Igreja. Embora, segundo João, o Espírito Santo seja dado no dia da Páscoa, na Ressurreição, a comunidade lucana a coloca cinquenta dias depois da Páscoa, para evocar e celebrar a manifestação pública da Igreja. Em forma de “línguas de fogo” para dizer do testemunho e da palavra dos discípulos de Jesus manifestando a ação de Deus na pessoa de Jesus de Nazaré. No Sinai foi entregue a Lei a Moisés, escrita em tábuas de pedra. Aqui celebramos a Lei derramada nos nossos corações.

 O evangelho deste domingo mostra a comunidade dos discípulos acuada, medrosa. Os discípulos não tinham iniciativa nem coragem de anunciar a experiência que haviam feito de Jesus. Aquele em quem haviam depositado a esperança frustrou-lhes as expectativas: morrera na cruz como um malfeitor. Porém, a “Ruah” do alto, aquele Sopro vital os encheu de novo ânimo, de coragem. Começam então a anunciar, com todo ardor e entusiasmo, aquela realidade que haviam experimentado: a vida de Jesus e a vida em Jesus é o caminho para se viver de maneira justa, alegre e mais feliz.

“Soprou sobre eles e disse...”. Esta passagem nos faz lembrar aquele sopro vital que o Criador fez penetrar no homem formado da argila: “Ele insuflou nas suas narinas o hálito da vida, e o homem se tornou um ser vivo” (Gn 2,7). Ou mesmo aquele Sopro de vida de que fala o profeta Ezequiel: “Porei meu sopro em vós para que vivais” (Ez 37,14). Somos cristãos leigos de barro, padres de barro, bispos de barro. É o Sopro Santo de Deus que nos comunica vida. Jesus comunica a nova vida que ele veio trazer do Pai: o Espírito Santificador que nos inspira, nos ilumina, nos fortalece para darmos testemunho da ressurreição do Senhor.

É interessante notar que o Espírito Santo não desceu somente sobre os “Onze”. Ele veio sobre todos que estavam no Cenáculo. Ali havia muitas outras pessoas além dos Apóstolos. O Espírito de Jesus penetra no coração daquelas pessoas e lhes dá novo vigor, novo sentido de vida. Sem o Espírito Santo a vida fica sem sentido, vazia, deslocada daquele centro vital para o qual o Pai nos criou. Desfocada, a vida começa a perder o sentido e o pecado encontra guarida dentro de nós. É a destruição da vida da pessoa. A alegria dá lugar à tristeza, a paz cede a brigas e intrigas, a partilha perde terreno para o egoísmo, o perdão é substituído pelo desejo de vingança, a fraternidade é suplantada pela dominação e coisificação das pessoas, a fé perde para a dúvida e o ceticismo.  Quando Jesus sopra sobre os discípulos e lhes dá o Espírito Santo com o poder de perdoar os pecados, ele quer mostrar que a missão da Igreja, pela força do Espírito Santo, deve ser a de tirar o pecado do mundo.

O pecado, segundo Pe. Antônio Pagola, é a “força de gravidade” que nos impede de ir a Deus. Muito mais do que culpa, é peso, escravidão. Mais do que falar de perdão, é preciso, pois, falar de libertação. Por isso chamamos a Jesus de Salvador. Nota-se, pois, uma vez mais, que o Evangelho não é um ligeiro verniz que se passa no ser humano, mas é tomá-lo a partir do seu ser mais profundo, assim como é, e tornar possível sua volta para Deus. Este é o primeiro fruto do Espírito de Jesus: a libertação. Este é o Espírito, o Espírito do Filho, o Espírito dos filhos, aquele que nos resgata da escravidão da terra e nos abre o horizonte luminoso de filhos.

Esse Espírito traz e atualiza a novidade de Cristo: “Sem o Espírito Santo, Deus está distante; o Cristo permanece no passado; o evangelho, uma letra morta; a Igreja, uma simples organização; a autoridade, um poder; a missão, uma propaganda; o culto, um arcaísmo; e a ação moral, uma ação de escravos. Mas no Espírito Santo o cosmos é enobrecido pela geração do Reino, o Cristo ressuscitado está presente, o evangelho se faz força do Reino, a Igreja realiza a comunhão trinitária, a autoridade se transforma em serviço, a liturgia é memorial e antecipação, a ação humana se deifica” (Atenágoras I, Patriarca de Constantinopla).

Todos nós sentimos dificuldades. Todos sentimos a fraqueza na fé, a fragilidade da existência, a força do pecado em nós. Por vezes o mal parece prevalecer. O bem fica apagado. Fazemos o bem, nos empenhamos na construção de um mundo melhor, mas parece que nossa luta é em vão. Então peçamos ao Espírito Santo que, como aos discípulos e discípulas no Cenáculo, nos encha de seu amor, de sua luz, de sua força:

Vem Espírito Santo e perdoa nosso pecado, fortalece nossa pequenez, dá-nos tua força contra o mal. Não nos deixes desanimar, desistir de caminhar na direção do bem. Mais do que fazer o bem, ajuda-nos a ser bons, justos, solidários, fraternos. Enche-nos de tua bondade, de tua sabedoria para reproduzirmos em nossa vida as ações de Jesus que passou pelo mundo “fazendo o bem”.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

O perdão das ofensas

aureliano, 11.09.20

24º Domingo do TC - A - 13 de setembro.jpg

24º Domingo do Tempo Comum [13 de setembro de 2020]

[Mt 18,21-35]

Como já dissemos em outro momento, o capítulo 18 de Mateus é um discurso com orientações de Jesus sobre a Igreja. No domingo passado a liturgia da palavra nos ajudava a rever nossa vida comunitária marcada pelo pecado. Como lidarmos, na comunidade, com o irmão que peca (Mt 18,15-20)? O caminho é a tentativa permanente de salvar a pessoa porque “não é da vontade de vosso Pai que está nos céus, que um desses pequeninos se perca” (Mt 18,14).

O evangelho deste domingo quer nos ajudar a trabalhar a realidade do perdão de ofensas interpessoais. Pedro pergunta a Jesus se deve perdoar até sete vezes. Está sendo muito generoso, pois a compreensão que se tinha do perdão recíproco era bem mesquinha. Os mestres daquele tempo explicavam que Deus perdoa até três vezes. À mulher, aos filhos e aos irmãos se recomendava que fossem perdoados certo número de vezes. Mas não se sabia ao certo quantas vezes. Prevalecia, geralmente, lei do Talião: “olho por olho e dente por dente” (cf. Ex 21,22-25).

Jesus vem trazer um ensinamento novo. Pede que se perdoe sempre: “setenta vezes sete”. Número que simboliza a plenitude. É preciso perdoar sempre, ilimitadamente. Como, aliás, já ensinara: “Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem” (Mt 5,44). Também no ensinamento sobre a oração, diz: “Perdoai-nos as nossas dívidas como nós perdoamos aos nossos devedores” (Mt 6,12).

Na parábola de hoje Jesus ilumina o caminho do cristão em dificuldade com o irmão: o perdão dado ao ofensor é precedido pelo perdão recebido do Pai. O sentido da parábola está em que Deus perdoa gratuitamente, desinteressadamente a quem lhe pede perdão. A consequência disso é que o ser humano perdoado deve aprender a perdoar seus irmãos gratuitamente, isto é, ainda que não haja nenhum merecimento ou mostras de conversão ou arrependimento da parte de quem ofendeu.

A dimensão do perdão das ofensas tem profundas consequências para a história. Nenhuma comunidade humana se constrói sem perdão. Às vezes somos induzidos por algumas ideias de que o mundo seria melhor se se aplicasse uma estrita justiça, simplesmente castigando-se os maus, sem benevolência. Alguns estão a repetir por aí: “Bandido bom é bandido morto”. Mas qual seria o futuro de uma sociedade ou de uma comunidade em que se suprimisse o perdão? Aonde queremos chegar quando defendemos e promovemos o “olho por olho e dente por dente”? Como é possível conciliar a crença no evangelho e a defesa da tortura e matança? Devemos nos convencer de que só o perdão consegue impor um limite ao mal.

“Queres ser feliz por um momento? Vinga-te. Queres ser feliz para sempre? Perdoa”. Essa expressão de Lacordaire, pensador francês, diz muito. Num primeiro momento somos tomados pela ira e desejamos vingar-nos, pagar o mal com o mal. Mas a satisfação gerada por essa atitude é muito fugaz. Depois vem o remorso, peso na consciência etc.  Por isso a Igreja reza: “Sim, ó Pai, porque é obra vossa que a busca da paz vença os conflitos, que o perdão supere o ódio, e a vingança dê lugar à reconciliação” (Oração Eucarística VIII).

Quem não perdoa irá sempre culpar alguém e vingar-se. Isso produz sofrimento físico e espiritual. Não perdoar gera amargura, azedume, tristeza. Quem perdoa não deixa a amargura enraizar-se no seu coração.

Perdoar é também não julgar, não condenar, compreender, tolerar. Quando perdoamos damos um novo significado ao fato que nos magoou. O perdão realiza o encontro com a verdade de si e do outro. Perdoar é gesto de gratuidade, de generosidade que fazemos de nós mesmos a Deus e aos irmãos.

Perdoar não quer dizer fazer de conta que o mal não existiu nem ignorar a injustiça sofrida nem tampouco esquecer tudo como se nada tivesse acontecido. Não. A injustiça precisa ser reparada de alguma forma. Os instrumentais para ajudar o processo de conversão, de mudança de atitude precisam ser aplicados. E pode ocorrer de nunca nos esquecermos do mal que alguém nos fez. Mas essa lembrança não pode se transformar em ódio e desejo de vingança. O perdão é que cura a ferida.

Sem o perdão somos pesados, doentes, depressivos, agressivos, desumanos. O ressentimento e o desejo de vingança nos envenenam, tornando-nos agressivos, doentes. Podemos ser tomados pela insônia. Morremos aos poucos. Ficamos insuportáveis. Muitas doenças e males físicos e psíquicos têm sua raiz na falta de perdão.

“As conseqüências negativas da falta de perdão são tão perigosas e destruidoras que a Bíblia aconselha a perdoar antes do pôr do sol. Não deixar para amanhã. Não ir dormir com raiva: ‘Não se ponha o sol sobre vossa ira’ (Ef 4,26). Igualmente Jesus manda perdoar setenta vezes sete, isto é, sempre, imediatamente e de todo coração. O perdão é tão benéfico que deve ser dado incondicionalmente, totalmente, incansavelmente. Na oração do Pai Nosso, o perdão está ao lado do pão de cada dia. O perdão também é pão da vida, porque é o amor sem medidas, amor de mãe, amor misericordioso. É o perdão que possibilita a fraternidade e a boa qualidade do relacionamento humano” (Dom Orlando Brandes, Arcebispo de Aparecida).

---------xxxxx----------

CAMINHOS DE PERDÃO

O perdão é algo divino, mas difícil de se compreender e de se viver. O perdão nos torna parecidos com Deus. Sem perdão não se constrói comunidade, família, amizade. Sem perdão é impossível viver-se bem, ser feliz.

Quando Pedro faz essa pergunta a Jesus sobre quantas vezes deve perdoar, ele está querendo uma resposta que lhe atenda o desejo: o máximo até sete vezes! O espírito de vingança dos povos antigos e também no judaísmo era muito forte. A tolerância era quase zero.

Quando Jesus lhe responde "setenta vezes sete vezes" quer dizer que se deve perdoar sempre, sem medida, sem contabilizar. Não se deve vingar nunca, de ninguém. Como Deus é misericordioso e perdoa sempre, assim deve proceder o ser humano.

Essa medida do perdão proposta por Jesus faz lembrar Lamec que diz de si mesmo ser vingado setenta vezes por ter matado um inocente (cf. Gn 4,24). Jesus quer superar esse sentimento de vingança que leva à morte e mostra que o perdão é fonte de vida para quem perdoa e para quem é perdoado. É preciso quebrar a corrente da vingança, do ódio e da violência, como fez Jesus.

Devemos perdoar porque Deus nos perdoou primeiro. Nosso perdão dado aos outros é expressão de gratidão ao Pai pelo perdão que ele nos dá. Quem perdoa é perdoado: "Perdoai-nos como nós perdoamos". A medida do perdão de Deus é sem medida. Perdoamos com a certeza de que Deus nos perdoou primeiro.

Negar o perdão é renegar a misericórdia do Pai. É rejeitar o perdão que Ele nos dá todos os dias.

Perdoar está no nível da razão/vontade/liberdade, não do sentimento/emoção. Por isso a gente não esquece, pois a dor nos faz lembrar. Perdoar está no nível da razão iluminada pela fé, pelo evangelho. Ainda que eu me lembre e me entristeça pelo mal sofrido, digo para mim mesmo e para Deus: “Por amor de Jesus Cristo eu quero perdoar”. Jesus na cruz pediu perdão pelos seus malfeitores: “Pai, perdoa-lhes, não sabem o que fazem” (Lc 23,34). E Estêvão, secundando Jesus, rezou: “Senhor, não lhes leves em conta este pecado” (At 7,60).

Como você lida com o perdão? É capaz de rezar por aqueles que ofendem você? É capaz de desejar-lhes o bem? Fortalece no coração a capacidade de ampará-los se vierem a precisar de você? - Isso é caminho de perdão.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

A fé se concretiza na caridade

aureliano, 04.10.19

27º Domingo do TC - 06 de outubro - C.jpg

27º Domingo do Tempo Comum [06 de outubro de 2019]

[Lc 17,5-10]

No evangelho desse domingo, Jesus continua formando seus discípulos para o serviço a partir do fortalecimento da fé para servirem melhor.

O contexto imediatamente anterior do evangelho de hoje mostra Jesus ensinando a necessidade do perdão: “Caso teu irmão peque contra ti sete vezes por dia e sete vezes retornar dizendo ‘estou arrependido’, tu lhe perdoarás” (Lc 17, 4). Parece que perdoar não era algo fácil para os discípulos, como não o é para nós. Por isso pedem: “Aumenta-nos a fé”. O perdão é algo intrinsecamente unido à fé. Perdoamos porque acreditamos num Deus que ama e perdoa. Perdoamos porque sem perdão não há convivência, alegria, vida.

Penso que vale a pena recordar aqui a crise de fé de que por vezes somos assaltados. Sobretudo quando situações difíceis, dolorosas nos acometem; então perguntamos: “Onde está Deus em meio a tudo isso?” Por essas crises passaram também profetas e santos. Crise de fé não é ateísmo. Normalmente as crises de fé vêm acompanhadas de crises existenciais, ou seja, dificuldades no relacionamento familiar, no sentido de vida, fases da própria idade, situações de doença etc. Como diz Leonardo Boff: “Crise é oportunidade de crescimento”. Se vivenciarmos bem nossas crises de fé, certamente sairemos mais amadurecidos, mais firmes, mais comprometidos. Para isso é preciso pedir: “Senhor, aumentai a minha fé”.

Crer é dar-se a Deus. É ancorar-se somente n’Ele. Confiar no seu amor apesar de todas as aparências contrárias, porque sua palavra não nos pode enganar. A fé é diferente de religião embora esteja relacionada com ela. Também não é uma adesão intelectual a uma doutrina ou série de verdades abstratas, mas é adesão a uma Pessoa, a Deus, que nos propõe seu amor em Cristo morto e ressuscitado. É dom de Deus e tarefa humana para tornar-se a alma de nossa vida cotidiana e da comunidade cristã.

O discípulo que assume a fé em Jesus Cristo como comprometimento pessoal não fica contabilizando o bem que faz (como os politiqueiros que querem sempre tirar vantagem de tudo), mas coloca-se sempre como alguém que fez o que devia ter feito.

Só uma fé madura, acrisolada (passada pelo crisol/crise) nos dará coragem de assumir o avental de servidores, nos desvestindo do manto de senhores. Então poderemos transportar para o mar as montanhas do egoísmo, do consumismo, do preconceito, da maldade. Isso mediante uma fé informada pela caridade (Cf. Gl 5,6).

------xxx------

COLABORADORES DE DEUS

Dois elementos precisam ser considerados neste relato evangélico da liturgia deste domingo: a fé e o serviço.

Quando os discípulos pedem a Jesus “aumenta a nossa fé”, não devem pensar em termos de quantidade, pois a fé não se quantifica. O que devem pedir a Jesus é o reavivamento da fé. Agora, não mais como judeus observantes, mas como discípulos de Jesus, precisam de uma fé renovada, madura, comprometida com a nova proposta de Reino trazida por Jesus. Sem uma fé reavivada, refeita, madura não dariam conta de realizar o seguimento de Jesus “até Jerusalém”. A fé agora não é aquela de acreditar num Deus de conveniência, mas uma fé que desperte a responsabilidade com o Reino de Deus e a possibilidade de amar como Jesus amou: “até o fim” (Jo 13,1). É essa a fé que transporta “montanhas”.

O segundo elemento é o do serviço generoso. Certamente, na comunidade dos primeiros discípulos estavam surgindo aqueles que buscavam os primeiros lugares, que brigavam pelo poder, que reclamavam reconhecimento e aplausos pelo que faziam, que se beneficiavam política e economicamente dos lugares de comando e coordenação. E Jesus vai dizer que, no Reino trazido por ele, esse tipo de busca precisa ser desfeito, invertido. O que conta para o discípulo do Reino é ser colaborador de Deus. Nada mais. Ninguém deve ficar à cata de aplausos, de reconhecimento social, de sucesso. Deve, outrossim, colocar no coração que  cada um está aí para colaborar com a obra da salvação, independente de resultados.

*No próximo dia 13 de outubro, o Papa Francisco vai canonizar a Beata Ir. Dulce dos Pobres. Uma mulher que, desde sua primeira mocidade, se sentiu movida a ajudar os mendigos e doentes, acolhendo-os em sua casa, em Salvador, na Bahia. Uma das mais importantes obras filantrópicas do Brasil teve início com Ir. Dulce num galinheiro ao lado do Convento Santo Antônio, transformado em local de acolhida e, depois, no respeitado Hospital Santo Antônio, o maior da Bahia. Que o exemplo e a intercessão de Santa Dulce dos Pobres, o Anjo Bom da Bahia, nos estimulem a uma fé mais comprometida com os pobres cada vez mais pobres em nosso Brasil.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

O perdão e a paz: dons do Espírito Santo

aureliano, 07.06.19

Pentecostes - 09 de junho - C.jpg

Solenidade de Pentecostes [09 de unho de 2019]

[Jo 20,19-23] 

UM POUCO DE HISTÓRIA

Inicialmente celebrada pelos israelitas, Pentecostes era a comemoração da colheita dos primeiros frutos do trigo. Porque marcava o 50º dia depois do início da colheita, era, por esse motivo, chamada de Pentecostes. (Confira Ex 23, 14-17; 34, 22; Lv 23,15-21; Dt 16, 9-12). É a festa da colheita. Portanto, tempo de muita alegria e fartura.       

A narrativa de At 2, 1-11 mostra a importância que ganhou na Igreja esta festa. Fazendo uso de um recurso literário, Lucas faz o Pentecostes cristão coincidir com o Pentecostes judaico. O Espírito se manifesta confirmando a missão que os discípulos haviam recebido do Mestre. Pentecostes marca o nascimento da Igreja. É a celebração dos frutos do Ressuscitado: o perdão e a paz que brotam de seu Coração bondoso, superando o egoísmo e a maldade do coração humano.

A MENSAGEM DO EVANGELHO

No próprio dia da Páscoa Jesus vem entregar o Dom do Espírito Santo aos seus discípulos. Este Dom garante a continuação da missão de Jesus no mundo. A missão de dar a paz e de tirar o pecado do mundo: “A paz esteja convosco” (Jo 20, 19); “Aqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados” (Jo 20, 23). É o próprio Jesus agindo por meio de sua Igreja.

“As portas estavam fechadas por medo dos judeus”: Esse relato nos faz pensar no medo que tomava conta dos discípulos antes de serem revestidos do Dom do Pai. Como o medo nos paralisa, nos fecha em nós mesmos, nos impede de servir! O medo é um sentimento que precisa ser assumido e trabalhado em nós. Quando agimos movidos pelo medo fazemos muito mal a nós e aos outros. Medo de assumir um trabalho na comunidade; medo de arriscar; medo de assumir a própria vida; medo de romper com relações que escravizam e destroem a própria vida e a vida dos outros; medo de falar e de viver a verdade; medo movido pela preocupação excessiva com a própria imagem: o que vão pensar ou dizer? Medo de chamar para conversar sobre dificuldades interrrelacionais. É preciso vencer o medo! O medo fecha a porta para Deus e para os irmãos!

“Como o Pai me enviou também eu vos envio”. Palavra de Jesus aos discípulos antes de comunicar-lhes do Dom do Espírito Santo. É um elemento essencial na missão. O Pai enviou o Filho para comunicar seu amor ao mundo. Agora o Filho envia aqueles que ele escolheu e consagrou com essa mesma missão: o Pai nos ama e quer salvar a todos. Quer comunicar-nos o perdão e a paz. A Igreja é a mensageira e portadora dessa Boa Nova.

ABRIR O CORAÇÃO PARA A MISSÃO

Ao longo de seu ministério Jesus havia prometido o Espírito Santo aos seus discípulos para auxiliá-los na tarefa que lhes confiaria. Ele teria a missão de inspirá-los, fortalecê-los, lembrar-lhes o que lhes havia ensinado. Desde então lhes restava plantar, pois o Pai garantiria a colheita.

Compete a nós abrir o coração para a ação do Espírito Santo em nossa vida a fim de que nossa vida e nossas comunidades se renovem. Aquele vigor concedido aos primeiros discípulos continua sendo dado a quem se abre à sua ação libertadora. Deixemos o Espírito agir em nós, pois sem a sua força a Igreja fica estéril e confusa, sem ternura e sem missão.

-------xxx-------

A FORÇA DO ALTO PERDOA E ANIMA

A festa de Pentecostes tem sua história na comunidade israelita. Inicialmente era o agradecimento a Deus pelos frutos da terra. Uma festa agrícola. Posteriormente foi associada à entrega da Lei no Sinai, tornado-se assim a festa da Aliança de Deus com seu povo.

No cristianismo, Pentecostes celebra a manifestação pública da Igreja. Embora, segundo João, o Espírito Santo seja dado no dia da Páscoa, na Ressurreição, a comunidade lucana a coloca cinquenta dias depois da Páscoa, para evocar e celebrar a manifestação pública da Igreja. Em forma de “línguas de fogo” para dizer do testemunho e da palavra dos discípulos de Jesus manifestando a ação de Deus na pessoa de Jesus de Nazaré. No Sinai foi entregue a Lei a Moisés, escrita em tábuas de pedra. Aqui celebramos a Lei derramada nos nossos corações.

 O evangelho deste domingo mostra a comunidade dos discípulos acuada, medrosa. Os discípulos não tinham iniciativa nem coragem de anunciar a experiência que haviam feito de Jesus. Aquele em quem haviam depositado a esperança frustrou-lhes as expectativas: morrera na cruz como um malfeitor. Porém, a “Ruah” do alto, aquele Sopro vital os encheu de novo ânimo, de coragem. Começam então a anunciar, com todo ardor e entusiasmo, aquela realidade que haviam experimentado: a vida de Jesus e a vida em Jesus é o caminho para se viver de maneira justa, alegre e mais feliz.

“Soprou sobre eles e disse...”. Esta passagem nos faz lembrar aquele sopro vital que o Criador fez penetrar no homem formado da argila: “Ele insuflou nas suas narinas o hálito da vida, e o homem se tornou um ser vivo” (Gn 2,7). Ou mesmo aquele Sopro de vida de que fala o profeta Ezequiel: “Porei meu sopro em vós para que vivais” (Ez 37,14). Somos cristãos leigos de barro, padres de barro, bispos de barro. É o Sopro Santo de Deus que nos comunica vida. Jesus comunica a nova vida que ele veio trazer do Pai: o Espírito Santificador que nos inspira, nos ilumina, nos fortalece para darmos testemunho da ressurreição do Senhor.

É interessante notar que o Espírito Santo não desceu somente sobre os “Onze”. Ele veio sobre todos que estavam no Cenáculo. Ali havia muitas outras pessoas além dos Apóstolos. O Espírito de Jesus penetra no coração daquelas pessoas e lhes dá novo vigor, novo sentido de vida. Sem o Espírito Santo a vida fica sem sentido, vazia, deslocada daquele centro vital para o qual o Pai nos criou. Desfocada, a vida começa a perder o sentido e o pecado encontra guarida dentro de nós. É a destruição da vida da pessoa. A alegria dá lugar à tristeza, a paz cede a brigas e intrigas, a partilha perde terreno para o egoísmo, o perdão é substituído pelo desejo de vingança, a fraternidade é suplantada pela dominação e coisificação das pessoas, a fé perde para a dúvida e o ceticismo.  Quando Jesus sopra sobre os discípulos e lhes dá o Espírito Santo com o poder de perdoar os pecados, ele quer mostrar que a missão da Igreja, pela força do Espírito Santo, deve ser a de tirar o pecado do mundo.

O pecado, segundo Pe. Antônio Pagola, é a “força de gravidade” que nos impede de ir a Deus. Muito mais do que culpa, é peso, escravidão. Mais do que falar de perdão, é preciso, pois, falar de libertação. Por isso chamamos a Jesus de Salvador. Nota-se, pois, uma vez mais, que o Evangelho não é um ligeiro verniz que se passa no ser humano, mas é tomá-lo a partir do seu ser mais profundo, assim como é, e tornar possível sua volta para Deus. Este é o primeiro fruto do Espírito de Jesus: a libertação. Este é o Espírito, o Espírito do Filho, o Espírito dos filhos, aquele que nos resgata da escravidão da terra e nos abre o horizonte luminoso de filhos.

Esse Espírito traz e atualiza a novidade de Cristo: “Sem o Espírito Santo, Deus está distante; o Cristo permanece no passado; o evangelho, uma letra morta; a Igreja, uma simples organização; a autoridade, um poder; a missão, uma propaganda; o culto, um arcaísmo; e a ação moral, uma ação de escravos. Mas no Espírito Santo o cosmos é enobrecido pela geração do Reino, o Cristo ressuscitado está presente, o evangelho se faz força do Reino, a Igreja realiza a comunhão trinitária, a autoridade se transforma em serviço, a liturgia é memorial e antecipação, a ação humana se deifica” (Atenágoras I, Patriarca de Constantinopla).

Todos nós sentimos dificuldades. Todos sentimos a fraqueza na fé, a fragilidade da existência, a força do pecado em nós. Por vezes o mal parece prevalecer. O bem fica apagado. Fazemos o bem, nos empenhamos na construção de um mundo melhor, mas parece que nossa luta é em vão. Então peçamos ao Espírito Santo que, como aos discípulos e discípulas no Cenáculo, nos encha de seu amor, de sua luz, de sua força:

Vem Espírito Santo e perdoa nosso pecado, fortalece nossa pequenez, dá-nos tua força contra o mal. Não nos deixes desanimar, desistir de caminhar na direção do bem. Mais do que fazer o bem, ajuda-nos a ser bons, justos, solidários, fraternos. Enche-nos de tua bondade, de tua sabedoria para reproduzirmos em nossa vida as ações de Jesus que passou pelo mundo “fazendo o bem”.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN