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aurelius

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A oração que transforma

aureliano, 26.06.21

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13º Domingo do Tempo Comum [27 de junho de 2021]

   [Mc 5,21-43]

Continuando a leitura do evangelho de Marcos, Jesus mostra as consequências de uma fé verdadeira. O relato traz dois acontecimentos que mostram a bondade de Jesus e a atitude confiante de duas pessoas que dele se aproximam.

Aquela mulher não tem nome, como Jairo. Aproxima-se timidamente, receosa de ser enxotada ou recriminada, mas enfrenta-se a si mesma e a multidão. Não toca no Mestre, pois a Lei proibia o contato físico para quem sofria daquele tipo de enfermidade. Mas toca na roupa, por detrás. Não ousa colocar-se diante do Mestre. Não sente necessidade disso, tamanha sua confiança

Jesus não se faz de desentendido. Sente que alguém o tocou. É sensível aos pequenos e sofredores. Veio, preferivelmente, para estes. Os discípulos, porém não entenderam nada: “Estás vendo que a multidão te comprime e ainda perguntas: ‘Quem me tocou?’”. Jesus percebe a força que dele saiu em favor daquela mulher. Sua vinda ao mundo foi para dispensar sua ‘força’, suas energias em favor dos doentes, pobres e pecadores.

Este relato nos faz pensar naquelas pessoas de nossas comunidades que são discriminadas por causa de sua condição de raça, por ser pobre ou outra situação de vida. Talvez mais do que pensar nas pessoas, nos leva a pensar nas nossas atitudes de discriminação e desprezo para com aqueles que vem buscar uma palavra de conforto, um apoio necessário, um gesto de acolhida. Ainda mais: há muitas pessoas que sofrem terrivelmente na alma por causa de escrúpulos e condenações recebidas por parte de líderes religiosos que as jogam num inferno de dúvidas, angústias e desilusões.

O gesto acolhedor de Jesus aliado à prece humilde e confiante daquela anônima mulher sofredora, arrancou do coração de Deus o conforto para aquela alma sofredora. Uma comunidade que busca assumir a atitude de Jesus, acolhendo os pequenos e sofredores, certamente fará sair aquela ‘força’ divina que restaura e reanima os sofredores, restaurando-lhes a dignidade e a alegria de viver. Sem esses gestos, a comunidade perde totalmente seu sentido.

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A ORAÇÃO DE JAIRO

Outro relato significativo no texto de hoje é a cura da filha de Jairo. Este já tem nome, fala diretamente com Jesus, diferentemente da mulher anônima e que não fala com Jesus: somente o ‘toca’.

É interessante tecer algumas considerações em torno da oração. A primeira pergunta pode ser: a quem a gente reza? E outra pergunta: para que a gente reza? Os ‘Mestres da suspeita’ do século passado diziam que quando o homem se ajoelha em oração, ele se ajoelha diante de si mesmo. A oração seria uma espécie de busca de si mesmo diante da impotência frente ao mal ou à angústia da vida. Uma fuga, um ‘ópio’.

Se considerarmos atentamente o que esses homens considerados ateus diziam a respeito do cristão, encontramos aí alguma verdade. Muitas vezes a oração pode ser ateia ou idolátrica. Parece uma afirmação contraditória. Mas, se nossa oração visar ao nosso interesse próprio, à busca de nós mesmos, certamente é oração ateia, isto é, sem o Deus de Jesus; ou uma idolatria, quando criamos um deus à nossa imagem e semelhança. É como se a gente vivesse uma ilusão.

Segundo o evangelho de hoje, alguns da sinagoga queriam levar Jairo a desistir: “Tua filha morreu. Por que ainda incomodas o mestre?” Mas a palavra de Jesus foi reconfortante: “Não tenhas medo. Basta ter fé!”. Jairo não buscava a si mesmo. Ele se preocupava com a vida de sua filhinha, ainda menina. Firma-se confiante na palavra de Jesus. Este ‘levanta’ (ressuscita) aquela que estava morta.

Em ambos os episódios do evangelho deste domingo notamos o despertar da fé confiante na palavra e na pessoa de Jesus. A mulher hemorroíssa e a menina ‘adormecida’ recebem de Jesus a vida nova, o ‘toque’ proibido pela Lei e censurado pelos circunstantes, que lhes introduz numa relação, não mais de exclusão, de preconceito, de censura, mas de plena integração na comunidade que ele inicia com seus discípulos. Uma nova forma de relacionar-se com Deus na oração, traz uma nova forma de viver e de se relacionar com os irmãos.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

Jesus, a Igreja e a “lepra” de hoje

aureliano, 12.02.21

6º Domingo do Tempo Comum [14 de fevereiro de 2021]

[Mc 1,40-45]

O evangelho de Marcos é um livrinho de catequese escrito para as primeiras comunidades cristãs, principalmente provenientes do paganismo, para mostrar quem é Jesus: o Filho de Deus que veio a este mundo para libertar o homem do mal. Jesus tem poder sobre o mal e o pecado. A comunidade pode crer, confiar nele. Ele está acima de qualquer lei tanto imperial como mosaica. Ele é a Lei. Sua vida é a norma de vida para todos, judeus ou pagãos.

O relato do evangelho deste domingo mostra o encontro de Jesus com um leproso. É preciso notar o que significava a lepra para a comunidade judaica. De todas as doenças era a que os judeus consideravam mais impura, pois  destruía a integridade e a vitalidade física do ser humano. Por isso se previa a exclusão da pessoa do convívio social. Na opinião popular essa doença devia ser obra de um espírito muito ruim.

Jesus quebra todas as leis e normas que excluíam o leproso. Jesus é um judeu diferente: ele se torna participante da situação do leproso. É movido de profunda compaixão (termo que não aparece no relato de Lucas e Mateus) por aquele homem que lhe implora a cura, confiando em seu poder: “Se queres podes curar-me”. E Jesus estende a mão e toca aquele homem. O leproso, segundo a Lei, não podia ser tocado por ninguém, não somente pela contaminação da doença, que poderia se proliferar e colocar em risco a comunidade, mas também porque colocava o judeu piedoso fora da comunhão com Deus. A doença era considerada consequência do pecado, sobretudo a lepra, pois destruía a integridade física do ser humano. Mas Jesus tem outra interpretação. Mostra que o culto a Deus passa pela misericórdia para com os sofredores: “Quero misericórdia e não sacrifício”. Esse sinal realizado em favor daquele homem indica que Jesus veio tirar do mundo e do ser humano a “lepra” do pecado que destrói a humanidade, carregando em si mesmo nossas enfermidades (cf. Is 53,3-12).

O relato de hoje nos ajuda a pensar na conciliação de duas realidades na vida de Jesus que precisam ser olhadas por nós com muito carinho: poder e compaixão. A Lei simboliza aqui o poder. Ela existe para o bem da pessoa. Quando unida à misericórdia pode salvar a muitos. Mas sem essa qualidade divina, torna-se excludente e perversa. Jesus não vai consultar os sacerdotes, guardiães da lei daquele tempo, mas restabelece aquele homem na sua necessidade imediata. Depois de beneficiado, então ele vai agradecer e oferecer o sacrifício prescrito. Jesus não se opõe à Lei, mas dá-lhe um novo sentido. Ela deve ser cumprida para o bem de todas as pessoas e não para oferecer privilégios a uns e descarte de outros. O auxílio moradia e os altos salários dos juízes, senadores, deputados, vereadores e executivos, mostram bem como a lei pode ser perversa. Pode estar a serviço de privilégios. Podem dizer que é legal, que está de acordo com a legislação vigente, mas é injusta, iníqua, perversa. Nem tudo que é legal é justo. “O sábado foi feito para o ser humano, e não o ser humano para o sábado” (Mc 2,27). As leis que regem a sociedade são justas enquanto estão a serviço de todos, especialmente dos mais frágeis, desprotegidos, desamparados. Quando elas defendem e fortalecem privilégios e oprimem os pobres, não podem ser executadas.

As consequências para nossa vida de fé indicadas no relato de hoje são bem evidentes. É uma catequese sobre a reintegração dos marginalizados de hoje. Podemos nomear alguns banidos de nossa sociedade: os que vivem nos barracos das favelas e periferias das grandes cidades, os fracassados, os desempregados, os dependentes de droga, as vítimas de uma sociedade do consumismo e do sucesso a qualquer custo, as pessoas com deficiência física ou mental, os idosos e doentes que não mais produzem nem dão lucro, os encarcerados, os aidéticos, os maltrapilhos etc. Enfim, vivemos numa sociedade marcada pela lepra do preconceito e da discriminação.  

Jesus vem nos mostrar um jeito novo, diferente de agir. Ninguém pode ficar ‘de fora’, banido. Nosso coração precisa ser tomado desse poder compassivo que habitava o coração de Jesus para construirmos relações verdadeiramente fraternas e libertadoras. O poder de Jesus foi transmitido a nós. A missão agora é nossa. Muitos ‘leprosos’ estão suplicando pela cura, pela inclusão, pelo reconhecimento, pela acolhida em nosso meio. O que temos feito? Como nos relacionamos com eles? Temos tido coragem de sair de nós mesmos? Ou estamos também acometidos pela ‘lepra’ do comodismo, do egoísmo, do fechamento, da ganância, da sede do poder e do ter que mata em nós todo sentimento de compaixão, de desejo de salvação de todos?

Onde quer que falte alimento, água potável, saneamento básico, casa, medicamento, trabalho, educação, meios necessários para levar uma vida verdadeiramente humana; onde estiver um aflito ou sem saúde, um presidiário ou maltratado, aí deve estar a caridade cristã para consolá-los e reerguê-los oferecendo-lhes auxílio. É essa a missão da Igreja e é isso que o mundo de hoje espera dela. Porque é chamada a ser continuadora da missão de Jesus.

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Estamos em dias de Carnaval. Outrora esse tempo era oportunidade de alegria, de extravasamento sadio. Hoje, de modo geral, tornou-se tempo de preocupação, de violência, de morte. Nesse ano, extraordinariamente, devido à pandemia do coronavírus, as brincadeiras carnavalescas estão interditadas. Pode ser uma excelente oportunidade de se buscar uma interiorização maior do sentido da vida, uma reflexão sobre os conflitos mundiais, uma parada para considerar nossas relações familiares, enfermidades e cuidados dos doentes, diálogo e construção da fraternidade entre nós.

E não se esqueçam de que na Quarta-feira de Cinzas, dia de jejum e abstinência, iniciamos a Quaresma, tempo de preparação para celebrarmos a Páscoa da Ressurreição do Senhor. Tempo de conversão para uma vida mais fraterna. Você já sabe qual é o tema da Campanha da Fraternidade desse ano? Pois fique sabendo: “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor”. Com o lema: “Cristo é nossa paz. Do que era dividido, ele fez uma unidade” (Ef 2,14). Não se deixe levar pelo discurso daqueles que se colocam contra a Campanha da Fraternidade, pois estão contra o Evangelho e a Igreja. Coloquemo-nos no seguimento a Jesus que enfrentou a cruz e a morte para nos dar mais vida.

Pai, derrama sobre nós o Espírito Santo, para que, com o coração convertido, acolhamos o projeto de Jesus e sejamos construtores de uma sociedade justa e sem violência, para que, no mundo inteiro, cresça o vosso Reino de liberdade, verdade e paz.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

Sim ao amor e à unidade; não à dominação e ao preconceito

aureliano, 05.10.18

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27º Domingo do Tempo Comum [07 de outubro 2018]

   [Mc 10,2-16]

O ser humano é chamado, no amor, a realizar-se como pessoa. Porém essa realização não se dá sem a colaboração do outro que lhe diz quem ele é e por onde está caminhando. Ele deve realizar um encontro com alguém que seja capaz de comunhão com ele. É aí que se dará um diálogo aberto e nobre para, juntos, descobrirem a plenitude de sua vocação.

Quando os fariseus, cheios de maldade e de dúvidas também, fazem a Jesus aquela pergunta crucial sobre o divórcio, ele responde com maestria remetendo-se à ordem da Criação: “Desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher. Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne. Assim já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe”.

Jesus quer dizer que a separação do casal não faz parte do projeto original de Deus. Homem e mulher foram criados em mesmo nível de igualdade. Para viverem juntos, constituindo família, segundo sua vocação, realizando-se no que fazem e vivem.

Aqui entra um elemento fundamental: Deus não fez o homem superior à mulher. Nem vice-versa. Jesus condena essa atitude e quer que todos tenham a mesma dignidade e igualdade nas relações. Jesus desautoriza explicitamente todo autoritarismo machista que permitia ao homem “despedir a mulher por qualquer motivo”.

Na verdade havia interpretações divergentes relativas a esse tema entre as duas escolas mais famosas do judaísmo de então: a de Hillel, mais liberal em relação ao divórcio, permitindo, por exemplo, que o marido poderia pedir carta de divórcio quando a mulher não cozinhasse de acordo com seu gosto, ou quando ele gostasse mais de outra. Já a escola de Shammai, mais rigorosa, só admitia o divórcio em caso de adultério ou má conduta da mulher. À mulher restava recorrer para separação se o marido tivesse contraído a lepra ou exercesse um ofício repugnante.

Por aí se vê que a discussão não era simples. E os fariseus ficavam meio engasgados diante de tamanho impasse. Queriam saber a opinião de Jesus. Ao invocar o projeto original de Deus, a Criação, Jesus convida a uma reflexão mais profunda. Não se trata somente de continuar com a mulher ou abandoná-la. Em primeiro lugar trata-se de perceber que Deus os fez homem e mulher. São iguais perante Deus. Depois é preciso notar que o casamento é um projeto divino. É um dom para a humanidade. É o cuidado de um pelo outro e de ambos pelos filhos. Não se pode invocar a lei para justificar projetos egoístas. A Lei que deve prevalecer no coração humano é a Lei do amor.

O sonho de Deus é que o casal entre num projeto de vida estável e indissolúvel. O divórcio não faz parte do projeto do Pai, porque ele traz em si as marcas da dor, do golpe, da ferida quase incurável, da morte. As facilidades oferecidas por Moisés “por causa da dureza de vossos corações” estão em alta, nos últimos tempos. Sabemos por experiência que, sempre que o egoísmo prevalece, o sofrimento intensifica-se na vida humana. Mas todas as vezes que o amor-ágape encontra guarida no coração humano, o sofrimento é minimizado pelo alento da generosidade, do cuidado e do perdão.

Cabe aqui levar em consideração os casos de fracasso no casamento. Podemos dizer que não faz parte do projeto ideal de Deus. Mas a continuidade da relação por vezes se torna insustentável. Quando o egoísmo toma conta de uma parte ou de ambas, a situação vai se tornando insuportável, chega a ser desumana. Sem mencionar aquelas situações em que uma das partes é, simplesmente, abandonada (com os filhos). Se essa parte fiel, sadia, encontra amparo de alguém que valoriza, que respeita, que cuida devemos nos atirar confiantes nos braços da providência e da misericórdia divinas. Mas sabendo sempre que a questão da separação do casal não deve estar sempre sobre a mesa, como insistem as telenovelas. O casal que se faz discípulo de Jesus empenha todas as forças para levar adiante essa relação que significa o amor eterno que Deus tem por todos nós. Amor manifestado na entrega de seu Filho Unigênito pela nossa salvação. Amor expresso na entrega de Cristo pela sua Igreja.

Cabe considerar também a necessidade de acolhermos e oferecermos nosso ombro aos casais recasados. Eles não estão excomungados, não foram expulsos da Igreja. Estão em situação irregular, mas continuam em comunhão eclesial. Devem ser acolhidos. Devem participar da celebração, dos serviços da Igreja. Se a Igreja lhes retira o direito de receber a comunhão é porque “seu estado e condição de vida contradizem objetivamente a união de amor entre Cristo e a Igreja, significada e atualizada na eucaristia” (São João Paulo II). Mas isso não autoriza ninguém condená-los, discriminá-los, rejeitá-los. Precisam ser acolhidos e amados em sua nova condição. É preciso ter para com eles o espírito de Jesus.

Escutemos o Papa Francisco: “Quanto às pessoas divorciadas que vivem em uma nova união, é importante fazer-lhes sentir que fazem parte da Igreja, que ‘não estão excomungadas’ nem são tratadas como tais, porque sempre integram a comunhão eclesial. Estas situações ‘exigem um atento discernimento e um acompanhamento com grande respeito, evitando qualquer linguagem e atitude que as faça sentir discriminadas e promovendo a sua participação na vida da comunidade. Cuidar delas não é, para a comunidade cristã, um enfraquecimento da sua fé e do seu testemunho sobre a indissolubilidade do matrimônio; antes, ela exprime precisamente neste cuidado a sua caridade” (Amoris Laetitia, 243).

“Essa sublime vocação do matrimônio indissolúvel é hoje fonte de violentas críticas à Igreja. Que fazer com os que fracassam? Objetivamente falando, sem inculpar ninguém – pois de culpa só Deus entende, e perdoa – devemos constatar que há fracassos, e que fica muito difícil celebrar um “sinal eficaz do amor inquebrantável de Jesus” na presença de um matrimônio desfeito... Por isso, a Igreja não reconhece como sacramento o casamento de divorciados. Teoricamente, se poderia discutir se o segundo casamento não pode ser aceito como união não-sacramental (como se faz na Igreja Ortodoxa). E observe-se que muitos casamentos em nosso meio são, propriamente falando, inválidos, porque contraídos sem suficiente consciência ou intenção; poderiam, portanto, ser anulados (como se nunca tivessem existido). Em todo caso, o matrimônio cristão, quando bem conduzido em amor inquebrantável, é uma forma de seguir Jesus no caminho do dom total” (Pe. J. Konings).

O que importa aqui é nos colocarmos diante do Pai como a criança, porque “o Reino de Deus é dos que são como elas”. Ou seja, em qualquer circunstância, é preciso de nos colocarmos diante do Pai com o coração aberto, com disponibilidade de alma, desarmados, confiantes na misericórdia d’Ele, como aprendizes, com transparência e sinceridade de coração.

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TRÊS PALAVRAS MÁGICAS PARA FAZER O CASAMENTO DURAR

Papa Francisco esclarece que o "para sempre" não é só questão de duração. "Um casamento não se realiza somente se ele dura, sua qualidade também é importante. Estar juntos e saber amar-se para sempre é o desafio dos esposos".

E fala sobre a convivência matrimonial: "Viver juntos é uma arte, um caminho paciente, bonito e fascinante (…) que tem regras que se podem resumir exatamente naquelas três palavras: 'posso?', 'obrigado' e 'desculpe'".

"Posso? é o pedido amável de entrar na vida de alguém com respeito e atenção. O verdadeiro amor não se impõe com dureza e agressividade. São Francisco dizia: 'A cortesia é a irmã da caridade, que apaga o ódio e mantém o amor'. E hoje, nas nossas famílias, no nosso mundo amiúde violento e arrogante, faz falta muita cortesia."

"Obrigado: a gratidão é um sentimento importante. Sabemos agradecer? (…) É importante manter viva a consciência de que a outra pessoa é um dom de Deus, e aos dons de Deus diz-se 'obrigado'. Não é uma palavra amável para usar com os estranhos, para ser educados. É preciso saber dizer 'obrigado' para caminhar juntos."

"Desculpe: na vida cometemos muitos erros, enganamo-nos tantas vezes. Todos. Daí a necessidade de utilizar esta palavra tão simples: 'desculpe'. Em geral, cada um de nós está disposto a acusar o outro para se desculpar. É um instinto que está na origem de tantos desastres. Aprendamos a reconhecer os nossos erros e a pedir desculpa. Também assim cresce uma família cristã.

Finalmente, o Papa acrescenta com bom humor: "Todos sabemos que não existe uma família perfeita, nem o marido ou a mulher perfeitos. Isso sem falar da sogra perfeita…".
E conclui: "Existimos nós, os pecadores. Jesus, que nos conhece bem, ensina-nos um segredo: que um dia não termine nunca sem pedir perdão, sem que a paz volte à casa. Se aprendemos a pedir perdão e a perdoar aos outros, o matrimônio durará, seguirá em frente" - https://pt.aleteia.org/2014/03/12

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

Pecado, Perdão e Preconceito

aureliano, 10.06.16

11º Domingo do Tempo Comum

Lc 7,36 – 8,3

Antes de tudo é preciso ressaltar que Lucas dá grande destaque, em seu evangelho, à misericórdia de Deus e às mulheres, dentre outros. E o evangelho deste domingo quer visibilizar esse perdão de Deus que transcende toda fraqueza e pecado humanos. Também destaca as mulheres como constituintes do grupo dos discípulos.

O relato do evangelho deste domingo nos permite refletir sobre três elementos presentes nas nossas relações com Deus e com os irmãos: o pecado, o perdão de Deus, o preconceito.

O evangelho mostra que Jesus não tinha medo de pessoas mal-afamadas. Naquela atitude da pecadora que chora a seus pés, esconde-se o mistério do amor de Deus. A mulher mostrou muito amor porque encontrou grande perdão.

O pecado: é a recusa do amor e da comunhão com Deus. É recusar-se a amar. E traz como conseqüência a desagregação do ser humano e da sociedade. Deus é a fonte de vida. Ora, recusar-se a acolher o amor de Deus é desprezar a fonte de vida. A consequência disso é a morte, cujo sinal é a morte física. Os males que nos cercam como a violência, a corrupção, o tráfico de drogas e de seres humanos, a coisificação da pessoa, a ganância, a dominação do outro, a traição, a mentira, a exploração irresponsável da Mãe Terra são realidades de pecado que trazem em seu interior a destruição, a dor, a tristeza, o desencanto, a morte.

O perdão: o evangelho de hoje vem nos mostrar que Jesus veio para destruir o pecado e fazer brotar vida nova. Ao acolher aquela mulher pecadora na casa de Simão, o fariseu, Jesus deixa transparecer o rosto misericordioso do Pai. E aqui é preciso notar um aspecto muito importante do relato de hoje: o perdão de Deus precede o amor humano. Aquela mulher amou muito porque se sentiu perdoada, amada por Deus. Não se pode entender o perdão de Deus como resposta ao amor humano, mas pelo contrário, o amor que o ser humano manifesta a Deus revela sua acolhida ao perdão do Pai. O ser perdoado é motivo mais forte para amar mais a Deus. “São amigos de Deus aqueles que reconhecem diante de Deus sua dívida de amor e dele recebem a remissão. Então, abrir-se-ão em gestos de gratidão, semelhantes ao gesto da pecadora” (Pe. J. Konings).

O preconceito: é outro elemento que precisa ser considerado no relato de hoje. Vejam que aquele fariseu (portanto, religioso observante) lançou sobre aquela mulher um olhar de terrível preconceito. “Vendo isso, o fariseu que o havia convidado ficou pensando: ‘Se este homem fosse um profeta, saberia que tipo de mulher está tocando nele, pois é uma pecadora’”.

O preconceito é um dos grandes males da sociedade e da Igreja. Olhamos a pessoa por fora, pelos rótulos que lhe foram colocados. Temos imensa dificuldade em lançar um olhar de profundidade como o de Jesus. Custa-nos ver as pessoas além das aparências. Jesus enxergava a alma da pessoa. Ainda que estivesse tomada pelo mal, Jesus procurava compreender, tomar pela mão e ajudar a se erguer.

Quando nos lembramos das mulheres prostituídas, então sim, pesa mesmo um olhar preconceituoso. A sociedade as discrimina e condena. O mesmo fazem alguns líderes da Igreja. São usadas como objeto por grandes e pequenos. Há gente graúda, cheia de dinheiro e de poder, às vezes muito religiosa até, que se vale das mulheres como mercado para satisfazer seus caprichos e desejos desordenados. Depois as jogam na sarjeta do preconceito e do desamparo. A respeito destas mulheres escreve Pe. Pagola: “Enganadas e escravizadas, submetidas a toda sorte de abusos, aterrorizadas para mantê-las dominadas, muitas sem proteção nem segurança alguma, são as vítimas invisíveis de um mundo cruel e desumano, silenciado em boa parte pela sociedade e ignorado praticamente pela Igreja. Seguidores de Jesus, não podemos viver indiferentes ao sofrimento destas mulheres. Nossas Igrejas diocesanas não podem abandoná-las à sua triste sorte”. Compreende-se então por que Jesus disse: “Os cobradores de impostos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus” (Mt 21,31).

O fariseu que convidou Jesus era um homem profundamente religioso, mas não foi capaz de ultrapassar uma religião de rito. Assim sói ocorrer dentro de nossas comunidades: há muito rito e pouco empenho em transformação pessoal e comunitária da realidade. O farisaísmo ainda vigora sem peias.

Penso que uma atitude urgente de conversão que devemos tomar é a de acolher a pessoa humana como Jesus, olhá-la com o olhar de Deus e arrancarmos de nosso coração o preconceito que faz tanto mal. Preconceito contra as mulheres (que constituíam o grupo dos discípulos de Jesus!), contra outros grupos e movimentos. Buscarmos compreender o que se passa por dentro de cada ser humano bem como as motivações que os levam a assumir essa ou aquela postura na vida. Compreendermos cada um dentro de seu contexto de vida e ajudá-los a fazer um caminho de seguimento a Jesus. É essa a nossa missão, pois foi a missão de Jesus.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN