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aurelius

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O sentido da profissão de fé cristã: Deus Trindade

aureliano, 24.05.24

Santíssima Trindade B.jpg

Solenidade da Santíssima Trindade [26 de maio de 2024]

[Mt 28,16-20]

Celebramos hoje a Solenidade da Santíssima Trindade. No relato do evangelho da liturgia desse domingo Jesus dá aos discípulos a missão de fazer novos discípulos e de batizar. A pessoa entra para a vida cristã através do ‘mergulho’ “no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”.

Quase sempre, neste dia, ficamos presos a explicações intelectualizantes sobre a Santíssima Trindade. É uma tentativa de ‘explicar o inexplicável’. Ou seja, o Mistério de Deus em Três Pessoas deve ser crido e não explicado. Deve ser entendido, porém a partir do ‘mergulho’ (batismo) nele. No dizer de Santo Agostinho “é preciso crer para entender” (credo ut intelligam). Ultrapassa nossa inteligência humana e limitada, mas não a contradiz. É um mistério que nos envolve, nos fascina, nos encanta: Tremendum et fascinans: imprime espanto, temor, mas atrai, fascina, encanta!...

Percorramos a profissão de fé, realidade implícita ao batismo, sacramento que nos introduz na vida de Deus, nos incorpora a Cristo e nos torna membros da comunidade cristã, a Igreja, Povo de Deus, Corpo de Cristo, Templo do Espírito.

Imediatamente antes de derramar a água na cabeça daquele que vai ser batizado, o ministro o convida a fazer a promessa de ‘renúncia ao mal’ (conversão); em seguida o convida a professar a fé (perdão e adesão). Por este ato a Igreja professa sua fé no Pai, no Filho, no Espírito Santo. Fé que renovamos todos os domingos em nossas celebrações. Queremos ajudar a compreender o que isso significa em nossa vida.

Creio em Deus Pai Todo-poderoso: reafirmamos nossa fé em Deus que é nosso Pai, que nos criou e cuida de nós com carinho. Um Pai que não nos abandona. Mesmo quando passamos por sofrimentos e tribulações, por dificuldades que não compreendemos e que por vezes não buscamos nem merecemos, Ele está ao nosso lado. Ampara-nos com seu amor que nunca falha. Sua promessa jamais será tirada. Podemos dizer com confiança Pai nosso, isto é, Paizinho querido (Abbá)! Mesmo que estejamos naquelas situações de risco, de desespero, de desalento, de decepção, de pecado, Ele está perto de nós. Muitos o renegam. Muitos tentam quebrar a aliança de amor que Ele fez conosco. Nossos filhos podem recusar seu amor. Mas Ele continua fiel e amoroso. Podemos confiar nele. Cremos nele! “O Senhor ama seu povo de verdade” (Sl 149). Ele é Todo-poderoso porque “perdoa toda culpa e cura toda enfermidade” (Sl 103,3-5).

Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor. Jesus, o Filho amado do Pai. É o presente de Deus para nós. Veio a esse mundo e entregou sua vida por nós. Mostrou-nos quem é o Pai. Seus gestos e palavras são expressão de que o Pai nos ama e quer nosso bem e nossa salvação. Devolve a saúde aos doentes, dá o perdão aos pecadores, acolhe a todos que vêm a ele em busca de conforto, de perdão e de paz. Tudo nele revela o rosto bondoso e maternal do Pai/Mãe que cuida de todos com carinho e amor. O Filho mostrou-nos o caminho da vida: é preciso amar sempre, até o fim, dar a vida. “Sede misericordiosos como o Pai é misericordioso”. Se nos esquecemos de Jesus, se o deixamos de lado, quem vai preencher o vazio do nosso coração? Somente Jesus pode preencher as profundezas e compreender as dobras do nosso coração. Somente uma vida vivida de acordo com o ensinamento de Jesus pode ser verdadeiramente feliz. É a consequência do batismo. “Se compreenderdes isso e o praticardes, felizes sereis” (Jo 15,17).

Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida: é o mistério que celebramos no domingo de Pentecostes: o Espírito Santo foi derramado em nossos corações. Recebemos a missão de ‘fazer discípulos e de batizar’, porém com a força do Espírito Santo. Ele já nos foi dado. Está dentro de cada um de nós. É o amor do Pai e do Filho. É o “Vento” santo de Deus (Ruáh) que nos coloca em movimento, como aconteceu à Virgem Maria que, uma vez inundada da força do alto, foi às pressas ajudar sua prima Isabel. Esse “Sopro” santo nos deixa leves, nos ajuda a abandonar as “obras da carne” para vivermos a “liberdade dos filhos de Deus”. É o “sopro” que nos perdoa, nos liberta, nos santifica, nos leva em direção àqueles que precisam de nós. É o Espírito de Deus que nos ajuda a vencer o espírito do mundo: o lucro a qualquer custo, a ganância, a mentira, a corrupção, a exploração, a preguiça, o comodismo. É o “Senhor doador da vida” que nos move a defender a vida sempre e em qualquer circunstância. “Quando vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à verdade plena” (Jo 16,13). Ele nos ajuda a recordar os ensinamentos de Jesus e interpretá-los de modo justo e eficaz.

Em determinadas circunstâncias somos tentados pela vaidade de pensarmos e agirmos como se Deus precisasse de nós. Ninguém precisa ficar surpreso, não. Elias, o grande profeta do Primeiro Testamento, também foi acometido por essa tentação. Julgava-se imprescindível para a obra de Deus. O preço de sua vaidade foi cair em depressão: fugindo da perseguição da Rainha, sentou-se sob o carvalho e pediu a morte. Ali ele percebeu que a obra é de Deus e não dele. Ele era um mero colaborador, frágil, pequeno, necessitado. Uma vez refeito pelo pão do céu, se levanta e vai ao encontro de Deus (cf. 1Rs 19,1-8). Todas as vezes que agimos levados pela vaidade, pela soberba de nos julgarmos indispensáveis, insubstituíveis, prejudicamos a ação de Deus na história. Importa nos colocarmos no Coração da Trindade com humildade, generosidade e alegria.

É nessa fé que fomos batizados. É essa a realidade que professamos e que somos chamados a viver. Não se trata, pois, de ‘segredos’ nem de ‘mistérios’, mas de um convite amoroso a vivermos essa fé trinitária, fazendo de nossa vida um hino de louvor à Trindade Santa: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo para sempre. Amém. Lembrados sempre do dizer de Santo Irineu de Lião: “A glória de Deus é o ser humano vivo. E a vida do ser humano é a visão de Deus”.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

Uma fé que opera pela caridade (Gl 5,6)

aureliano, 25.08.23

21º domingo do TC - A - 27 de agosto.jpeg

21º Domingo do Tempo Comum [27 de agosto de 2023]

[Mt 16,13-20]

Este relato do evangelho de Mateus é um marco muito importante, pois mostra dois modos de compreender a pessoa de Jesus: um modo confuso (messias milagreiro, resposta para todos os problemas); e uma confissão clara: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo” (messianidadade de Jesus). Pedro, representando todos os discípulos, estabelece com sua resposta, uma nova fase no seguimento de Jesus. Com isso Jesus afasta a falsa concepção messiânica que habitava o coração dos fariseus, saduceus e mesmo dos discípulos. Demonstra que sua messianiadade se manifesta no sofrimento da cruz como entrega de sua vida, passagem "necessária” para a glória da ressurreição (cf. Mt 16,21-28).

A confissão de Pedro brotou da pergunta de Jesus a respeito da compreensão que tinham de sua própria identidade: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Pedro, não pela própria força, mas por inspiração do Alto, faz a profissão de fé: “Tu és o Filho do Deus vivo”. A fé é dom do Pai que deve ser cultivado por aquele que crê através da relação de intimidade com o Mestre e Senhor.

Essa fé proclamada por Pedro precisa continuar ressoando dentro de nós. Que significado tem para nós confessarmos que Jesus é o Filho de Deus? Que lugar ele ocupa em minha vida, em minhas decisões, em minhas escolhas? Que sentido tem para minha vida ler a bíblia, ir ao templo, participar da celebração, fazer oração? Minhas atitudes mudaram a partir de minha fé? Minha oração me torna mais amável, mais solidário, mais comprometido com os pobres, mais respeitoso com os irmãos, com minha família?

Somos pessoas apaixonadas por Jesus mesmo no meio de indiferenças, injustiças, maldades? Continuamos fiéis a ele também quando a vida não sorri para nós? As pessoas com as quais convivemos, trabalhamos podem perceber, notar, ver que nossa vida se pauta pela ética do evangelho? Nossas atitudes estão no caminho da coerência de vida, na simplicidade, na humildade, na honestidade, na atitude misericordiosa?

Fazemos caminho de discipulado buscando a conversão do coração? Procuramos ver a vida como Jesus? Conseguimos enxergar a imagem dele nos excluídos, nos pobres, nos doentes, nas crianças, nos idosos?

“Seguimos a Jesus colaborando com ele no projeto humanizador do Pai, ou seguimos pensando que o mais importante do cristianismo é preocupar-nos exclusivamente com nossa salvação, com nosso bem-estar? Estamos convencidos de que o modo de seguir a Jesus é viver cada dia fazendo a vida mais humana e mais esperançosa para todos?

Vivemos o domingo cristão celebrando a ressurreição de Jesus, ou organizamos nosso fim de semana vazio de sentido cristão? Aprendemos a encontrar a Jesus no silêncio do coração, ou sentimos que nossa fé vai-se apagando, afogada pelo ruído e vazio que há dentro de nós?

Cremos em Jesus ressuscitado que caminha conosco cheio de vida? Vivemos acolhendo em nossas comunidades a paz que deixou como herança aos seus seguidores? Cremos que Jesus nos ama com um amor que nunca acabará? Cremos em sua força renovadora? Sabemos ser testemunhas do mistério de esperança que levamos dentro de nós?” (Pe. José Antônio Pagola).

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CONTINUANDO A REFLEXÃO...

A profissão de fé de Pedro é a base da comunidade cristã: "Tu és o Cristo, o filho de Deus vivo". É nessa fé que a Igreja se firma e caminha. É o Espírito Santo que sustenta a caminhada da Igreja. Ela não se instituiu sobre "carne e sangue", mas no Amor gratuito do Pai revelado na entrega livre do Filho pela salvação da humanidade (cf. Jo 10,18).

As "chaves do Reino" que são confiadas a Pedro devem sempre abrir as cadeias e algemas daqueles que estão dominados pelo mal. Quanta gente presa nas amarras da mentira, da ambição, da corrupção, do ódio, do medo, do preconceito, da enganação, pelo estelionato! Nosso mundo precisa, cada vez mais,  das "chaves do Reino" para abrir a mais partilha, mais sentido de vida, mais perdão, mais fraternidade e compreensão.

Pedro foi encarcerado por causa da fé! Levou às últimas consequências sua profissão de fé: "Tu és o Cristo". Paulo também foi preso, ameaçado e perseguido pelos de dentro e pelos de fora. Mas levou até o fim sua missão: "Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. (...) O Senhor me assistiu e me revestiu de forças, a fim de que por mim a mensagem fosse plenamente proclamada e ouvida por todas as nações" (2Tm 4, 6-7.17).

Essa profissão de fé proclamada por Pedro e proclamada por nós todos os dias precisa encontrar ressonância dentro de nós e em nossa vida. Há muita gente pregando por aí a doutrina católica ou cristã, mas distanciada e descomprometida com Jesus Cristo e seu Reino de Amor. Uma “ortodoxia” que não nos compromete com Jesus de Nazaré, morto e ressuscitado, não tem sentido. É vazia e perigosa. Não podemos perder de vista aquelas palavras do juízo final: “Ao que lhes responderá o rei: ‘Em verdade vos digo: cada vez que o fizestes a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes’” (Mt 25,40).

Não adianta dizer que Jesus é o Senhor se Ele não tem espaço no meu coração, não é o centro da minha vida. Não adianta dizer que Jesus é o Mestre se não me faço seu discípulo, se não procuro viver seu mandamento de amar uns aos outros, se vivo de costas para Ele. Não adianta proclamar que Jesus é o Salvador, se a vida e o ensinamento dele não são fundamento da minha vida.

Crer é assumir uma atitude de adesão a Jesus. É a busca de uma vida que se conforma cotidianamente à vida dele. É deixar-se seduzir por Ele na conversão cotidiana, transformando a maneira de pensar e de agir (cf. Rm 12,1).

Podemos nos perguntar: até que ponto damos conta de sustentar nossa fidelidade ao Evangelho, levando às últimas consequências nosso batismo? O que é mesmo que nos faz desanimar, abandonar a missão, a comunidade? O "conteúdo" de nossa vida é Jesus Cristo? Ou são as vaidades e posses da sociedade capitalista e consumista? O que preciso deixar e o que preciso abraçar com mais vigor para ser verdadeiro discípulo de Jesus?

*Neste dia dedicado às(aos) catequistas, queremos abraçar a todos(as) pelo serviço generoso de fazer ecoar o amor de Deus no coração de nossas crianças e jovens. Continuem firmes nesse caminho, pois mais do que busca de realização pessoal, vocês estão ajudando nossas famílias a encontrar Aquele que dá o verdadeiro sentido à vida. Jamais abandonem a Palavra de Deus que é fonte viva e eficaz para sua vida, em primeiro lugar, e para os catequizandos. Vale a pena “perder o tempo” (a vida) para doá-lo em favor de nossas crianças e jovens. Deus fortaleça cada catequista, sobretudo nesse tempo de pandemia em que se faz necessário muita criatividade e um jeito novo para tocar o coração dos catequizandos. Diz o Papa Francisco: “Quem é o catequista? É aquele que guarda e alimenta a memória de Deus; guarda-a em si mesmo e sabe despertá-la nos outros”.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

A profissão de fé no batismo

aureliano, 28.05.21

Santíssima Trindade B.jpg

Solenidade da Santíssima Trindade [30 de maio de 2021]

[Mt 28,16-20]

Celebramos hoje a Solenidade da Santíssima Trindade. No relato do evangelho da liturgia desse domingo Jesus dá aos discípulos a missão de fazer novos discípulos e de batizar. A pessoa entra para a vida cristã através do ‘mergulho’ “no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”.

Quase sempre, neste dia, ficamos presos a explicações intelectualizantes sobre a Santíssima Trindade. É uma tentativa de ‘explicar o inexplicável’. Ou seja, o Mistério de Deus em Três Pessoas deve ser crido e não explicado. Deve ser entendido, porém a partir do ‘mergulho’ (batismo) nele. No dizer de Santo Agostinho “é preciso crer para entender” (credo ut intelligam). Ultrapassa nossa inteligência humana e limitada, mas não a contradiz. É um mistério que nos envolve, nos fascina, nos encanta: Tremendum et fascinans: imprime medo, temor, mas atrai, fascina, encanta!...

Percorramos a profissão de fé, realidade implícita ao batismo, sacramento que nos introduz na vida de Deus, nos incorpora a Cristo e nos torna membros da comunidade cristã, a Igreja,  Povo de Deus, Corpo de Cristo, Templo do Espírito.

Imediatamente antes de derramar a água na cabeça daquele que vai ser batizado, o ministro o convida a fazer a promessa de ‘renúncia ao mal’ (conversão); em seguida o convida a professar a fé. Por este ato a Igreja professa sua fé no Pai, no Filho, no Espírito Santo. Fé que renovamos todos os domingos em nossas celebrações. Queremos ajudar a compreender o que isso significa em nossa vida.

Creio em Deus Pai todo poderoso: reafirmamos nossa fé em Deus que é nosso Pai, que nos criou e cuida de nós com carinho. Um Pai que não nos abandona. Mesmo quando passamos por sofrimentos e tribulações, por dificuldades que não compreendemos e que por vezes não buscamos nem merecemos, Ele está ao nosso lado. Ampara-nos com seu amor que nunca falha. Sua promessa jamais será tirada. Podemos dizer com confiança Pai nosso, isto é, Paizinho querido (Abbá)! Mesmo que estejamos naquelas situações de risco, de desespero, de desalento, de decepção, Ele está perto de nós. Muitos o negam. Muitos tentam quebrar a aliança de amor que Ele fez conosco. Nossos filhos podem recusar seu amor. Mas Ele continua fiel e amoroso. Podemos confiar nele. Cremos nele! “O Senhor ama seu povo de verdade” (Sl 149).

Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor. Jesus, o Filho amado do Pai. É o presente de Deus para nós. Veio a esse mundo e entregou sua vida por nós. Mostrou-nos quem é o Pai. Seus gestos e palavras são expressão de que o Pai nos ama e quer nosso bem e nossa salvação. Devolve a saúde aos doentes, dá o perdão aos pecadores, acolhe a todos que vêm a ele em busca de conforto, de perdão e de paz. Tudo nele revela o rosto bondoso e maternal do Pai/Mãe que cuida de todos com carinho e amor. O Filho mostrou-nos o caminho da vida: é preciso amar sempre, até o fim, dar a vida. “Sede misericordiosos como o Pai é misericordioso”. Se nos esquecemos de Jesus, se o deixamos de lado, quem vai preencher o vazio do nosso coração? Somente Jesus pode preencher as profundezas e compreender as dobras do nosso coração. Somente uma vida vivida de acordo com o ensinamento de Jesus pode ser verdadeiramente feliz. É a consequência do batismo. “Se compreenderdes isso e o praticardes, felizes sereis” (Jo 15,17).

Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida: é o mistério que celebramos no domingo de Pentecostes: o Espírito Santo foi derramado em nossos corações. Recebemos a missão de ‘fazer discípulos e de batizar’, porém com a força do Espírito Santo. Ele já nos foi dado. Está dentro de cada um de nós. É o amor do Pai e do Filho. É o “Vento” santo de Deus (Ruáh) que nos coloca em movimento, como aconteceu à Virgem Maria que, uma vez inundada da força do alto, foi às pressas ajudar sua prima Isabel. Esse “Sopro” santo nos deixa leves, nos ajuda a abandonar as “obras da carne” para vivermos a “liberdade dos filhos de Deus”. É o “sopro” que nos perdoa, nos liberta, nos santifica, nos leva em direção àqueles que precisam de nós. É o Espírito de Deus que nos ajuda a vencer o espírito do mundo: o lucro a qualquer custo, a ganância, a mentira, a corrupção, a exploração, a preguiça, o comodismo. É o “Senhor doador da vida” que nos move a defender a vida sempre e em qualquer circunstância. “Quando vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à verdade plena” (Jo 16,13).

Em determinadas circunstâncias somos tentados pela vaidade de pensarmos e agirmos como se Deus precisasse de nós. Ninguém precisa ficar surpreso, não. Elias, o grande profeta do Primeiro Testamento, também foi acometido por essa tentação. Julgava-se imprescindível para a obra de Deus. O preço de sua vaidade foi cair em depressão: fugindo da perseguição da Rainha, sentou-se sob o carvalho e pediu a morte. Ali ele percebeu que a obra é de Deus e não dele. Ele era um mero colaborador, frágil, pequeno, necessitado. Uma vez refeito pelo pão do céu, se levanta e vai ao encontro de Deus (cf. 1Rs 19,1-8). Todas as vezes que agimos levados pela vaidade, pela soberba de nos julgarmos indispensáveis, insubstituíveis, prejudicamos a ação de Deus na história. Importa nos colocarmos no Coração da Trindade com humildade, generosidade e alegria.

É nessa fé que fomos batizados. É essa a realidade que professamos e que somos chamados a viver. Não se trata, pois, de ‘segredos’ nem de ‘mistérios’, mas de um convite amoroso a vivermos essa fé trinitária, fazendo de nossa vida um hino de louvor à Trindade Santa: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo para sempre. Amém. Lembrados sempre do dizer de Santo Irineu de Lião: “A glória de Deus é o ser humano vivo. E a vida do ser humano é a visão de Deus”.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

As consequências da profissão de fé

aureliano, 22.08.20

21º Domingo do TC - A - 23 de agosto.jpg

21º Domingo do Tempo Comum [23 de agosto de 2020]

[Mt 16,13-20]

Este relato do evangelho de Mateus é um marco muito importante, pois mostra dois modos de compreender a pessoa de Jesus: um modo confuso (messias milagreiro, resposta para todos os problemas); e uma confissão clara: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo” (messianidadade de Jesus). Pedro, representando todos os discípulos, estabelece com sua resposta, uma nova fase no seguimento de Jesus. Com isso Jesus afasta a falsa concepção messiânica que habitava o coração dos fariseus, saduceus e mesmo dos discípulos. Demonstra que sua messianiadade se manifesta no sofrimento da cruz como entrega de sua vida, passagem "necessária” para a glória da ressurreição (cf. Mt 16,21-28).

A confissão de Pedro brotou da pergunta de Jesus a respeito da compreensão que tinham de sua própria identidade: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Pedro, não pela própria força, mas por inspiração do Alto, faz a profissão de fé: “Tu és o Filho do Deus vivo”. A fé é dom do Pai que deve ser cultivado por aquele que crê pela relação de intimidade com o Mestre e Senhor.

Essa fé proclamada por Pedro precisa continuar ressoando dentro de nós. Que significado tem para nós confessarmos que Jesus é o Filho de Deus? Que lugar ele ocupa em minha vida, em minhas decisões, em minhas escolhas? Que sentido tem para minha vida ler a bíblia, ir ao templo, participar da celebração, fazer oração? A minha vida mudou a partir de minha fé? Minha oração me torna mais amável, mais solidário, mais comprometido com os pobres, mais respeitoso com os irmãos, com minha família?

Somos pessoas apaixonadas por Jesus mesmo no meio de indiferenças, injustiças, maldades? Continuamos fiéis a ele também quando a vida sorri para nós? As pessoas com as quais convivemos, trabalhamos podem perceber, notar, ver que realmente acreditamos nele? Nossas atitudes estão no caminho da coerência de vida, na simplicidade, na humildade, na honestidade, no gesto de misericórdia?

Fazemos caminho de discipulado buscando a conversão do coração? Procuramos ver a vida como Jesus? Conseguimos enxergar a imagem dele nos excluídos, nos pobres, nos doentes, nas crianças, nos idosos?

“Seguimos a Jesus colaborando com ele no projeto humanizador do Pai, ou seguimos pensando que o mais importante do cristianismo é preocupar-nos exclusivamente com nossa salvação, com nosso bem-estar? Estamos convencidos de que o modo de seguir a Jesus é viver cada dia fazendo a vida mais humana e mais esperançosa para todos?

Vivemos o domingo cristão celebrando a ressurreição de Jesus, ou organizamos nosso fim de semana vazio de sentido cristão? Aprendemos a encontrar a Jesus no silêncio do coração, ou sentimos que nossa fé vai-se apagando, afogada pelo ruído e vazio que há dentro de nós?

Cremos em Jesus ressuscitado que caminha conosco cheio de vida? Vivemos acolhendo em nossas comunidades a paz que deixou como herança aos seus seguidores? Cremos que Jesus nos ama com um amor que nunca acabará? Cremos em sua força renovadora? Sabemos ser testemunhas do mistério de esperança que levamos dentro de nós?” (Pe. José Antônio Pagola).

---------xxxxx----------

CONTINUANDO A REFLEXÃO...

A profissão de fé de Pedro é a base da comunidade cristã: "Tu és o Cristo, o filho de Deus vivo". É nessa fé que a Igreja se firma e caminha. É o Espírito Santo que sustenta a caminhada da Igreja. Ela não se instituiu sobre "carne e sangue", mas no Amor gratuito do Pai revelado na entrega livre do Filho pela salvação da humanidade (cf. Jo 10,18).

As "chaves do Reino" que são confiadas a Pedro devem sempre abrir as cadeias e algemas daqueles que estão dominados pelo mal. Quanta gente presa nas amarras da mentira, da ambição, da corrupção, do ódio, do medo, do preconceito, da enganação! Nosso mundo precisa, cada vez mais,  das "chaves do Reino" para abrir a mais partilha, mais sentido de vida, mais perdão, mais fraternidade e compreensão.

Pedro foi encarcerado por causa da fé! Levou às últimas consequências sua profissão de fé: "Tu és o Cristo". Paulo também foi preso, ameaçado e perseguido pelos de dentro e pelos de fora. Mas levou até o fim sua missão: "Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. (...) O Senhor me assistiu e me revestiu de forças, a fim de que por mim a mensagem fosse plenamente proclamada e ouvida por todas as nações" (2Tm 4, 6-7.17).

Essa profissão de fé proclamada por Pedro e repetida por nós todos os dias precisa encontrar ressonância dentro de nós e em nossa vida. Há muita gente pregando por aí a doutrina católica ou cristã, mas distanciada e descomprometida com Jesus Cristo. Uma “ortodoxia” que não nos compromete com Jesus de Nazaré, morto e ressuscitado, não tem sentido. É vazia e perigosa. Não podemos perder de vista aquelas palavras do juízo final: “Ao que lhes responderá o rei: ‘Em verdade vos digo: cada vez que o fizestes a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes’” (Mt 25,40).

Não adianta dizer que Jesus é o Senhor se Ele não tem espaço no meu coração, não é o centro da minha vida. Não adianta dizer que Jesus é o Mestre se não o sigo, se não procuro viver seu mandamento de amar uns aos outros, se vivo de costas para Ele, se não me faço discípulo dele. Não adianta proclamar que Jesus é o Salvador, se a vida e o ensinamento dele não são fundamento da minha vida.

Crer é assumir uma atitude de adesão a Jesus. É a busca de uma vida que se conforma cotidianamente à vida dele. É deixar-se seduzir por Ele na conversão cotidiana, transformando a maneira de pensar e de agir (cf. Rm 12,1).

Podemos nos perguntar: até que ponto damos conta de sustentar nossa fidelidade ao Evangelho, levando às últimas consequências nosso batismo? O que é mesmo que nos faz desanimar, abandonar a missão, a comunidade? O "conteúdo" de nossa vida é Jesus Cristo? Ou são as vaidades e posses da sociedade capitalista e consumista? O que preciso deixar e o que preciso abraçar com mais vigor para ser verdadeiro discípulo de Jesus?

*Neste dia dedicado às(aos) catequistas, queremos abraçar a todos(as) pelo serviço generoso de fazer ecoar o amor de Deus no coração de nossas crianças e jovens. Continuem firmes nesse caminho, pois mais do que busca de realização pessoal, vocês estão ajudando nossas famílias a encontrar Aquele que dá o verdadeiro sentido à vida. Jamais abandonem a Palavra de Deus que é fonte viva e eficaz para sua vida, em primeiro lugar, e para os catequizandos. Vale a pena “perder o tempo” (a vida) para doá-lo em favor de nossas crianças e jovens. Deus fortaleça cada catequista, sobretudo nesse tempo de pandemia em que se faz necessário muita criatividade e um jeito novo para tocar o coração dos catequizandos. Diz o Papa Francisco: “Quem é o catequista? É aquele que guarda e alimenta a memória de Deus; guarda-a em si mesmo e sabe despertá-la nos outros”.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

As consequências da fé batismal

aureliano, 24.05.18

Santíssima Trindade B.jpg

Solenidade da Santíssima Trindade [27 de maio de 2018]

[Mt 28,16-20]

Celebramos hoje a Solenidade da Santíssima Trindade. No relato do evangelho da liturgia desse domingo Jesus dá aos discípulos a missão de fazer novos discípulos e de batizar. A pessoa entra para a vida cristã através do ‘mergulho’ “no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”.

Quase sempre, neste dia, ficamos presos a explicações intelectualizantes sobre a Santíssima Trindade. É uma tentativa de ‘explicar o inexplicável’. Ou seja, o Mistério de Deus em Três Pessoas deve ser crido e não explicado. Deve ser entendido, porém a partir do ‘mergulho’ (batismo) nele. No dizer de Santo Agostinho “é preciso crer para entender” (credo ut intelligam). Ultrapassa nossa inteligência humana e limitada, mas não a contradiz. É um mistério que nos envolve, nos fascina, nos encanta: Tremendum et fascinans: imprime medo, temor, mas atrai, fascina, encanta!...

Desejo discorrer um pouco sobre a profissão de fé, realidade implícita ao batismo, sacramento que nos introduz na vida de Deus, nos incorpora a Cristo e nos torna membros da comunidade cristã, a Igreja,  Povo de Deus, Corpo de Cristo, Templo do Espírito.

Imediatamente antes de derramar a água na cabeça daquele que vai ser batizado, o ministro o convida a fazer a promessa de ‘renúncia ao mal’ (conversão); em seguida o convida a professar a fé. Por este ato a Igreja professa sua fé no Pai, no Filho, no Espírito Santo. Fé que renovamos todos os domingos em nossas celebrações. Queremos ajudar a compreender o que isso significa em nossa vida.

Creio em Deus Pai todo poderoso: reafirmamos nossa fé em Deus que é nosso Pai, que nos criou e cuida de nós com carinho. Um Pai que não nos abandona. Mesmo quando passamos por sofrimentos e tribulações, por dificuldades que não compreendemos e que por vezes não buscamos nem merecemos, Ele está ao nosso lado. Ampara-nos com seu amor que nunca falha. Sua promessa jamais será tirada. Podemos dizer com confiança Pai nosso, isto é, Paizinho querido (Abbá)! Mesmo que estejamos naquelas situações de risco, de desespero, de desalento, de decepção, Ele está perto de nós. Muitos o negam. Muitos tentam quebrar a aliança de amor que Ele fez conosco. Nossos filhos podem recusar seu amor. Mas Ele continua fiel e amoroso. Podemos confiar nele. Cremos nele!

Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor. Jesus, o Filho amado do Pai. É o presente de Deus para nós. Veio a esse mundo e entregou sua vida por nós. Mostrou-nos quem é o Pai. Seus gestos e palavras são expressão de que o Pai nos ama e quer nosso bem e nossa salvação. Devolve a saúde aos doentes, dá o perdão aos pecadores, acolhe a todos que vêm a ele em busca de conforto, de perdão e de paz. Tudo nele revela o rosto bondoso e maternal do Pai/Mãe que cuida de todos com carinho e amor. O Filho mostrou-nos o caminho da vida: é preciso amar sempre, até o fim, dar a vida. “Sede misericordiosos como o Pai é misericordioso”. Se nos esquecemos de Jesus, se o deixamos de lado, quem vai preencher o vazio do nosso coração? Somente Jesus pode preencher as profundezas e compreender as dobras do nosso coração. Somente uma vida vivida de acordo com o ensinamento de Jesus pode ser verdadeiramente feliz. É a consequência do batismo.

Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida: é o mistério que celebramos no domingo de Pentecostes: o Espírito Santo foi derramado em nossos corações. Recebemos a missão de ‘fazer discípulos e de batizar’, porém com a força do Espírito Santo. Ele já nos foi dado. Está dentro de cada um de nós. É o amor do Pai e do Filho. É o “Vento” santo de Deus (Ruáh) que nos coloca em movimento, como aconteceu à Virgem Maria que, uma vez inundada da força do alto, foi às pressas ajudar sua prima Isabel. Esse “Sopro” santo nos deixa leves, nos ajuda a abandonar as “obras da carne” para vivermos a “liberdade dos filhos de Deus”. É o “sopro” que nos perdoa, nos liberta, nos santifica, nos leva em direção àqueles que precisam de nós. É o Espírito de Deus que nos ajuda a vencer o espírito do mundo: o lucro a qualquer custo, a ganância, a mentira, a corrupção, a exploração, a preguiça, o comodismo. É o “Senhor doador da vida” que nos move a defender a vida sempre e em qualquer circunstância.

Em determinadas circunstâncias somos tentados pela vaidade de pensarmos e agirmos como se Deus precisasse de nós. Ninguém precisa ficar surpreso, não. Elias, o grande profeta do Primeiro Testamento, também foi acometido por essa tentação. Julgava-se imprescindível para a obra de Deus. O preço de sua vaidade foi cair em depressão: fugindo da perseguição da Rainha, sentou-se sob o carvalho e pediu a morte. Ali ele percebeu que a obra é de Deus e não dele. Ele era um mero colaborador, frágil, pequeno, necessitado. Uma vez refeito pelo pão do céu, se levanta e vai ao encontro de Deus (cf. 1Rs 19,1-8). Todas as vezes que agimos levados pela vaidade, pela soberba de nos julgarmos indispensáveis, insubstituíveis, prejudicamos a ação de Deus na história. Importa nos colocarmos no Coração da Trindade com humildade, generosidade e alegria.

É nessa fé que fomos batizados. É essa a realidade que professamos e que somos chamados a viver. Não se trata, pois, de ‘segredos’ nem de ‘mistérios’, mas de um convite amoroso a vivermos essa fé trinitária, fazendo de nossa vida um hino de louvor à Trindade Santa: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo para sempre. Amém. Lembrados sempre do dizer de Santo Irineu de Lião: “A glória de Deus é o ser humano vivo. E a vida do ser humano é a visão de Deus”.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

As consequências da profissão de fé

aureliano, 25.08.17

Profissão de fé de Pedro.jpg

21º Domingo do Tempo Comum [27 de agosto de 2017]

[Mt 16,13-20]

Este relato do evangelho de Mateus é um marco muito importante, pois mostra dois modos de se compreender a pessoa de Jesus: um modo confuso (messianismo=milagreiro, resposta para todos os problemas); e uma confissão clara: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo” (messianidadade de Jesus). Pedro, representando todos os discípulos, estabelece com sua resposta, uma nova fase no seguimento de Jesus. Com isso Jesus afasta a concepção messiânica que habitava o coração dos fariseus, saduceus e mesmo dos discípulos. Demonstra que sua messianiadade se manifesta no sofrimento da cruz, passagem "necessária” para a glória da ressurreição (cf. Mt 16,21-28).

A confissão de Pedro brotou da pergunta de Jesus a respeito da compreensão que tinham de sua própria identidade: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Pedro, não pela própria força, mas por inspiração do Alto, faz a profissão de fé: “Tu és o Filho do Deus vivo”. A fé é dom do Pai que deve ser cultivado por aquele que crê.

Esse episódio de Pedro precisa continuar ressoando dentro de nós. Que significado tem para nós confessarmos que Jesus é o Filho de Deus? Que lugar ele ocupa em nossa vida, em nossas decisões, em nossas escolhas? Que sentido tem para minha vida ler a bíblia, ir ao templo, participar da celebração, fazer oração?

Somos pessoas apaixonadas por Jesus mesmo no meio de indiferenças, injustiças, maldades? Continuamos fiéis a ele também quando a vida não sorri para nós? As pessoas com as quais convivemos, trabalhamos podem perceber, notar, ver que realmente acreditamos nele? Nossas atitudes estão no caminho da coerência de vida, na simplicidade, na humildade, no gesto de misericórdia?

Fazemos caminho de discipulado buscando a conversão do coração? Procuramos ver a vida como Jesus? Conseguimos enxergar nos excluídos, nos pobres, nos doentes, nas crianças, nos idosos a imagem dele?

“Seguimos a Jesus colaborando com ele no projeto humanizador do Pai, ou seguimos pensando que o mais importante do cristianismo é preocupar-nos exclusivamente com nossa salvação, com nosso bem-estar? Estamos convencidos de que o modo de seguir a Jesus é viver cada dia fazendo a vida mais humana e mais esperançosa para todos?

Vivemos o domingo cristão celebrando a ressurreição de Jesus, ou organizamos nosso fim de semana vazio de sentido cristão? Aprendemos a encontrar a Jesus no silêncio do coração, ou sentimos que nossa fé vai-se apagando, afogada pelo ruído e vazio que há dentro de nós?

Cremos em Jesus ressuscitado que caminha conosco cheio de vida? Vivemos acolhendo em nossas comunidades a paz que deixou como herança aos seus seguidores? Cremos que Jesus nos ama com um amor que nunca acabará? Cremos em sua força renovadora? Sabemos ser testemunhas do mistério de esperança que levamos dentro de nós?” (Pe. José Antônio Pagola).

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CONTINUANDO A REFLEXÃO...

A profissão de fé de Pedro é a base da comunidade cristã: "Tu és o Cristo, o filho de Deus vivo". É nessa fé que a Igreja se firma e caminha. É o Espírito que sustenta a caminhada da Igreja. Ela não se instituiu sobre "carne e sangue", mas no Amor gratuito do Pai revelado na entrega livre do Filho pela salvação da humanidade (cf. Jo 10,18).

As "chaves do Reino" que são confiadas a Pedro devem sempre abrir as cadeias e algemas daqueles que estão dominados pelo mal. Quanta gente presa nas amarras da mentira, da ambição, da corrupção, do ódio, do medo, do preconceito, da enganação! Nosso mundo precisa, cada vez mais,  das "chaves do Reino" para que haja mais partilha, mais sentido de vida, mais perdão, mais fraternidade e compreensão.

Pedro foi encarcerado por causa da fé! Levou às últimas consequências sua profissão de fé: "Tu és o Cristo". Paulo também foi preso, ameaçado e perseguido pelos de dentro e pelos de fora. Mas levou até o fim sua missão: "Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. (...) O Senhor me assistiu e me revestiu de forças, a fim de que por mim a mensagem fosse plenamente proclamada e ouvida por todas as nações" (2Tm 4, 6-7.17).

Podemos nos perguntar: até que ponto damos conta de sustentar nossa fidelidade ao Evangelho, levando às últimas consequências nosso batismo? O que é mesmo que nos faz desanimar, abandonar a missão, a comunidade? O "conteúdo" de nossa vida é Jesus Cristo? Ou são as vaidades e posses da sociedade capitalista e consumista? O que preciso deixar e o que preciso abraçar com mais vigor para ser verdadeiro discípulo de Jesus?

*Neste dia dedicado às(aos) catequistas, queremos abraçar a todos pelo serviço generoso de fazer ecoar o amor de Deus no coração de nossas crianças e jovens. Continuem firmes nesse caminho, pois mais do que busca de realização pessoal, vocês estão ajudando nossas famílias a encontrar Aquele que dá o verdadeiro sentido à vida. Jamais abandonem a Palavra de Deus que é fonte viva e eficaz para sua vida, em primeiro lugar, e para os catequizandos: “A catequese será tanto mais rica e eficaz quanto mais ler os textos com a inteligência e o coração da Igreja” (Verbum Domini, 74). Vale a pena “perder o tempo” (a vida) de vocês para doá-lo em favor de nossas crianças e jovens. Deus fortaleça vocês na luta contra os “adversários” do projeto de Jesus.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

As consequências da fé batismal

aureliano, 21.05.16

Domingo da Santíssima Trindade [22 de maio de 2016]

Jo 16,12-15

Celebramos hoje a Solenidade da Santíssima Trindade. Quase sempre, neste dia, ficamos presos a explicações intelectualizantes sobre a Santíssima Trindade. É uma tentativa de ‘explicar o inexplicável’. Ou seja, o Mistério de Deus em Três Pessoas deve ser crido e não explicado. Deve ser entendido, porém a partir do ‘mergulho’ (batismo) nele. No dizer de Santo Agostinho “é preciso crer para entender” (credo ut intelligam). Ultrapassa nossa inteligência humana e limitada, mas não a contradiz. É um mistério que nos envolve, nos fascina, nos encanta: tremendum et fascinans: Mistério tremendo e fascinante. Não se trata de algo inacessível ou incognoscível. Mas trata-se de um mistério que nos ultrapassa. Enquanto não entrarmos nele para nele nos movermos e existirmos (cf. At 17,28), não conseguiremos compreendê-lo.

Desejo discorrer um pouco sobre a profissão de fé, realidade implícita ao batismo, sacramento que nos introduz na vida de Deus e na comunidade cristã. Professamos a fé através do Credo, todos os domingos na celebração eucarística; renovamo-la nas celebrações batismais; mas ainda não damos conta do que esta realidade significa e compromete nossa vida toda.

Imediatamente antes de derramar a água na cabeça daquele que vai ser batizado, o ministro o convida a fazer a promessa de ‘renúncia ao mal’ (conversão); em seguida o convida a professar a fé (“crês”). Por este ato a Igreja professa sua fé no Pai, no Filho, no Espírito Santo. Queremos ajudar a compreender o que isso significa em nossa vida.

Creio em Deus Pai todo poderoso: reafirmamos nossa fé em Deus que é nosso Pai, que nos criou e cuida de nós com carinho. Um Pai que não nos abandona. Mesmo quando passamos por sofrimentos e tribulações, por dificuldades que não compreendemos e que por vezes não buscamos nem merecemos, Ele está ao nosso lado. Ampara-nos com seu amor que nunca falha. Sua promessa jamais será tirada. Podemos dizer com confiança Pai nosso, isto é, Paizinho querido (Abbá)! Mesmo que estejamos naquelas situações de risco, de desespero, de desalento, de decepção, Ele está perto de nós. Muitos o negam. Muitos quebram a aliança de amor que Ele fez conosco. Nossos filhos recusam seu amor. Mas Ele continua fiel e amoroso. Podemos confiar nele. Cremos nele!

Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor. Jesus, o Filho do Pai amado, nascido da Virgem Maria. É o presente de Deus para nós. Veio a esse mundo e entregou sua vida por nós. Mostrou-nos quem é o Pai. Seus gestos e palavras são expressão de que o Pai nos ama e quer nosso bem e nossa salvação. Devolve a saúde aos doentes, dá o perdão aos pecadores, acolhe a todos que vêm a ele em busca de conforto, de perdão e de paz. Tudo nele revela o rosto bondoso e maternal do Pai/Mãe que cuida de todos com carinho e amor. O Filho mostrou-nos o caminho da vida: é preciso amar sempre, até o fim, dar a vida. “Sede misericordiosos como o Pai é misericordioso”. Se nos esquecemos de Jesus, se o deixamos de lado, quem vai preencher o vazio do nosso coração? Somente Jesus pode preencher as profundezas e compreender as ‘dobras’ do nosso coração. Somente uma vida vivida de acordo com o ensinamento de Jesus pode ser verdadeiramente feliz. É a conseqüência do batismo.

Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida: é o mistério que celebramos no domingo de Pentecostes: o Espírito Santo foi derramado em nossos corações. Recebemos a missão de ‘fazer discípulos e de batizar’, porém com a força do Espírito Santo. Ele já nos foi dado. Está dentro de cada um de nós. É o amor do Pai e do Filho. É o “Vento” santo de Deus que nos coloca em movimento, como aconteceu à Virgem Maria que, uma vez inundada da força do alto, foi às pressas ajudar sua prima Isabel. Esse “Sopro” santo nos deixa leves, nos ajuda a abandonar as “obras da carne” para vivermos a “liberdade dos filhos de Deus”. É o “sopro” que nos perdoa, nos liberta, nos santifica, nos leva em direção àqueles que precisam de nós. É o Espírito de Deus que nos ajuda a vencer o espírito do mundo: o lucro a qualquer custo, a ganância, a mentira, a corrupção, a exploração, a preguiça, o comodismo. É o “Senhor doador da vida” que nos move a defender a vida sempre e em qualquer circunstância.

É nesta fé que fomos batizados. É esta a realidade que professamos e que somos chamados a viver. Não se trata, pois, de ‘segredos’ nem de ‘mistérios’, mas de um convite amoroso a vivermos essa fé trinitária, fazendo de nossa vida um hino de louvor à Trindade Santa: “Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo para sempre. Amém”. Lembrados sempre do dizer de Santo Irineu de Lião: “A glória de Deus é o ser humano vivo. E a vida do ser humano é a visão de Deus”.

Santo Agostinho, tentando entender o Mistério da Santíssima Trindade, passeava pela praia e viu uma criança colocando água do mar num poço feito na areia. Brincou: “O mar nunca caberá aí”. Ao que a criança respondeu: “Assim também não vai caber na tua cabeça o mistério da Santíssima Trindade”. Pois bem, se não conseguimos colocar o mistério do amor de Deus em nossa cabeça, coloquemos nossa cabeça e nossa vida toda dentro desse mistério! Ou seja, deixemo-nos envolver pela Trindade Santa que nos habita para que nossa vida seja expressão de sua bondade no mundo.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN