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aurelius

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Qual é o teu tesouro?

aureliano, 09.08.19

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19º Domingo do Tempo Comum [11 de agosto de 2019]

[Lc 12,32-48]

No evangelho do domingo passado acompanhamos Jesus orientando seus discípulos a não depositarem sua confiança nos bens terrenos: “Tomai cuidado com todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens” (Lc 12,15). Essa admoestação de Jesus pode ter provocado nos discípulos alguma defecção, desistência, medo de assumir o projeto que o Mestre apresenta. Daí a palavra do evangelho de hoje: “Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do Pai dar a vós o Reino”. Parece que Jesus não contava com grande multidão de discípulos. Ele conta com poucos, porém destemidos, generosos, capazes de se desprenderem dos bens e posses e lutarem por um mundo mais fraterno e igualitário. Pequeno grupo que tenha como único tesouro o Reino. Um pequeno rebanho, porém que se constitui em grande sinal do Reino.

  1. “Onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração”. O desprendimento dos bens em favor dos pobres traz ao discípulo a verdadeira liberdade. Note-se que não se trata pura e simplesmente de desprezo das coisas materiais. Isso seria uma maneira doentia, desumana de se relacionar com os bens da Criação, dons de Deus. Mas Jesus propõe um jeito novo: vender e dar em esmola. É a partilha evangélica. É o não-acúmulo, o sair de si em favor dos necessitados. Essa é a perspectiva cristã. Se nosso tesouro é o Reino de Deus, então nosso coração estará em paz, livre, empenhado naquelas realidades que não passam. O cuidado com as pessoas terá prioridade sobre o cuidado com as coisas.
  2. “Que vossos rins estejam cingidos e vossas lâmpadas acesas”. Jesus alerta para a necessidade de se estar atento, pronto. Rins cingidos significa estar preparado para agir. Aliás, o Papa Francisco lembra que a Igreja precisa sair, ir para as ruas, encontrar-se com os pobres, com os necessitados, com os sofredores: "Eu quero agito nas dioceses, que vocês saiam às ruas. Eu quero que a Igreja vá para as ruas, eu quero que nós nos defendamos de toda acomodação, imobilidade, clericalismo. Se a Igreja não sai às ruas, se converte em uma ONG. A igreja não pode ser uma ONG" (JMJ do Brasil, 2013). Na JMJ da Polônia (2016) o Papa insiste na necessidade de sair: “Queridos jovens, não viemos ao mundo para ‘vegetar’, para transcorrer comodamente os dias, para fazer da vida um sofá que nos adormeça; pelo contrário, viemos com outra finalidade, para deixar uma marca. É muito triste passar pela vida sem deixar uma marca. Mas, quando escolhemos a comodidade, confundindo felicidade com consumo, então o preço que pagamos é muito, mas muito caro: perdemos a liberdade”. E acrescentou: “O tempo que hoje estamos a viver não precisa de jovens-sofá, mas de jovens com os sapatos, ainda melhor, calçados com as botas”. - Lâmpadas acesas significa cuidar da fé. Esta é a luz que ilumina o caminho. Se nos descuidamos do óleo da caridade, das boas obras, da oração fervorosa, do cultivo de uma mística profunda, do cuidado com os pobres e sofredores, nossa fé pode esmorecer e nossa lâmpada se apagar. Então nosso caminho ficará em trevas e também aqueles que precisam de nossa luz.
  3. “Felizes os empregados que o senhor encontrar acordados quando chegar”. É preciso estar despertos. É muito fácil viver dormindo. É só fazer o que todo mundo faz. É deixar a vida correr ao sabor do vento: pra onde ventar a gente vai. É viver insensível ao sofrimento alheio. Quando se vive só para trabalhar, ganhar dinheiro, cumprir algumas normas, comer, dormir, se divertir é viver dormindo. As coisas mais importantes, fundamentais da vida passam longe. Teologicamente, “dormir” significa viver uma religião de tradição. É não querer perceber o agir de Deus na história, nas pessoas. É ser indiferente, despreocupado com o que realmente conta. Talvez se possam fazer muitas coisas, mas se permanece na superficialidade dessas coisas. Isso é viver dormindo. E Jesus admoesta que é preciso viver acordado.– Um grande risco é vivermos uma “religião adormecida”. Uma espiritualidade que anestesia, que leva para as nuvens. Que faz viver em torno de si, de seus próprios conflitos e desgraças. “Para viver despertos é importante viver mais devagar, cultivar melhor o silêncio e estar atento aos apelos do coração. Sem dúvida, o mais decisivo é viver amando. Só quem ama vive intensamente, com alegria e vitalidade, atento ao essencial. Por outro lado, para despertar de uma ‘religião adormecida’ só há um caminho: buscar para além dos ritos e das crenças, aprofundar-se mais em nossa verdade perante Deus e abrir-nos confiantemente ao seu mistério. ‘Felizes aqueles que o Senhor, ao chegar, encontrar vigiando’” (Pe. José Antônio Pagola, O caminho aberto por Jesus, p. 215).
  4. “A quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido”. São palavras que precisam nos acompanhar a vida toda. Quanto mais recebemos de Deus, maior nossa responsabilidade de repartir. Se Deus me deu muito, devo também dar muito. O Pai do céu não é injusto com ninguém: aqueles que receberam mais, precisam criar consciência de que devem distribuir com quem não tem. A Eucaristia nos ensina que a verdadeira riqueza é a aquela que se divide com os outros. O Deus que defende a vida justa e digna para os pobres não pode habitar num coração dominado pelo poder e pelo dinheiro.

*Neste domingo em que comemoramos o Dia dos Pais, queremos lembrar essa figura representativa do Pai do céu. Oxalá os pais assumissem, de verdade, sua missão para além da manutenção de casa e comida. Pai é aquele que educa, que forma, que se faz presente, que ampara, que dá carinho, que oferece segurança, que aponta e ajuda a trilhar caminhos de vida. Penso que nem todo homem, embora casado, tenha vocação para ser pai. Não adianta ter filhos, mas não ser referência de vida, de honestidade, de cuidado, de paternidade responsável. Parabéns papais! Dêem uma olhadinha na maneira como São José exerceu sua paternidade: orante, responsável, dedicado, confiante, respeitoso, justo, trabalhador, honesto.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN