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aurelius

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Jesus: caminho e revelação do Pai

aureliano, 09.05.20

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5º Domingo da Páscoa [10 de maio de 2020]

[Jo 14,1-12]

O relato de hoje está no contexto da narrativa do ‘lava-pés’, traição de Judas e a negação de Pedro. Após narrar esses últimos fatos (traição e negação), João mostra Jesus consolando seus discípulos e despertando-lhes a confiança para que não desanimassem nas adversidades e decepções da missão.

Preferi trabalhar o relato de hoje a partir de tópicos. Espero que possa ajudar na oração e reflexão.

  1. “Não se perturbe o vosso coração! ... pois vou preparar-vos um lugar”. Os discípulos não precisavam ficar preocupados com o que iria acontecer. Jesus estava com eles. Podiam confiar nele: “Eu vos levarei comigo ... para que onde eu estiver estejais também vós”. Essa é a grande promessa aos discípulos: Jesus não os abandona. Preocupa-se com eles. Está com eles. – Nos momentos difíceis da vida, nas desilusões e desencantos, sobretudo quando lutamos por um bem que parece não se concretizar, lembremo-nos destas consoladoras palavras de Jesus. Não desistamos jamais de continuar no caminho do bem, mesmo que as forças do mal pareçam prevalecer.
  2. “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. No evangelho do domingo passado (Jo 10) ouvimos Jesus dizer: “Eu sou a porta”. Hoje ele diz: “Eu sou o caminho”. Foi uma resposta à pergunta de Tomé que manifestava seu desconhecimento do caminho para o Pai. Não existe outro caminho para o Pai a não ser Jesus. A vida de Jesus nos mostra por onde devemos trilhar para chegarmos ao Reino do Pai. Mesmo que não se professe explicitamente a fé cristã, mas implicitamente se deve viver a partir dos valores evangélicos. – Jesus é o Caminho que conduz ao Pai. Aquele que vive como Jesus ensinou está no caminho que conduz à vida. Para o ser humano há somente dois caminhos: um que conduz à morte e outro que conduz à vida (cf. Dt 30,15-20). A escolha é de cada um. O caminho que conduz à vida é estreito. E são poucos os que entram por ele (cf. Mt 7,14). Peçamos ao Pai a coragem suficiente para entrarmos por ele. – Jesus é a Verdade. Em meio a tantas teorias que se pretendem verdades absolutas, presentes nas propostas do capitalismo, do materialismo, do lucro a qualquer preço, do prazer absoluto, e confundidos por tantas notícias falsas (fake news), Jesus Cristo resplandece como a única verdade que ilumina o ser humano. – Jesus é a Vida. O sistema político, econômico, eleitoral, judiciário de nosso País, a sede de poder e de ter a qualquer preço, tiram muitas vidas e assassinam muitos sonhos e esperanças. Jesus é vida que nos salva e nos enche de alegria.
  3. “Quem me vê, vê o Pai”. Respondendo a uma pergunta de Felipe, Jesus faz uma revelação fantástica de si: ele é o rosto do Pai. Em Jesus nós contemplamos Deus. Ele é a resposta às nossas perguntas; é a luz da verdade para nosso espírito ameaçado pela mentira e falsidade que campeiam por toda parte; é fonte de vida para nossas angústias. As palavras “quem me vê, vê o Pai”, pronunciadas na véspera da cruz, nos lembram que, encarar os rostos dos pobres e reconhecer neles o rosto desfigurado de Cristo, nos torna capazes de ver a glória do Pai no rosto coroado de espinhos daquele homem de Nazaré.
  4. “Quem crê em mim fará as obras que faço, e fará até maiores do que elas”. O discípulo de Jesus, confirmado pelo Espírito Consolador, que depositou sua confiança em Jesus e vê o mundo com o olhar de Jesus realiza obras ainda maiores do que as que Jesus realizou. Jesus era único, num território delimitado, numa época determinada, estava com possibilidades reduzidas. Já seus discípulos, aqueles que crêem nele e o seguem, estão com maiores possibilidades; é um grupo maior; se estendem a outros territórios, se renovam no decurso da história, atingem maior número de pessoas. Por isso têm possibilidade de realizar obras ainda maiores.

A confiança em Jesus, Caminho único que leva ao Pai, Rosto revelador do Pai amoroso e expresso nos rostos sofridos, deve nos renovar para que nossas obras revelem o rosto do Pai que quer a vida para todos, e reproduzam as mesmas atitudes de Jesus que acolhia, amparava, perdoava, curava, dava vida nova, novo vigor àqueles que dele se aproximavam. Para isso renovemos nossa confiança em Jesus que continua conosco, que age em nós e através de nós e que nos garante levar para junto dele na glória do Pai.

* Celebramos hoje o Dia das Mães. Seria bom nos lembrarmos neste dia das mães sofredoras. Há mães que não experimentam alegrias neste dia. Talvez experimentem ainda uma dor maior. Que tal fazermos uma oração, enviarmos uma mensagem a alguma mãe sofrida? Mais do que festanças, comilanças e bebedeiras, precisamos caminhar na direção de maior solidariedade! E esse momento de pandemia do covid-19 está a nos ensinar também isso: solidariedade, partilha, comunhão, sensibilidade diante da dor, espírito de simplicidade e despojamento.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

Ninguém sabe o dia ou a hora... Só o Pai

aureliano, 16.11.18

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33º Domingo do Tempo Comum [18 de novembro 2018]

 [Mc 13,24-32]

Antes de comentarmos a mensagem do evangelho de hoje é preciso entender o contexto e gênero literário do relato. O evangelho de Marcos foi escrito por volta dos anos 70. Os judeus e os cristãos judaizantes estavam vivendo a tragédia da destruição de Jerusalém pelos romanos. Então Marcos escreve o evangelho, o primeiro a ser escrito, mencionando, numa linguagem própria, as tribulações por que passam os cristãos. Esta linguagem é o gênero literário apocalíptico. Uma forma própria de falar da presença de Deus em meio aos sofrimentos e tribulações. Não fala de tragédia, mas da presença salvadora de Deus em meio aos acontecimentos trágicos. Uma Boa Nova nos momentos difíceis da vida: “Então verão o Filho do Homem vindo...” “O céu e a terra passarão, mas as minhas palavras não passarão”.

Outro elemento que precisa ser levado em conta nesta celebração é o de estarmos no final do Ano Litúrgico. A Igreja tem o costume de colocar textos que falam do fim, ou seja, textos escatológicos, nessa ocasião do ano, para ajudar os fiéis cristãos a olhar, com mais acuidade a própria vida, fazendo um exame de consciência. O fim do ano litúrgico nos lembra o fim/final da nossa existência terrena e o fim/finalidade de nossa vida.

Esclarecemos que o relato de hoje não quer dizer que o fim está próximo, como se tivesse data marcada, como algumas seitas e religiões pretendem propor. De jeito nenhum. Ninguém sabe quando será. O que importa é vigiar, viver de tal modo que nossa vida seja uma manifestação do juízo de Deus. Explico-me: nosso modo de viver deve denunciar o mal no mundo e propor um jeito novo de viver, uma nova Criação. Na verdade não se deve insistir em ‘fim de mundo’, mas na necessidade de criarmos um mundo novo ao nosso redor, onde as pessoas tenham paz, alegria; saibam se respeitar e conviver; tenham um espírito solidário; saibam partilhar o pão com generosidade e alegria.

A parábola da figueira quer nos ajudar a abrir os olhos da fé para enxergarmos mais longe: os sinais dos tempos. Deus continua falando nos acontecimentos à nossa volta. Ninguém precisa correr atrás de ‘revelação’ em sonhos, em momentos orantes, como quando alguém diz de repente: “Tive uma ‘revelação’: o Senhor me mostrou que você está com um encosto (ou alguma doença ou como queiram) na sua vida”. Isso é mentira, desejo de enganar, dominar e manipular os incautos. Ninguém precisa fechar os olhos para ter uma ‘revelação’. Pelo contrário, é preciso estar com os olhos cada vez mais abertos e atentos ao que acontece: “Aprendei, pois, da figueira...”. Então assumiremos a postura de cristãos que denunciam o mal e anunciam o bem.

Uma vez que a liturgia de hoje nos move a trabalhar na construção de “um novo céu e uma nova terra”, uma recriação do mundo, seria bom pensarmos um pouco no modo como lidamos com o meio ambiente, como exploramos os recursos da natureza. Os avanços da ciência e da técnica foram muito benéficos. Se por um lado trouxeram progresso, bem-estar, facilidades, conforto, por outro, desencadearam uma corrida frenética pelo lucro desmedido que destrói e arrasa a vida no planeta (p. ex.: o rompimento da barragem de dejetos de minério em Bento Rodrigues, Mariana/MG. Ou mesmo a proposta dos executivos liberais eleitos em eliminar as secretarias e ministérios que cuidam do meio ambiente). O que estamos fazendo, concretamente, para defender a vida, o meio ambiente, a saúde pública, os rios e as matas, a humanidade e os animais? Que destinação damos ao nosso lixo? Como utilizamos a água? Que cuidado temos tido com o uso da energia elétrica? Não é atitude cristã diminuir o gasto somente por economia financeira. É preciso economizar por solidariedade com as pessoas e com a Criação. A crise hídrica pode nos ajudar a repensar muitos hábitos em relação ao uso da água e do meio ambiente.

O mundo não é um mero objeto de exploração humana. Nem o ser humano é algo jogado e abandonado no universo. Do ponto de vista da fé, há uma teleologia na Criação. Há uma harmonia no universo criado por Deus. O ser humano criado à imagem e semelhança do Criador, está aí para glorificar o Pai e servir aos irmãos. Um dia chegará seu fim. Um dia terá que morrer. Mas a morte é vivida como um mistério, e não como um absurdo. Ela encontra sua resposta na morte-ressurreição de Jesus, o Filho amado do Pai. Então o Filho de Deus torna-se o salvador e o protótipo de vida para o ser humano.

Retomemos os valores que contam: ainda que eu não tenha dinheiro para abastecer o meu carro, não estou isento de visitar meu irmão que sofre e precisa de mim. Ainda que eu me sinta ameaçado no meu cargo que me proporciona um bom salário, não estou dispensado de ser justo, honesto, verdadeiro. Ainda que não seja um farol, o cristão deve ser uma pequena luz, que mantém viva a esperança nesse mundo marcado pelas trevas da maldade. No dizer do autor da Carta a Diogneto (século II): “Numa palavra, o que a alma é no corpo, isso são os cristãos no mundo. A alma está em todos os membros do corpo e os cristãos em todas as cidades do mundo. A alma habita no corpo, não é, contudo, do corpo; também os cristãos, se habitam no mundo, não são do mundo. A alma invisível vela no corpo visível; também os cristãos sabe-se que estão neste mundo, mas a sua religião permanece invisível”.

* Dia mundial dos pobres

“Este pobre homem gritou a Deus e foi ouvido”. Com esse versículo do Salmo 34,7, o Papa Francisco propõe o Segundo Dia Mundial dos Pobres. Segundo Francisco, é “uma iniciativa de evangelização, oração e partilha”. O santo Padre quer, com essa iniciativa, incentivar “uma crescente atenção às necessidades dos últimos, dos marginalizados e dos famintos”.

Seria bom que cada fiel, cada família, cada comunidade realizassem um gesto concreto de cuidado e partilha para com os mais pobres. Há pobres de dinheiro, pobres de espírito, pobres de saúde, pobres de sentimento, pobres enlutados, pobres desamparados, pobres explorados. Pobres que sofrem o abandono, o preconceito, o desrespeito. Pobres que são xingados, humilhados, usados, desesperançados... Você conhece algum pobre? É amigo/próximo de algum? Partilha seu tempo, suas coisas, seus dons, sua vida com ele? Coloca-se à disposição para ajudá-lo nas dores dele?

A celebração do Dia Mundial dos Pobres e a extinção do Programa Mais Médicos (Médicos Cubanos), dá o que pensar! Quem não tem plano de saúde, quem não é sustentado pelos cofres públicos, quem depende do SUS, quem sobrevivia às suas enfermidades e prevenções de doenças beneficiados pelos Médicos Cubanos, certamente irá experimentar dor ainda maior. Vamos rezar e pensar nessa dura realidade!

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN