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aurelius

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Um encontro ao redor do poço

aureliano, 12.03.20

3º Domingo da Quaresma - A - 15 de março.jpg

3º Domingo da Quaresma [15 de março de 2020]

[Jo 4,5-42]

A água é elemento indispensável à vida. Ela é tão importante que em breve pode se tornar o elemento mais precioso e caro do planeta. É o bem mais essencial para a vida humana. Infelizmente ainda não se tomou consciência suficiente no uso desse elemento. Em vez de varrer com a vassoura muita gente varre calçadas e ruas com água limpinha, tratada; desperdiça de várias outras maneiras. Quando me deparo com alguém (conhecido!) desperdiçando água, ou misturando lixo reciclável com lixo molhado ou orgânico, ou queimando capim ou folhas secas etc., costumo exclamar: “Olhe a Campanha da Fraternidade!”

A liturgia da Palavra deste domingo nos coloca diante da sede de um povo no deserto (Ex 19,3-7) e da sede da mulher à beira do poço. O que é a sede? Você já experimentou sede? Esse desejo e necessidade não sendo saciados com certa imediatez levam a desfalecimento. A gente pode passar dias sem alimento sólido, mas sem água, não. A sede (de água) é símbolo de uma sede maior, mais profunda. A experiência de habitar em terra estrangeira, longe do Templo, numa vida escravizada leva o israelita a dizer a Deus: “Ó Deus, tu és o meu Deus, eu te procuro. Minha alma tem sede de ti, minha carne te deseja com ardor, como terra seca, esgotada, sem água” (Sl 63,2). Muitas vezes a experiência de dor e sofrimento nos faz voltar para Deus como “terra seca e sedenta”.

Veja o que aconteceu com a mulher samaritana neste belíssimo relato de João que mostra Jesus como do Dom do Pai, a Água Viva que preenche o coração humano, representado nas buscas até então insatisfeitas da mulher samaritana: “Vai chamar teu marido”...  “Eu não tenho marido”... “Tiveste cinco maridos, e que tens agora não é teu marido” (Jo 4,16-18). Jesus é aquele que preenche o coração daquela mulher. Não tem preconceito, não julga, não condena. Apenas acolhe e mostra-lhe o dom da água viva que brota para a vida eterna. Jesus não lhe apresenta a doutrina e a censura, mas o Dom. E ela acolhe, reconhece, rende-se diante de uma realidade que responde às suas buscas mais profundas.

No caminho da Judéia para a Galiléia era preciso passar pela Samaria. Um território constituído por um povo que tinha alguns costumes diferentes e divergentes dos costumes dos judeus. Havia entre eles uma inimizade histórica e cultural mortal. Jesus estabelece uma nova relação com esse povo. A mulher samaritana aqui significa também a própria Samaria. Jesus veio também para eles. Não somente para os judeus.

Aqui temos o fruto de um encontro verdadeiro, honesto, na busca da verdade do ser humano. Encontro que desperta um desejo para além daqueles que se deram ao longo da história em redor do poço: Isaac e Rebeca; Jacó e Raquel; Moisés e Séfora. Não se dá ali uma “paquera” para casamento, mas um encontro que transforma a partir de dentro e envolve toda uma cidade: “Muitos samaritanos daquela cidade creram nele, por causa da palavra da mulher”.

O Desejo de Jesus se encontrou com o desejo da mulher, que a princípio estava marcada pelo sentimento de ódio, de decepção, de desencanto. O Desejo puro de Jesus contagia aquela mulher, purifica seu desejo e lhe dá uma nova perspectiva de vida. Aquele Desejo oculto de felicidade, ínsito por Deus em seu coração na criação, foi despertado.

Jesus é o dom do Pai, a água viva capaz de saciar o desejo humano que não se sacia com coisas e pessoas: “Já tiveste cinco maridos e o que agora tens não é teu marido”. Ele sacia de vez a sede profunda daqueles que o buscam: “Dá-me dessa água, para que eu não tenha mais sede”.

Nossos jovens, nossas famílias, nossas crianças estão buscando saciar a sede servir a Deus “em espírito e verdade”. Mas o que lhes é oferecido pela televisão, pela internet, até mesmo em alguns cultos ditos cristãos é veneno. Algo parecido com água, mas que leva à morte, à secura, a uma busca frenética de bens de consumo, de festas desmedidas, de bebidas e drogas, de sítios e quintais, de gozo e de vazio. O resultado nós o temos visto: assassinatos, vinganças e mortes; cadeias e bandidagem; corrupção política e roubos de todo jeito; desesperança e “fossa”, preconceito e desejo de morte. Onde está o remédio? No encontro transformador com Jesus Cristo, a Água Viva que nos dá vida nova, que abre nossos horizontes, que dá sentido à vida, que nos faz discípulos missionários, como aconteceu com a samaritana. Bento XVI dizia que o “ser cristão não é fruto de uma decisão ética ou de uma grande ideia, mas de um encontro com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, um rumo decisivo”.

Esse relato do encontro de Jesus com a Samaritana nos questiona também em relação à falta de espaço de acolhida em nossas comunidades. Jesus sentou-se, esperou, acolheu, ouviu, foi rejeitado inicialmente. E ele se manteve ali, resiliente, esperançoso, confiante. Não se pode apresentar em primeiro lugar a lei, a doutrina, o “carão” à pessoa que procura a comunidade: “Você está no pecado!” “Você precisa mudar de vida!” “Você sumiu da igreja!” “Você não pode comungar!” “Você não pode receber os sacramentos!”. - A pessoa precisa de espaço de diálogo, de partilha, de alguém que a ouça sem julgamento, que a compreenda, que lhe apresente um Deus que ama incondicionalmente toda pessoa. Santo Agostinho dizia: “Se queres conhecer uma pessoa, não pergunte o que ela pensa, mas o que ela ama”. Se você quer conhecer a sua comunidade, as pessoas da comunidade, observe não o que elas dizem ou pensam, mas o que ela amam.

Teremos um mundo novo na medida em que cada cristão, assumindo seu batismo, fonte de vida nova em Deus, continuar fazendo seu encontro com Jesus Cristo na sua comunidade, na Palavra de Deus, na celebração, junto àqueles que sofrem. De uma mentalidade consumista e capitalista, egoísta e gananciosa, fratricida, feminicida, preconceituosa e maledicente, transformar-se em discípulo de Jesus como a samaritana do evangelho. Não basta pensar como Jesus pensou. O fundamental é amar como Jesus amou.

O encontro com Jesus “ao redor do poço” deve levar à missão. A participação na celebração deve levar o cristão a partilhar com os outros a experiência feita no encontro vivificador com Jesus Cristo. Há muita gente esperando um pouquinho de nossa “água” haurida nas fontes do Salvador.

Concluindo também com Santo Agostinho: “Ama e faze o que quiseres. Se calares, calarás com amor; se gritares, gritarás com amor; se corrigires, corrigirás com amor; se perdoares, perdoarás com amor. Se tiveres o amor enraizado em ti, nenhuma coisa senão o amor serão os teus frutos”.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

“Está consumado”

aureliano, 30.03.18

Sexta-feira santa - 30 de março.jpg

Sexta-feira Santa [30 de março de 2018]

[Jo 18,1 – 19,42]

Incluindo a Quinta-feira à noite, a Sexta-feira Santa é o primeiro dia do Tríduo Pascal. Dia de jejum como sinal sacramental da participação no sacrifício de Cristo. Também é um gesto de solidariedade com as vítimas da fome e da miséria. Hoje é o único dia do ano em que não se celebra a Eucaristia, absolutamente. Faz-se a celebração solene da Liturgia da Palavra, à tarde, com adoração do Cristo na cruz e distribuição da comunhão.  Não é o dia de luto da Igreja, mas de amorosa contemplação da oferta de Cristo na cruz pela humanidade. Essa contemplação tem um caráter de ressurreição, uma vez que a morte de Cristo é inseparável de sua ressurreição. Por isso chamada de beata passio, santa e feliz paixão.

De algum modo a Sexta-feira Santa se prolonga no Sábado. Dia em que a Igreja se coloca em silêncio orante. Celebra o repouso de Cristo no sepulcro, depois da vitória na cruz. É a experiência da morte humana pela qual Cristo passou. É a esperança da vitória de Cristo sobre a sombra da morte: “O Filho do homem... deve... ser levado à morte e ressurgir ao terceiro dia” (Lc 9,22).

Este tempo não é de morte, mas de vida germinal; é noite que aponta à aurora; são as noites escuras da vida que desembocam na alegria da alvorada. É tempo de esperança. “A esperança não decepciona porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5).

O Mistério Pascal constitui o núcleo central da fé cristã. A morte e a ressurreição de Jesus de Nazaré e a consequente efusão do Espírito sobre toda a Criação trouxe vida nova para toda a humanidade. Um triunfo paradoxal: morte que trouxe vida!

A celebração litúrgica da tarde não tem ritos iniciais: começa com a oração-coleta. Os atos litúrgicos constam de quatro partes: Liturgia da Palavra, Preces Universais, Adoração de Cristo na Cruz, Distribuição da Comunhão Eucarística (Santas Reservas da missa de Quinta-feira Santa).

Meditando o evangelho:

Os relatos da Paixão do Senhor segundo João trazem alguns elementos significativos que gostaria de ressaltar:

“Sou eu” (Jo 18,5): Essas palavras proferidas por Jesus fez com que os soldados caíssem por terra. Querem mostrar a liberdade com que Jesus caminha para a morte: “Ninguém tira a minha vida porque eu a dou livremente” (Jo 10,18).

“Embainha a tua espada” (Jo 18,11): Jesus é o Príncipe da Paz. Não admite combater violência com violência. Ademais, ele veio para cumprir a vontade do Pai. Nenhuma força humana deve ser empecilho para que ele leve adiante a missão que o Pai lhe confiou. Combater a violência em nosso País por meio de ação violenta e repressão não pode ser o caminho da paz e da harmonia que todos desejam.

“Se falei bem, por que me bates?” (Jo 18,23): Este quadro da Paixão merece longa contemplação. Diante da resposta objetiva e verdadeira de Jesus ao Sumo Sacerdote, um guarda desfecha-lhe uma bofetada. A atitude de Jesus deixa sem resposta qualquer ação violenta. Uma cena que revela o altíssimo grau de serenidade de Jesus diante dos perseguidores e sua ternura para com os violentos. “Não resistais ao homem mau; antes, àquele que lhe fere a face direita oferece-lhe também a esquerda” (Mt  5,39).

“Meu reino não é deste mundo” (Jo 18,36): Jesus se coloca majestosamente em sua paixão diante dos poderosos que brigam e matam pela conquista e resguardo do poder. Ele não reina pela força, pelo exército, pela violência. Ao entrar em Jerusalém montado num jumentinho e não num cavalo, quis mostrar a que veio: promover a paz na simplicidade, na humildade, no serviço. Conquista e reina nos corações daqueles que assumem em sua própria vida o que ele ensinou. Ele não domina, mas conquista, atrai.

“Não terias poder algum sobre mim se não te fosse dado do alto” (Jo 19,11): Essa resposta de Jesus a Pilatos mostra que toda autoridade e poder vêm de Deus. Ora, sendo Deus o Autor e Criador de todas as coisas, não se pode compreender nem aceitar que alguém faça uso do poder ou autoridade em benefício próprio. Todo poder deve ser exercido em vista do bem de todos. É o poder-serviço ensinado por Jesus aos seus discípulos: “Sabeis que os governadores das nações as tiranizam e os grandes as dominam. Entre vós não deverá ser assim. Ao contrário, aquele que quiser tornar-se grande entre vós, seja aquele que serve, e o que quiser ser o primeiro dentre vós, seja o vosso servo” (Mt 20,26-27). Infelizmente, as forças políticas, econômicas e, por vezes, as religiosas, caminham na contramão do Evangelho: busca do poder pelo poder.

“Repartiram entre si minhas roupas” (Jo 19,24): Notamos nesta passagem que Jesus não possuía nada. A única coisa que trazia consigo, sua veste, torna-se objeto de disputa. No que tange aos pobres de quem os ricaços arrancam o manto e a carne, calha bem a advertência da Escritura: “Se tomares o manto do teu próximo em penhor, tu lho restituirás antes do pôr-do-sol. Porque é com ele que se cobre, é a veste do seu corpo: em que deitaria? Se clamar a mim, eu ouvirei, porque sou compassivo” (Êx 22,25-26).

“Mulher, eis aí o teu filho” (Jo 19,26): Aqui, conforme a tradição da Igreja, Jesus nos dá Maria, sua mãe, por nossa Mãe. Ele nos assume como irmãos, não nos deixa órfãos. Dá-nos o que tem de mais precioso: sua Mãe. O discípulo amado, isto é, aquele que vive no amor de Deus, tem Maria por sua Mãe. Nesta cena do evangelho se consuma o que fora iniciado nas bodas de Caná: “Minha hora ainda não chegou” (Jo 2,4). A Hora de Jesus é a Cruz. A mulher, Maria, simboliza a comunidade salva na entrega de Jesus, o Noivo, na Cruz.

“Tenho sede” (Jo 19,28): Este clamor de Jesus na cruz nos remete ao relato de seu encontro com a samaritana no poço de Jacó (cf. Jo 4, 1-42). “Dá-me de beber” disse ele àquela mulher. Jesus tem sede de salvar, de perdoar, de se doar. E, ao mesmo tempo, ele é a água que sacia nossa sede: “Quem beber da água que eu lhe darei, nunca mais terá sede” (Jo 4,14).

“Está consumado” (Jo 19,30a): Foram as últimas palavras de Jesus. Ele consumou a missão que o Pai lhe confiara. Não recuou, não desistiu, não se intimidou frente às ameaças, não se deixou levar pelos encantos enganosos da fama e do poder. Com ele e por ele, Paulo pode dizer mais tarde: “Quanto a mim, já fui oferecido em libação, e chegou o tempo da minha partida. Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé” (2Tm 4,6-7). Oxalá cada um de nós possa dizer com serenidade de consciência tais palavras como prece ao Pai na hora derradeira da vida!

“Entregou o espírito” (Jo 19,30b): Essa palavra do evangelho tem o sentido da entrega de sua vida ao Pai, mas também da entrega do Espírito Santo à Igreja, àqueles que continuam sua missão no mundo. Um Pentecostes. É no Espírito de Jesus que a Igreja deve caminhar: oferecer-se em oblação pela vida e pela paz no mundo. Podemos fazer a memória de Estêvão, protomártir da fé cristã, que também ‘entregou o espírito’: “Senhor Jesus, recebe meu espírito”. Confirmando que nele agia o mesmo Espírito que agiu em Jesus, ainda perdoa seus algozes antes de morrer: “Senhor, não lhes leves em conta este pecado” (At 7,59-60).

Hoje é dia de silêncio, de recolhimento, de contemplação. É a maior prova do amor de Jesus por nós: entregar sua vida na cruz. Com a Igreja rezamos: “Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos porque pela vossa santa cruz remistes o mundo”. E proclamamos na liturgia da tarde: “Eis o lenho da cruz do qual pendeu a salvação do mundo. Vinde adoremos!”.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

Um encontro que sacia o desejo

aureliano, 17.03.17

Samaritana.jpg

3º Domingo da Quaresma [19 de março de 2017]

[Jo 4,5-42]

A água é elemento indispensável à vida. Ela é tão importante que em breve pode se tornar o elemento mais precioso e caro do planeta. É o bem mais essencial para a vida humana. Infelizmente ainda não se tomou consciência suficiente no uso desse elemento. Em vez de varrer com a vassoura muita gente varre calçadas e ruas com água limpinha, tratada; desperdiça de várias outras maneiras. Quando me deparo com alguém (conhecido!) desperdiçando água, ou misturando lixo reciclável com lixo molhado ou orgânico, ou queimando capim ou folhas secas etc, costumo exclamar: “Olhe a Campanha da Fraternidade!”

A liturgia da Palavra deste domingo nos coloca diante da sede de um povo no deserto (Ex 19,3-7) e da sede da mulher à beira do poço. O que é a sede? Você já experimentou sede? Esse desejo e necessidade não sendo saciados com certa imediatez levam a desfalecimento. A gente pode passar dias sem alimento sólido, mas sem água, não. A sede (de água) é símbolo de uma sede maior, mais profunda. A experiência de habitar em terra estrangeira, longe do Templo, numa vida escravizada leva o israelita a dizer a Deus: “Ó Deus, tu és o meu Deus, eu te procuro. Minha alma tem sede de ti, minha carne te deseja com ardor, como terra seca, esgotada, sem água” (Sl 63,2). Muitas vezes a experiência de dor e sofrimento nos faz voltar para Deus como “terra seca e sedenta”.

Vejam o que aconteceu com a mulher samaritana neste belíssimo relato de João que mostra Jesus como do Dom do Pai, a Água Viva que preenche o coração humano, representado nas buscas até então insatisfeitas da mulher samaritana: “Vai chamar teu marido”...  “Eu não tenho marido”... “Tiveste cinco maridos, e o que tens agora não é teu marido” (Jo 4,16-18).

No caminho da Judéia para a Galiléia era preciso passar pela Samaria. Um território constituído por um povo que tinha alguns costumes diferentes e divergentes dos costumes dos judeus. Havia entre eles uma inimizade histórica e cultural mortal. Jesus estabelece uma nova relação com esse povo.

Aqui temos o fruto de um encontro verdadeiro, honesto, na busca da verdade do ser humano. Um encontro que desperta um desejo para além daqueles que se deram ao longo da história em redor do poço: Isaac e Rebeca; Jacó e Raquel; Moisés e Séfora. Não se dá ali uma “paquera” para casamento, mas um encontro que transforma a partir de dentro e envolve toda uma cidade: “Muitos samaritanos daquela cidade creram nele, por causa da palavra da mulher”.

O Desejo de Jesus se encontrou com o desejo da mulher, que a princípio estava marcada pelo sentimento de ódio, de decepção, de desencanto. O Desejo puro de Jesus contagia aquela mulher, purifica seu desejo e lhe dá uma nova perspectiva de vida. Aquele Desejo oculto de felicidade, ínsito por Deus em seu coração na criação, foi despertado.

Jesus é o dom do Pai, a água viva capaz de saciar o desejo humano que não se sacia com coisas e pessoas: “Já tiveste cinco maridos e o que agora tens não é teu marido”. Ele sacia de vez a sede profunda daqueles que o buscam: “Dá-me dessa água, para que eu não tenha mais sede”.

Nossos jovens, nossas famílias, nossas crianças estão buscando saciar a sede de servir a Deus “em espírito e verdade”. Mas o que lhes é oferecido pela televisão, pela internet, até mesmo em alguns cultos ditos cristãos é veneno. Algo parecido com água, mas que leva à morte, à secura, a uma busca frenética de bens de consumo, de festas e mais festas, de bebidas e drogas, de sítios e quintais, de gozo e mais gozo. O resultado nós o temos visto: assassinatos, vinganças e mortes; cadeias e bandidagem; corrupção política e roubos de todo jeito; desesperança e “fossa”. Onde está o remédio? No encontro transformador com Jesus Cristo, a Água Viva que nos dá vida nova, que abre nossos horizontes, que dá sentido à vida, que nos faz discípulos e missionários, como aconteceu com a samaritana. Bento XVI dizia que o “ser cristão não é fruto de uma decisão ética ou de uma grande ideia, mas de um encontro com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, um rumo decisivo”.

Teremos um mundo novo na medida em que cada cristão, assumindo seu batismo, fonte de vida nova em Deus, continuar fazendo seu encontro com Jesus Cristo na sua comunidade, na Palavra de Deus, na celebração, junto àqueles que sofrem. De uma mentalidade consumista e capitalista, egoísta e gananciosa, fratricida e maledicente, transformar-se em discípulo de Jesus como a samaritana do evangelho.

O encontro com Jesus “ao redor do poço” deve levar à missão. A participação na celebração deve levar o cristão a partilhar com os outros a experiência feita no encontro vivificador com Jesus Cristo. Há muita gente esperando um pouquinho de nossa “água” haurida nas fontes do Salvador.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN