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Testemunhas do Cordeiro

aureliano, 18.01.20

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2º Domingo do Tempo Comum [19 de janeiro de 2020]

[Jo 1,29-34]

Vi o Espírito descer...; aquele sobre quem vires...; e eu vi e dou testemunho...” Essas expressões no relato do evangelho deste domingo nos remetem ao nosso ver e dar testemunho. João Batista não tem dúvida acerca de Jesus: “Ele é o Filho de Deus”.

Antes de tudo é preciso que o discípulo reconheça em Jesus o Cordeiro de Deus, o Servo do Senhor (em aramaico, cordeiro e servo correspondem à mesma palavra: talya), o Filho de Deus que “tira o pecado do mundo”. Sem esse reconhecimento de que Jesus, realização definitiva da Páscoa judaica, é aquele que se oferece ao Pai para salvar e libertar o mundo, não é possível fazer o caminho cristão. Não é possível fazer chegar a salvação “até os confins da terra”.

É preciso guardar também o ver de João Batista. Ele viu e deu testemunho. Vemos Jesus na comunidade, naqueles que vivem de acordo com o querer de Deus. A comunidade deve ser expressão do Cordeiro: deve estar disposta a enfrentar a morte para libertar aqueles que estão na escravidão dos “ídolos do poder, do ter e do prazer”. A comunidade cristã precisa viver de maneira tal que possa dizer àqueles que a buscam: “Vinde ver”.

Ser servo para levar, como Jesus, a salvação até os confins da terra. Ser apóstolo na busca de um caminho de santidade: “chamados a ser santos”, isto é, “ser todo de Deus” para ser todo dos irmãos.

Fomos batizados no Espírito Santo para que, assim como Jesus, o Cordeiro de Deus, libertemos o mundo do mal. Chamados a participar da mesma missão do Servo e Cordeiro: dar a nossa vida para que o pecado seja derrotado. Ser mártir é o mesmo que dar testemunho. O caminho da santidade passa pela coragem de dar a vida (cordeiro) para que muitas vidas sejam salvas. Isso é ser cristão, seguidor de Jesus, continuador de sua obra.

A Eucaristia que celebramos encontra seu sentido quando repercute em nossa vida cotidiana: o corpo do “Cordeiro que tira o pecado do mundo” que comungamos deve nos tornar pessoas eucaristizadas, capazes de empenhar nossa vida para, com ele, participarmos na libertação do pecado que se manifesta na opressão, na escravidão, na humilhação, na exclusão, na ganância, na inveja, na exploração, na busca do poder a qualquer custo, na preguiça e comodismo, na falta de responsabilidade, no abandono e desrespeito aos idosos e crianças etc. Esta é nossa vocação à santidade.

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A REALIDADE DO PECADO

O pecado é um ataque ao Criador, ao ser humano e ao cosmo. É uma tentativa de descriação, de destruir o mundo criado por Deus. É a busca de alterar o outro e desrespeitá-lo na sua dignidade. E é uma vontade de voltar ao estado, dito pela psicanálise, de indiferenciação: estado fusional com a mãe que traz conforto, despreocupação, irresponsabilidade. Por isso o pecado leva à morte. Ele é destruidor da vida. E Jesus veio “para que todos tenham vida”. Veio “tirar o pecado do mundo”.

No evangelho de hoje escutamos João Batista dizer: “Aquele que tira o pecado do mundo”. Então Jesus não só perdoa, mas tira o pecado. Parece significar que o pecado deve ser arrancado do mundo, não somente perdoado. Crer em Jesus significa também empenhar nossas forças para que o mal, o pecado, a injustiça, a iniquidade sejam arrancados do mundo.

Mas o que é mesmo o pecado? Uma realidade que afeta o mais profundo do ser humano e o desumaniza. Quase sempre definimos pecado como uma “ofensa” a Deus. Na verdade o pecado é a recusa em aceitar a Deus como Pai e, consequentemente, em ferir a fraternidade que o Pai tanto deseja de todos nós. É o nosso fechamento ao amor de Deus. O pecado é o egoísmo que nos faz pensar somente em nós mesmos, nos nossos interesses, em nosso bem-estar em detrimento dos outros. É autocentramento.

Pe. Antônio Pagola dá uma definição que ajuda a compreender bem o que é o pecado: “Na medida em que nos servimos de nosso pequeno poder físico, intelectual, econômico, sexual, político... não para servir ao irmão, mas para utilizá-lo, dominá-lo e conseguir nossa felicidade a suas expensas. Este pecado está presente no coração de cada ser humano e no interior das instituições, estruturas e mecanismos que funcionam em nossa economia, nossa política e nossa convivência social” (O Caminho aberto por Jesus: Evangelho de João, p. 38-39).

De modo geral há entre nós grande confusão entre pecado e fraqueza. O pecado ocorre quando delibera-se livremente em transgredir a Lei de Deus. É a opção livre e consciente pelo mal. É o desejo de onipotência, de “ser como deus”, de ser o centro da vida. A fraqueza é uma transgressão involuntária da Lei. Uma realidade que faz parte da finitude humana, que está para além de das próprias forças. A fraqueza se dá naquelas situações “mais fortes do que eu”. Pode ocorrer também que a pessoa escolha o pecado, mas para fugir da responsabilidade diz que aquela situação foi mais forte do que ela. Então já não se trata de fraqueza, mas de pecado.

O que importa de tudo o que foi dito é que Jesus veio “tirar o pecado do mundo” e quer que nos empenhemos para que o mal, a injustiça, a mentira, a desonestidade e todo tipo de perversidade não prevaleça no mundo. Para que o amor de Deus seja o vínculo que reúna as pessoas, que leve ao perdão mútuo e à compaixão para com os mais necessitados. Afinal de contas, “no entardecer da vida seremos julgados pelo amor” (São João da Cruz). O exame final se dará a partir do que fizemos ou deixamos de fazer aos mais pequeninos com quem o Senhor se identifica (cf. Mt 25,31-46). “Feliz quem pensa no fraco e no indigente, no dia da infelicidade o Senhor o salva; o Senhor o guarda, dá-lhe vida e felicidade na terra, e não o entrega à vontade de seus inimigos! O Senhor o sustenta no seu leito de dor, tu afofas a cama em que ele definha” (Sl 41,2-4).

*Para maior aprofundamento desse assunto, recomendo: Pecado: O que é? Como se faz?. XAVIER THEVENOT.  Loyola).

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

O maior é aquele que serve

aureliano, 21.09.18

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25º Domingo do Tempo Comum [ 23 de setembro 2018]

   [Mc 9,30-37]

Pedro professou a fé dizendo: “Tu és o Messias”. Mas, em seguida não dá conta de viver o que professa. Busca uma saída, uma justificativa: repreender Jesus (cf. Mc 8, 32-33). Vê-se claramente que os discípulos têm muita dificuldade em viver a fé professada. Para nosso consolo não é dificuldade somente nossa!

Aliás, os discípulos – como nós, por vezes, – estão mesmo preocupados é com os primeiros lugares. Por isso têm medo de perguntar a Jesus o que significava aquele anúncio da paixão. Isso não coincide com suas buscas: quem será o primeiro? Se o ser humano não fizer caminhos de conversão, estará às voltas com a busca de si, de seus interesses pessoais em prejuízo da coletividade. Dêem uma olhadinha nas disputas eleitorais! A grande maioria está buscando seus próprios interesses. Projeção social, sucesso, dinheiro, garantia de altos salários, emprego e cargos para filhos e parentes. A proposta de Jesus é que seu discípulo se preocupe com o coletivo, com o bem comum. Que todos estejam bem, sejam bem servidos, sejam bem cuidados. A religião que ensina ou insiste na busca de interesses privados não anuncia o Deus de Jesus de Nazaré, mas um ídolo.

Não são, muitas vezes, nossas também essas mesmas preocupações quando assumimos um encargo de liderança? As brigas e rixas nas comunidades provêm daí: “Das paixões que estão em conflito dentro de vós” (Tg 3,2). A inveja e a cobiça são males terríveis! Destroem qualquer comunidade. Elas só podem ser vencidas pela conversão do coração a partir do encontro e seguimento de Jesus. Quando nos empenhamos em tornar nossa vida semelhante à de Jesus.

Na verdade o que está em jogo aqui é agir ou ‘segundo a lógica do mundo’ ou ‘segundo a lógica de Deus’; incorporar a ‘sabedoria do mundo’ ou a ‘sabedoria de Deus’. Jesus não abandona o projeto do Pai. Permanece firme, não obstante a oposição e indiferença dos seus discípulos. Permanece firme, pois sabe que este é o caminho da vida. Ao passo que seus discípulos são fascinados pela lógica do mundo. Não admitem que uma vitória possa vir pela vida entregue, a morte. Esta, para eles, é fracasso total. Sobretudo porque tinham em vista a chegada a Jerusalém e a vitória total do mestre Jesus sobre os dominadores da Cidade Santa.

Abraçando e apresentando uma criança Jesus quis mostrar que a lógica de Deus passa pela acolhida aos mais frágeis, uma vez que as crianças naquele tempo não tinham nenhum prestígio ou reconhecimento. Representavam os indefesos, fracos, abandonados, marginalizados. Por isso, todas as vezes que abraçamos, acolhemos, ajudamos, colaboramos com a causa dos indefesos, representados pelas crianças do evangelho, estamos acolhendo Jesus e o seu Reino. Uma Igreja que acolhe os pequenos, que se compromete com os pobres, abandonados, migrantes está acolhendo o próprio Deus. Por outro lado, uma Igreja que se aproxima e se associa aos poderosos da terra, aos latifundiários e empresários gananciosos, aos detentores do poder político e econômico está traindo a Boa Nova de Jesus.

Algumas perguntas poderiam nos acompanhar ao longo desta semana: Qual é a lógica/sabedoria que nos orienta: a sabedoria do mundo ou a sabedoria de Deus? Deixo-me levar pela ganância do ter e do poder? Qual é minha maior preocupação: ocupar os primeiros lugares, incomodar-me com quem está nos primeiros lugares (porque penso que o lugar deveria ser meu)? Luto por um mundo mais igualitário, mais democrático, mais dialógico, começando por mim? Estou disposto a enfrentar desafios, desafetos, desprezos, humilhações por causa de minha fidelidade ao evangelho?

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A PROPÓSITO DAS CRIANÇAS...

Jesus “tomou uma criança, colocou-a no meio deles e, pegando-a nos braços, disse-lhes...” Essa atitude de Jesus pode nos ajudar a refletir sobre muitas situações por que passam as crianças na sociedade atual.

Uma delas é o abandono. Certamente são mais do que justas e necessárias as ausências dos pais que saem todos os dias em busca do pão de cada dia. As crianças ficam nas creches, com as avós ou em outras situações. Mas o fato é que a presença norteadora dos genitores deixa a desejar. Quem são mesmo os verdadeiros orientadores, educadores dos seus filhos? Muitas vezes se busca compensar a ausência com presentes. Uma espécie de compra do afeto. Isso mais tarde se transformará em ódio contra os pais. Nunca compre o amor de seu filho/a. Dê presença e carinho gratuitamente.

Outra realidade é a da tecnologia da comunicação. Ocupados com as mídias e redes sociais, alguns pais deixam os filhos abandonados. Até costumam oferecer-lhes de presente um aparelho também. Assim fica ótimo! Cada um na sua. Ninguém incomoda a ninguém. Você sabe o que seu filho vê na internet? Sabe com quem ele faz contato? Sabe por onde navega? Há histórias terríveis em relação a isso. Pare, pense e confira!

Você que é cristão, católico ensina as primeiras orações a seu filho/a? Ensina a ele/ela os valores do evangelho? Dá bom exemplo de partilha, de solidariedade, de respeito, de justiça, de verdade? – Outro dia ouvi uma história linda: Aproximava-se o aniversário do filho: 10 anos. O pai, professor e possuidor de uma condição econômica razoável, perguntou-lhe o que gostaria de ganhar como presente de aniversário. Para surpresa do pai, o filho pediu uma boa quantidade de pães a fim de fazer sanduíches e distribuir com os pobres da rua! Esse gesto brotado do coração de um menino de classe média diz muito pra nós!

Outro fato muito em voga nos últimos dias, evidenciado pela mídia, e, infelizmente, muito praticado em nosso meio, é o abuso sexual de crianças e adolescentes. Uma situação terrivelmente dolorosa e danosa para a criança, vítima indefesa e inocente, e para a família. E, no caso da Igreja, enquanto continuadora da missão de Jesus, uma mancha terrível. Leva a uma espécie de apagão de todo o trabalho e doação de milhares de padres e religiosos que entregam sua vida, sua força, suas energias para cuidar, educar, salvar as crianças nas famílias e comunidades. Quero reafirmar que os pais precisam acompanhar com muita solicitude seus filhos e filhas pequenos para que não sejam vítimas dessa perversão/perversidade de muitos adultos e que prejudica terrivelmente milhares de crianças. Com muita frequência as crianças são abusadas pelos de casa, mas a mãe ou quem tem conhecimento, ou não se importa ou não tem coragem de denunciar ou se deixa levar pelo medo. Enfim, é uma situação terrível. O melhor remédio é prevenir.

Alem disso há crianças espancadas, violentadas, maltratadas, passando fome, exploradas em trabalhos pesados nos semáforos e nos lixões, exploradas sexualmente nas ruas e rodovias...

Encerro, sem a pretensão de terminar, com a canção do Pe. Zezinho: Menores abandonados, / Alguém os abandonou. / Pequenos e mal amados / o progresso não os adotou.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN