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Fidelidade em meio às tentações

aureliano, 28.02.20

1º Domingo da Quaresma - A - 1º de março.jpg

1º Domingo da Quaresma [1º de março de 2020]

[Mt 4,1-11]

O tempo da Quaresma nos remete aos quarenta anos de travessia do deserto pelo Povo de Israel. Tempo e lugar de provação, de cansaço, de dor, de carências e privações. Lugar de encontro com Deus e com o Diabo. Lugar de fortalecer as raízes no caminho do bem. Por que não dizer que o deserto é também o nosso cotidiano? As desordens da vida, as seduções, as provações, as aflições e desafios que a vida nos coloca são nosso deserto. A quem recorremos? Como lidamos? De que armas nos servimos? Por quem optamos? De que lado nos colocamos?

Jesus faz essa experiência: quarenta dias se preparando para a missão. Esse tempo representa toda a sua vida que foi tempo de prova, das tentações de um messianismo sectário, mas também de experiência do Pai a quem foi sempre fiel.

As tentações de Jesus são também as nossas. O tentador quer levá-lo a desviar-se do projeto do Pai. Primeiro sugere-lhe transformar a pedra em pão. Jesus não veio para si, mas para todos. Não veio fazer milagres; veio anunciar um Reino de partilha fundado na vivência da Palavra de Deus. Quem se alimenta da Palavra de Deus partilha, multiplica, solidariza-se. “Vê, sente compaixão e cuida da pessoa” (Lc 10,33-34). Não vive em função de si, mas do Reino do Pai.

A segunda tentação coloca Jesus no ponto mais alto do Templo sugerindo que ele se lance dali, pois os anjos o tomarão nas mãos. É a tentação da busca de prestígio pessoal, da fama, da ostentação de poder, de capricho próprio. É a tentação de deixar tudo por conta de Deus, de lançar-se na vida sem as devidas precauções, pensando que Deus deve fazer tudo por nós, sem nenhum esforço de nossa parte. Ou seja, não se pode jogar para Deus aquilo que é responsabilidade do ser humano. Essa tentação mostra explicitamente o uso da religião para busca de sucesso. Quanta gente anda atrás de promessa, de milagres, de adivinhações etc. Na verdade, cada um deveria assumir seu papel na sociedade. Como cristãos o Senhor nos chama a lançar sobre o mundo um olhar de misericórdia. Ele nos convida a deixarmos de buscar a nós mesmos, nosso bem-estar, nossos desejos realizados, nosso sucesso e voltarmos nosso olhar para fora, para o outro. O rosto do outro precisa me interpelar, me incomodar e me desacomodar. Essa foi a atitude que Jesus assumiu diante do Pai.  É diabólico organizar uma religião como um sistema de crenças e práticas para se conseguir segurança. Não se constrói um mundo mais humano refugiando-se cada um em sua religião. É preciso arriscar-se confiando em Deus, como Jesus.

A terceira e última tentação é a de servir ao projeto do diabo, abandonando o projeto de Deus em troca de poder e glória mundanos. São aquelas tentações que sofremos diante de possibilidade de ganhar mais dinheiro, de ter mais, de dominar mais, com prejuízo para muitos. É trocar o projeto do Pai pelo próprio projeto egoísta e consumista. É aquela situação que nos possibilita crescer dando prejuízo aos outros; que leva a abandonar a família, os filhos para vantagem pessoal, deixando muitos no sofrimento. É a exploração irresponsável da natureza com prejuízo para o meio ambiente: a terra geme dores de agonia. É também a troca de projetos de políticas públicas que tiram milhões da miséria, por projetos de políticas capitalistas que entregam bens e serviços nas mãos de banqueiros, latifundiários, empresários e políticos sem consciência que só pensam em tirar proveito dos espaços de poder.

Estão aí as tentações de Jesus que são também nossas. Ele as venceu todas pela força da Palavra, da oração, da comunhão profunda com o Pai. E nós? Quais são os instrumentos de que lançamos mão para vencer as tentações do poder, da glória, do consumismo? Como está nossa vida de oração? Que lugar ocupa a Palavra de Deus em nossa vida? Quanto tempo tiramos por dia para fazer oração? Quanto tempo reservamos para a comunidade, para o serviço gratuito, generoso? Quando nos ocorre uma tentação, que fazemos? De que nos valemos?

Quaresma é tempo de revisão de vida, de conversão, de convergir as forças para o “único necessário” (cf. Lc 10,42). É bom que cada um de nós verifique qual pecado precisa ser excluído de sua vida a fim de curar as feridas que por vezes provocou no coração e na vida dos irmãos.

*Campanha da Fraternidade 2020: “Na parábola dos trabalhadores da décima primeira hora (Mt 20,1-11), encontramos um exemplo de justiça restaurativa. Aquele que saiu à procura de trabalhadores para sua vinha contratou vários operários ao longo de todo o dia. No entardecer, na hora do pagamento, os primeiros a serem chamados pensam que, por merecimento, deveriam receber mais do que aqueles que chegaram ao findar do dia. Foi então que o dono da vinha surpreendeu a todos, pois para ele, não havia diferença. Todos receberam o mesmo valor pelo serviço prestado. Para o dono da vinha, as pessoas não são classificadas em razão do que podem render pelos serviços prestados. São classificas a partir de um amor que é graça radical que as considera, simplesmente, porque elas existem” (Texto-base, 127).

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

A grande tentação: recusa à Palavra de Deus

aureliano, 15.07.17

o semeador.jpg

15º Domingo do Tempo Comum [16 de julho de 2017]

[Mt 13,1-23]

Na segunda parte da oração do Pai-nosso fazemos a seguinte petição: “E não nos deixes cair em tentação”. Guardemos esse pedido que Jesus nos ensinou a fazer ao Pai.

Estamos no capítulo 13 de Mateus, quando Jesus narra as Parábolas do Reino. Parábolas são um recurso literário para ajudar a compreender os ensinamentos de Jesus. São metáforas tiradas da vida cotidiana ou da natureza. Sua significação e simplicidade ajudam o ouvinte a entender o Reino que Jesus veio anunciar. Como as parábolas são uma tentativa de esclarecer os mistérios do Reino dos Céus, só as compreende quem se abre à novidade salvífica trazida por Jesus.

Na parábola de hoje temos três elementos relacionados: a semente, o semeador e os vários tipos de terreno. A qualidade da semente é inquestionável: a Palavra de Deus. O semeador (Jesus e seus enviados) é o meio pelo qual essa Palavra chega aos ouvintes. Já o terreno é variado. Se na parábola o destaque recai na semente, na explicação da parábola feita por Jesus, o acento recai sobre os tipos de terreno. As disposições de cada um em receber a Palavra é que vão determinar os frutos ou a ausência deles.

Importa considerar aqui que ocorre, com frequência, de se receber a Palavra e depois abandoná-la na primeira dificuldade ou diante da primeira tentação. As artimanhas do inimigo para nos fazer desistir da Palavra ou desanimar do caminho são muitas e extremamente sedutoras. Assim, podem ser os bens e prazeres desmeddos que a sociedade de consumo oferece. Podem ser as festanças, noitadas e baladas que fazem deixar de lado os compromissos comunitários e mesmo familiares. Podem ser a preguiça e o comodismo que levam a ficar na “vidinha” privada deixando de lado o doente, o pobre, o sofredor que precisa de nossas mãos e de nosso coração. A ganância, que faz tanto mal, pode nos impelir a tirar vantagem de tudo, sem abrir mão de nada, ou mesmo, nos levando a ganhar dinheiro fácil em cima do suor dos pobres e/ou dos cofres públicos. Também o fato de que “todo mundo faz”, nos seduz pelas facilidades e influências de uma sociedade sem Deus, sem valores, sem princípios.

Poderíamos citar ainda muitas outras tentações. Importa ao discípulo de Jesus ter a Palavra de Deus constantemente diante de seus olhos. Palavra escrita e Palavra vivida por tantos testemunhos bonitos de pessoas que se doam aos mais sofredores, tornando-se “cartas vivas”, no dizer de Paulo: “sois uma carta de Cristo” (Cf. 2Cor 3,2-3), para nossa leitura e instrução.

Os acontecimentos da história são também meios pelos quais Deus se comunica conosco. As pessoas que gritam por socorro, o pobre que clama por justiça, a natureza que “geme dores de parto”, a postura perversa de magistrados e parlamentares gananciosos e mentirosos que não pensam nos pobres, mas somente no próprio bolso. É só olhar o mundo com um olhar de Deus que perceberemos sua Palavra que nos conclama a atitudes novas.

A grande tentação é recusar-se a escutar e perceber Deus nos falando, primeiro no seu Filho Jesus, depois na Palavra revelada e escrita e nos acontecimentos. Tendemos a viver acomodados, em busca de nossos interesses egoístas, usando até da religião para isso. Mas a Palavra ouvida, lida, entendida na vida e nos acontecimentos da história será nosso juiz naquele dia.

Será que a tentação do desânimo, da preguiça, do comodismo, da ganância e ambição não anda rondando meu coração? Por onde estou caminhando? Quais são as pedras no terreno do meu coração que matam a Palavra que quer crescer e produzir frutos dentro de mim? Quais são os espinhos que cultivo e que sufocam a Palavra de Deus em minha vida? Como anda minha relação com os bens, com o dinheiro, com o trabalho, com a família? O que tenho feito para que minhas atitudes e palavras sejam mais mansas, mais coerentes, mais parecidas com as de Jesus? A Palavra quer encontrar ressonância dentro de nós para produzir frutos de esperança e de salvação para todos.

Pai, não me deixes cair na tentação de rejeitar, de recusar tua Palavra. Ajuda-me a vivê-la com coragem. Não me deixes cair na tentação do desânimo, de anemia espiritual que me impede de viver com vigor e coragem minha fé. Pai, não me deixes cair na tentação, mas fortalece minha vontade para que eu assuma na minha vida a vida do teu Filho Jesus. Amém.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

As tentações de Jesus são as nossas; suas armas são também as nossas

aureliano, 03.03.17

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1º Domingo da Quaresma [05 de março de 2017]

[Mt 4,1-11]

O tempo da Quaresma nos remete aos quarenta anos de travessia do deserto pelo Povo de Israel. Tempo e lugar de provação, de cansaço, de dor, de carências e privações. Lugar de encontro com Deus e com o Diabo. Lugar de fortalecer as raízes no caminho do bem.

Jesus faz também essa experiência: quarenta dias se preparando para a missão. Esse tempo representa toda a sua vida que foi tempo de prova, das tentações de um messianismo sectário, mas também de experiência do Pai a quem foi sempre fiel.

As tentações de Jesus são também as nossas. O tentador quer levá-lo a desviar-se do projeto do Pai. Primeiro sugere-lhe transformar a pedra em pão. Jesus não veio para si, mas para todos. Não veio fazer milagres; veio anunciar um Reino de partilha fundado na vivência da Palavra de Deus. Quem se alimenta da Palavra de Deus partilha, multiplica, solidariza-se. Não vive em função de si, mas do Reino do Pai.

A segunda tentação coloca Jesus no ponto mais alto do Templo sugerindo que ele se lance dali, pois os anjos o tomarão nas mãos. É a tentação da busca de prestígio pessoal, da fama, da ostentação de poder, de capricho próprio. É a tentação de deixar tudo por conta de Deus, de lançar-se na vida sem as devidas precauções, pensando que Deus deve fazer tudo por nós, sem nenhum esforço de nossa parte. Ou seja, não se pode jogar para Deus aquilo que é responsabilidade do ser humano. Essa tentação mostra explicitamente o uso da religião para busca de sucesso. Quanta gente anda atrás de promessa, de milagres, de adivinhações etc. Na verdade, cada um deveria assumir seu papel na sociedade. Como cristãos o Senhor nos chama a lançar sobre o mundo um olhar de misericórdia. Ele nos convida a deixarmos de buscar a nós mesmos, nosso bem-estar, nossos desejos realizados, nosso sucesso e voltarmos nosso olhar para fora, para o outro. O rosto do outro precisa me interpelar, me incomodar e me desacomodar. Essa foi a atitude que Jesus assumiu diante do Pai.  É diabólico organizar uma religião como um sistema de crenças e práticas para se conseguir segurança. Não se constrói um mundo mais humano refugiando-se cada um em sua religião. É preciso arriscar-se confiando em Deus, como Jesus.

A terceira e última tentação é a de servir ao projeto do diabo, abandonando o projeto de Deus em troca de poder e glória mundanos. São aquelas tentações que sofremos diante de possibilidade de ganhar mais dinheiro, de ter mais, de dominar mais, com prejuízo para muitos. É trocar o projeto do Pai pelo próprio projeto egoísta e consumista. É aquela situação que nos possibilita crescer dando prejuízo aos outros; que leva a abandonar a família, os filhos para vantagem pessoal, deixando muitos no sofrimento. É a exploração irresponsável da natureza com prejuízo para o meio ambiente: a terra geme dores de agonia. É também a troca de projetos de políticas públicas que tiram milhões da miséria, por projetos de políticas capitalistas quem entregam bens e serviços nas mãos de banqueiros, latifundiários, empresários e políticos sem consciência que só pensam em tirar proveito dos espaços de poder.

Estão aí as tentações de Jesus. Ele as venceu todas pela força da Palavra, da oração, da comunhão profunda com o Pai. E nós? Quais são os instrumentos de que lançamos mão para vencer as tentações do poder, da glória, do consumismo? Como está nossa vida de oração? Que lugar ocupa a Palavra de Deus em nossa vida? Quanto tempo tiramos por dia para fazer oração? Quanto tempo reservamos para a comunidade, para o serviço gratuito, generoso? Quando nos ocorre uma tentação, que fazemos? De que nos valemos?

Quaresma é tempo de revisão de vida, de conversão, de convergir as forças para o “único necessário” (cf. Lc 10,42). É bom que cada um de nós verifique qual pecado precisa ser excluído de sua vida a fim de curar as feridas que por vezes provocou no coração e na vida dos irmãos.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

As tentações do caminho

aureliano, 12.02.16

1º Domingo da Quaresma [14 de fevereiro de 2016]

 

A tentação para desviar-se do Caminho

[Lc 4,1-13]

Estamos vivendo esse tempo rico de bênçãos e graças na Igreja. Tempo de revisão de vida, de exame de consciência, de retomada dos compromissos batismais. Quaresma lembra os quarenta anos de caminhada do Povo de Deus no deserto rumo à Terra Prometida. Lembra também os quarenta dias de jejum e oração vividos por Jesus no deserto.

O evangelho de hoje nos remete à situação de tentação vivida por Jesus. No final de um tempo profundamente marcado por Deus ele é tentado pelo diabo. No início parece até contraditório. Como é que a tentação pode ocorrer logo após um tempo forte de oração e jejum? O diabo não deveria estar bem longe? Pois é! A vida de Jesus vem nos mostrar que nunca estamos livres das tentações do maligno. Quanto mais próximos de Deus, mais tentados pelo diabo. A vida de oração não nos garante a isenção de tentações. Garante, sim, a força de Deus para enfrentarmos e vencermos o mal, como aconteceu com Jesus.

O relato das tentações de Jesus não é um relato jornalístico, como se alguém estivesse filmando ou descrevendo tudo o que estava acontecendo a Jesus. Não. É relato de um episódio que visa à catequese da comunidade. A experiência de Jesus é a experiência do discípulo que se compromete a seguir a Jesus, mas enfrenta muitas tentações. Partindo deste princípio, podemos afirmar que, na verdade, Jesus não foi tentado somente em um dado momento, mas durante toda a sua vida o diabo buscou desviá-lo do querer do Pai. O que importa é que ele sempre foi vencedor: nunca se deixou levar pelo diabo.

Primeira tentação: Quando Jesus sente fome o diabo se apresenta para que Jesus “mude a pedra em pão”. O diabo nos quer pegar em nosso ponto fraco. Jesus recorre sempre à Palavra de Deus. Esta é o remédio eficaz contra as tentações. O pão é a necessidade primeira, básica. Mas comida não preenche o mais profundo do ser humano. A vida em Deus é alimento imprescindível. Ademais, Jesus não veio para atender a ordens do diabo nem a interesses próprios, mas para fazer a vontade do Pai. Mais tarde multiplicará os pães para saciar a fome de uma multidão. - Como temos alimentado nosso espírito? Que temos lido? A que programas de televisão assistimos? Que sites acessamos? Como anda a ganância dentro de nós? Que ambientes temos frequentado em nosso lazer?

A segunda tentação é a do “poder e glória”. Essa tentação é terrível. Há muita gente ‘ajoelhada’ diante do diabo para conseguir “poder e glória”. Tem gente que ‘vende a alma para o diabo’ para conseguir sucesso, poder e dinheiro. É uma das grandes tentações de nossos tempos. É a manipulação da religião para dominar, para enriquecer-se, para se ter sucesso. É servir-se da religião para conquistar bem-estar, prestígio, fama. Nestes tempos em que a Igreja tem perdido prestígio e influência social, sofre fortemente a tentação de se aproximar do poder podre e corrupto dos grandes deste mundo. Jesus responde que somente a Deus devemos servir e adorar.

Essa tentação se vence com a busca de um olhar compassivo e misericordioso sobre os irmãos mais necessitados. O serviço a Deus se dá nos ‘pequeninos’ do Reino. Todo cuidado é pouco, pois o diabo se veste de ‘deus’ para enganar os dominados pela cobiça. Ou melhor, os cobiçosos colocam no diabo uma capa ‘divina’ para ‘subirem na vida’.

A terceira tentação se dá no pináculo do templo de Jerusalém. É a tentação da vanglória, da ostentação, do desejo de aparecer, de jogar nossas responsabilidades nas mãos de Deus, do uso da religião para manipular as pessoas. Nessa tentação, a última cartada, o diabo busca desviar Jesus de sua missão com uma capa de cumprimento das Escrituras. Deus o ampararia e todo mundo iria acreditar nele. Jesus, porém, não se deixa levar por essa proposta. Mostra que a Deus não se deve tentar. Ou seja, não se pode jogar para Deus aquilo que é responsabilidade do ser humano. Essa tentação mostra explicitamente o uso da religião para busca de sucesso. Quanta gente anda atrás de promessa, de milagres, de adivinhações etc. Na verdade, cada um deveria assumir seu papel na sociedade. Nesta tentação Jesus mostra que nunca colocará o Pai a serviço de si, mas se colocará sempre a serviço dos pequenos, lavando-lhes os pés, como realização do desejo do Pai.

 Como cristãos o Senhor nos chama a lançar sobre o mundo um olhar de misericórdia. Ele nos convida a deixarmos de buscar a nós mesmos, nosso bem-estar, nossos desejos realizados, nosso sucesso e voltarmos nosso olhar para fora, para o outro. O rosto do outro precisa me interpelar, me incomodar e me desacomodar. Essa foi a atitude que Jesus assumiu diante do Pai. É diabólico organizar uma religião como um sistema de crenças e práticas para se conseguir segurança. Não se constrói um mundo mais humano refugiando-se cada um em sua religião. É preciso arriscar-se confiando em Deus, como Jesus.

As tentações pelas quais passou Jesus são também nossas. É a tessitura do dia-a-dia da vida cristã. O empenho pelo bem tem como desafio a luta contra o mal. É a tentativa do diabo em arrancar de nós a Palavra. Quando não consegue esmorecer a pessoa, tenta sufocar a Palavra em seu coração, alimentando preocupações com prazeres e riquezas (cf. Lc 8,4-15). Quer nos desviar do Caminho.

Alimentemos em nós o espírito que animava Jesus. Ele teve a coragem de “perder” a sua vida por causa de nós. “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará” (Lc 9,23-24). A Palavra de Deus guardada no coração e colocada em prática é a grande arma que o Pai nos deu para não nos deixarmos vencer pelas tentações do inimigo.

Você consegue identificar quais são as tentações que, na sua vida, buscam desviá-lo do cumprimento da vontade do Pai?

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN