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Jesus alivia a dor e o sofrimento

aureliano, 03.02.24

5º Domingo do TC - B.jpg

5º Domingo do Tempo Comum [04 de fevereiro de 2024]

[Mc 1,29-39]

As páginas da Liturgia da Palavra de hoje nos ajudam a refletir sobre a realidade do sofrimento humano e atuação de Deus nessa realidade comum a todas as pessoas.

Muito se escreveu e se disse sobre essa realidade da vida. E muito também se fez e se faz, particularmente por parte daquelas pessoas e instituições que desenvolvem um espírito humano e cristão. E por mais que se diga, nunca se dirá o suficiente e nunca se chegará a uma explicação para essa dura realidade da vida. E por mais que se faça, nunca se encontrará a “pílula da felicidade” que acabe de vez com o sofrimento.

Jesus também não buscou explicação. Ele apresentou uma solução: assumiu o sofrimento humano. É isso mesmo: ele tomou sobre si nossas dores e enfermidades. Não ficou indiferente diante do sofredor. Serviu-se de sua “autoridade”, como vimos no domingo passado, para aliviar as dores e os sofrimentos do ser humano.

O sofrimento está presente na vida de todos. De formas variadas. Em um é a dor física, em outro é dor moral, em outro ainda é a droga na família, o desemprego, a fome, o descaso, o abandono, a traição, o ostracismo, a ingratidão etc. O sofrimento se dá de diferentes formas.

Existe uma mentalidade perversa chamada pelos estudiosos de “teologia da prosperidade” ou “teologia da retribuição” que consiste em afirmar que Deus castiga os maus e recompensa os bons. Ou seja: a prosperidade material é sinal da bênção e Deus e os insucessos são sinais da maldição divina. Se tudo vai bem na vida, então Deus está abençoando. Se tudo vai mal é sinal de que Deus abandonou. Essa ideia traz como consequência o desespero ou a indiferença religiosa e humana, pois a pessoa que assim acredita vive em função de si, de crescer economicamente, de resolver seus problemas a qualquer custo. E como não consegue, entra no desespero total ou na indiferença religiosa e humana. Não se importa com quem sofre. Considera maldição de Deus. Se estiver sofrendo é porque merece, porque pecou etc.

Nas curas que realiza conforme o relato do evangelho de hoje, Jesus mostra o interesse de Deus por quem sofre. Quer que todos estejam bem, assumam com serenidade suas vidas, levantem-se para servir, como a sogra de Pedro: “Segurou-a pela mão e ajudou-a a levantar-se. Então a febre desapareceu e ela começou a servi-los”. Vejam como Jesus muda a perspectiva de lidar com quem sofre: é preciso aproximar-se, tocar, tomar pela mão, ajudar a levantar-se. Então a pessoa terá condições de servir. Mesmo que continue acamada, ela encontra um novo sentido para a vida. Experimenta a alegria da presença de Deus através do irmão que está ali e se coloca ao seu lado.

Jesus veio para todos, por isso vinha gente de todo lado para procurá-lo. Os doentes, abandonados e marginalizados pela sociedade da época, encontraram em Jesus uma possibilidade de restabelecimento de sua saúde física e moral. Agora podem voltar “para o meio”. Podem sair da margem.

A grande causa da dor e do sofrimento continua sendo o pecado. Não o pecado pessoal necessariamente. Esse também pode trazer sofrimento. Mas falo aqui do pecado social, estrutural. Ou seja, há uma estrutura social viciada pelo mal que busca sempre e em todo lugar seu interesse pessoal, seu bem estar, em detrimento dos outros. É a afirmação do crescimento econômico com sacrifício da vida humana e do meio ambiente. É a desonestidade no trabalho e com os recursos públicos que fere a justiça e a fraternidade. É a busca do poder, da dominação que joga os pobres e sofredoras numa sarjeta da qual não conseguem sair. É o abandono e/ou traição da família que fica abandonada á sua própria sorte. Isso é terrível! Isso faz a humanidade sofrer demais! É dessa libertação que as curas realizadas por Jesus são sinais!

E Jesus não se contenta em ficar num mesmo lugar. Vai para outras regiões, percebe outras necessidades. Há gente sofrendo em outros lugares. Está consciente de sua missão. Ele mostra que Deus conhece o sofrimento do homem por dentro. E quer aliviá-lo. Não se alivia o sofrimento simplesmente curando males físicos. Alivia-se o sofrimento curando-se as feridas da alma. Buscando construir uma sociedade em que o sofrimento seja cada vez mais debelado e mesmo ressignificado. Para que a vida, grande dom do Pai, prevaleça sempre mais. “Eu vim para que todos tenham vida”.

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GESTOS ELOQUENTES

Quero retomar aqui uma reflexão do Pe. Adroaldo, jesuíta, que, comentando o relato da cura da sogra de Pedro, destaca três gestos de Jesus que jamais poderão sair de nosso horizonte;

  1. Jesus se aproximou dela: É o gesto que Jesus sempre faz e pediu que fizéssemos: tornar-nos próximos. A dor olhada à distância, pela TV, pelas redes sociais, não dói. Tem gente que chora diante de cenas sensacionalistas da televisão. Mas Jesus fez diferente. Ele se aproximou de quem sofria. É preciso olhar de perto para sentir com quem sofre. E quando o sofredor nos sente pertos, começa a se curar; seus sofrimentos começam a diminuir. A presença afetiva e fraterna cura, salva, liberta.
  2. Jesus a tomou pela mão: Jesus infringe a Lei que proibia tocar os doentes e mortos. Quem tocasse esse tipo de pessoa ficava impuro para os exercícios cultuais. Foi por isso que o sacerdote e o levita da parábola do bom samaritano “passaram ao largo”. Estavam indo para o templo. Jesus, no entanto, não hesita em tocar os doentes para curá-los. E aqui Jesus realiza um gesto mais do que um simples toque: toma pela mão. Este gesto demonstra carinho, amizade, solidariedade, bem-querer. Jesus quer nos ensinar que devemos andar pela vida estendendo a mão a quem está caído. Construir comunidade é estender a mão a quem sofre, àqueles que não dão conta de se levantar sozinhos. Querem estar de pé, mas não tem forças. Mais um gesta silencioso do Mestre de Nazaré a nos cutucar.
  3. Jesus ajudou-a a levantar-se: Este gesto é muito próprio de Jesus, pois se refere à ressurreição: levantar-se, ficar de pé, estar vivo. Não basta estender a mão a alguém a modo de politiqueiros que só o fazem para ganhar voto. Não basta pegar a mão de alguém para desejar a paz, na celebração, e por vezes nem se olha no rosto de quem se toca. Não. É preciso continuar o gesto: ajudar os caídos a se levantarem. Nossas mãos são para o outro. Ajudá-lo a colocar-se de pé, a dar um rumo novo à própria vida. Estar de pé significa liberdade, autonomia. É a postura da dignidade, da autoridade, de luminosidade. Em muitas outras ocasiões Jesus procurou levantar, endireitar, colocar de pé os encurvados e humilhados.

Então a mulher “pôs-se a servi-los”: Na perspectiva de Jesus, só poderá servir aquele que estiver livre. O serviço na fé cristã não é servidão ou servilismo, mas a partir da liberdade e generosidade de cada um. Serviço significa cuidado de uns para com os outros. É para isso que existem as comunidades cristãs.

Pai de bondade, que em Jesus curaste tantos doentes, sendo sinal de bondade para tantas pessoas, arranca de nosso coração todo comodismo e preguiça. Torna-nos mais abertos e generosos para ajudar aqueles que nos procuram ou precisam de nós ‘fora de hora’. E faze-nos missionários corajosos para irmos a outros lugares e necessidades. Amém.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

 

Salvação: Dom e Tarefa

aureliano, 19.03.22

3º Domingo da Quaresma - C - 20 de março.jpg

3º Domingo da Quaresma [20 de março de 2022]

[Lc 13,1-9]

Nossa preparação para Páscoa continua. É um caminho de conversão. No batismo fomos purificados do mal, iluminados por Cristo, ressuscitados para uma vida nova. A caminhada neste mundo nos coloca em situação de risco permanente. As tentações nos convidam ao mal, ao egoísmo, ao rompimento da aliança com Deus. Em consequência brota a necessidade de um caminho cotidiano de conversão.

TEOLOGIA DA PROSPERIDADE X SINAIS DE DEUS

O evangelho deste domingo traz dois relatos distintos: a crueldade de Pilatos assassinando galileus que, provavelmente, se opuseram à invasão e assalto do cofre do Templo por parte do Governador e a catástrofe da torre de Siloé que, ao cair, mata 18 pessoas; o outro relato é a parábola da figueira estéril. No primeiro caso temos uma situação que mexe bastante com o imaginário popular: atribuir catástrofes e acidentes a castigo divino. Está em jogo a teologia da retribuição ou prosperidade, condenada por Jesus. Sua resposta é enfática: “Pensais que eram mais pecadores do que todos os outros?”

Podemos dizer que as catástrofes naturais ou criminosas são um recado de Deus para nós. Quando a gente menos espera nossa vida pode estar terminando. É preciso, pois, vigiar. Por isso mostra-se oportuna a palavra de Jesus: “Se não vos converterdes ireis morrer todos do mesmo modo”. Jesus aproveita-se desses acontecimentos para dar um ensinamento sobre o juízo de Deus e a necessidade de permanente conversão.

As catástrofes e horrores pelos quais o Brasil e o mundo têm passado são reveladores de opções desastrosas que governos e empresários (pretensos donos do poder) têm feito. Estão na contramão da vida, do evangelho, da salvação. Uma cultura de violência e de dominação, alimentada pela sede do lucro, pela falta de sentido de vida, pelo ódio e desejo de vingança tem ceifado milhares de vidas. Onde está o evangelho em nossa Nação que se pretende cristã, católica? Pois não se vêem ações governamentais e sociais que visem ao cuidado das vidas. Os sinais de morte apontam para caminhos que precisam ser refeitos a partir do Evangelho. Surgem sinais claros de que precisamos nos converter.

Conversão: eis o conceito que a liturgia de hoje quer destacar. Todos os acontecimentos devem ser lidos à luz de Deus como um sinal indicador de um caminho sempre novo que precisamos assumir. Um retornar e renovar constantemente a aliança e a consagração batismal.

A sociedade propõe vida fácil, consumismo, preocupação com o bem-estar pessoal acima do interesse coletivo, corrupção descarada, favorecimento do banditismo, sucesso financeiro, capa religiosa e moral para encobrir falcatruas, busca de fama e sucesso etc. E as atitudes verdadeiramente cristãs vão se perdendo pela vida afora. Se o cristão quiser se firmar no caminho da salvação precisa voltar seu olhar para Jesus Cristo. Seu parâmetro de ação deve ser sempre o Evangelho.

CULTIVAR A FIGUEIRA: PACIÊNCIA E CUIDADOS

A parábola da figueira estéril provoca alguns questionamentos em nós: Para que serve uma religião sem conversão? Um culto sem mudança de atitudes? Um aparato religioso sem transformação social? Para que serve uma comunidade que vive de aparência? Para que um templo muito bonito e enfeitado, se a Igreja viva está abandonada, às traças? Que adianta rezar e pregar dentro do templo se as pessoas continuam sofrendo por falta de cuidados, de remédio, de educação, de amparo, de afeto, de presença, de segurança, de pão, da alegria de viver? São dois lados de uma mesma moeda: não se pode viver uma dimensão e esquecer-se da outra. A fé salva, mas quem salva esta fé que salva é a caridade, atos concretos, comprovados (cf. Gl 5,6). É o que chamamos de fé e vida.

Vale a pena cultivar a figueira. Ter um pouco de paciência. Mas se não se cavar e colocar adubo, ficará do mesmo jeito! Ou seja, é preciso instaurar um processo de transformação no terreno, ao redor do pé da figueira para que ela produza. É o processo que nos faz sair de nós mesmos. Quando gastamos a vida cuidando de uma pessoa pobre, ajudando a levar adiante um projeto social, visitando e cuidando de um doente, assumindo a responsabilidade familiar, vivendo e trabalhando de modo coerente, honesto e justo: esse empenho é que faz a diferença. São os frutos que o Agricultor quer encontrar. Do contrário, para que ficar ocupando a terra em vão? Que sentido tem ocupar um lugar na Criação se nossa vida não contribui para a construção de um mundo melhor? Que sentido faz ocupar um cargo de influência se o faço em benefício próprio? Para que assumir ministérios na comunidade se os assumo como cargos e funções que me dão reconhecimento social e não como serviço humilde e desinteressado aos irmãos?

É claro que a parábola nos convida à paciência! É preciso saber esperar. O tempo é de Deus. Mas não se pode deixar tudo para o final. E se não der mais tempo? O tempo de Deus é hoje. Não se pode contar com o amanhã. Não dizemos que o dia de amanhã pertence a Deus? Então! Não basta comer da “comida espiritual” nem beber da “bebida espiritual” (cf. 1Cor 10,2-3). Paulo emenda: “No entanto, a maioria deles não agradou a Deus” (1Cor 10,5). Por isso “Quem julga estar de pé tome cuidado para não cair” (1Cor 10,12).

*Campanha da Fraternidade 2022:

“Objetivo geral

A Campanha da Fraternidade de 2022 convida a promover diálogos a partir da realidade educativa do Brasil, à luz da fé cristã, propondo caminhos em favor do humanismo integral e solidário.

Objetivos Específicos 

  1. Analisar o contexto da educação na cultura atual, e seus desafios potencializados pela pandemia.
  2. Verificar o impacto das políticas públicas na educação.
  3. Identificar valores e referências da Palavra de Deus e da Tradição cristã em vista de uma educação humanizadora na perspectiva do Reino de Deus.
  4. Pensar o papel da família, da comunidade de fé e da sociedade no processo educativo, com a colaboração dos educadores e das instituições de ensino.
  5. Incentivar propostas educativas que, enraizadas no Evangelho, promovam a dignidade humana, a experiência do transcendente, a cultura do encontro e o cuidado com a casa comum.
  6. Estimular a organização do serviço pastoral junto a escolas, universidades, centros comunitários e outros espaços educativos, em especial das instituições católicas de ensino.
  7. Promover uma educação comprometida com novas formas de economia, de política e de progresso verdadeiramente a serviço da vida humana, em especial, dos mais pobres” Texto-Base, p. 19).

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

 

Jesus alivia a dor e o sofrimento

aureliano, 05.02.21

5º Domingo do Tempo Comum [07 de fevereiro de 2021]

[Mc 1,29-39]

As páginas da Liturgia da Palavra de hoje nos ajudam a refletir sobre a realidade do sofrimento humano e atuação de Deus nessa realidade comum a todas as pessoas.

Muito se escreveu e se disse sobre essa realidade da vida. E muito também se fez e se faz, particularmente por parte daquelas pessoas e instituições que desenvolvem um espírito humano e cristão. E por mais que se diga, nunca se dirá o suficiente e nunca se chegará a uma explicação para essa dura realidade da vida. E por mais que se faça, nunca se encontrará a “pílula da felicidade” que acabe de vez com o sofrimento.

Jesus também não buscou explicação. Ele apresentou uma solução: assumiu o sofrimento humano. É isso mesmo: ele tomou sobre si nossas dores e enfermidades. Não ficou indiferente diante do sofredor. Serviu-se de sua “autoridade”, como vimos no domingo passado, para aliviar as dores e os sofrimentos do ser humano.

O sofrimento está presente na vida de todos. De formas variadas. Em um é a dor física, em outro é dor moral, em outro ainda é a droga na família, o desemprego, a fome, o descaso, o abandono, a traição, o ostracismo, a ingratidão etc. O sofrimento se dá de diferentes formas.

Existe uma mentalidade perversa chamada pelos estudiosos de “teologia da prosperidade” que consiste em afirmar que Deus castiga os maus e recompensa os bons. Ou seja: a prosperidade material é sinal da bênção e Deus e os insucessos são sinais da maldição divina. Se tudo vai bem na vida, então Deus está abençoando. Se tudo vai mal é sinal de que Deus abandonou. Essa ideia traz como consequência o desespero ou a indiferença religiosa e humana, pois a pessoa que assim acredita vive em função de si, de crescer economicamente, de resolver seus problemas a qualquer custo. E como não consegue, entra no desespero total ou na indiferença religiosa e humana. Não se importa com quem sofre. Considera maldição de Deus. Se estiver sofrendo é porque merece, porque pecou etc.

Nas curas que realiza conforme o relato do evangelho de hoje, Jesus mostra o interesse de Deus por quem sofre. Quer que todos estejam bem, assumam com serenidade suas vidas, levantem-se para servir, como a sogra de Pedro: “Segurou-a pela mão e ajudou-a a levantar-se. Então a febre desapareceu e ela começou a servi-los”. Vejam como Jesus muda a perspectiva de lidar com quem sofre: é preciso aproximar-se, tocar, tomar pela mão, ajudar a levantar-se. Então a pessoa terá condições de servir. Mesmo que continue acamada, ela encontra um novo sentido para a vida. Experimenta a alegria da presença de Deus através do irmão que está ali e se coloca ao seu lado.

Jesus veio para todos, por isso vinha gente de todo lado para procurá-lo. Os doentes, abandonados e marginalizados pela sociedade da época, encontraram em Jesus uma possibilidade de restabelecimento de sua saúde física e moral. Agora podem voltar “para o meio”. Podem sair da margem.

A grande causa da dor e do sofrimento continua sendo o pecado. Não o pecado pessoal necessariamente. Esse também pode trazer sofrimento. Mas falo aqui do pecado social, estrutural. Ou seja, há uma estrutura social viciada pelo mal que busca sempre e em todo lugar seu interesse pessoal, seu bem estar, em detrimento dos outros. É a afirmação do crescimento econômico com sacrifício da vida humana e do meio ambiente. É a busca do poder, da dominação que joga os pobres e sofredoras numa sarjeta da qual não conseguem sair. É o abandono e/ou traição da família que fica abandonada á sua própria sorte. Isso é terrível! Isso faz a humanidade sofrer demais! É dessa libertação que as curas realizadas por Jesus são sinais!

E Jesus não se contenta em ficar num mesmo lugar. Vai para outras regiões, percebe outras necessidades. Há gente sofrendo em outros lugares. Está consciente de sua missão. Ele mostra que Deus conhece o sofrimento do homem por dentro. E quer aliviá-lo. Não se alivia o sofrimento simplesmente curando males físicos. Alivia-se o sofrimento curando-se as feridas da alma. Buscando construir uma sociedade em que o sofrimento seja cada vez mais debelado e mesmo ressignificado. Para que a vida, grande dom do Pai, prevaleça sempre mais. “Eu vim para que todos tenham vida”.

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GESTOS ELOQUENTES

Quero retomar aqui uma reflexão do Pe. Adroaldo, jesuíta, que, comentando o relato da cura da sogra de Pedro, destaca três gestos de Jesus que jamais poderão sair de nosso horizonte;

  1. Jesus se aproximou dela: É o gesto que Jesus sempre faz e pediu que fizéssemos: tornar-nos próximos. A dor olhada à distância, pela TV, pelas redes sociais, não dói. Tem gente que chora diante de cenas sensacionalistas da televisão. Mas Jesus fez diferente. Ele se aproximou de quem sofria. É preciso olhar de perto para sentir com quem sofre. E quando o sofredor nos sente pertos, começa a se curar; seus sofrimentos começam a diminuir.
  2. Jesus a tomou pela mão: Jesus infringe a Lei que proibia tocar os doentes e mortos. Quem tocasse esse tipo de pessoa ficava impuro para os exercícios cultuais. Foi por isso que o sacerdote e o levita da parábola do bom samaritano “passaram ao largo”. Estavam indo para o templo. Jesus, no entanto, não hesita em tocar os doentes para curá-los. E aqui Jesus realiza um gesto mais do que um simples toque: toma pela mão. Este gesto demonstra carinho, amizade, solidariedade, bem-querer. Jesus quer nos ensinar que devemos andar pela vida estendendo a mão a quem está caído. Construir comunidade é estender a mão a quem sofre, àqueles que não dão conta de se levantar sozinhos. Querem estar de pé, mas não tem forças. Mais um gesta silencioso do Mestre de Nazaré a nos cutucar.
  3. Jesus ajudou-a a levantar-se: Este gesto é muito próprio de Jesus, pois se refere à ressurreição: levantar-se, ficar de pé, estar vivo. Não basta estender a mão a alguém a modo de politiqueiros que só o fazem para ganhar voto. Não basta pegar a mão de alguém para desejar a paz, na celebração, e por vezes nem se olha no rosto de quem se toca. Não. É preciso continuar o gesto: ajudar os caídos a se levantarem. Nossas mãos são para o outro. Ajudá-lo a colocar-se de pé, a dar um rumo novo à própria vida. Estar de pé significa liberdade, autonomia. É a postura da dignidade, da autoridade, de luminosidade. Em muitas outras ocasiões Jesus procurou levantar, endireitar, colocar de pé os encurvados e humilhados.

Então a mulher “pôs-se a servi-los”: Na perspectiva de Jesus, só poderá servir aquele que estiver livre. O serviço na fé cristã não é servidão ou servilismo, mas a partir da liberdade e generosidade de cada um. Serviço significa cuidado de uns para com os outros. É para isso que existem as comunidades cristãs.

Pai de bondade, que em Jesus curaste tantos doentes, sendo sinal de bondade para tantas pessoas, arranca de nosso coração todo comodismo e preguiça. Torna-nos mais abertos e generosos para ajudar aqueles que nos procuram ou precisam de nós ‘fora de hora’. E faze-nos missionários corajosos para irmos a outros lugares e necessidades. Amém.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

Relação entre Deus e o dinheiro

aureliano, 20.09.19

25º Domingo do TC - 22 de setembro - C.jpg

25º Domingo do Tempo Comum [22 de setembro de 2019]

[Lc 16,1-13]

No evangelho do último domingo (Lc 15,1-32), vimos como aqueles dois filhos tinham perspectivas diferentes na administração dos bens. O filho mais novo pegou sua herança, antes de o pai morrer, e ‘queimou’ tudo. O filho mais velho não teve coragem de pedir um ‘cabrito’ para comer com seus amigos. Só trabalhava. O pai da parábola mostra que o ser humano está acima de qualquer valor monetário. O que importa mesmo é construir relações de perdão, de partilha, de fraternidade para que a vida possa brotar com mais exuberância.

No evangelho deste domingo, Jesus conta a parábola conhecida como do ‘administrador infiel’. Esse título, porém, pode prejudicar uma sadia interpretação da parábola. Jesus não quer acentuar a desonestidade da administração, mas a habilidade que o discípulo do Reino deve ter na administração do que lhe for confiado: tudo deve ser gerido e conduzido com vistas ao Reino de Deus.

É preciso notar que o administrador estava ‘dissipando os bens’ do patrão. Por isso ele foi demitido. Aquele fato de baixar a conta dos devedores está ligado ao costume daquele tempo de se permitir aos administradores emprestarem os bens do patrão e ganhar uma comissão com isso. Esse administrador do evangelho estava abrindo mão desse benefício com vistas a ser recebido nas casas daqueles beneficiados. Por isso foi elogiado pelo patrão.

Tudo o que temos e somos são dons de Deus que devem ser administrados de acordo com o projeto do Pai. E a primeira tarefa é nos considerarmos administradores e não donos. Os bens não são nossos. Os filhos não são nossos. Os dons não são nossos. Tudo é do Pai! A consagração batismal nos remete a essa realidade: tudo que somos e temos foi consagrado ao Pai.

Tendemos a viver em função do ter e do poder. Pensamos valer pelo que temos. Há pessoas que buscam acumular cada vez mais dinheiro, vivendo, por vezes, uma vida miserável. Outros gastam demais. Gastam o que não têm. Vivem endividadas porque sentem necessidade de comprar e de exibir uma realidade que não são. E ainda outros que passam a vida em função de acúmulo de poder e riqueza.

Em relação aos bens públicos então, é uma lástima! Há pessoas que não sentem nenhum escrúpulo em esbanjar as coisas públicas: combustível, veículos, energia, água, telefone etc. Desperdiçam, usam e abusam do erário público sem nenhum constrangimento. São um absurdo os gastos desnecessários nos órgãos públicos! Como se desperdiça, como se gasta, como se desvia o dinheiro público! E as propinas então? Nem se fale! Cada um querendo tirar mais proveito do que o outro.

E quando se trata de funcionalismo público?! Resguardadas as honrosas exceções, há funcionários que não trabalham! Passam o tempo todo batendo papo, falando mal dos outros, articulando meios de tirar proveito de situação etc. Uma tristeza! O relato do evangelho de hoje quer lembrar a todos que o salário deve ser justo, mas também ganho com honestidade.

Jesus nos ensina a pensar e a viver de modo mais solidário a administração dos bens públicos e privados. Eles devem ser colocados a serviço de todos. Eles são para todos. Inclusive para aqueles que virão depois de nós! A Amazônia não pertence aos ricos nem ao Estado. Ela é um bem para a humanidade. Precisa ser preservada, zelada, cuidada.

Ao invés de abraçarmos a lógica da desonestidade, da mentira, da hipocrisia, deveríamos hoje nos perguntar: como estamos administrando os recursos que Deus nos deu? Como lidamos com os bens públicos que não são ‘nossos’, mas de todos? Quem ocupa mesmo o centro de minha vida, que orienta minha história e decisões: o Deus de Jesus ou Dinheiro iníquo?

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CUIDADO COM O DINHEIRO!

Alguém me abordou, nestes dias, pedindo uma explicação para a seguinte passagem do evangelho: “Usai o dinheiro injusto para fazer amigos, pois, quando acabar, eles vos receberão nas moradas eternas” (Lc 16,9). O que significa “dinheiro injusto”? É, de fato, um texto que impõe uma reflexão maior.

No tempo de Jesus, os pobres que moravam nas cidades usavam moedas para compra e venda, mas de estanho e de cobre. Com Herodes, começaram a circular moedas de ouro e prata. Portanto tinham um valor maior. Davam mais segurança. Para entender, pois, o que o texto quer dizer, é preciso ir à raiz da palavra que foi traduzida como “dinheiro”. O termo usado no tempo de Jesus era mammona. Vem da raiz aman que significa, em aramaico, confiar, apoiar-se. Era algo em que o indivíduo colocava sua confiança.

Enfim, o que Jesus quis dizer com “dinheiro injusto”? Parece que Jesus não conheceu “dinheiro limpo”. Podemos concluir que Jesus considerava sempre o dinheiro como algo injusto. As relações comerciais de seu tempo eram profundamente injustas, sobretudo a partir do Império Romano. Então o “dinheiro” se tornara um ídolo, ocupando o lugar de Deus. Quanto mais moedas de ouro e prata tanto mais rico e autossuficiente. Jesus então oferece uma saída: “Fazer amigos com o dinheiro injusto”. Ou seja, empenhar-se sempre na partilha, no não-acúmulo para não cair na idolatria. Se o dinheiro era “sujo”, recomenda “lavá-lo” na distribuição e cuidado com os pobres. O dinheiro é fonte de intriga e divisão. É preciso, pois, trabalhar para que favoreça a amizade e a comunhão, a igualdade e a fraternidade.

Vale deixar aqui a palavra de São Basílio, a respeito do uso do acúmulo e riqueza: “Não és acaso um ladrão, tu que te apossas das riquezas cuja gestão recebeste?... Ao faminto pertence o pão que conservas; ao homem nu, o manto que manténs guardado; ao descalço, os sapatos que estão se estragando em tua casa; ao necessitado, o dinheiro que escondeste. Cometes assim tantas injustiças quantos são aqueles a quem poderias dar”.

E o que dizer da “teologia da prosperidade” que assola nosso povo religioso? – Aquele “assalto” para vender ou comprar bênçãos e milagres! Uma verdadeira afronta ao evangelho! Um pecado que “brada aos céus e pede a Deus vingança”! Pergunto, de novo: qual é a origem e qual é a destinação do dinheiro que entra no meu bolso?

Para continuar a reflexão nesses tempos sombrios e dolorosos de um governo que optou pelos ricos e poderosos: “Ouvi isto, vós que maltratais os humildes e causais a prostração dos pobres da terra; vós que andais dizendo: ‘Quando passará a lua nova, para vendermos bem a mercadoria? E o sábado, para darmos pronta saída ao trigo, para diminuir medidas, aumentar pesos, e adulterar balanças, dominar os pobres com dinheiro e os humildes com um par de sandálias, e para pôr à venda o refugo do trigo?’” (Amós 8,4-6).

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

Cobiça: fonte de todos os males

aureliano, 02.08.19

18º Domingo do TC - C - 04 de agosto.jpg

18º Domingo do Tempo Comum [04 de agosto de 2019]

[Lc 12,13-21]

 “A vida do homem não consiste na abundância de bens”. Essa palavra de Jesus deve nos acompanhar sempre.

Alguém poderia perguntar: ‘Por que Jesus não resolveu aquela situação que lhe foi apresentada pelo irmão que se sentia lesado na herança?’ A resposta é que Jesus não veio resolver questões de poder pelo poder. Ele não veio para se meter em confusão de distribuição de herança. Ele veio para mostrar que os bens precisam ser repartidos, distribuídos. A consciência moral é que precisa ser bem formada para que as pessoas e o Estado se sensibilizem diante do sofrimento alheio e reparta o pão com o necessitado. Para que ninguém passe necessidade (cf. At 4,34).

O relato do evangelho desse domingo nos convida a uma reflexão profunda, diria mesmo, a um exame de consciência sobre o modo como lidamos com os bens materiais; como lidamos com a “concupiscência dos olhos” (1Jo 2,16).

“Não cobiçarás...” (Ex 20,17). É o Décimo Mandamento da Lei de Deus. O Evangelho de hoje nos permite fazer uma visita aos Mandamentos da Lei de Deus, particularmente ao último. Eles andam tão esquecidos, ultimamente! Será que a Aliança de Deus é também temporária, descartável? Parece que não! Deus estabeleceu com seu Povo uma Aliança eterna, para sempre. E Ele permanece fiel!

O Catecismo da Igreja Católica nos lembra que “o apetite sensível nos faz desejar as coisas agradáveis que não temos”. Enquanto não nos conduzem à injustiça, tudo bem. O problema é quando esse desejo se converte em avidez que é o desejo de apropriação desmedida dos bens terrenos. Ou quando se converte em cupidez que é uma paixão imoderada pelas riquezas e pelo poder. Então o ser humano se desvia da relação filial com Deus.

Esse Mandamento quer ajudar a lidar com os bens e posses sem apegos desmedidos, sem acúmulos, sem idolatrar dinheiro e coisas. O sábio já dizia: “O avaro jamais se farta de dinheiro” (Eclo 5,9). E o Apóstolo exortava: “A raiz de todos os males é, de fato, o amor ao dinheiro” (1Tm 6,10).

O Congresso Nacional e o Governo Federal precisam implementar o chamado Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF). Cinco mil famílias brasileiras detêm o equivalente a 40% do Produto Interno Bruto. Notamos, porém, que não há nenhum empenho da classe política em regulamentar o artigo 153, inciso VII da Constituição Brasileira, porque ou suas fortunas seriam tributadas ou as fortunas daqueles que sustentam seus mandatos teriam que pagar os impostos, repartindo o bolo que deve ser de todos.  Uma calamidade nacional! Mas a mudança passa por aí.

O que nos pode ajudar no caminho para não cairmos na idolatria do dinheiro é buscarmos uma vida de partilha. É o caminho da felicidade verdadeira. E a Igreja orienta: Todos os fiéis de Cristo “devem dirigir retamente seus afetos, para que, por causa do uso das coisas mundanas e do apego às riquezas contra o espírito da pobreza evangélica, não sejam impedidos na busca da caridade perfeita” (Lumen Gentium, 42).

É muito oportuno lembrar aquelas palavras de Jesus: “Onde está o teu tesouro, aí estará o teu coração” (Mt, 6, 21). Qual é mesmo o nosso verdadeiro tesouro? Que importância damos aos bens que contam realmente? Como temos administrado o dinheiro, os bens, o patrimônio que nos foi confiado? Como lidamos com o “bolsa-família”, com o “seguro-desemprego”, com o empréstimo de dinheiro, com a compra e venda de mercadoria, com o cumprimento dos horários de trabalho, com o cuidado com os bens que não são meus (privados ou públicos), com aqueles que também são meus, com a relação à justiça para com funcionários/colaboradores etc, etc?

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Não podeis servir a Deus e ao dinheiro”

Recorde um pouquinho a Campanha da Fraternidade de 2010. O uso das coisas deste mundo deve ser de tal modo que nos torne “ricos para Deus”. O sentido da vida não está na posse de muitos bens, mas na administração deles de tal forma que sejam colocados a serviço de todos. Em outras palavras: os bens deste mundo foram criados para todos. É o princípio da “destinação universal dos bens”.

Vale a pena, nesta oportunidade, recordar o perigo da chamada ‘teologia da prosperidade’. O que é isso? Uma interpretação de textos aleatórios da Bíblia para defender a ideia de que Deus dá riqueza material a quem ele julga justo. E que a miséria é fruto da falta de fé e da consequente maldição da parte de Deus. A esse propósito trago uma palavra oportuna dos nossos Bispos ao tratar da realidade da cultura urbana: “Entristece ver que, em um mundo de individualismo consumista, até mesmo a religião é, às vezes, assumida sob a ótica comercial e da prosperidade financeira (Jo 12,2-17)” (Diretrizes Gerais 2019-2023, Nº 55).

Ora o que diz Jesus? “A vida do homem não é assegurada pela abundância de bens”. Não há dinheiro que garanta uma vida terrena imperecível, sem sofrimentos, sem morte. Jesus quer que vamos além. A vida que ele veio trazer é “plena”. É a vida junto dele que já tem começo aqui. Uma vida vivida no coração amoroso do Pai é a grande bênção que ninguém pode tirar.

O entendimento do progresso material, do enriquecimento como bênção e da pobreza como abandono da parte de Deus, leva a pessoa à prática da idolatria, assumindo os bens materiais como a coisa mais importante da vida, reduzindo sua relação com Deus a um nível puramente comercial e interesseiro. Afasta-se totalmente do ensinamento de Jesus que doou toda a sua vida e pediu que seguíssemos seu exemplo. Do contrário, do ponto de vista material, Jesus teria sido o homem mais rico e poderoso, que já existira, pois fora sempre fiel ao Pai. O erro aqui está na interpretação egoísta e interesseira da vida e dos textos bíblicos.

É fácil perceber o que é mesmo fundamental na vida humana quando nos deparamos com situações-limite. Aquela pessoa que está muito mal, prestes a morrer. O que parece mais importante para ela? O dinheiro? Seus bens materiais? Até mesmo a família e amigos entendem que há algo aí mais importante do que a dimensão econômica ou social. Percebe-se aí como é fundamental a dimensão espiritual, sua relação com Deus Pai Criador. Só essa realidade fundante é que lhe poderá dar sustento nesse momento. O que lhe dá conforto agora não são os bens que adquiriu, os negócios feitos com lucro, mas tudo o que ela fez e se tornou amor.

Um mal muito presente em nosso meio, fruto da cobiça, é a inveja. É um vício que dá origem a outros. “É a tristeza sentida diante do bem do outro e do desejo imoderado de sua apropriação” (Catecismo da Igreja Católica, 2539). Dela nascem o ódio, a maledicência, a calúnia, a alegria diante da desgraça do outro, o desprazer diante de sua prosperidade. Só uma vida vivida em Deus, num exercício de conversão cotidiana, de um esforço em viver na humildade, na simplicidade, no desapego é que possibilitará o combate a esse mal terrível.

“Insensato! Essa noite morrerás e para quem ficará o que acumulaste?”A grande bênção de Deus é a nossa capacidade de compartilhar com os irmãos, de nos compadecermos, de doarmos um pouco de nós, de nos fazermos dom. O resto é idolatria e egoísmo geradores de infelicidade para si e para os outros.

*Neste primeiro domingo de agosto celebramos o Dia do Padre. É oportunidade de agradecermos a Deus pelos padres que passaram por nossa vida, nos ajudaram, nos deram os sacramentos. Alguns já partiram desta vida. Outros continuam no meio de nós. É dia também de rezarmos e refletirmos sobre as vocações sacerdotais. O que você tem feito pelas vocações? Você ajuda, reza, apoia os vocacionados? Você ajuda a nós padres a sermos mais pastores, mais próximos, mais dedicados? Não trate o padre como ‘coitadinho’, não! Ele escolheu essa vocação atendendo ao chamado de Deus e da Igreja. Colocou-se livremente a serviço do evangelho. Precisa ser ajudado a viver com fidelidade e dedicação. E você, cristão leigo, deve ajudá-lo a ser um verdadeiro colaborador e servidor das comunidades, rezando por ele, fazendo a correção fraterna quando necessário, sendo colaborativo nos serviços e ministérios da comunidade! Ajudem-nos a sermos mais pastores, mais misericordiosos, mais generosos, mais paternais.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

Salvação: Graça de Deus e tarefa humana

aureliano, 22.03.19

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3º Domingo da Quaresma [24 de março de 2019]

[Lc 13,1-9]

Nossa preparação para Páscoa continua. É um caminho de conversão. No batismo fomos purificados do mal, iluminados por Cristo, ressuscitados para uma vida nova. A caminhada neste mundo nos coloca em situação de risco permanente. As tentações nos convidam ao mal, ao egoísmo, ao rompimento da aliança com Deus. Em consequência brota a necessidade de um caminho cotidiano de conversão.

TEOLOGIA DA PROSPERIDADE X SINAIS DE DEUS

O evangelho deste domingo traz dois relatos distintos: a crueldade de Pilatos assassinando galileus que, provavelmente, se opuseram à invasão e assalto do cofre do Templo por parte do Governador e a catástrofe da torre de Siloé que, ao cair, mata 18 pessoas; o outro relato é a parábola da figueira estéril. No primeiro caso temos uma situação que mexe bastante com o imaginário popular: atribuir catástrofes e acidentes a castigo divino. Está em jogo a teologia da retribuição ou prosperidade, condenada por Jesus. Sua resposta é enfática: “Pensais que eram mais pecadores do que todos os outros?”

Podemos dizer que as catástrofes naturais ou criminosas são um recado de Deus para nós. Quando a gente menos espera nossa vida pode estar terminando. É preciso, pois, vigiar. Por isso mostra-se oportuna a palavra de Jesus: “Se não vos converterdes ireis morrer todos do mesmo modo”. Jesus aproveita-se desses acontecimentos para dar um ensinamento sobre o juízo de Deus e a necessidade de permanente conversão.

As catástrofes e horrores pelos quais o Brasil e o mundo têm passado nos primeiros meses deste ano são reveladores de opções desastrosas que governos e empresários (pretensos donos do poder) têm feito. Estão na contramão da vida, do evangelho, da salvação. Uma onda de violência e de dominação, alimentada pela sede do lucro, pela falta de sentido de vida, pelo ódio e desejo de vingança tem ceifado milhares de vidas. Onde está o evangelho em nossa Nação que se pretende cristã, católica? Pois não se vêem ações governamentais e sociais que visem ao cuidado das vidas. Os sinais de morte apontam para caminhos que precisam ser refeitos a partir do Evangelho. Surgem sinais claros de que precisamos nos converter.

Conversão: eis o conceito que a liturgia de hoje quer destacar. Todos os acontecimentos devem ser lidos à luz de Deus como um sinal indicador de um caminho sempre novo que precisamos assumir. Um retornar e renovar constantemente a aliança e consagração batismal.

A sociedade propõe vida fácil, consumismo, preocupação com o bem-estar pessoal acima do interesse coletivo, corrupção descarada, delação premiada, favorecimento do banditismo, sucesso financeiro, capa religiosa e moral para encobrir falcatruas, busca de fama e sucesso etc. E as atitudes verdadeiramente cristãs vão se perdendo pela vida afora. Se o cristão quiser se firmar no caminho da salvação precisa voltar seu olhar para Jesus Cristo. Seu parâmetro de ação deve ser sempre o Evangelho.

CULTIVAR A FIGUEIRA: PACIÊNCIA E CUIDADOS

A parábola da figueira estéril provoca alguns questionamentos em nós: Para que serve uma religião sem conversão? Um culto sem mudança de atitudes? Um aparato religioso sem transformação social? Para que serve uma comunidade que vive de aparência? Para que um templo muito bonito e enfeitado, se a Igreja viva está abandonada, às traças? Que adianta rezar e pregar dentro do templo se as pessoas continuam sofrendo por falta de cuidados, de remédio, de educação, de amparo, de afeto, de presença, de segurança, de pão, de alegria de viver? São dois lados de uma mesma moeda: não se pode viver uma dimensão e esquecer-se da outra. A fé salva, mas quem salva esta fé que salva é a caridade, atos concretos, comprovados (cf. Gl 5,6). É o que chamamos de fé e vida.

Vale a pena cultivar a figueira. Ter um pouco de paciência. Mas se não se cavar e colocar adubo, ficará do mesmo jeito! Ou seja, é preciso instaurar um processo de transformação no terreno, ao redor do pé da figueira para que ela produza. É o processo que nos faz sair de nós mesmos. Quando gastamos a vida cuidando de uma pessoa pobre, ajudando a levar adiante um projeto social, visitando e cuidando de um doente, assumindo a responsabilidade familiar, vivendo e trabalhando de modo coerente, honesto e justo: esse empenho é que faz a diferença. São os frutos que o Agricultor quer encontrar. Do contrário, para que ficar ocupando a terra em vão? Que sentido tem ocupar um lugar na Criação se nossa vida não contribui para a construção de um mundo melhor? Que sentido faz ocupar um cargo de influência se o faço em benefício próprio? Para que assumir ministérios na comunidade se os assumo como cargos e funções que me dão reconhecimento social e não como serviço humilde e desinteressado aos irmãos?

É claro que a parábola nos convida à paciência! É preciso saber esperar. O tempo é de Deus. Mas não se pode deixar tudo para o final. E se não der mais tempo? O tempo de Deus é hoje. Não se pode contar com o amanhã. Não dizemos que o dia de amanhã pertence a Deus? Então! Não basta comer da “comida espiritual” nem beber da “bebida espiritual” (cf. 1Cor 10,2-3). Paulo emenda: “No entanto, a maioria deles não agradou a Deus” (1Cor 10,5). Por isso “Quem julga estar de pé tome cuidado para não cair” (1Cor 10,12).

*Campanha da Fraternidade 2019:

Historicamente, a humanidade superou diversas dificuldades com ações e decisões coletivas. Portanto, é possível afirmar que a participação é essencial no desenvolvimento das sociedades. “Portanto, estar presentes nos espaços e canais de participação cidadã é ser protagonistas das Políticas Públicas e fazer ouvir as demandas e as necessidades da população”.

A dificuldade de reconhecer Deus na pessoa humana e o medo em lidar com as ideologias políticas têm provocado o distanciamento das construções coletivas e, consequentemente, das relações pessoais e sociais. “O agir da Campanha da Fraternidade deste ano nos alerta para que essas dificuldades não sejam maiores do que as alegrias de viver a justiça e a prática da fraternidade” (www.cnbb.org.br).

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

Jesus e o sofrimento humano

aureliano, 02.02.18

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5º Domingo do Tempo Comum [04 de fevereiro de 2018]

[Mc 1,29-39]

As páginas da Liturgia da Palavra de hoje nos ajudam a refletir sobre a realidade do sofrimento humano e atuação de Deus nessa realidade comum a todas as pessoas.

Muito se escreveu e se disse sobre essa realidade da vida. E muito também se fez e se faz, particularmente por parte daquelas pessoas e instituições que desenvolvem um espírito humano e cristão. E por mais que se diga, nunca se dirá o suficiente e nunca se chegará a uma explicação para essa dura realidade da vida. E por mais que se faça, nunca se encontrará a “pílula da felicidade” que acabe de vez com o sofrimento.

Jesus também não buscou explicação. Ele apresentou uma solução: assumiu o sofrimento humano. É isso mesmo: ele tomou sobre si nossas dores e enfermidades. Não ficou indiferente diante do sofredor. Serviu-se de sua “autoridade”, como vimos no domingo passado, para aliviar as dores e os sofrimentos do ser humano.

O sofrimento está presente na vida de todos. De formas variadas. Em um é a dor física, em outro é dor moral, em outro ainda é a droga na família, o desemprego, a fome, o descaso, o abandono, a traição, o ostracismo, a ingratidão etc. O sofrimento se dá de diferentes formas.

Existe uma mentalidade perversa chamada pelos estudiosos de “teologia da prosperidade” que consiste em afirmar que Deus castiga os maus e recompensa os bons. Ou seja: a prosperidade material é sinal da bênção e Deus e os insucessos são sinais da maldição divina. Se tudo vai bem na vida, então Deus está abençoando. Se tudo vai mal é sinal de que Deus abandonou. Essa ideia traz como consequência o desespero ou a indiferença religiosa e humana, pois a pessoa que assim acredita vive em função de si, de crescer economicamente, de resolver seus problemas a qualquer custo. E como não consegue, entra no desespero total ou na indiferença religiosa e humana. Não se importa com quem sofre. Considera maldição de Deus. Se estiver sofrendo é porque merece, porque pecou etc.

Nas curas que realiza conforme o relato do evangelho de hoje, Jesus mostra o interesse de Deus por quem sofre. Quer que todos estejam bem, assumam com serenidade suas vidas, levantem-se para servir, como a sogra de Pedro: “Segurou-a pela mão e ajudou-a a levantar-se. Então a febre desapareceu e ela começou a servi-los”. Vejam como Jesus muda a perspectiva de lidar com quem sofre: é preciso aproximar-se, tocar, tomar pela mão, ajudar a levantar-se. Então a pessoa terá condições de servir. Mesmo que continue acamada, ela encontra um novo sentido para a vida. Experimenta a alegria da presença de Deus através do irmão que está ali e se coloca ao seu lado.

Jesus veio para todos, por isso vinha gente de todo lado para procurá-lo. Os doentes, abandonados e marginalizados pela sociedade da época, encontraram em Jesus uma possibilidade de restabelecimento de sua saúde física e moral. Agora podem voltar “para o meio”. Podem sair da margem.

A grande causa da dor e do sofrimento continua sendo o pecado. Não o pecado pessoal necessariamente. Esse também pode trazer sofrimento. Mas falo aqui do pecado social, estrutural. Ou seja, há uma estrutura social viciada pelo mal que busca sempre e em todo lugar seu interesse pessoal, seu bem estar, em detrimento dos outros. É o crescimento econômico a qualquer preço. É a busca do poder, da dominação que joga os pobres e sofredoras numa sarjeta da qual não conseguem sair. É o abandono e/ou traição da família que fica abandonada á sua própria sorte. Isso é terrível! Isso faz a humanidade sofrer demais! É dessa libertação que as curas realizadas por Jesus são sinais!

E Jesus não se contenta em ficar num mesmo lugar. Vai para outras regiões, percebe outras necessidades. Há gente sofrendo em outros lugares. Está consciente de sua missão. Ele mostra que Deus conhece o sofrimento do homem por dentro. E quer aliviá-lo. Não se alivia o sofrimento simplesmente curando males físicos. Alivia-se o sofrimento curando-se as feridas da alma. Buscando construir uma sociedade em que o sofrimento seja cada vez mais debelado e mesmo ressignificado. Para que a vida, grande dom do Pai, prevaleça sempre mais. “Eu vim para que todos tenham vida”.

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GESTOS ELOQUENTES

Quero retomar aqui uma reflexão do Pe. Adroaldo, jesuíta, que, comentando o relato da cura da sogra de Pedro, destaca três gestos de Jesus que jamais poderão sair de nosso horizonte;

  1. Jesus se aproximou dela: É o gesto que Jesus sempre faz e pediu que fizéssemos: tornar-nos próximos. A dor olhada à distância, pela TV, pelas redes sociais, não dói. Tem gente que chora diante de cenas sensacionalistas da televisão. Mas Jesus fez diferente. Ele se aproximou de quem sofria. É preciso olhar de perto para sentir com quem sofre. E quando o sofredor nos sente pertos, começa a se curar; seus sofrimentos começam a diminuir.
  2. Jesus a tomou pela mão: Jesus infringe a Lei que proibia tocar os doentes e mortos. Quem tocasse esse tipo de pessoa ficava impuro para os exercícios cultuais. Foi por isso que o sacerdote e o levita da parábola do bom samaritano “passaram ao largo”. Estavam indo para o templo. Jesus, no entanto, não hesita em tocar os doentes para curá-los. E aqui Jesus realiza um gesto mais do que um simples toque: toma pela mão. Este gesto demonstra carinho, amizade, solidariedade, bem-querer. Jesus quer nos ensinar que devemos andar pela vida estendendo a mão a quem está caído. Construir comunidade é estender a mão a quem sofre, àqueles que não dão conta de se levantar sozinhos. Querem estar de pé, mas não tem forças. Mais um gesta silencioso do Mestre de Nazaré a nos cutucar.
  3. Jesus ajudou-a a levantar-se: Este gesto é muito próprio de Jesus, pois se refere à ressurreição: levantar-se, ficar de pé, estar vivo. Não basta estender a mão a alguém a modo de politiqueiros que só o fazem para ganhar voto. Não basta pegar a mão de alguém para desejar a paz, na celebração, e por vezes nem se olha no rosto de quem se toca. Não. É preciso continuar o gesto: ajudar os caídos a se levantarem. Nossas mãos são para o outro. Ajudá-lo a colocar-se de pé, a dar um rumo novo à própria vida. Estar de pé significa liberdade, autonomia. É a postura da dignidade, da autoridade, de luminosidade. Em muitas outras ocasiões Jesus procurou levantar, endireitar, colocar de pé os encurvados e humilhados.

Então a mulher “pôs-se a servi-los”: Na perspectiva de Jesus, só poderá servir aquele que estiver livre. O serviço na fé cristã não é servidão ou servilismo, mas a partir da liberdade e generosidade de cada um. Serviço significa cuidado de uns para com os outros. É para isso que existem as comunidades cristãs.

Pai de bondade, que em Jesus curaste tantos doentes, sendo sinal de bondade para tantas pessoas, arranca de nosso coração todo comodismo e preguiça. Torna-nos mais abertos e generosos para ajudar aqueles que nos procuram ou precisam de nós ‘fora de hora’. E faze-nos missionários corajosos para irmos a outros lugares e necessidades. Amém.

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN

“Não podeis servir a Deus e ao dinheiro”

aureliano, 16.09.16

25º Domingo do Tempo Comum [18 de setembro de 2016]

[Lc 16, 1-13]

No evangelho do último domingo (Lc 15, 11-32), vimos como aqueles dois filhos tinham perspectivas diferentes na administração dos bens. O filho mais novo pegou sua herança, antes de o pai morrer, e ‘queimou’ tudo. O filho mais velho não teve coragem de pedir um ‘cabrito’ para comer com seus amigos. Só trabalhava. O pai da parábola mostra que o ser humano está acima de qualquer valor monetário. O que importa mesmo é construir relações de perdão, de partilha, de fraternidade para que a vida possa brotar com mais exuberância.

No evangelho de hoje, Jesus conta a parábola do administrador infiel. É preciso notar que ele estava ‘dissipando os bens’ do patrão. Por isso ele foi demitido. Aquele fato de baixar a conta dos devedores está ligado ao costume daquele tempo de se permitir aos administradores emprestarem os bens do patrão e ganhar uma comissão com isso. Esse administrador do evangelho estava abrindo mão desse benefício com vistas a ser recebido nas casas daqueles beneficiados. Por isso foi elogiado pelo patrão.

O que interessa no texto de hoje é a má administração dos bens. Aquele administrador estava botando a perder os bens que o patrão possuía.

Tudo o que temos e somos são dons de Deus que devem ser administrados de acordo com o projeto do Pai. E a primeira tarefa é nos considerarmos administradores e não donos. Os bens não são nossos. Os filhos não são nossos. Os dons não são nossos. Tudo é do Pai! A consagração batismal nos remete a essa realidade: tudo que somos e temos foi consagrado ao Pai.

Tendemos a viver em função do ter e do poder. Pensamos valer pelo que temos. Há pessoas que buscam acumular cada vez mais dinheiro, vivendo, por vezes, uma vida miserável. Outros gastam demais. Gastam o que não têm. Vivem endividadas porque sentem necessidade de comprar e de exibir uma realidade que não são.

Em relação aos bens públicos então, é uma lástima! Há pessoas que não sentem nenhum escrúpulo em esbanjar as coisas públicas: combustível, veículos, energia, água, telefone etc. Desperdiçam, ‘deitam e rolam’ em cima do erário público sem nenhum constrangimento. É um absurdo os gastos desnecessários nos órgãos públicos! Como se desperdiça, como se gasta, como se desvia o dinheiro público!

E quando se trata de funcionalismo público então?! Resguardadas as honrosas exceções, há funcionários que não trabalham! Passam o tempo todo batendo papo, falando mal dos outros, articulando meios de tirar proveito de situação etc. Uma tristeza! O relato do evangelho de hoje quer lembrar a todos que o salário deve ser justo, mas também ganho com honestidade.

Jesus nos ensina a pensar e a viver de modo mais solidário a administração dos bens públicos e privados. Eles devem ser colocados a serviço de todos. Eles são para todos. Inclusive para aqueles que virão depois de nós!

Ao invés de abraçarmos a lógica da desonestidade, da mentira, da hipocrisia, deveríamos hoje nos perguntar: como estamos administrando os recursos que Deus nos deu? Como lidamos com os bens públicos que não são ‘nossos’, mas de todos? Quem ocupa mesmo o centro de minha vida, que orienta minha história e decisões: o Deus de Jesus ou Dinheiro iníquo?

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CUIDADO COM O DINHEIRO!

Alguém me abordou, nestes dias, pedindo uma explicação para a seguinte passagem do evangelho: “Usai o dinheiro injusto para fazer amigos, pois, quando acabar, eles vos receberão nas moradas eternas” (Lc 16,9). O que significa “dinheiro injusto”? É, de fato, um texto que impõe uma reflexão maior.

No tempo de Jesus, os pobres que moravam nas cidades usavam moedas para compra e venda, mas de estanho e de cobre. Com Herodes, começaram a circular moedas de ouro e prata. Portanto tinham um valor maior. Davam mais segurança. Daí que, para entender o que o texto quer dizer, é preciso ir à raiz da palavra que foi traduzida como “dinheiro”. O termo usado no tempo de Jesus era mammona. Vem da raiz aman que significa, em aramaico, confiar, apoiar-se. Era algo em que o indivíduo colocava sua confiança.

Enfim, o que Jesus quis dizer com “dinheiro injusto”? Parece que Jesus não conheceu “dinheiro limpo”. Podemos concluir que Jesus considerava sempre o dinheiro como algo injusto. As relações comerciais de seu tempo eram profundamente injustas, sobretudo a partir do Império Romano. Então o “dinheiro” se tornara um ídolo, ocupando o lugar de Deus. Quanto mais moedas de ouro e prata tanto mais rico e autossuficiente. Jesus então oferece uma saída: “fazer amigos com o dinheiro injusto”. Ou seja, empenhar-se sempre na partilha, no não-acúmulo para não cair na idolatria. Se o dinheiro era “sujo”, recomenda “lavá-lo” na distribuição e cuidado com os pobres. O dinheiro é fonte de intriga e divisão. É preciso, pois, trabalhar para que favoreça a amizade e a comunhão, a igualdade e a fraternidade.

Vale deixar aqui a palavra de São Basílio, a respeito do uso do acúmulo e riqueza: “Não és acaso um ladrão, tu que te apossas das riquezas cuja gestão recebeste?... Ao faminto pertence o pão que conservas; ao homem nu, o manto que manténs guardado; ao descalço, os sapatos que estão se estragando em tua casa; ao necessitado, o dinheiro que escondeste. Cometes assim tantas injustiças quantos são aqueles a quem poderias dar”.

E o que dizer da “teologia da prosperidade” que assola nosso povo religioso? – Aquele “assalto” para vender ou comprar bênçãos e milagres! Uma verdadeira afronta ao evangelho! Um pecado que “brada aos céus e pede a Deus vingança”! Pergunto, de novo: qual é a origem e qual é a destinação do dinheiro que entra no meu bolso? (cf. Amós 8,4-7).

Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN