Meu pai, muito obrigado!
13 de agosto de 2023, domingo, dia dos pais. Exatos um ano e quatro meses sem nosso velho pai, José Lopes de Lima. Ele foi para a casa do Pai, definitivamente, para sempre. Foi para a morada que Jesus preparou para ele: "Na casa de meu Pai há muitas moradas. Vou prepar-vos um lugar, a fim de que onde eu estiver, estejais também vós" (Jo 14,2-3).
Tenho certeza de que ele está no coração de Deus. Sua vida, suas palavras, seu zelo, seus cuidados conosco, com a mamãe; seu respeito e cuidados para com as pessoas, particularmente mais simples e pobres, me dão a certeza de que o Bom Pastor da humanidade o transportou em seus ombros para as pastagens eternas.
Ele gostava de escrever cartas aos filhos. Ao nosso irmão mais velho, José de Anchieta, então no seminário de Juiz de Fora, dentre muitas notícias dadas, escrevia nos idos de 1976: "Meu filho, não estou triste, mas... dinheiro para pagar as custas do seminário é neca; espero em Deus e Ele certamente, com o esforço de minha parte, poderá me apontar um caminho que conduza-me a uma saída feliz".
Essas palavras revelam sua alma confiante. Em meio às tribulações da vida, não perde a confiança e a esperança em Deus. É consciente de que precisa se esforçar, participar da ação divina que lhe abrirá as portas. Papai não tinha uma fé mágica. Sua fé era madura, responsável, iluminada pela razão. E não queria viver dependente dos outros nem ser pesado a ninguém. Empenhava-se com suas forças em busca de saída, sempre confiante no auxílio divino.
Nesta mesma carta de 30 de março de 1976, ele escreve carinhosamente ao Anchieta: "Outra novidade é esta, sua mamãe está ao lado de mais uma filhinha, nascida dia 25 deste. Tanto a Juracy, como a menina estão gozando saúde, graças a Deus". Demonstra muito carinho em suas missivas. Não cobra, não aborrece, não censura. Uma cartinha que conforta.
E continua: "Outra: Felipe está animado no ginásio, está tirando boas notas". Sempre entusiasmado com os filhos, animando-os a estudar. Zeloso no acompanhamento dos estudos, diz ao Anchieta: "O boletim, você pode trazê-lo quando vier, também não precisa me responder porque está breve sua vinda, se você conseguir licença". E ainda reverente às orientações da vida no seminário.
Valoriza o trabalho do filhote seminarista duarante as férias do final daquele ano: "O feijão que você ajudou a plantar não está prestando, já plantei uma boa porção e vou plantar mais. O arroz é que está ótimo, só você vendo!..." Ler o papai conforta a alma!
E ainda faz um "N.B." (Note bem): "A sua vovó Jacyra é quem ficou em companhia de sua mamãe". É assim que o papai deixava sua alma transbordar. Naqueles tempos difíceis para sobreviver, para tratar da "ruma" de filhos, no dizer do cearense. Naqueles tempos defíceis de conseguir papel para escrever. Até mesmo uma mesa como apoio era difícil. Sair da roça, ir à cidade, selar a carta e postar... Tudo complicado. Mas o papai o fazia com todo carinho e amor.
Desde jovem ele buscou sempre as coisas de Deus. Era congregado mariano, vicentino. Participava dos retiros anuais. Não perdia a celebração da Eucaristia. O terço, expressão de sua alma orante e de sua devoção e amor a Maria, era seu companheiro fiel, todos os dias.
Dedicava tempo às leituras da Sagrada Escritura e de boas revistas, coisa rara naquele tempo: "Santuário de São Geraldo"; "Estrela do mar" etc. Sua formação religiosa e cultural não caiu do céu, não. Foi buscada, alimentada, cultivada por ele com todo afinco. Custou-lhe muito sacrifício e suor. Até mesmo lágrimas, que nunca vimos corrê-las de seus olhos, mas certamente marejaram seu coração.
Neste dia louvo e agradeço a Deus pela vida do papai. Suas palavras, sua atitude de fé, sua conformidade com a vontade de Deus, sua busca de viver uma vida santa, tudo isso me inspira e me estimula. Sua serenidade diante das tribulações e necessidades, seus cuidados firmes e ternos para conosco nos ajudam a refletir sobre a beleza e a seriedade da vida.
Obrigado, papai, pela doação de sua vida em forma de eucaristia para nos ajudar a ser humanos, honestos, responsáveis, respeitosos, zelosos e afetuosos.
Pe. Aureliano de Moura Lima, SDN
Obs.: A foto que ilustra esse texto me é muito cara. Ela revela as profundezas da alma do papai. A Lindinha que ele toma no colo é a Maria Júlia, filha da Vanessa e do Sandro, neta do meu irmão, João Vianei e de minha cunhada, Elvira.